31/03/2020

Ex-ministros denunciam Bolsonaro à OMS por campanha de desinformação ��



Twitter, Facebook e Instagram também apagam publicações de Bolsonaro, mas não apagam as de Trump... PORQUÊ? 


 O Twitter foi a primeira rede social a apagar conteúdos do Presidente do Brasil relacionados com a pandemia da Covid-19. Seguiram-se, nas últimas horas, o Facebook e o Instagram, com o argumento que as regras excluem publicações em que a "desinformação que possa causar danos reais às pessoas".

 Em causa está um novo vídeo de Jair Bolsonaro, no qual o Presidente brasileiro conversa com um vendedor ambulante de Taguatinga, nos arredores de Brasília. “Conversei com as pessoas e elas querem trabalhar. É o que eu disse desde o início. Vamos tomar cuidado, as pessoas com mais de 65 [anos] devem ficar em casa”, bradou Bolsonaro.

 Outra das ideias propaladas pelo Presidente foi a de que a cloroquina, fármaco utilizado para tratar a malária, “está a funcionar em todos os lugares”, algo que ainda carece de validação científica.

 A pandemia da Covid-19 já fez 159 vítimas mortais no Brasil. Há registo de pelo menos 4579 infectados. Ex-ministros da saúde lançaram um manifesto repudiando as declarações de Jair Bolsonaro minimizando a pandemia do novo Coronavírus.

30/03/2020

Confinamento nas "Caravelas de Descobrir"

No meu romance "O Navegador da Passagem" - Bartolomeu Dias (há muito esgotado), descrevo um outro tipo de confinamento, o das caravelas e naus de descobrir, as "gaiolas ou prisões do mar", como eram então chamadas, em que se viajava por mares desconhecidos, por vezes quase uma ano, como na odisseia da descoberta do Cabo das Tormentas/Boa Esperança.
Aqui vos deixo a descrição do que acontecia quando chegavam às costas da Guiné, com as calmarias.

 O Navegador da Passagem:

       «O marinheiro gritou a alta voz a saudação da manhã:
       – São oito horas. Deus nos dê os bons dias. Boa viagem faça a caravela, senhor capitão, mestre e toda a companhia. Ámen.
       Os quartos de vela começavam a ressentir-se com as baixas dos marinheiros e grumetes, aquando da rendição às quatro, oito e doze horas, de manhã e em iguais turnos depois do meio-dia, dividindo-se os homens da tarde em dois grupos que alternavam com as noites, tendo cada tripulante e oficial de servir dois quartos de vela de quatro horas cada um. O pessoal que estava de serviço ao nascer do sol, antes de ser rendido, baldeava as pontes com água do mar, tarefa repetida pelo turno das quatro da tarde, e os que vinham mais frescos punham-se à bomba, para escoar a água que nunca secava e acabava por apodrecer, tornando mais intenso o fedor na caravela.
       Na derrota da Guiné, os alísios do nordeste tinham sido substituídos por uns ventos caprichosos e imprevisíveis que assolaram o mar com tornados e ondas altíssimas, sacudindo os três navios como madeiros à deriva, para logo cessarem tão subitamente como haviam começado. Era todavia um sossego enganador, escondendo perigos invisíveis, com a pequena frota a navegar às cegas através de um denso nevoeiro, imobilizando-se por fim numa grande calmaria, quente como fornalha.
       Bartolomeu Dias achava-se já na amurada do lado da proa, quando Pêro de Alenquer surgira na coberta com um matalote que lhe transportava a caixa do astrolábio e fora postar-se junto ao mastro principal a fim de evitar os balanços da caravela enquanto tomava a altura do sol. Sabia que ele preferia executar aquele trabalho em terra onde era possível manter o aparelho imóvel e obter uma medição mais correcta, mas não fariam escala antes de S. Jorge da Mina e o mar com aquela calma parecia um lago de águas mortas.
(...)

