30/11/2013

TEDxBelémWomen

TEDxBelémWomen
x = independently organizes TED event
“Inventado aqui: desbravar novos mundos”

Museu da Electricidade, 5 de Dezembro

PROGRAMA...


15h 00m | Recepção

15h 30m | Boas vindas e vídeo institucional TED

15h 40m | Cândida Pinto, jornalista

16h 00m | Sandra Correia, empresária

16h 20m | Marta Gautier, psicóloga e stand up comedian

16h 40m | Deana Barroqueiro, escritora

17h 00m | Pausa para café

17h 30m Performer: Diana Catarino, Saxofonista

17h 40m | Mariana Moura Santos, designer

18h 00m | Helena Vieira, empresária

18h 20m | Mísia, fadista

18h 40m | Intervalo

19h00m | Streaming 1.º sessão da TEDWomen São Francisco

 20h 30m | Encerramento
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25/11/2013

Crianças em risco sinalizadas aumentaram 25% em 2012


Disparou o número de crianças e jovens em risco sinalizados pelos serviços de saúde
Actualmente, gabinetes do Instituto de Apoio à Criança seguem quase 10% do total dos alunos das escolas onde têm presença. Desestabilização das famílias, causada pelo agravar da crise, pode estar a levar ao aumento da violência e negligência.

Foram 6815 os casos de crianças e jovens em risco que mereceram a atenção dos serviços de saúde e que foram sinalizados às autoridades competentes em 2012, o que representa um crescimento de 25% em relação ao ano anterior, indicam os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS). A negligência continua a ser o motivo mais comum.

O relatório da Comissão de Acompanhamento da Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco, que a DGS acaba de divulgar, considera que “esta tendência de crescimento poderá reflectir um efectivo número aumentado de situações que envolvem suspeita ou perpetração efectiva de maus tratos a crianças e jovens – fenómeno ao qual, sendo verdadeiro, não será alheio o contexto de crise global que as comunidades enfrentam nos últimos anos”.
 
Porém, a comissão entende também que “tanto a maior sensibilização e capacidade de detecção de contextos e sinais de risco ou de perigo, por parte das equipas e dos serviços de saúde, como o desenvolvimento de formas mais concertadas de cooperação e de intervenção têm contribuído para este panorama, de uma forma assinalável”.

Desde 2008 até 2012 foram reportados um total de mais de 24 mil casos, o que dá uma média anual de quase cinco mil crianças ou jovens. No que diz respeito aos motivos que levaram os serviços de saúde a reportar os maus tratos, à semelhança dos anos anteriores, a negligência domina com 67%.

O número de casos identificados como “outros” teve também um crescimento significativo para 9% (em 2011 eram 3%). Os maus tratos psicológicos representaram 12% das queixas, os físicos 7% e os abusos sexuais 5% – percentagens em linha com os anos anteriores.

Acções dificultadas por razões financeiras

Quanto à forma como os casos foram tratados, os sinalizados a outras instituições representam 47% do total, o que “parece apontar para um aumento na capacidade própria de gestão dos casos por parte dos serviços de saúde onde se processa a sinalização”. Já dentro dos que foram encaminhados, 39% foram para as comissões de Protecção de Crianças e Jovens, 12% para o Ministério Público/Tribunais e 49% para as chamadas "instituições de primeira linha".

No relatório, a DGS assume que os constrangimentos financeiros tiveram alguns reflexos no trabalho das equipas e dificultaram algumas acções, mas diz acreditar que o Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, em vigor desde Junho de 2013, traz benefícios em termos de organização e uniformização das práticas nacionais.

O documento da DGS é conhecido um dia depois de ter sido divulgado um relatório da Unicef Portugal que revelava que pelo menos 500 mil crianças e jovens perderam o direito ao abono de família entre 2009 e 2012, e muitas outras viram o seu valor ser reduzido. Esta medida, juntamente com a política de austeridade, está a fazer aumentar a taxa de risco de pobreza entre as crianças portuguesas e o número de pedidos de ajuda registou um "aumento sem precedentes".

O trabalho foi feito a partir dos contributos de várias organizações não-governamentais, como a Associação para a Promoção da Segurança Infantil, a Caritas Portuguesa e a Confederação Nacional de Acção sobre Trabalho Infantil, e dizia que, em 2011, a taxa de pobreza entre crianças subiu para 28,6%, pelo que volvidos quase dois anos poderá estar ainda mais alta.

Por Romana Borja Santos, 16 de Novembro 2013

23/11/2013

Carta aberta de um professor ao primeiro-ministro: não farei qualquer exame retroactivo

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar.
Manuel Maria Magalhães, no Público 22/11/2013                  
 
O meu nome é Manuel Maria de Magalhães e sou professor profissionalizado do grupo 410 (Filosofia), desde 2002. Desde então fui contratado por 13 escolas, em cinco distritos diferentes (Viana do Castelo, Braga, Porto, Guarda e Viseu). Em todas excedi sempre aquilo que me era pedido, como prova o reconhecimento, em alguns casos público e formal, que alunos, colegas, órgãos das escolas e encarregados de educação prestaram ao meu trabalho.
 
Em termos de formação contínua de professores desprezei sempre as acções de formação promovidas pelo ministério através das suas direcções regionais, que conjugam o verbo "encher" na perfeição, para procurar na academia a continuação dos meus estudos sob a forma de congressos ou mesmo na execução de duas pós-graduações nas áreas em que o meu grupo disciplinar se move. Em todas as escolas o meu trabalho foi avaliado, de acordo com o estipulado, tendo inclusivamente sido dos primeiros a submeter-se voluntariamente às "aulas assistidas". Em consequência das suas políticas educativas encontro-me no corrente ano desempregado e sem perspectivas de encontrar colocação nesta área, tal como dezenas de milhares de colegas meus, muitos deles com uma história profissional bem mais dura do que a minha e muitos mais anos de serviço. É neste quadro que Vossa Excelência, através do seu ministro da Educação, nos quer obrigar a fazer um exame para poder continuar a concorrer ao ensino. Era a humilhação que faltava e a maior de todas.

Ao enveredar por este caminho, Vossa Excelência está a descredibilizar todos os docentes com provas dadas nesta causa que é tomada como uma missão em prol do desenvolvimento do país. Está a descredibilizar as universidades que nos formaram e as escolas que nos avaliaram. Está a destruir a credibilidade do próprio ensino, através de uma avaliação retroactiva, sem fundamento, obscura nos seus contornos, pois até esta data pouco se sabe sobre o processo, que é mais próprio de regimes ditatoriais revolucionários do que de democracias maduras, onde todas as partes devem ser ouvidas.

