01/12/2024

«1640»: Quando a realidade e a lenda se fundem nasce o romance histórico

       Sou licenciada em Filologia Românica e fui 35 anos, professora de Língua e Literatura Portuguesa, procurando transmitir a alguns milhares de alunos a minha paixão por este património riquíssimo, que é a nossa Língua, a mais viva expressão da alma portuguesa, que não deve ser aviltada ou corrompida. Razão pela qual sou, como tantos milhões de utilizadores desse património precioso, visceralmente contra o famigerado Acordo Ortográfico, feito no segredo de um gabinete e à revelia das instituições e organismos próprios e da maioria dos que dela fazem profissão, um abuso intolerável cometido por alguns iluminados cuja motivação não foi seguramente a valorização da Língua Portuguesa. Os artífices do Acordo mostram que não a amam, mas acham-se donos dela, tendo a arrogância de a quererem impor a um povo inteiro e aos restantes países da Lusofonia, sem atender à maravilhosa riqueza das suas variantes, cujos aportes têm enriquecido o português de Portugal, a língua-mãe, de onde partiram todas as que são hoje aqui faladas e escritas. Rendo as minhas homenagens aos países irmãos que se recusaram a assinar esse inqualificável acordo e espero que nunca o venham a fazer; tal como vi, com amarga ironia, que dos três países assinantes, o Brasil, como sempre, voltou atrás, recusando-se a aplicá-lo. Assim, também me espantou que, neste colóquio, que é uma ocasião única para se poder apreciar as variantes tão ricas da portuguesa língua, se tenha imposto essa malfadada uniformização da escrita, que não é outra coisa senão uma canhestra mutilação, a todos os participantes dos países que o recusaram: Não perdem ocasião de impor pela força aquilo que não conseguem com a razão. Recuso o corte das consoantes mudas que podem não se ouvir, mas falam na escrita com a linguagem dos sinais, mostrando-nos a sua origem e diferenciação, nos seus étimos e raízes. Esse (Des)Acordo nem toma em consideração as variantes dialectais do nosso próprio país, onde há zonas em que a mesma palavra se pronuncia com C e noutras é muda. 
       Trabalhar a nossa língua em todos os seus registos é um prazer divino e a maior motivação da minha escrita. «1640», o meu último romance, levou esse exercício mais longe do que me permiti sonhar. Amo este país e a sua cultura por isso só escrevo romances históricos de temática nacional, a partir das histórias daqueles que souberam criar, desenvolver e manusear a nossa língua com infinita mestria e originalidade, de que nós hoje somos fracos herdeiros. Na minha trilogia dos Descobrimentos – O Navegador da Passagem, O Espião de D. João II e O Corsário dos Sete Mares – recorri ao estilo e linguagem dos cronistas dos séculos XV e XVI, em que a língua ainda se encontrava em processo de desenvolvimento, transbordante de criatividade; em D. Sebastião e o Vidente, mas, sobretudo, no «1640», que aqui venho apresentar, pude gozar com toda a plenitude a volúpia da Língua Portuguesa, que atingiu as maiores alturas no século XVII. Ao escolher para guias do leitor, quatro dos seus maiores mestres e cultores, fui forçada a meter-me na pele (ou a meter sob a minha pele) o épico Brás Garcia de Mascarenhas, a poetisa lírica Soror Violante do Céu, o maior prosador ibérico seiscentista D. Francisco Manuel de Melo e o pregador António Vieira, que deslumbrava pelo virtuosismo da expressão. Quatro narrações feitas em 1ª pessoa, que constituíram, para a escritora, um tremendo desafio, mas também um prazer sem limites. 
       O romance está construído como um puzzle ou uma teia de intertextualidades documentais, geográficas, literárias, filosóficas, religiosas, sociais e culturais, para envolver o leitor, de modo a que ele possa sentir o prazer estético da leitura, aprofundando em simultâneo o seu conhecimento da época em que decorre a acção. 
       No século XVI, passada a euforia da grande odisseia dos descobrimentos de outros mundos até então encobertos aos europeus, a crise endémica portuguesa, provocada pelos problemas políticos, económicos e sociais, vai culminar no desastre de Alcácer-Quibir e na posterior anexação de Portugal por Espanha. O romance 1640 reflecte esses tempos de crise e da vida problemática das suas gentes. Sendo obra de ficção, tem como principal objectivo o prazer estético da leitura, por isso o escritor frui de uma liberdade criativa que é negada ao historiador; contudo, enquanto género histórico, o romance exige uma componente de informação e conhecimento da História que o distingue e singulariza em relação a todos os outros tipos de romance. O que, para ser feito com honestidade intelectual e respeito pelo leitor, implica da parte do seu autor um estudo de alguns anos, não só dos factos narrados, mas sobretudo da sua contextualização, nos múltiplos aspectos de cada época e da mentalidade dos seus actantes. 