Os homens padeciam do mal das calmarias, como lhe anunciara o barbeiro, uns com febres e outros com bostelas pela testa, moléstia frequente naquela costa. Não era difícil que o mal se pegasse aos matalotes de toda a armada, posto que, durante os períodos de imobilidade da frota, os batéis andavam cá e lá entre os três navios para os homens confraternizarem e tomarem algum desenfadamento. Sem demora mandou aviso a todos os oficiais para lhe virem prestar contas das suas dificuldades e necessidades.
       – Na S. Pantaleão – queixou-se João Infante, muito agastado – a água tem gusanos e fede que nem tapando o nariz se adrega a beber.
       – Ao passar a linha, danou-se grande parte dos alimentos – confirmou Diogo. – Andei com o despenseiro a ver dos estragos e tanto as carnes salgadas como as secas estão corruptas, o azeite, a manteiga, a marmelada e o mel fervem como se estivessem ao fogo, de mesmo fermentaram as passas e os figos que levávamos para os enfermos.
       – E o bichedo que ali se cria, por via da corrupção das viandas com esta calma, é tanto que até parece as pragas do Egipto – acrescentou João Álvares, o mestre da naveta das provisões, apoiando o seu capitão.
       – Nós também não vamos mal servido deles – disse mestre João Grego da S. Pantaleão.
        – Nem nós, tão-pouco! – apressou-se a dizer António Leitão, para mostrar que a nau capitânia não gozava de privilégios especiais ou de melhores grumetes. – E com os homens a adoecerem, uns após outros, não podemos fazer a baldeação e lavagem com vinagre do porão, pois não temos assaz de gente com forças para trazer a carga para a ponte.
       Os porões dos três navios, onde se armazenavam os víveres, principalmente o da naveta pela grande quantidade de alimentos que transportava, em nada se distinguiam já da aterradora ideia que os matalotes faziam das profundezas do inferno e cada descida ao bojo das caravelas era um calvário de sofrimento. As fezes e urina dos coelhos, galinhas e carneiros vivos, metidos em gradados e capoeiras, mas também dos homens que, apesar das proibições, bastas vezes ali se aliviavam, empestavam o ar e serviam de viveiros a enxames de piolhos, pulgas, percevejos, baratas e ratazanas.
       – O guardião só à força de castigos e pancada faz entrar lá os grumetes, para alguma limpeza, pois saem cobertos de bichos e infestam o navio.
       – Água, para lavar roupas, conveses ou porões, só a do mar, mestre Leitão – recomendou Bartolomeu Dias. – Mesmo corrupta, não se pode desperdiçar, pois não sabemos quando chegaremos à Mina para a aguada. »

 Nota: O quarto da alva, das quatro às oito da manhã.
(O Navegador da Passagem - Deana Barroqueiro)

OS CROMOS DO CORONAVÍRUS: KIM JONG-UN

OS CROMOS DO CORONAVÍRUS: KIM JONG-UN

A Coreia do Norte sem coronavírus? Oficialmente, sim. Mas as dúvidas são muitas. Apesar de ser o país mais isolado do mundo, a Coreia do Norte faz fronteira e tem contactos com a China, onde o coronavírus surgiu há cerca de três meses.

O discurso do regime de Pyongyang garante a inexistência de ocorrências. Contudo, as medidas de contenção sugerem que “as autoridades sabem que há casos e que o país corre grandes riscos”, alerta um professor de Estudos Coreanos da Universidade de Londres. Coreia do Norte ainda não registou qualquer caso de infeção com o coronavírus Covid-19, pelo menos a acreditar nas informações oficiais.

A imprensa na vizinha Coreia do Sul e nos EUA tem reportado múltiplas suspeitas de casos, cuja confirmação não seria de estranhar tendo em conta que o país faz fronteira com a China, o epicentro do vírus. Nos últimos dias, as autoridades de Pyongyang selaram fronteiras, fecharam embaixadas, mandaram pessoal diplomático de volta para os seus países, suspenderam o turismo e encerraram muitos locais públicos e todas as escolas.

A revista “Foreign Affairs” escreveu na semana passada que “a Coreia do Norte está extraordinariamente impreparada para uma emergência médica desta magnitude”, com “um sistema de saúde em ruínas” e “sedento de investimento público”. Numa altura em que o número de mortos em todo o mundo ultrapassou os 4.700, a Coreia do Norte “está indiscutivelmente mais vulnerável a um surto viral deste tipo do que qualquer outro país do mundo”, sublinha a publicação num artigo que alude ao “maior teste” que o líder do regime, Kim Jong-un, enfrenta até à data.
(JORNAL EXPRESSO)
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NÚMEROS NEGROS (MENOS NEGROS?)

COVID-19: PORTUGAL HOJE, 30 DE  MARÇO

OS NÚMEROS NEGROS (MENOS NEGROS?)
Nas últimas 24 horas houve mais 21 mortes em Portugal por Covid-19. No total há registo de 140 vítimas mortais, de acordo com o último relatório de situação publicado esta segunda-feira pela DGS, pouco depois das 12.00 h.

 CÔMPUTO GERAL DOS DADOS DISPONIBILIZADOS
Há 6.408 pessoas infectadas e 4.845 aguardam resultados laboratoriais. Houve um aumento de mais 446 casos confirmados face a domingo, o que representa uma variação de 7,5%.
Do total de infectados 571 pessoas estão internadas, das quais 164 nos cuidados intensivos. A grande maioria está a recuperar em casa.

 A região Norte continua a ser a que regista maior número de mortos (74), seguida da região Centro (34) e da região de Lisboa e Vale do Tejo (30) e depois o Algarve, com duas vítimas mortais. Sobre as 140 mortes registadas, 85 tinham mais de 80 anos, 31 tinham idades entre os 70 e os 79 anos, 16 vítimas tinham idades entre os 60 e os 69 anos, seis entre os 50 e os 59 e dois óbitos ocorreram no grupo etário entre os 40 e os 49 anos.

Os concelhos onde há mais casos confirmados são o Porto, Lisboa, Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos, Gondomar e Ovar. É por isso o Norte que continua a registar o maior número de infecções (3.801), seguindo-se a região de Lisboa e Vale do Tejo (1.577 casos), a região Centro (784), o Algarve (116) e o Alentejo (45). Na Madeira há registo de 44 casos e os Açores têm confirmados 41 casos. Há nesta altura 11.482 contactos em vigilância pelas autoridades. Em relação aos casos de infecção, a faixa etária mais afectada é a dos 40 aos 49 anos, seguida dos 50 aos 59, dos 30 aos 39 e dos 60 aos 69 anos.