Estou de acordo consigo num ponto: a Educação não está bem,apesar dos esforços de tantos, mas residirá apenas na classe docente a causa desse mal? Já reparou que todos os governos eleitos impuseram uma política de Educação diametralmente diferente dos anteriores? Já se deu conta que a Educação foi verdadeiramente uma área em que se "atirou dinheiro" para cima dos problemas na esperança que passassem? No ensino, como em muitas outras áreas, também existiu o privilégio do betão face à formação. Quantas escolas não têm psicólogos, sobretudo clínicos, que tanta falta fariam aos inúmeros casos dramáticos que assolam milhares de alunos? Que vínculos tem o Estado, através da Segurança Social, para ajudar a estabelecer pontes entre as famílias e a Escola? O que se (não) tem feito em termos de prevenção da indisciplina em ambiente escolar, seja na sala de aula ou fora dela? O que fez o Estado para promover a autoridade (não autoritarismo) do professor e do auxiliar de acção educativa que ainda é tratado, à maneira do Estado Novo, como um mero contínuo, desprezando o seu vital papel nas escolas? Construir ou renovar escolas não chega… Se quer introduzir alterações em atitudes e comportamentos dos docentes, este não é seguramente o melhor caminho. Se analisar a formação que o ministério nos disponibiliza, constatará que não tem, na maioria dos casos, qualquer interesse em termos pedagógicos. Já pensou em fomentar a ligação entre as universidades e as escolas neste sentido? Ao persistir neste caminho, Vossa Excelência encerra em si o pior modelo de docência: o do professor que obriga os alunos a uma avaliação para a qual não os preparou.

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar. Não farei qualquer exame retroactivo, imposto de forma ditatorial. Se o preço a pagar for a exclusão definitiva do ensino, assumo-o. Mais importante do que as palavras que proferimos é o exemplo que perdura. A dignidade não está à venda e não posso ser incoerente com tudo o que tenho passado aos alunos que o Estado me entregou. Ainda assim tenho a esperança que Vossa Excelência tenha a humildade (uma das maiores, se não a maior, virtude humana) de reconhecer o erro que esta medida encerra e procurar novas soluções.
Professor de Filosofia

Diamantes são os melhores amigos dos governantes tiranos e corruptos

Diamantes de sangue são só os de uma zona de guerra ou também os de um Estado corrupto?

Por    Público, 22/11/2013 - 12:12

22/11/2013

Sobre o encontro promovido por Mário Soares

No programa Quadratura do Círculo, da Sic Notícias de ontem, 21 de Novembro, debateu-se o encontro promovido por Mário Soares, "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado social".

Pacheco Pereira, apesar de ser um histórico do PSD, tem vindo a tomar posições de defesa cerrada da população portuguesa sacrificada até ao limite por este Governo, incompetente, mentiroso e sem um vislumbre de solidariedade (palavras suas).

Neste vídeo, também Lobo Antunes (com quem raramente concordo) analisa, do ponto de vista do CDS-PP, a fraca intervenção e oposição do partido socialista, falho de ideias para uma alternativa que nos tire deste impasse.

Vale a pena ouvir a análise indignada mas objectiva de Pacheco Pereira, que se faz porta-voz da revolta ou do silêncio de milhões (não é um exagero) de portugueses.

NÃO É "DEFENDER" A CONSTITUIÇÃO, É "DEFENDER" O TRIBUNAL CONSTITUTCIONAL

 José Pacheco Pereira, no Público
 

Já que há por aí abundantes “pressões” para que o Tribunal Constitucional não aplique a Constituição, venho aqui “pressioná-lo” para que a aplique.

Não é por razões jurídicas, nem de interpretação constitucional, para que não pretendo ter competência, mas por razões de política e democracia, que é a razão suprema pela qual temos uma Constituição e um Tribunal Constitucional. É pela Constituição escrita e pela não escrita, aquela que consiste no pacto que a identidade nacional e a democracia significam para os portugueses como comunidade. É por razões fundadoras da nossa democracia e de todas as democracias e não conheço mais ponderosas razões que essas, porque são os fundamentos do nosso contrato social e político que estão em causa, muito para além das causas daqueles que se revêem na parte programática da Constituição.

Eu revejo-me em coisas mais fundamentais, mais simples e directas, que também a Constituição protege e de que, por péssimas razões, hoje o Tribunal Constitucional é o último baluarte. O Tribunal Constitucional é hoje esse último baluarte, o que por si só já é um péssimo sinal do estado da democracia, porque todas as outras instituições que deviam personificar o “bom funcionamento” da nossa democracia ou não estão a funcionar, ou estão a funcionar contra. Refiro-me ao Presidente da República, ao Parlamento e ao Governo. E refiro-me de forma mais ampla ao sistema político-partidário que está no poder e em parte na oposição. Quando falha tudo, o Tribunal Constitucional é o último baluarte antes da desobediência civil e do resto. Se me faço entender.

Há várias coisas que num país democrático não se podem admitir. Uma é a teorização de uma “inevitabilidade” que pretende matar a discussão e impor uma unicidade na decisão democrática. Tudo que é importante nunca se pode discutir. A nossa elite política fala com um sinistro à-vontade da perda de soberania, do protectorado, da “transmissão automática” de poderes do Parlamento para Bruxelas, sem que haja qualquer sobressalto nacional, até porque são aspectos de uma agenda escondida que nunca se pretende legitimar democraticamente, mesmo que atinja os fundamentos do que é sermos portugueses. É um problema para Portugal como país e para a União Europeia enquanto criação colectiva em nome da paz na Europa e que está igualmente presa numa agenda escondida, a que deu a Constituição Europeia disfarçada de Tratado de Lisboa, o Pacto Orçamental para “pôr em ordem” os países do Sul, e a que permite a hegemonia alemã e das suas políticas nacionais transformadas em Diktat. Uma parte da perda de democracia e da soberania em Portugal, com a constituição de uma elite colaboracionista, vem do contágio de uma União Europeia cada vez menos democrática.