      O desastre de Alcácer-Quibir (com que termina o romance D. Sebastião e o Vidente), a crise dinástica, a guerra civil e a anexação do reino por Filipe II de Espanha, numa pretensa União Ibérica, são os antecedentes do romance 1640, em que Portugal foi arrastado para os conflitos do Império espanhol, em particular, da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), uma das mais destrutivas da Europa. 
       A fim de alimentar a guerra em várias frentes, Filipe IV de Espanha e o conde-duque de Olivares, fazendo tábua-rasa dos acordos sobre a autonomia de Portugal, esgotaram os seus recursos humanos e materiais, destruindo a economia e esmagando o povo com impostos, que eram aplicados não em benefício dos portugueses mas dos espanhóis, transformando o reino numa das mais pobres províncias da Península Ibérica. 
       Olivares contou com os serviços de funcionários portugueses submissos e interesseiros, como Diogo Soares, em Madrid, e Miguel de Vasconcelos, em Lisboa, os bons alunos do Ministro estrangeiro, que não só obedeceram às suas directrizes, como foram mais longe na imposição de sacrifícios aos seus compatriotas, reduzindo-os à miséria e à fome. Ao estudar a crise social, económica e política de Portugal, nos textos deste período, foi possível estabelecer um paralelismo entre este triunvirato de governantes seiscentistas e a Troika que nos veio governar, em 2011, imposta pelo FMI/instituições europeias, com os seus nefastos resultados. 
       Nestes períodos de crise, Portugal procurou uma panaceia ou incentivo contra o pessimismo e a estagnação do país, na afirmação da sua nacionalidade e identidade colectiva. E nada melhor para valorizar a nação do que atribuir-lhe origens divinas ou tão antigas, que remontassem a um tempo anterior à sua criação, legitimando-a. Assim, como princípio fundador, mais remoto, surge a identificação de Portugal com a Lusitânia e dos portugueses com os Lusos ou Lusitanos, e consequente apropriação do herói Viriato e da sua luta pela autonomia do território, como matriz e origem histórica de Portugal, uma tese veiculada e exaltada pela Literatura, com expressão máxima nos Lusíadas, de Luís de Camões, no século XVI, e no Viriato Trágico, de Brás Garcia Mascarenhas, no XVII. 
       A reforçar essa legitimidade, uma tese posterior vai atribuir origem divina à fundação do reino de Portugal, por D. Afonso Henriques, sacralizada, em 1139, pelo milagre de Ourique, na sua anunciada visão de Cristo crucificado a prometer-lhe a vitória contra os cinco reis mouros. Um milagre que o consagra rei, em pleno campo de batalha, e que será descrito em futuras crónicas, servindo de argumento para a sua legitimação pelo papa. Sobrepondo-se à valorização política dos dois princípios fundadores, coexistiam três crenças messiânicas, que indicavam 1666 como o annus mirabilis: a dos judeus e cristãos-novos para a vinda do seu Messias; a dos sebastianistas para o regresso d’El-Rei Dom Sebastião; e a dos milenários à espera da destruição do Turco e da instauração de um Quinto Império, cristão e universal, que Bandarra mencionava nas suas Trovas. 
       O povo oprimido começou a ansiar pelo regresso do rei D. Sebastião, desaparecido sem deixar rasto no campo de batalha e identificado com o Encoberto das profecias do sapateiro santo. Uma crença que foi crescendo, cada vez mais forte, durante o domínio dos três Filipes, alimentando a esperança do povo português na sua libertação. Padre António Vieira defenderá a deia do Quinto Império, o Império de Cristo, para um período de mil anos, que terá Portugal como guia, quando todos os pagãos, judeus e muçulmanos forem convertidos ao catolicismo, o reino do Deus único e verdadeiro. 
       O romance «1640», apoiado em inúmeras fontes documentais coevas e actuais, procura fazer um retrato verosímil do Portugal seiscentista, dos seus conflitos internos e das suas difíceis relações internacionais, numa luta pela sobrevivência como nação independente. A acção decorre num período de cinquenta anos (1617-1667), riquíssimo em acontecimentos, dramas e personagens. 
       No dia 1 de Dezembro de 1640, os portugueses dos três Estados – povo, clero e nobreza – soltaram o grito de liberdade e tomaram o destino do país nas suas mãos, iniciando uma intensa luta para sair da crise pelos seus próprios meios, num Portugal esgotado e acossado por nações inimigas – a Espanha e as suas aliadas –, mas também pelas «amigas», como a Inglaterra e a França, que impuseram condições esmagadoras em troca da sua ajuda. Tal como nos nossos dias. 
       A estrutura formal da obra foi inspirada na Corte na Aldeia, de Francisco Rodrigues Lobo, que, ao estilo da época barroca e em total sintonia com a intriga, recorre aos Diálogos entre várias personagens que discutem, comentam e problematizam os assuntos mais variados, introduzindo os capítulos narrativos dos sucessos que mais os marcaram, preocuparam ou divertiram. 