27/03/2020

OS «CROMOS» DO CORONAVÍRUS: BORIS JOHNSON

Das asneiras do Brexit às da infecção colectiva para tornar os ingleses imunes, deu o dito por não dito, mente e desmente-se, sem pingo de vergonha! Foi infectado, por ironia do destino.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, está infectado pelo coronavírus, anunciou nesta sexta-feira o próprio no Twitter. Johnson fez o teste depois de ter sintomas leves, já está em isolamento profiláctico e promete continuar a liderar a resposta do Governo durante a crise pandémica de covid-19.

O ministro da Saúde, Matt Hancock, também está infectado. “Desenvolvi nas últimas 24 horas sintomas leves e testei positivo para coronavírus”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro. “Estou agora em isolamento, mas continuarei a chefiar a resposta do Governo por vídeo-conferência à medida que combatemos este vírus. Juntos vamos derrotá-lo”.

OS «CROMOS» DO CORONAVÍRUS: O Ministro das Finanças Holandês

Em tempo de crise global, em vésperas de uma recessão económica a que ainda ninguém adivinha a dimensão e em plena pandemia em Portugal, “repugnante” não é palavra que se queira ouvir a um primeiro-ministro. Mas assim foi no final da reunião de ontem do Conselho Europeu.

Wopke Hoekstra, ministro das finanças holandês, terá dito esta semana que “a comissão europeia devia investigar países como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos”.

E António Costa não gostou de ser confrontado com as declarações. "Esse discurso é repugnante. Ninguém está disponível para ouvir o ministro das Finanças holandês a dizer o que disseram em 2009, 2010, 2011.  Não foi a Espanha que importou o vírus. O vírus atinge a todos por igual. Se algum país da UE acha que resolve o problema deixando o vírus à solta nos outros países, não percebeu bem o que é a UE", disse. Também não percebeu bem o coronavírus.

E o que saiu da reunião entre chefes de governo? Pouco ou nada de conclusivo. Apenas a noção de que quatro países resistem às 'coronabonds' - Holanda, Alemanha, Finlândia e Áustria – e que, eventualmente, mais do que nunca, a desunião entre países europeus pode resultar num desfecho, tragicamente “repugnante”.

(Jornal Expresso)

Palavras de ministro são ″repugnantes″? Governo holandês vai ...

OS «CROMOS» DO CORONAVÍRUS: TRUMP


“Para que precisam de 30 mil ventiladores”, pergunta Trump, que duvida do número de infecções nos EUA “Tenho a sensação que em muitas áreas estão a anunciar números maiores do que na realidade vão ser”, disse Trump à Fox News.

Os Estados Unidos tornaram-se, na quinta-feira à noite, o país com maior número de casos registados de covid-19 - neste momento são 85.991 as pessoas infectadas com o novo coronavírus. Porém, pouco depois da divulgação deste dado, o Presidente Donald Trump criticou os governadores dos estados e questionou os pedidos de material médico.

Na entrevista de quinta-feira à noite à Fox, o Presidente dos EUA foi mais longe e duvidou da necessidade desse material. “Eu não acredito que precisem de 40 mil ou 30 mil ventiladores”, afirmou. Uma crítica directa ao governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, que disse que essa era a necessidade deste estado perante o aumento de número de casos e o risco para a vida dos cidadãos.

“Sabem, quando se entra num grande hospital vemos que eles têm dois ventiladores. Agora, de repente, estão a perguntar ‘podemos comprar 30 mil'?”, disse Trump, que foi também duramente criticado por Cuomo pela sua atitude perante a doença que já matou 24.007 pessoas e todo o mundo, e 1178 nos EUA, segundo o mapa interactivo da Universidade Johns Hopkins​.
(Jornal Público)
Trump diz que conclusões de relatório comprovam sua 'total ...

Receita de cozinha para quarentena 5

Bolo Virado de Ananás e Nozes (a minha receita inglesa) 

 Ingredientes: Manteiga 125 g: açúcar 125 g; ovos 2 inteiros; farinha 150 g; fermento em pó 1 colher de chá; leite 3 colheres de sopa; baunilha algumas gotas; nozes e passas a gosto. Para forrar a forma de 20 cm de diâmetro: Açúcar mascavado 50 g; Manteiga 50 g; Ananás ou abacaxi às rodelas, fresco ou de lata. 

Preparação: Prepare a forma com antecedência, derretendo nela a manteiga e espalhando-a pelo fundo, que se cobre com o açúcar mascavado, como um tapete, sobre o qual se dispõem as rodelas do ananás, segundo a imaginação de cada um, meias nozes e passas. 