Em nome de um “estado de emergência financeira” que umas vezes é dramatizado quando convém e outras trivializado quando convém, seja para justificar impostos, cortes de salários e pensões, na versão “estado de sítio”; ou para deitar os foguetes com o 1640 da saída da troika e do “milagre económico”, na versão “já saímos do programa”, considera-se que nada vale, nem leis, nem direitos, nem justiça social.

A teorização da “inevitabilidade” tem relação com a chantagem sobre o que se pode discutir ou não. Que um ministro irresponsável resolva avançar com números dos juros pré-resgate, isso só se deve à completa falta de autoridade do primeiro-ministro, traduzida na impunidade dos membros do Governo. Mas, quando se considera que os portugueses não devem discutir seja o resgate eventual, seja o chamado “programa cautelar”, está-se no limite de uma outra e mais perigosa impunidade: a de que os “donos do país”, a elite do poder, os cognoscenti, mais os seus consiglieri no sentido mafioso do termo, na alta advocacia e consultadoria financeira, o sector bancário e financeiro, o FMI, o BCE, a Comissão Europeia, podem decidir o que quiserem sobre os próximos dez ou 20 anos da vida dos portugueses sem que estes sejam alguma vez consultados. Aliás, é mais do que evidente que a pressão sobre o PS para que valide a política do Governo e da troika, e que assuma compromissos de fundo com um “programa cautelar”, que pelos vistos antes existia, mas agora não existe, destina-se a tirar qualquer valor ao voto dos portugueses. A ideia é que votando-se seja em quem for, a não ser que houvesse uma maioria PCP-BE, a política seria sempre a mesma. Esta transformação das eleições e do voto em actos simbólicos de mudança de clientelas, sem efeito sobre as políticas, é o ideal para os nossos mandantes e para os nossos mandados, e é uma das suas mais perigosas consequências.
 

21/11/2013

Como os partidos manipulam os fóruns e redes sociais

Assusta-me viver num país em que, na política, se pode usar impunemente da calúnia, da trapaça, da manipulação criminosa da opinião e informação, para se chegar ao poder. Sem olhar a meios, sem vergonha, sem escrúpulos.

E, como se de um grande feito se tratasse, gabam-se pública e despudoramente destes crimes, das conjuras anónimas ou de falsos perfis, que no fim lhes deram o prémio do "tacho" pelos serviços prestados. Impunemente, porque além de alguma indignação do cidadão honesto, nada lhes acontece.

As declarações de um certo Fernando Moreira de Sá, numa entrevista à Visão, mostram a baixeza e corrupção a que desceu a política no nosso país e a degradação moral de alguns dos nossos políticos ou das cliques partidárias. Basta ler os nomes indicados pelo entrevistado e ver-se-á como o crime compensa.

Tudo isto me parece um caso de polícia, de tribunais e sê-lo-ia decerto se estivéssemos num país verdadeiramente democrático e não nesta democracia-de-faz-de-conta, em que um povo inteiro dobra a cerviz a uma gentalha que o espezinha e o destrói, enriquecendo à custa da sua miséria e humilhação.

Para quem não leu a entrevista, pode fazê-lo aqui:   https://docs.google.com/file/d/0B2K63qChWXqKUUZyMnhqREtKZmhBbkprLWZiNlViTjRLNHJn/view?sle=true
ou aqui: http://aventadores.files.wordpress.com/2013/11/visc3a3o_entrevista-fms.pdf

19/11/2013

A hipocrisia de João César das Neves

Na sua crónica, no DN de18-11-2013, denominada "Ano da Fé", o católico praticante João César das Neves afirma devotamente:
 
"Não há felicidade maior do que saber que Deus, o Deus supremo, sublime, transcendente, que fez o céu e a terra, se entregou à morte para me salvar. A mim pessoalmente.". E a meio de um longo acto de contrição pelos seus pecados, acrescenta: "Eu, no medíocre quotidiano, continuo a mesma mesquinha criatura que sempre fui.".
 
Bom, do mal o menos, pois João César das Neves reconhece a sua mesquinha natureza, porque sendo professor universitário e economista, não se pode desculpar com a ignorância, quando tece considerações como as que lhe temos ouvido nos media, sobre os pobres, os desempregados e pensionistas do seu país, de que cito alguns exemplos:
 
O economista considera que baixar a idade da reforma seria "suicida”. 
João Cèsar das Neves defende que aumentar o salário mínimo "é estragar a vida aos pobres".  
 
"A taxa de desemprego das pessoas sem formação aumentou em Portugal nos últimos tempos. Subir o salário mínimo, ou seja, tornar mais caro esse trabalho, seria a pior maneira de ajudar essas pessoas", declarou João César das Neves em entrevista ao DN/TSF. O professor mostrou-se a favor do aumento da idade da reforma. "Se as pessoas vivem mais tempo, em melhores condições, é estúpido baixar a idade da reforma, é suicida”, explicou.
 
O economista considera ainda que "uma das piores coisas que está a acontecer em Portugal é haver uma data de gente a falar de pobres que não são pobres e que, em nome dos pobres, querem defender o seu".
 
"A maior parte dos pensionistas não são pobres e estão a fingir que são pobres. E dos verdadeiros pobres ninguém fala ou, quando fala, é para dar direitos a todos os outros”, acrescentou.
 
Lamento que um católico tão fervoroso na sua crença,  como é João César das Neves, não siga os ensinamentos do Cristo (que morreu por ele!) ou, nem sequer, nos nossos dias, o exemplo do Papa Francisco, e em vez de se solidarizar com a miséria da maioria dos seus concidadãos, antes os apode de fraudulentos, oportunistas e mentirosos.

Contudo, tal como existem vigaristas em todas as categorias e estratos de qualquer sociedade do mundo, capazes de fingir que são pobres para terem proveitos indevidos, também neles pululam os  hipócritas, os tartufos de barriga cheia e sem um pingo de consciência ou generosidade pelo sofrimento alheio.
 
"Vade retro", Satanás! - digo eu que não sou crente, mas porque me sinto indignada.