       Durante a dominação filipina, os reis e a Corte residiam em Madrid, centro de acção e decisão sobre todos os assuntos do Império Espanhol e das suas relações com o mundo, mas também um lugar privilegiado de criação e promoção de progresso, cultura e entretenimento. Lisboa, a antiga residência da dinastia de Avis, perdeu assim o seu estatuto de Corte régia, transformando-se em mera capital de província. 
       Cansada de correr para Espanha, a mendigar mercês, parte da nobreza de Portugal retirou-se para os seus domínios, no campo, onde fez florescer as «cortes de aldeia», que procuravam imitar, segundo o estatuto e as posses dos seus senhores, as Cortes régias, com mecenato a escritores, músicos e outros artistas. A mais fulgurante, em dimensão e importância, foi a dos duques de Bragança, em Vila Viçosa, cujo cerimonial cortês era idêntico ao de Madrid. 
       Uma mentalidade barroca que, segundo Vitorino Magalhães Godinho, “anseia pelo fausto e pela exibição, nos círculos nobres como nos religiosos – uma religião de exuberância decorativa, aquietando-se nos ritos de subterrâneas inquietações, satisfazendo-se na exterioridade de uma insatisfeita interioridade”. Assim, nas cidades, essa função cultural e intelectual é assumida nos conventos pelas freiras, cultas e de nobre ascendência, alguns célebres quer pelos seus Outeiros (representações teatrais, concertos musicais, saraus de poesia e produção literária), quer pelos escândalos de cariz licencioso das suas religiosas. 
       Na primeira parte do romance, o narrador é o poeta Brás Garcia de Mascarenhas, autor do Viriato Trágico, a grande epopeia seiscentista cujo herói é o pastor dos Montes Hermínios, com a sua luta contra os romanos, que simboliza a revolta dos portugueses contra a ocupação espanhola. Brás é a personagem de maior relevância, embora desconhecida dos portugueses, que pretendi resgatar ao limbo do esquecimento, restituindo-a a um merecido lugar entre os maiores vultos da cultura portuguesa. Nascido em Avô, amante traído, proscrito e aventureiro, Brás vai conduzir o leitor pelo dédalo de sucessos anteriores à Restauração, como as guerras do Brasil contra os holandeses, a sua amizade com António Vieira, as experiências com os índios e a sua complexa vida amorosa. 
       Na segunda parte, guia-o Soror Violante do Céu, desde o convento da Rosa, em Lisboa. Cultora do conceptismo e cultismo, tanto na poesia de temática religiosa como na de cariz secular/erótico. Celebrada pelos seus contemporâneos, como a Décima Musa e a Fénix dos Engenhos Portugueses, dará a conhecer a situação e vida das mulheres de seiscentos, enclausuradas sem vocação nos conventos, algumas desde a infância, uma prisão que, paradoxalmente, era para muitas uma libertação da tirania masculina castradora, permitindo-lhes estudar e exercer os seus talentos de artistas, letradas ou cientistas, o que de outro modo lhes era vedado pelos homens, sob o pretexto de serem intelectualmente inferiores. 
       Na terceira parte, os conflitos de ordem militar serão relatados por D. Francisco Manuel de Melo, o grande prosador e poeta do século. Na prisão da Torre, este Fidalgo de Dom, aparentado com a Casa de Bragança, militar e marinheiro, foi vítima de uma Justiça corrupta (um traço comum às quatro personagens) que o condenou a doze anos de prisão e ao exílio no Brasil. O seu testemunho permite tomar conhecimento da intrincada rede de conspirações, espionagem e traições com que Portugal e D. João IV se debateram para ganhar a liberdade. 
       Na quarta parte, o leitor é levado pelas palavras e reflexões do jesuíta António Vieira, o mais brilhante pensador e pregador de todos os tempos, que o guiará pelos meandros da diplomacia nacional e internacional, em que D. João IV se vai empenhar num dificílimo jogo de custosas alianças, para que Portugal possa recuperar o seu estatuto de nação independente. No cárcere da Inquisição, entre 1663 e 1667, ano em que termina o romance, Padre António Vieira, relembrando a sua vida passada, dará conta dos mais significativos sucessos em que participou até à crise política interna, do reinado de D. Afonso VI. 
       A complexidade do assunto a tratar implicou o estudo de uma infinidade de temas, porque só no cruzamento de saberes se pode alcançar o multifacetado conhecimento de uma época, um trabalho que se arrastou por treze anos de investigação, embora alternando a sua escrita com a da trilogia dos Descobrimentos. 
       1640 é uma data fulcral da nossa História, que mudou o destino da nação, pois, sem a Restauração, Portugal não seria o mesmo e talvez não passássemos hoje de uma pobre província espanhola, a falar um dialecto e a sonhar com a independência, como a Catalunha, cuja revolta ajudou então à nossa libertação. Assim como, sem a Expansão Marítima Portuguesa, ou seja, sem os Descobrimentos portugueses dos séculos XV e XVI, os países da Lusofonia não existiriam como tal, nem falariam a Língua Portuguesa em todos os seus ricos matizes e este Colóquio não teria razão para existir. 
       Deo gratias, por isso não ter acontecido.