Massa: Bata o açúcar com a manteiga até obter um creme branco e macio. Bata bem os ovos inteiros, à parte, e junte-os à massa, a pouco e pouco, com muito cuidado, batendo sempre energicamente para a massa não talhar (se estiver em perigo, pode misturar um pouco de farinha para unir). Misture na massa, com cuidado, a farinha peneirada com o fermento, alternadamente com o leite a que juntou a baunilha. Acrescente as nozes e passas a gosto. Deite a massa na forma, sobre o tapete de manteiga e açúcar, com muito cuidado, alisando a superfície. 
Leve a cozer em forno moderado (Gás 4 ou 180º), cerca de 40 minutos. Vire-o sobre um prato de serviço, enquanto quente.

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OS «CROMOS» DO CORONAVÍRUS: BOLSONARO

"Itália é como Copacabana..." E é gente como esta - Bolsonaro, Trump e afins - que governam milhões de pessoas!

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, comparou Itália a um bairro de Copacabana e desvalorizou a quantidade de mortes que o país europeu tem sofrido devido à pandemia de coronavírus.

Bolsonaro disse, na semana passada e em declarações aos jornalistas, que há um velhinho ou um casal de velhinhos em cada apartamento de Itália e normalizou as mortes que a Covid-19 está a fazer no país.

O presidente brasileiro disse ainda que as mortes no Brasil associadas ao coronavírus estão a atingir pessoas com outras patologias e que não pode haver "histeria" por causa da pandemia.

NOVA PÉROLA DO CROMO BOLSONARO: 
"Brasileiro pula em esgoto e não acontece nada", diz Bolsonaro em alusão a infecção pelo coronavírus.
Para presidente, "muita gente já foi infectada" e por isso, segundo ele, adquiriu anticorpos que ajudam #a não proliferar isso daí". Ele pretende usar hotéis ociosos para isolar idosos.

Vídeos em: https://www.record.pt/multimedia/videos/detalhe/bolsonaro-compara-italia-a-bairro-de-copacabana-e-desvaloriza-mortes-por-coronavirus
e
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/26/brasileiro-pula-em-esgoto-e-nao-acontece-nada-diz-bolsonaro-em-alusao-a-infeccao-pelo-coronavirus.ghtml

23/03/2020

Camões e a Grande Peste de 1569

O flagelo da Peste Negra era uma constante ameaça dos povos, durante a Idade Média e épocas seguintes. Em 1569, a Grande Peste matou 60.000 pessoas só em Lisboa. Luís de Camões regressou da Índia, nesse ano, um episódio que recrio no meu romance "D. Sebastião e o Vidente", de que transcrevo parte do Cap. 47, para quem tiver paciência de me ler possa ver as semelhanças: 

Cap. 47

      «Quando a nau Santafé surgiu no porto de Cascais, tanto os tripulantes, como os passageiros sentiram o medo nos gestos das gentes que se azafamavam nos cais ou faziam serviço nos botes, que iam e vinham entre os molhes e os navios fundeados ao largo, a transportar mercadorias e viajantes. 
     – Que se passa? – perguntou Luís Vaz aos amigos que encontrou na coberta, debruçados na amurada a falar com os tripulantes de uma barcaça. Trazia ainda o rosto marcado pela dor da inesperada morte do poeta Heitor da Silveira, seu grande amigo e companheiro de viagem, cujo coração não resistira à emoção de avistar a pátria. 
     – É a Peste Grande, pesar do Diabo! – respondeu-lhe Diogo de Couto, o cronista, com uma ruga de profunda preocupação a vincar-lhe a testa. – Matou mais de metade da população de Lisboa! 
Duarte de Abreu acrescentou: 
    – E dizem-nos aqueles dois que é um perigo entrarmos na cidade, pois a pestilência ainda causa mortes. Na zina do furor, ceifou por dia quinhentas a seiscentas pessoas! Deixou de haver sítio e gente para enterrar os mortos. 
     – Mau pecado! Assim, tão cedo não poderei imprimir os meus Lusíadas! – exclamou, com profunda mágoa, fazendo sorrir os companheiros apesar da gravidade da catástrofe. 