 
 

16/11/2013

Donos de Portugal


Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza.
Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.
No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui.
Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves.
A estreia televisiva teve lugar na RTP2 a 25 de Abril de 2012. Desde esse momento, o documentário está disponível na íntegra em donosdeportugal.net.
Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento e com mais de 12 mil exemplares vendidos.
donosdeportugal.net
facebook.com/donosdeportugal

15/11/2013

Don DeLillo. O contador da história americana


Por Maria João Lourenço
 
A pretexto do filme de Zapruder, o escritor foi ao Nimas ler excertos de "Submundo" e falar de "Libra". Integra o júri da competição de curtas do Lisbon & Estoril Film Festival

"Tudo o que queria quando comecei a escrever era contar algo sobre o meu bairro e sobre as pessoas que conhecia." A frase de Don DeLillo, sintética e sentimental, diz bastante sobre o escritor. O bairro é o Bronx, onde nasceu há 76 anos (à beira de 77), filho de pais italianos. Nos seus romances (em número de 15, a caminho de 16), nas suas cinco peças de teatro, no recente livro de contos "O Anjo Esmeralda", o Bronx vive em toda a vitalidade das personagens e dos cenários. Mas o bairro de DeLillo é, numa leitura mais profunda, a América inteira e o mundo em que vivemos.
"Submundo", premiado com o American Book Award em 1987, surge como o grande romance americano que conta a história de um país dividido, habitado por todas as raças e povoado de contradições. O escritor põe na boca das suas personagens as hesitações e os medos comuns, a angústia do cidadão moderno diante da alta tecnologia, a ditadura dos "ismos". Frank Sinatra, J. Edgar Hoover, Lenny Bruce, entre outros, partilham o enredo com jogadores de basebol e peões da história. As pequenas figuras agigantam-se, pedem meças aos heróis: não calam a sua voz, falam a nossa linguagem e, como tal, exprimem muitas vezes sentimentos contraditórios. DeLillo escreve com os pés na terra ("o acto de escrever requer concentração intensa", explica) e para além das fronteiras do pensamento.
No cinema Nimas, o público abre alas e deixa passar Coetzee. Não é todos os dias que temos um Nobel da Literatura entre nós, oiço dizer a um crítico. Seguem-se Paul Auster e Siri Hustvedt, marido e mulher, escritores nossos conhecidos. Discreto, Don DeLillo vem atrás e entra sozinho na sala de cinema, quase igual à imagem que tenho dele. Uma diferença evidente? Usa óculos de aros redondos. Cabelo praticamente todo branco, porte elegante e enxuto, postura recatada. Quase jurava que a camisa azul-celeste é a mesma das fotografias. Não vai ser possível confirmar. Não há fotografias para ninguém, avisa o produtor Paulo Branco.
Nada de imagens, portanto. Antes de começar a ler, diante do púlpito, fala de improviso sobre o filme "Frame by Frame", de Abraham Zapruder, o alfaiate que captou com a sua câmara o momento em que Kennedy foi assassinado. Tem voz rouca, com inflexões suaves. "Os mais importantes 26 segundos de filme na história dos Estados Unidos." O filme é curto, os fotogramas são repetidos à exaustão. "Esticámos ao máximo o material que havia", refere DeLillo. No total, 486 fotogramas que se prolongam por mais de oito minutos. A montagem privilegia, entre outras, a repetição do fotograma 313, quando John F. Kennedy é atingido na cabeça pela frente, e que "mostra pedaços do cérebro e sangue".
O cansaço começa a traduzir-se na voz. O escritor aclara a garganta. Aquele velho rebuçado para a tosse no bolso podia ajudar, penso. A leitura chega ao fim, as imagens continuam a ser projectadas, no canto do ecrã recorta-se a sombra de DeLillo. Toca com o dedo na cana do nariz, uma vez. Kennedy tombou ene vezes. Às tantas, sinto a minha cabeça cair para trás, imitando sem querer o movimento feito pelo presidente dos Estados Unidos sob o impacto da última bala (deixemos as teorias para os estudiosos). DeLillo aproveita o silêncio e percorre a plateia com o olhar, atentamente.
"Foi um grande momento", dirá Paulo Branco no final. A sessão não acabou com o filme. Ao produtor juntou-se Paulo Faria, excelente tradutor das obras mais recentes. A conversa parte de "Submundo" e acaba" em "Libra", poderoso exercício de ficção sobre os acontecimentos que antecederam a morte de Kennedy, focado em Lee Harvey Oswald (LHO). "A dor e o luto, o mal-estar, os protestos..." marcaram os tempos que se seguiram. A paranóia, como não podia deixar de ser, é uma palavra-chave na escrita de DeLillo: "A paranóia alastrou a todo o país."
"Não fazia ideia de que ele vivia tão perto de mim", confessou DeLillo. Um dia deu-se conta de que tinham vivido separados por cinco ou seis quarteirões. "Eu via e ouvia as mesmas coisas que ele via e ouvia." Se calhar frequentaram o mesmo jardim zoológico, uma vez que gostavam ambos de passear por lá, efabula o escritor. Paulo Faria pergunta-lhe se teve alguma epifania. DeLillo rejeita a ideia. "Nos três anos que demorei a escrever o livro conservei uma fotografia do LHO sobre a secretária. Depois, em Agosto ou Setembro de 1987, a fotografia caiu." Toda a gente ri. "É uma história verdadeira", afirma.
O escritor olha para a sala, procura os olhares de quem foi até ali, mais do que ver um filme histórico, ouvir de viva voz um dos grandes escritores do nosso tempo. O grande autor americano, para muitos. Vê-se que está cansado, oiço dizer mesmo ao meu lado.
"Uma coisa sei", diz DeLillo, "estamos a chegar ao fim". No meu bairro, duas chinesas de meia-idade desafiam as primeiras horas da manhã e jogam badminton. Uma delas (a mais velha?) nunca tira a mão da cintura. Se Don DeLillo morasse ao pé de mim já estariam dentro de um romance dele, transformadas em personagens de ficção, aposto.

Mentiras Políticas II

Campanhas ao negro 
por FERNANDA CÂNCIO
 
Gaspar fazia reuniões em off com jornalistas para dizerem em conjunto mal do Executivo anterior e cantarem loas à austeridade. Passos foi eleito na campanha interna do partido graças a um punhado de bloggers "especializados em desinformação" coordenados por Relvas, que também orquestrou a das legislativas; não teve estado de graça porque mal ganhou compensou todos (menos um?) com sinecuras, destruindo "a rede".

A primeira revelação é de André Macedo na sua coluna de ontem no DN, close-up de um ministro pintado pelos media como "um técnico puro" que afinal se desvendava em 2011, mal pegou ao serviço, como propagandista politiqueiro. A segunda efabulação é de um consultor de comunicação entrevistado pela Visão a propósito de uma alegada tese sobre "a importância da comunicação política digital na ascensão de Passos" e que assume a existência de campanhas negras contra o Governo Sócrates, com criação de "perfis falsos" no Facebook e no Twitter: "Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo."