30/11/2024

“1640” - efeméride da Restauração

1 de Dezembro de 1640 Leitura do episódio da Restauração da monarquia portuguesa, por Deana Barroqueiro, no seu romance «1640».

18/08/2024

NAVEGADOR DA PASSAGEM - OS CAURIS

Depois das duas viagens de Diogo Cão, Bartolomeu Dias prossegue com a exploração da costa africana, em 1487, para encontrar o cabo (fim) do continente africano e a passagem para o Oceano Índico. Chega ao Congo e toma conhecimento dos cauris, a moeda daquele continente.

19/07/2024

Dois dedos de conversa

Dois dedos de conversa: Rascunhos Secretos 

Deana Barroqueiro vive em Portugal há muitas décadas e acaba de lançar o livro “Rascunhos Secretos»

MALGA DE VINHO POR SIZA VIEIRA

A MALGA DO 3º MILÉNIO (texto integral, com receita) por Deana Barroqueiro
«Na linha morfológica das tigelas e escudelas, com tamanhos e funções variáveis, usadas para cozinhar e no serviço das mesas, distingue-se a “malga”, de tamanho mais reduzido e pouco variável. Com raízes na "magǐda", descrita por Plínio e usada nas libações aos deuses, a malga particulariza-se e individualiza-se, já na Idade Média, tornando-se, a partir do século XIV, num objecto indispensável a qualquer família, também nos lares quinhentistas. 

Surgiu primeiro em barro, depois em “louça”, a cerâmica vidrada, branca ou decorada, importada de Málaga, aparecendo pela primeira vez mencionada como "mallega", num foral da Guarda de 1510, vulgarizando-se posteriormente como “malga”. Com um diâmetro de bordo de 13-15 cm e uma altura de 7-8 cm, a malga destinava-se ao consumo individual do comer e do beber, sem necessidade de talheres. A sua forma de semiesfera ou calota, com pé anelar, era perfeita para se levar à boca, suspensa entre dois dedos ou na concha das mãos, e emborcar o primeiro vinho recolhido directamente do pipo, na adega. 

Ou ainda, quer na reunião familiar à roda da lareira nos tempos de invernia, quer no convívio com os vizinhos, na eira de noites estreladas, ao fim de um dia de trabalho, aninhada no aconchego das mãos, como um tépido seio de mulher, dispensando o garfo e a faca em favor da colher, o utensílio medieval por excelência, se comia a sopa, o ensopado, o creme ou o doce, em amena cavaqueira. Serviu para múltiplas funções, como substituir as salseirinhas e os pratinhos medievais com especiarias, azeitonas ou torresmos, para o café ou as sopas de cavalo cansado, para medir os ingredientes das receitas de biscoitos e bolos, uma tradição que se manteve nas aldeias do interior de Portugal, até há algumas décadas. 