*** 
     Afligidos pelo seu sofrimento, haviam-lhe pagado as dívidas, a passagem e o fato para regressar a Lisboa, onde os esperavam a desolação e a morte. Por isso, não era de admirar que o seu primeiro pensamento fosse para Os Lusíadas, único tesouro, salvo a duras penas, durante um naufrágio em que perdera todos os seus bens, incluindo a formosa escrava que lhe adoçava o desterro. O desastre valera-lhe uma acusação de fraude, com o dinheiro dos órfãos, pela qual teria de responder na justiça.
       – Terás de te quedar em Lisboa, apesar da peste, enquanto esperas pelo julgamento – lembrou Couto, preocupado. – Trataremos de mover influências para que se faça depressa justiça e te vejas absolvido e livre de falsas acusações. 
     Uma sombra perpassou pelo rosto do poeta, desfigurado pela perda do olho em Ceuta. 
     – A troco de descansos que esperava, / das capelas de louro que me honrassem, / trabalhos nunca usados me inventaram / com que em tão duro estado me deitaram
     Os amigos concordaram em silêncio, admirando a arte com que aquele génio, tão humilhado e desprezado, esculpia os versos atormentados da sua dor. 
     Diogo de Couto despediu-se e partiu para Almeirim, a fim de solicitar a el-rei licença para a nau poder entrar no Tejo e nos portos de Lisboa, encerrados por causa da peste. 
     Recebida a autorização real, o navio lançou âncora ao largo do Cais da Ribeira e os passageiros embarcaram nos escaleres que os levaram para terra. Sem o buliçoso fervilhar dos matalotes, estivadores e mariolas, Luís Vaz teve dificuldade em reconhecer, nos desolados molhes, o porto da capital portuguesa, centro de um riquíssimo comércio e destino final de inúmeros navios da Europa, da Carreira da Índia ou das Terras de Vera Cruz, comummente designadas por Brasil. 
     – Para onde ides agora? – perguntou-lhe Luís da Veiga. – Tendes pousada? 
     – Irei para casa de minha mãe, Ana de Sá. 
     – Acautelai-vos, Luís – falou António Serrão, sabendo que nada fazia recuar o poeta, nem mesmo o medo da morte. – Tratai de vos resguardar dos maus ares desta peste. Lembrai-vos d’Os Lusíadas
     Seguido pelo fiel escravo jau, que lhe transportava o modesto fato, Camões dirigiu-se para a sua antiga casa, na Calçada de Santana, atravessando a zona da Ribeira, outrora enxameada de gente – com os seus mercados, as tavernas e hospedarias, as tendas de malcozinhado, onde comera tantas vezes antes da sua partida para a Índia –, agora deserta e sem vida. Nas estreitas ruas e vielas, os prédios silenciosos, sem vizinhas às janelas nem roupas penduradas nas cordas, pareciam ameaçar os raros viandantes com as terríficas cruzes brancas pintadas nas portas, indiciadoras da passagem mortífera do Quarto Cavaleiro do Apocalipse. 
     Um físico, precedido de dois ajudantes empunhando archotes acesos, meteu-se num beco para dar passagem a Camões e poupá-lo ao perigo de contágio, pois a peste manifestava-se agora por outros sintomas mais perigosos do que os bubões, atacando os pulmões e o sangue, propagando-se com a velocidade de um raio. 
     O médico segurava numa das mãos a esponja embebida em vinagre, destinada a purificar o ar que respirava, usava a máscara de bico comprido, cheio de substâncias aromáticas, os vidros redondos sobre os olhos, para evitar a transmissão do mal pelo olhar dos enfermos, a veste violeta e o bastão vermelho de S. Roque que o mostravam à população como Mestre da Peste. O poeta agradeceu e cortejou-o à passagem, sentindo admiração pelo físico que, ao contrário de muitos outros, não fugira da cidade, nem abandonara os doentes à sua sorte. 
     – Luís Vaz, que fazes aqui, nesta terra desventurada? 
     O homem magro, de roupas sujas e desalinhadas, saíra de uma das casas e parara diante dele, olhando-o com espanto. Tinha o rosto macilento, parecendo um morto-vivo, e Camões não o reconheceu. 
     – Sou o Gonçalo Fernandes, o mestre de escrita de Trancoso. Não me reconheces? – Não havia alegria nem calor na sua voz. – Também não é para admirar, com tudo o que passei... 
     Gonçalo Fernandes de Trancoso, o homem que gostava de escrever "histórias de proveito e exemplo"! Nem parecia o mesmo e o poeta mentiu: 
     – Como não havia de te conhecer, homem?! Mas acabo de chegar da Índia e ainda não me recompus do abalo de ver Lisboa em estado de sítio. Graças a Deus que te encontro são e vivo, meu amigo! 
     – Preferia mil vezes a morte ao castigo que Deus me deu! – revoltou-se, e as faces afoguearam-se de vermelho, que as lágrimas grossas depressa descoloriram. – A peste roubou-me em poucos dias uma filha e um filho moços, um neto e, por último, para meu maior desespero, a minha adorada mulher. Vai-te daqui, homem, enquanto é tempo. Eu fico, que ando a buscar a morte. 
     Cheio de mágoa, ficou a vê-lo afastar-se, correndo, com o olhar perdido de um louco. Os sinos dobravam em sinal de luto e só os condenados, com vestes de bocaxim, a arrastar as suas grilhetas, se viam nas ruas transportando em carroças os empestados para o hospital e casas de saúde ou os cadáveres para as enormes valas comuns, onde se chegavam a enterrar sessenta corpos na mesma cova. 
     Tal como acontecera em outros anos de peste negra, estes criminosos, a quem os reis ofereciam o perdão em troca de tão perigoso serviço, não deixariam de se aproveitar da função para assassinar e roubar os moribundos que achassem sozinhos dentro das suas casas. O poeta tapou a boca e o nariz com um lenço, para evitar o cheiro a pestilência e morte, que lhe revolvia as entranhas, entontecendo-o de mareio.»

Deana Barroqueiro – D. Sebastião e o Vidente


18/03/2020

Receita de Cozinha para Quarentena 4

QUARENTENA COM DOÇURA 
Permite fazer uma parte de véspera e é delicioso! 