Estes dois vislumbres sobre a génese e a natureza do Governo Passos têm, até pela credibilidade muito distinta dos emissores, valores diferentes. Do que o André conta anota--se não que um político quis trazer a si os media - qual o espanto? -, mas que os jornalistas lhe saltaram para o colo, entusiasmadíssimos com as "ideias" da troika/Gaspar. Daquilo que o consultor de comunicação diz, entre infrene autopromoção, falsidades e absurdos (como garantir que em 2009 os blogues políticos tinham 30 mil visitas/dia e que a net foi fundamental para as vitórias), ressalta a ironia de certificar que os apoiantes do atual PM, incluindo "jornalistas no ativo" que, aliás, nomeia, fizeram tudo aquilo que imputavam furiosamente aos do Governo PS. Vai ao ponto de asseverar que a sua "equipa de voluntários" tomou como modelo de atuação o blogue Câmara Corporativa, que acusavam (emulando Pacheco Pereira, autor da teoria) de ser feito e pago a partir do gabinete de Sócrates, "usando informação privilegiada sobre pessoas": "Não éramos anjinhos, sabíamos bem ao que íamos", diz, gabando-se de que o seu "grupo" recebia "filet mignon informativo" do PSD de Passos através de "um mail fechado".

Mas a ironia não fica por aqui. Ao mesmo tempo que clama ter participado em campanhas ínvias e negras para manipular os media e a opinião pública, o entrevistado da Visão repete a acusação de que o gabinete do anterior PM fornecia "informação privilegiada sobre pessoas" ao tal blogue, sem que a revista exija dessa gravíssima alegação qualquer prova ou sequer exemplo. Às tantas, o tipo é mesmo, como pretende convencer (ou recordar?), muito bom no que faz. Ou temos de concluir que, como afiança, vivemos num "caldinho jeitoso para isto."
Diário de Notícias, 15 de Novembro, 2013

Mentiras Políticas I

O preço da desilusão
por ANDRÉ MACEDO
 
A primeira vez que estive com Vítor Gaspar foi dias antes de ele apresentar o seu primeiro Orçamento do Estado completo, o de 2012. A reunião, fechada, não uma conferência de imprensa, durou 45 minutos sem grande história quase até ao fim, já que os factos eram aqueles: Portugal tinha sido chutado dos mercados de dívida e forçado a recorrer à disciplina externa. Sabia-se que o ano que vinha aí seria mau, mas a convicção geral, fundada em nada a não ser na mais pura ignorância, era de que íamos corrigir os erros, começar a desalavancar (palavra maldita, ela e o seu contrário) e em três anos estaríamos de pé.

O que fazer na economia já em 2012 para acelerar esse metabolismo era a pergunta central, mas Gaspar não avançou nada naquele encontro. Não adiantou uma medida que fosse do Orçamento. Limitou-se a descrever "os buracos colossais" e, quase no fim, perguntou o que achávamos do que aí vinha. Espantou-me o convite descarado para uma espécie de sessão de male bonding sem imperiais e futebol, em que Sócrates seria o bombo da festa e o Governo, ainda engomado, a governanta, a precetora que nos iria corrigir.

Perguntar a jornalistas o que acham é como oferecer margaridas a um enxame de abelhas. Baixei a cabeça como os alunos cábulas e esperei que outros avançassem. Porque o fiz? Por desconfiança. Tudo aquilo me pareceu incómodo. Gaspar não dissera nada sobre o Orçamento para 2012, por que raio queria vincular-nos ao nada? Os outros seguiram em frente, passaram um cheque em branco ao ministro que veio do frio. Pediram rigor, exigiram dureza, mesmo sem saber do que estavam a falar. Ajoelharam-se no altar da austeridade e pediram outra reguada.

E Gaspar deu-a - iria dar de qualquer maneira. Foi além da troika e do que seria imaginável fazer. Foi brutal, imprudente, arrogante. Há ainda quem o confunda com coragem. Assumiu todas as dívidas, mesmo as que estavam fora do perímetro do Estado e não tinham a garantia da República (esta conta surda está por fazer, embora a ser paga). No fim, antes de desertar para o bunker do Banco de Portugal, deixou o desemprego em 18% e o resto do País armadilhado e atado. Levaremos anos a sair deste nó cego que ele deu sobre o outro que Sócrates deixou. Quem chega ao mercado de trabalho com níveis de desemprego assim está condenado a uma década de penúria e desvantagem. O atraso e o medo colam-se à pele.

Hoje a economia dá alguns sinais de vida, suspiros de tísico, mas o pulso é fraquinho. Chegados aqui, quando é cada vez mais difícil pôr o espetáculo na rua - trabalhar, vender, produzir, escrever, acreditar -, lembro-me de um soneto de António Nobre: "Amigos/ Que desgraça nascer em Portugal." Logo eu que faço parte da geração que acreditou no contrário. Quanto nos custará esta desilusão? Estará dentro do budget?
Diário de Notícias, 14 de Novembro, 2013

12/11/2013

O pai de 130 cães de rua

Christopher Barden não tem filhos mas tem a guarda de mais de uma centena de cães. O norte-americano é responsável por um abrigo e uma loja de adopção de animais nos subúrbios de Pequim, que vive de doações e do trabalho de voluntários. Há três dias recebeu a notícia de que os novos planos de desenvolvimento do bairro prevêem a demolição do espaço. Faltam leis na China para a protecção dos animais e de apoio a todos aqueles que os querem ajudar, defende Barden.
Catarina Domingues, em Pequim

“Este é o Louie, tem um ano e foi encontrado ferido à beira da estrada”, diz Christopher Barden. Louie, de pelo curto e tigrado, levanta-se, e ladra, e atira as patas da frente para as grades verdes e metálicas. É mais longo que alto, e ladra sempre que Barden aqui chega, e chora sempre que o dono não está. “Está a ver aquele castanho e pequeno a olhar para nós? Chama-se Erhuang, a tradução do chinês pode ser “o segundo amarelo”, quando chegou aqui tinha a perna esquerda partida. O bairro onde Erhuang vivia foi demolido para dar espaço a uma nova área de desenvolvimento”, explica Barden, e quando terminaram a construção, começaram a abater os cães. Foi a “Auntie Bo”, que lhes dava de comer há mais de três anos, que nos ligou.