Contudo, a malga vidrada e imaculadamente branca distinguiu-se como um ícone português, sobretudo, na região vitícola dos vinhos verdes, substituindo pichéis e copos, graças à amplitude da sua calota que, na degustação dos seus tintos, permite aspirar-lhes amplamente os aromas e, ao mesmo tempo, apreciar as tonalidades da sua cor quando tingem a tela branca de cerâmica. O triunfo dos vinhos verdes tintos surge, assim, no século XX, com o “vinhão da malga”. 


A malga é, sem dúvida, um dos objectos portugueses mais tradicionais e com uma história de consumo e demanda mais longa, só perdendo importância, no século XVIII, entre a nobreza e a burguesia, devido ao excesso de porcelanas chinesas, símbolo de luxo e estatuto social, trazidas com a Expansão Marítima Portuguesa. No Brasil, para onde foi levada pelos imigrantes (como em muitas outras partes do mundo), veio a sofrer o mesmo desprezo das classes altas, ficando o seu uso reservado ao povo. 

Foi, todavia, reabilitada e de novo apreciada, a partir do século XIX, por intelectuais, artistas e escritores, como Eça de Queirós, que a refere nas suas obras: azeitonas pretas em malga de barro e também tabaco em malga vidrada, em A Cidade e as Serras. Ou Camilo Castelo Branco, em Maria Moisés (Novelas do Minho): «uma farta malga de caldo fumegando por entre uma floresta de couves recheadas de feijões vermelhos». No século XX, tornou-se num valioso artefacto para coleccionadores. 

E foi então que a Pacheca, graças ao seu empenhamento na renovação de tradições antigas e identitárias de Portugal, como nação antiquíssima da Europa, convocou o génio criativo do grande arquitecto Siza Vieira, para a criação de uma “Malga do 3º Milénio”, que alia a tradição antiga à modernidade do estilo, sem corromper ou adulterar a sua natureza, para que os embaixadores portugueses no mundo possam exibir nas suas mesas, aos convidados, um belo e curioso artefacto português com história, fazendo brindes com os melhores vinhos de Portugal.

BROAS DE MEL (Alvaiade -Vila Velha de Ródão) 
Ingredientes: 1 malga de ovos inteiros; 1 malga de azeite; 1 malga mal cheia de açúcar; 3 c. de sopa, bem cheias, de mel; 1 c. de chá de fermento em pó; 1 casca de limão; canela a gosto; cerca de 3 malgas de farinha de trigo. 
Bate-se os ovos inteiros com o azeite, o açúcar, o mel, a casca de limão e a canela e, em seguida, mistura-se a farinha com o fermento. Deita-se a massa (pouco corredia, para não se espalhar demasiado), às colheres de sopa, em tabuleiros untados com azeite e polvilhados de farinha, deixando uma boa margem entre elas. Cozem em forno bem quente, previamente aquecido, até crescerem (cerca de 7 cm. de diâmetro) e ficarem douradas.

Malga de Vinho By Siza Vieira - Beber vinho tinto na malga! Uma tradição...

 
 Voltando à "Malga do 3º Milénio", que eu baptizei e cuja história escrevi, Marc Barros apresenta-a assim na Revista Vinhos (16. 07. 24): 

«O objectivo do promotor do projecto Quinta da Pacheca é destacar a portugalidade do objecto e do consumo de vinho. Tantas e tantas vezes associada ao consumo de vinho verde tinto, especialmente nas tascas e tabernas, a Quinta da Pacheca decidiu reinterpretar a tradicional malga de vinho. Para o efeito, pediu ao arquitecto Siza Vieira para abordar este objecto, de cariz eminentemente etnográfico, dotando-o de um novo design. 

O objectivo é trazer a malga para os tempos modernos e ainda, de acordo com Paulo Pereira, sócio e proprietário da Quinta da Pacheca, destacar “a portugalidade” da malga enquanto utensílio de consumo de vinho, capaz de “estar nas mesas dos melhores restaurantes Michelin”, de ser destacado “nas embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo”, com a vantagem, ainda, de ser “um produto de cerâmica 100% português”. 