Creme fofo de Ananás 

Ingredientes: 
Para o creme: Leite 5 dl; açúcar 200 g; ovos: 3 gemas separadas das 3 claras; farinha Maizena para engrossar 1 c. de sopa; ananás ou abacaxi às rodelas, fresco (ou de lata, mas o fresco fica melhor), escorrido e em pedacinhos; raspa de 1 limão. 
Para o Chantilly: natas 125 g; açúcar em pó (Icing Suggar) 100 g (menos é melhor para a saúde); baunilha umas gotas. 

Preparação do Chantilly: Bata as natas com o açúcar (que deve ir juntando aos poucos) até engrossar e “fazer estrada”, ou seja, riscos no creme, mas com cuidado para não bater demasiado e fazer manteiga). No fim, junte umas gotas de baunilha e ponha no frigorífico. 

Preparação do creme: Pode fazê-lo de véspera e deixar no frigorífico. Num tacho médio, leve a lume brando a mistura do leite com o açúcar, as gemas, a farinha Maizena; vá mexendo sempre até engrossar. Deve ferver suavemente e apenas 2 ou 3 minutos. Tire do fogo e junte raspa de um limão e deixe arrefecer um pouco; deite o creme na taça de vidro onde será servido e meta no frigorífico para ficar bem frio. 
Cerca de meia hora antes de servir, misture no creme, com mil cuidados, as claras batidas em castelo bem firme, espalhando por cima os pedaços do ananás escorridos. Cubra este preparado com as natas batidas com o açúcar (Chantilly) 

Bom proveito!

A Criação do Mundo e os Portugueses

Das "Crónicas de Monções e de Marés:  A Criação do Mundo e os Portugueses  
A "professora-sibila" tem uma visão da criação do Mundo e profetiza o papel dos portugueses e dos Descobrimentos nesse Universo.

O FOGO E A ÁGUA

No início…
…as Moiras, ao fiarem desleixadas o destino da Sibila, emaranharam de nós cegos o fio da sua vida. Para sempre preso ao Tudo e ao Nada, o ser da pitonisa nunca encontrou paz ou equilíbrio, mas viveu cada momento com nervos e linfa de mil vidas. 

À medida que o Tempo ia mordendo de sombra os olhos da Sibila, mais clara e profunda se tornava a visão da sua mente. Via agora para além da realidade próxima e, através da opacidade tranquilizadora dos corpos, penetrara nas fráguas e abismos da alma humana. 

A profetiza abrira a caixa de Pandora e chorava a perda da inocência. De si já nada tinha. Como a esponja do mar, absorvera gotas de memória, espumas de sentir, sal de risos e sargaços de agonia. Quando falava, as palavras já não eram as suas, eram vozes roubadas às divindades mortas e a pitonisa sentia como Cassandra o vazio dos seus oragos. 

Amara o mundo e quisera partilhar com ele o dom da sua visão, mas aos olhos dos outros apenas trazia o estigma da loucura que provocava o riso ou a piedade. Ferida, buscara a solidão do mundo das sombras e, da sua descida aos Infernos, a Sibila renascera como um ser crepuscular, cujas visões pressagiavam Dor e Desastre, pois a luz pura de Apolo cedera lugar à chama negra de Hades . 

O Cabo, batido por ventos e marés, ferido no guincho das gaivotas, era o santuário onde, a cada Poente, a Pitonisa recebia o dom pavoroso da Visão. Quando o sol baixava à linha do horizonte, a Vidente fitava sem pestanejar a bola de fogo cada vez mais próxima, até os olhos se lhe incendiarem de dor. 

Cerradas as pálpebras, a negra película da retina explodia num Caos de cores: os ocres, verdes e castanhos de Terra; os vermelhos, laranjas e amarelos de Fogo; os azuis e cinzas de Água; e a insustentável transparência do Ar fundiam-se, para fluir ou refluir em amálgamas de tons e de matérias. A Fénix renascia das cinzas e o Universo tomava forma aos olhos da Sibila. 

Primeiro separavam-se as duas faces das Trevas do Mundo _ Nyx, a Noite e o irmão Érebo, o escuro Mundo dos Infernos. A Pitonisa via a Noite tornar-se côncava, o óvulo primordial fecundado pela força espiritual de Eros, o Amor, para criar Urano, o Céu infinito, e Geia , a Terra geradora de vida. Depois Urano cobriu Geia para nela gerar os seis pares de Titãs, as forças elementares e naturais do Universo. 

O Titã Oceano, a água primordial que rodeia o Mundo, tomou assento a Oriente, no país vermelho das ilhas da Tarde, para lá das Colunas de Hércules, no Mar Roxo ou além do Golfo Pérsico. Uniu-se a Tétis, a caprichosa energia feminina dos mares do Ocidente, vivendo ambos uma relação de tumultos e reconciliações, salvaguardando a ordem do mundo e preparando as rotas dos mares para futuros navegadores. 

A Sibila, no seu transe, viu surgir Hélios, o Sol, Selene, a Lua e Eos, a Aurora para iluminar o caminho dos viajantes, mas também Arges, a luz do relâmpago, Esteropes, as nuvens da tempestade e Brontes , o ronco do trovão, para semear de mistério e terror o esteiro dos navegantes. Depois vieram Zeus, Hades e Posídon e jogaram aos dados a partilha do Universo: para Zeus, senhor do raio que fulmina, ficaram o Olimpo e as zonas celestiais; para Hades, senhor do capacete invisível da Morte, as regiões subterrâneas e o reino dos Mortos; a Posídon, senhor do tridente que abala a terra e as águas, coube o domínio dos Mares. 