Barden utiliza sempre a primeira pessoa do plural para falar do abrigo e da loja de adopção de animais que abriu há cerca de três anos, no distrito de Shunyi, nos subúrbios de Pequim. Mas este é um projecto de um só homem, que começou por ajudar uma dezena de animais de rua e acabou com 17 gatos em casa, trinta cães na loja de adopção e cem neste abrigo.

Dois cães, um é claro o outro escuro, disputam Barden, e querem a mão de Barden, e batalham a atenção do dono, e logo vem o “Uncle Gao”, funcionário do abrigo, para pôr ordem no pátio. Aquele mais escuro tem ciúmes e às vezes ficamos preocupados porque pode ser agressivo, diz Barden.
Atrás do pátio, outro pátio, “isn´t it awesome”?, este ano já demos para adopção 44 cães, o que para os padrões ocidentais pode não ser nada, mas para a China é muito. O Inverno vem aí, e há cada vez mais pessoas a adoptar. Este ano só morreram dois cães.

De uma pequena loja para um abrigo

Barden chegou à China em 1997 para trabalhar como jornalista e editor de uma revista em língua inglesa. “Mas há cinco anos comecei a apoiar pequenas acções de resgate de animais”, diz o norte-americano, que abriu a “Lingyang xiaopu” (Pequena Loja de Adopção) para fazer a comunicação entre abrigos de animais e equipas de resgate. “Acabei por escrever sobre este projecto no Weibo, uma rede social chinesa, e comecei a receber chamadas para dar apoio a resgates a animais em dificuldades”.

Quando tudo começou, Christopher tinha apenas trinta cães na Pequena Loja de Adopção. Mas em Abril de 2010, viu-se envolvido numa mega-operação de resgate. Cerca de 500 cães seguiam num camião, que tinha partido da província de Henan em direcção à província de Jilin, para serem abatidos e vendidos para consumo. No momento em que atravessava uma das auto-estradas da capital chinesa, o veículo foi travado por um activista dos direitos dos animais. “Ao princípio seguimos o caso no Weibo, mas depois também fomos para o meio da estrada e exigimos a libertação dos animais. Muitos dos cães que está a ver aqui neste abrigo estavam naquele camião”, explica.

Como o transporte, a venda e o consumo destes animais não violava a lei chinesa, activistas e organizações de caridade chegaram a um acordo e compraram os animais, relembra Barden, que ficou responsável por 89 dos cães transportados. “Uma amiga tinha inaugurado um hospital veterinário e o espaço estava vazio, perguntei-lhe, que achas?, queres levar os animais?, foi uma decisão que tomei em dez minutos, e que fez com que me desviasse do meu caminho, que perdesse a noção do meu objectivo, que inicialmente era ajudar outros abrigos e não tornar-me dono de um”. Vinte dos cães resgatados morreram com doenças infecciosas graves.
Falta de lei dificulta protecção

Num caso mais recente, activistas pagaram 100 mil renminbis para resgatar cerca de 400 cães de um festival em Yulin, na província de Guangxi. O Festival de Carne de Cão realiza-se todos os anos no solstício de Verão, e só na edição de 2013 foram abatidos mais de dez mil animais. De acordo com uma sondagem online do jornal de língua inglesa Global Times, o consumo de carne de cão ainda divide a população chinesa, com 49 por cento dos inquiridos a defender a permanência desta tradição.
“Diria que apenas 0,1 por cento da população consome este tipo de carne, mas é o suficiente para que muitos cães caiam nas teias do comércio de carne”, explica Christopher Barden, que acredita que é urgente uma lei para pôr termo a este tipo de comportamento. “Não há legislação que proíba o consumo de carne de cão ou que regulamente a venda dos animais e isso torna muito difícil o nosso trabalho de resgate”, diz o responsável. Christopher chama ainda a atenção para as condições precárias dos mercados que vendem cães. “As condições são horríveis, diria que 90 por cento dos animais não são vacinados e são vendidos com doenças”, realça.

Na China, todos têm o direito de comprar, vender, consumir ou abater estes animais, sublinha Mary Peng, fundadora do Centro Internacional para os Serviços Veterinários. “Ainda não foi feita uma distinção clara daquilo que é um animal de estimação, gado ou animal para consumo”, diz a especialista, acrescentando que a lei é apenas clara quando se trata de espécies animais protegidas.

A China e o cão

Antes da era maoista, os cães faziam parte da vida de Pequim e de outras cidades chinesas. Com a Revolução Cultural, os níveis de pobreza extrema deixaram de permitir à população o luxo de um animal de estimação. Os animais serviam apenas para apoiar a agricultura e contribuir para a produtividade, e os cães eram vistos como uma marca do imperialismo estrangeiro, tinham perdido o estatuto de fieis companheiros e eram utilizados apenas como guardadores de fábricas ou celeiros.

Também os surtos de raiva contribuíram para a exclusão destes animais. De acordo com o Centro Internacional para os Serviços Veterinários, morrem anualmente na China entre 2500 e 3000 pessoas com raiva. Mais de 95 por cento das infecções mortais são transmitidas por cães.
Para prevenir novos surtos de raiva, nos anos 80 do século passado, entrou em vigor em Pequim uma nova lei de propriedade canina, que proibia a guarda destes animais nas casas chinesas. A lei sofreu alterações no início da década seguinte e hoje em dia são permitidos cães até aos 35 centímetros de altura nos oito distritos centrais da capital. “Nesses anos 1990, o primeiro registo de um cão custava cinco mil renminbis e a renovação deste registo chegava aos dois mil renminbis. Era quase o salário anual de um agregado familiar”, explica Mary Peng, realçando que o preço do registo pretendia ter um efeito desencorajador sobre as pessoas.

Os cães de grande porte ainda são vistos como animais agressivos e estão associados a esses antigos guardadores de propriedades, que bloqueavam as entradas e assustavam as pessoas, diz Peng. A lei ainda é contestada por activistas, especialistas e amantes de animais, que defendem que o tamanho do cão não deveria estar directamente relacionado com a perigosidade do animal.