A malga desenhada por Siza possui um diâmetro de bordo de aproximadamente 13 centímetros e sete centímetros de altura. Na apresentação da malga, que decorreu na Quinta da Pacheca, Álvaro Siza Vieira destacou que, “não podia fazer mais uma, igual às demais. Pensei, acima de tudo, nos aspectos funcionais, aqueles que permitem segurar bem uma malga. O design baseou-se, pois, na utilidade do objecto”, referiu. Nesse aspecto, a malga destaca-se por ostentar quatro pequenas reentrâncias circulares que permitem maior aderência. 

Para além de pretender oferecer a experiência de beber vinho numa malga no sentido de relevar tradições ancestrais, a componente histórica e secular deste objecto de vários usos foi destacado pela investigadora e autora Deana Barroqueiro, autora da obra em três volumes História dos Paladares. De acordo com esta académica, a malga, ou tigela, é um objecto que chegou aos nossos dias vindo do tempo da presença romana em território ibérico. 

A comprová-lo, a recentíssima descoberta de uma malga em barro, com os restos fossilizados de um pássaro – correspondendo, portanto, a uma oferenda ou sacrifício – em Miróbriga, Santiago do Cacém, pela equipa do historiador e arqueólogo José Carlos Quaresma. 

Esta malga de Siza Vieira pode ser adquirida nos canais de venda da Quinta da Pacheca e em algumas das garrafeiras por 14,95 euros/unidade ou um package com duas malgas, por 29,90 euros.» 

23/06/2024

Camões publica finalmente Os Lusíadas.

Como os meus leitores mostraram uma surpreendente adesão às minhas leituras, aventuro-me a fazer mais alguns destes vídeos caseiros, obra de quem domina mal estas técnicas. Neste excerto de "D.Sebastião e o Vidente", Luís de Camões logra por fim ver a sua epopeia, Os Lusíadas, publicada em letra de imprensa.

14/06/2024

D. Sebastião ouve ler Os Lusíadas.

Este vídeo é mais para ouvir do que para ver, é a leitura do capítulo do meu “D. Sebastião e o Vidente”, em que o Desejado, enquanto se veste, ouve D. Manuel de Portugal, amigo e protector de Luís de Camões, a apresentar-lhe “Os Lusíadas”, para o rei autorizar a publicação e uma tença ao Poeta. Preferi deixar-vos interromper a leitura quando vos apetecer, a cortar o texto que ficava sem sentido. Ficam a conhecer como se vestiam os reis no século XVI.

02/06/2024

Dia 9 de Junho, às 18 horas na Feira do Livro de Lisboa, Praça Amarela - Deana Barroqueiro

Estarei na Praça Amarela (Ed. Presença)
dia 9 de Junho, das 18 às 19 horas 

Como tenho publicado em diversas editoras, as minhas obras estarão espalhadas pelos seguintes expositores:

- Na Praça Amarela, da editora Manuscrito (Presença), estão:
.«O Navegador da Passagem» (nova edição do meu 1º romance sobre a Saga dos Descobrimentos, com as viagens de Bartolomeu Dias, a passagem do Cabo das Tormentas e o "achamento" do Brasil e o reinado tormentoso de D. João II. 
.«Rascunhos Secretos», o  último livro da minha tetralogia sobre este imenso e apaixonante tema. Este livro termina com a viagem de Fernão de Magalhães e cobre outros assuntos de que me faltava tratar. Creio ter coberto o tema dos Descobrimentos com a  profundidade, seriedade e isenção possíveis, embora sem pôr travões à liberdade de criação que me permite o papel de romancista, portanto, autora de obras de ficção, e não de historiadora, que não sou.

- Na VASP,  B27/28,  espero que tenham os 3 volumes da «História dos Paladares»: 
I - Sedução; II - Perdição; e III - Redenção, que receberam o Gourmand Best in the World Awards - Series, 2021-2022, o maior galardão do mundo para uma colecção de livros de Gastronomia. Fui receber este Óscar à Suécia, um prémio mundial que Portugal nunca tinha recebido.
É uma História da Alimentação, Culinária e Gastronomia, contada através de milhares de obras, histórias e personagens de todo o mundo e de todas as épocas, apresentando, no seu conjunto, mais de 760 receitas tradicionais, nacionais e internacionais.