Amados e abandonados

“Yaya é a ‘prima donna’, não gosta das outras senhoras e quando a levo a passear tem de ser com outros machos”, diz a sueca Lena Walther, uma das voluntárias na Pequena Loja de Adopção de Christopher Barden. Na China, a melhoria da situação económica das famílias fez com que iniciassem um processo de adopção sem precedentes, explica Walther, que em 2005 não se lembra de ver muitos cães nas ruas pequinenses.

Mas, além de um maior poder de compra das famílias chinesas, houve um outro fenómeno social que influenciou a relação dos chineses com os animais de quatro patas: a política do filho único e o consequente aumento da população envelhecida. “Os mais idosos e as famílias com apenas um filho são os principais núcleos de adopção porque procuram companhia”, explica Wang Hui Wu, veterinário na clínica Ai Le no bairro de Shijingshan, em Pequim.

O espaço, que também acolhe animais para adopção, tem incorporada uma pequena loja onde se encontra de tudo e em tamanho pequeno, casaquinhos, calcinhas, sapatinhos, e outros acessórios para gatos e para cães. E é assim bairro sim, e bairro sim, em Pequim multiplicam-se os locais VIP para caninos, desde cabeleireiros, clínicas dentárias, até piscinas, cinemas e bares que permitem a entrada destes animais. Pelas ruas da cidade, passeiam-se animais com roupas de marca, cristas laranja, verde florescente e laços da Hello Kitty. “Em apenas uma geração, os animais deixaram de estar acorrentados num quintal para se tornaram membros de uma família e andarem dentro de casa e até na cama”, explica Mary Peng, que se lembra de começar por ver nas ruas da capital pastores alemães, depois golden retriever, mais tarde dálmatas, e bulldogues e agora caniches.

Como se explica então um cada vez maior abandono de animais na capital chinesa? “O que aconteceu é que os chineses não tinham experiência com animais e quando começaram a comprar ou adoptar não estavam informados sobre as características e os traços de personalidade de certas raças”, explica Peng. Cães de grande porte, realça a especialista, são animais que precisam de uma alimentação especial, de espaço, de fazer exercício e de sair à rua várias vezes por dia. Além disso, em Junho deste ano, o Gabinete de Segurança Pública reforçou a supervisão do registo canino. Peng acredita que houve famílias que entenderam que não tinham condições para tomar conta dos animais e outras que, não querendo mudar para a periferia, procuravam um novo dono para os cães de grande porte ou abandonavam-nos.
 
Começar de novo

O telefone de Christopher Barden não pára. “Às vezes já não quero atender, os pedidos de ajuda são tantos e eu não tenho coragem de rejeitar nenhum”. O norte-americano conta com três funcionários a tempo inteiro, uma série de voluntários e uma dívida de 200 mil renminbis para pagar rendas, alimentação e contas de veterinário. Acabamos sempre por pagar, mas atrasamo-nos vários meses.

Há três dias, Barden recebeu a notícia de que esta área do distrito de Shunyi vai ser demolida. Acabei de pôr os azulejos nas paredes e já vou ter de sair, diz o responsável, enquanto fotografa o local. Fala com a “Auntie Zhou”, e depois fala com o “Uncle Gao”, e depois com o Louie e os outros. O portão principal está pela primeira vez fechado, a trezentos metros está uma sucata, a quatrocentos uma estação da polícia. Agora fechamos sempre o portão para não termos surpresas, não sei quando vão deitar isto abaixo, se daqui a um mês, dois ou meio ano.

Mary Peng não ficou admirada com a notícia. Na realidade, uma grande propriedade como esta é o ideal para o desenvolvimento e é algo que tenho vindo a assistir em todos os bairros da capital há trinta anos, realça a fundadora do Centro Internacional para os Serviços Veterinários. Como os abrigos de animais em Pequim não estão registados, não têm quaisquer direitos, não podem angariar fundos e vivem da bondade das pessoas, realça a especialista.

Mas Chistopher Barden já começou a pensar num espaço novo e maior. Talvez um abrigo para 150 cães, onde possamos apostar na educação e oficinas de trabalho com veterinários. O pai dos cães sem abrigo está a pentear o pequeno Tian, quando o telefone toca, e volta a tocar, e é mais um pedido de socorro.

Ponto Final - Novembro 11, 2013

11/11/2013

Favorecimento das Escolas Privadas em prejuízo das Escolas Públicas

Embora feita há um ano, esta reportagem é muito actual em relação à questão do favorecimento, pelo Governo, dos colégios privados em prejuízo da escola pública. É escandaloso! Assim, não admira que as fortunas de alguns poucos tenham aumentado com a crise que esmaga a maioria dos portugueses.

Para ver AQUI:
 

Média da Escola e taxa de conclusão do Secundário

Nas secundárias, poucas conseguem mais de 10 valores de média e a maioria tem taxas de conclusão baixas.

Os rankings das escolas, desde 2001, têm estado centrados nas classificações médias das escolas em exames nacionais. No entanto, as médias das escolas escondem a variabilidade dentro das mesmas, e acima de tudo a obtenção de uma média elevada não pode nem deve ser o único indicador mensurável capaz de informar acerca da qualidade das escolas.
Assim, este ano decidiu-se complementar o indicador “média da escola” com o indicador “taxa de conclusão do secundário”, no pressuposto de que ambos estão relacionados, mas admitindo que podem existir certos trade-offs entre eles. Isto é, uma escola que tudo subordina à obtenção de médias elevadas em exame pode descurar o indicador “taxa de conclusão”, e uma escola cujo enfoque seja conseguir que a maioria dos seus alunos termine o secundário pode descurar o indicador “média de exame”.
 
Duas escolas de Lisboa encontram-se nos extremos dos resultados que cruzam as taxas de conclusão com as médias obtidas nos exames: a secundária do Restelo (taxa de conclusão de 98,1%, para 100% de alunos no ensino geral, e média de exames 11,17 – numa escala de 0 a 20 valores), o melhor resultado; e a secundária Fonseca Benevides (25% de taxa de conclusão, para 11% de alunos no ensino secundário geral, e média de exames 5,21), o pior. Entre uma e outra, está um país feito de escolas que apresentam, em geral, fracas taxas de conclusão do ensino secundário (ver os limites desta análise na caixa), pois apenas 21 estabelecimentos de ensino apresentam taxas de conclusão iguais ou superiores a 80%.
Pelo caminho, ficam muitos alunos que ou anulam a matrícula ou desistem ou reprovam no 12.º ano.

As fracas taxas de conclusão explicam-se, desde logo, pela anulação das matrículas (além das tradicionais causas: as reprovações, as transferências e as exclusões por faltas). Ao fazê-lo, há várias estratégias das famílias e dos jovens que se jogam para alcançar melhores resultados em sede de exames nacionais. Alguns directores e directoras assinalam a existência de um fenómeno crescente de anulação de matrícula a disciplinas básicas, por parte de alunos com médios e bons resultados, na expectativa de poderem vir a obter melhor resultado final no exame.

A ser assim, as escolas não estarão apenas a orientar mais intensamente os seus alunos para a anulação de matrícula, para poderem apresentar melhores resultados finais, em sede de exames externos, reforçando a selectividade social, mas as famílias e os jovens estarão também a prosseguir novas estratégias para fazerem face à necessidade de alcançar as melhores médias finais que for possível, tendo em vista o acesso ao ensino superior.
Será decisivo, assim, que estas “tácticas” familiares não passem ao lado das práticas pedagógicas das escolas, continuando estas a ensinar todos os seus alunos, ainda que num estatuto diferente, com a matrícula anulada.

Escolas há que apresentam muito bons resultados nos dois planos, taxas de conclusão e médias de exame, como a de Porto de Mós, Leiria. Segundo vamos apurando em conversas com os dirigentes das escolas, incluindo esta, há dois elementos que devemos sublinhar diante destes bons resultados. Primeiro, mais do que a estabilidade do corpo docente, deve sublinhar-se a estabilidade de práticas pedagógicas conducentes a mais e melhor aproveitamento, a sua consolidação e persistência, anos a fio. Podíamos dizer em slogan: “Se resulta, então repete-se.”

Joaquim Azevedo e                
                     
Ver mais e respectivos gráficos no Público
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/nas-secundarias-poucas-conseguem-mais-de-10-valores-de-media-e-a-maioria-tem-taxas-de-conclusao-baixas-1611861#/0

O Ranking das Escolas, as Políticas de Educação e o contexto social

Três em cada cinco escolas públicas (58,9%) onde se realizam exames nacionais no ensino secundário apresentam classificações médias aquém do que seria expectável, tendo em conta o meio onde se inserem. Isto significa que houve mais escolas do que em 2012 a ficar abaixo do valor esperado do contexto (VEC), tal como ele é calculado pela Universidade Católica Portuguesa. No ano passado, tinha acontecido com 51%.

Pública com melhor média

A Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, continua a ser a pública com a melhor média nos exames se só tivermos em conta as escolas com alguma dimensão (pelo menos 50 provas realizadas). Olhe-se para o que se passou nos últimos anos: em 2011, a Infanta estava em 21.º lugar do ranking geral, com 13,5 valores, e era a pública que melhor se saía; em 2012, desceu para o 26.º, com 12,4, e continuava a ser a pública que melhor se saía; este ano, com 716 provas, desce de novo, para 32.º lugar, e 11,78 valores.

Nada que espante o director Ernesto Paiva, que se reformou há dias, que afirma que “as políticas nacionais de Educação tornam cada vez mais difícil a competição com os privados, mesmo no caso de uma escola com condições excepcionais, como a D. Maria”.
“No ano lectivo 2011/2012, havia 93 professores para 863 alunos; no ano passado, 79 para 1012”, diz. Esta alteração, resultante do número de estudantes por turma e das mudanças nos currículos, coloca as escolas públicas em desvantagem em dois campos: “Com turmas maiores, as aulas são menos produtivas e faltam-nos recursos para actividades de apoio.”

Mesmo as tais condições excepcionais têm-se alterado: a estabilidade do corpo docente já não é um trunfo. O ritmo “anormal” na aposentação de professores (23 nos últimos três anos) e a entrada de docentes “que ainda não têm a cultura da escola” pesam de forma negativa. E o perfil dos alunos, que “continuam a ser de uma exigência invulgar”, também tem mudado. Ao mesmo tempo que a escola se abriu “às periferias”, a crise atingiu a classe média urbana, a que continua a pertencer a maior parte dos estudantes.
Um dado ilustrativo: sendo sempre residual, o número de beneficiários da Acção Social Escolar (ASE) subiu de 21, em 2007/2008, para 99 neste ano lectivo. Paralelamente, o número dos que recorrem a explicações particulares – algo que era relativamente comum – terá diminuído, acredita Ernesto Paiva.

Ainda assim, a escola, que está inserida no contexto mais favorável dos três pelos quais a Católica distribuiu os agrupamentos do país, continua a ser uma das que mais superam o seu VEC.

e

Economista Paul de Grauwe diz que o governo errou

O economista Paul de Grauwe entende que o governo português cometeu um erro ao querer ser o melhor aluno da troika. O belga, que está em Portugal, diz que a extrema austeridade tornou a dívida insustentável.


http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=694705&tm=6&layout=122&visual=61&source=mail

05/11/2013

TEDxBelémWomen


Tive a honra e o privilégio de ter sido uma das sete mulheres convidadas para fazer uma palestra no evento TEDxBelémWomen, que se realizará no próximo dia 5 de Dezembro, às 15:00h, no Museu da Eletricidade.

Organizada por Isabel Canha e Maria Serina, duas jornalistas em cujas carreiras o mundo dos negócios e das mulheres se encontrou, e no âmbito da Organização Internacional TED-Ideas Worth Spreading, a TEDxBelémWomen, sob o tema “Desbravar novos mundos”, comporta oradoras de diferentes áreas e de um largo espectro etário que vão partilhar ideias e experiências inspiradoras que não deixarão ninguém indiferente.

Já foi criada pela Organização a página do facebook do evento, aqui:
https://www.facebook.com/tedxbelemwomen

Macau e o jogo

Terminei o meu conto para uma colectânea de Macau, no âmbito do Festival Literário A Rota das Letras (The Script Road) de 2013, que consta dos trabalhos dos concorrentes do concurso de contos e também dos escritores convidados.

A colectânea erá publicada em 3 volumes: Português, Inglês e Chinês. O meu conto tem como personagem Fernão Mendes Pinto e o tema a sua estadia em Macau, como um dos primeiros portugueses a pisar território Macaense.

O coração de Macau, a parte histórica portuguesa, preciosa, luta por sobreviver ao garrote da ganância dos donos dos casinos e das autoridades chinesas, que com a construção de uma selva de cimento estão a destruir aquele oásis de Cultura e História.

Esta reportagem da SIC é um bom testemunho