- Na Praça Leya, no expositor da Casa das Letras, devem ter 4 obras:
.O «D. Sebastião e o Vidente», uma nova edição do meu primeiro romance "de grande fôlego" que, em 2006, a Porto Editora me deu a honra de escolher para se lançar no mundo da ficção, com apresentação no Mosteiro dos Jerónimos.
.O «1640»: Restauração de Portugal, aquele que eu considero o meu melhor livro e o mais trabalhoso (levou-me 13 anos a fazer).
.«O Corsário dos Sete Mares-Fernão Mendes Pinto», que foi adaptado ao cinema pelo realizador João Botelho no seu «Peregrinação».
.«O Espião de D. João II - Pêro da Covilhã», o meu 2º romance sobre os Descobrimentos da Índia e do Reino do Preste João, na Etiópia.

- E já nem falo no volume único dos «Contos+ Novos Contos Eróticos do Velho Testamento», da editora Planeta, que talvez encontrem em saldo, porque houve diferentes edições, como Romance da Bíblia e Tentação da Serpente, da ed. falida Ésquilo.

- A foto acima é caseira, tirada pela minha mão, das minhas obras, para quem as desejar conhecer.  Lá faltam os 7 romances da colecção de aventuras e viagens CRUZEIRO DO SUL (esgotados há muito tempo).



05/05/2024

Camões regressa a Lisboa com Os Lusíadas

CAMÕES REGRESSA DA ÍNDIA COM OS LUSÍADAS 

Celebro, hoje, no dia da Língua Portuguesa, tão maltratada e que eu adoro, os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, lendo-vos um capítulo do meu romance "D. Sebastião e o Vidente", em que o Poeta é a personagem principal. 

Ao desembarcar em Lisboa, vindo de Moçambique, Camões encontra a capital devastada pela peste. Julgo ter recriado com verosimilhança aquilo que o Poeta poderia ter visto à sua chegada.

26/01/2024

RASCUNHOS SECRETOS - NOVO ROMANCE DE DEANA BARROQUEIRO

 NAS LIVRARIAS NO DIA 7 DE FEVEREIRO



«Perdoai não vos declarar o meu nome, mas, nos tempos que correm, falar verdade ou apontar vícios aos poderosos pode ser assaz perigoso.» 

O narrador foi testemunha de conspirações, mortes inexplicáveis, intrigas, traições e amores adúlteros ou sacrílegos. Na corte dos três reis que serviu ― D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I ―, um navegador e guerreiro anónimo atreve-se, agora que está no ocaso da vida e refugiado em Castela, a publicar o seu diário repleto de segredos obscuros e inconfessáveis. 

Não tentem saber o seu nome, pois foi um mestre a encobrir a sua identidade. Através do que nos relata nestas páginas, contudo, poderão conhecer alguns dos maiores mistérios da era dos Descobrimentos. Começa em 1485 quando, com apenas dez anos, entrou ao serviço da rainha D. Leonor, mais tarde andou pelas Índias e foi (navegou) além da Taprobana. 

O ponto alto da sua narrativa é, todavia, a espantosa viagem à volta do mundo, empreendida por Fernão de Magalhães, seu grande amigo, a quem acompanhou e desejou prestar homenagem e fazer justiça. 

Neste novo romance, Deana Barroqueiro traz-nos uma visão global sobre os séculos XV e XVI, um dos períodos mais violentos e conspirativos, mas também mais animados, cultos e fecundos de Portugal, através dos olhos de alguém que o testemunhou.

PRÉ-VENDA ONLINE: EDITORA MANUSCRITO/PRESENÇA

11/01/2024

Deana Barroqueiro - Refeitório - Antena 1


 ENTREVISTA PARA A ANTENA 1 (RDP) - REFEITÓRIO A entrevista a Deana Barroqueiro feita por Joana Barrios, no seu programa Refeitório, sobre a sua trilogia da História dos Paladares, vencedora de cinco prémios mundiais de Literatura Gastronómica, incluindo o Gourmand Best in the World Awards - Series. Fala-se também de História da Alimentação e de gastronomia portuguesa, das suas "actividades culinárias", e de escrita de romance histórico português. Foi no dia 13 de Janeiro, em que cortaram a parte final, pois nem a entrevistada nem a entrevistadora deram pela passagem do tempo. Mas, podem ouvi-la na íntegra, se tiverem pachorra para isso, AQUI