Cansados da harmonia do Universo, os deuses divertiram-se a criar os homens. Moldaram uma nova raça de criaturas à sua imagem, mas os bonecos de barro, embora animados, não deixaram de ser bonecos e continuaram de barro e a Sibila estremeceu no horror da sua vivência. Mas Prometeu, o mais generoso dos Titãs, roubou a chama divina do Olimpo e deu-a aos homens para que, no futuro, pudessem desafiar os deuses. E os homens dominaram o Fogo e sentiram-se mais perto do Céu, mas os deuses coléricos com a ousadia infligiram à raça humana os mais terríveis castigos, lançando contra ela a fúria dos elementos. 

Agora a Pitonisa tinha olhos de água e espumas, corpo de areia ao sabor de marés e monções, ouvidos de búzio com gritos de gaivotas e gentes. Arrastada pela força das correntes, estranhava aqueles mares escavados de abismo e remorso. Não havia neles o brilho esmeralda do Egeu, o ónix irisado do Jónico, o safira do Adriático ou o lápis-lazúli do Tirreno. Estes eram turvos e espessos como mosto de sargaços, fechando-se em sudários de tons baços de hematite, ágata sombria ou ametista sangrenta. 

Nuvens de tempestade cegavam mar e terra, ondas erguiam-se como penhascos e os ventos contrários lutavam entre si, esgaçando velas e mastros e as vestes da Sibila. Euros lançava do Este uma bafagem maléfica e doentia contra os tornados e furacões com que Noto, o vento Sul, tentava derrubá-lo e Bóreas estendia do Norte os seus dedos de gelo para estrangular na garganta de Zéfiro, o vento do Oeste, a fúria desatada do seu fôlego. 
A Sibila era um escolho no jogo das monções. Búzios sopravam por sobre as ondas o grito prolongado e lúgubre dos seus avisos e medos ancestrais gelaram o coração da Vidente. A água tinha um sabor a sal e sofrimento, cristais de vidas evaporadas, consumidas em sonhos desfeitos, inquietudes de alma e miragens de Infinito. 

A Vidente deixou-se embeber do espírito das águas, memória líquida dos Oceanos, e chamou a si imagens de Argonautas perdidos, de Ulisses astuciosos, de Eneias buscando uma nova pátria, fábulas imortais de glória e castigo. Mas a Visão trouxe-lhe uma multidão anónima de seres partindo em busca das terras do Sonho, do Prazer e da Fama, para percorrer as rotas do Medo, da Dor e da Morte. 

A Sibila sentia-se impregnar de terrores e heroísmos obscuros, devoções sublimes e paixões mesquinhas, humildes e nobres sacrifícios. Peões miseráveis no Xadrez dos deuses, ao sabor do lance e da jogada, sacrificados ao Rei e à Rainha, movidos no interesse do Bispo, derrubados sob as patas do Cavalo ou esmagados nos assaltos à Torre, deixaram não o nome mas a marca das suas vidas, pelos mundos repartidas em sangue, sémen, suor e lágrimas. 

A Sibila mergulhou mais fundo no abismo do Tempo e recordou… 

Deana Barroqueiro. 1998 

(Em 1998, a minha visão piorou, com o descolamento do vítreo e eu tive de exorcizar o meu terror da cegueira e os meus exorcismo e terapias são sempre a escrita) 

Receita de Cozinha para Quarentena 3

QUARENTENA - Receita para os que se amam: 

Bolo de Namorados 
Ingredientes
9 c. de sopa de leite; 9 c. de sopa de açúcar; 9 c. de sopa de farinha; 3 c. de sopa de manteiga; 2 ovos; 1 c. (chá) de fermento. 
Preparação 
Bata muito bem o açúcar com a manteiga, até obter um creme branco; sempre a bater junte-lhe as gemas e o leite aos poucos e com muito cuidado para não talhar (se começar a talhar, junte-lhe um pouco da farinha em continue a bater). Adicione então a farinha peneirada com o fermento e, por fim, as claras batidas em castelo. Leve ao forno em forma bem untada, durante cerca de 25 minutos.

Comam-no namorando!


Esconjuro dos medos

"Crónicas de Monções e de Marés" Neste tempo de doença e morte, cabe bem o meu poema que introduzia os contos dos alunos, ilustrados com pinturas pelos próprios ou por colegas de Artes. Eram 12 contos, de 12 heróis que correspondiam a 12 mitos e 12 desastres ou tragédias:

Lengalenga dos Medos 

Em dias de nevoeiro, 
Em noites de lua cheia, 
Junto ao Cabo Carvoeiro 
As bruxas tecem a teia, 
Ao som do velho pandeiro 
Cantam sua melopeia: 
Doze horas tem o dia, 
Outras doze tem a noite, 
Sol e Lua dão magia, 
Ouro e prata a quem se afoite.
Na gruta medonha e fria 
E entre os monstros se acoite. 
Doze meses tem o ano, 
Zodíaco doze signos, 
Neste mapa portulano 
Doze desastres malignos, 
Doze heróis no Oceano 
Encontraram seus destinos. 
As bruxas vão remexendo 
Num caldeiro a fumegar, 
Suas rezas remoendo 
Maus filtros de enfeitiçar 
Nas mezinhas vão metendo 
Terra, Fogo, Água e Ar. 
Vinte e quatro diabinhos 
(Doze mais doze a somar) 
Fazem feitos tão maninhos 
Nesta gruta de espantar 
Qu’ os pobres dos marujinhos 
Foram todos naufragar. 
Fortes monções vão sofrendo 
Com as marés a voltear 
Doze contos vão tecendo 
Suas mortes d’assombrar 
Tantos mares percorrendo 
Sem um porto onde arribar. 
Outros seis diabos chegam, 
As penas são a dobrar, 
Na caverna todos pintam 
Malefícios de abrasar 
E os que no mar navegam 
Nunca mais se hão-de salvar. 
A Ursa tem sete estrelas, 
Outras cinco o Cruzeiro, 
Indicando duas delas 
Os Pólos, ao marinheiro 
Que de noite espera vê-las 
E seguir o seu roteiro. 
Mas as bruxas fazem meia 
Com feitiços de luar 
E o canto da sereia 
Já se ouve em alto mar, 
Contra os baixios d’areia 
Lá vão as naus soçobrar. 
Tantos homens perdidos 
E donzelas por casar! 
Tantos lares destruídos 
E órfãos para criar, 
Quanta mulher sem marido 
Fica pela vida a chorar! 

Deana Barroqueiro, 1998

ESCRITA CRIATIVA SEM DAR POR ISSO

Há mais de 20 anos, na Escola Secundária Passos Manuel, fiz muitos projectos de escrita com os alunos, de que resultaram várias publicações, entre as quais 2 livros de contos e 2 peças de teatro (autos, à maneira de Gil Vicente, que me permitiam aplicar o programa). 
Então não se falava em escrita criativa, mas era afinal aquilo que eu fazia.

 "Crónicas de Monções e de Marés", uma colectânea de contos escritos pelos alunos, com a minha participação, foi, assim, um projecto que me deu um pretexto para pesquisar novos temas e conceitos, me permitiu passar mais de duas centenas de horas de deleite criativo, partilhando com os alunos o gosto pela escrita e o prazer do texto, mas, além disso, também a capacidade de admirar e procurar a beleza, o simbolismo e a riqueza das palavras, das sonoridades e das imagens de uma língua extraordinária que, por fortuna, é a nossa, em que tudo pode ser dito, da realidade mais simples e concreta, à emoção mais subtil, ou ao pensamento mais transparente ou complexo. 

Que foi uma experiência de enorme impacto para os alunos, não tenho dúvidas, porque eles a definiram assim: 
«Estávamos preparados para seguir o mesmo ritmo monótono de aulas, quando nos propuseram um desafio. Na verdade o desafio de fazer algo diferente dava um brilho aos olhos de cada aluno e um sorriso resplandecente, vindo da professora. Pensávamos que não íamos conseguir, mas, no fundo, todos tínhamos aquela tal esperança. 
Acabou por despertar em nós uma certa curiosidade. De início, achávamos não estar à altura de algo tão grandioso, o tempo surgiu e a caneta não conseguia escrever, por vezes a esperança desaparecia, mas, conforme as ideias iam saindo, tudo ia tomando forma. até que, um dia, não conseguimos parar de escrever. 
O monótono das aulas transformou-se num livro cheio de contos maravilhosos, onde a imaginação não deixou de existir. Quando vimos o resultado final, demo-nos conta de que, o que nos parecia impossível tornara-se numa coisa concreta e educativa. 
Afinal valeu a pena… porque a alma não é pequena!» 
Os autores da Turma do 10º Ano 4A 
30 de Abril de 1998 

Os temas principais estavam ligados à História e à Literatura, narrativas sobre personagens e acontecimentos históricos ou inspiradas em obras literárias do programa. Exploraram também a mitologia clássica e, como este foi um dos temas preferidos, irei "postar" alguns aqui para os partilharem com os vossos filhos, se gostarem, tal como fiz no Facebook, para ajudar a passar algum tempo, durante a quarentena da Covid-19. 
Deana Barroqueiro 

O Humor contra o Medo

Os que não podem trabalhar virtualmente nas suas profissões, podem seguir o exemplo de Newton e aproveitar a quarentena para lerem bons livros e fazerem ou criarem coisas que habitualmente não têm tempo para fazer. A quarentena da Peste Negra permitiu a Newton produzir o seu melhor trabalho.

Receitas de Cozinha para a Quarentena 2

Paté de Sardinhas (aperitivos ou entrada) 

Ingredientes: 
1 lata de sardinhas sem peles nem espinhas; 2 gemas de ovos; 1 c. de sopa de salsa picada; 1 c. de sopa de maionese; 3 c. de sopa de vinagre; sal e pimenta q.b.
Preparação: 
Separe as gemas das claras (que pode usar para outra coisa), sem as rebentar, e deite-as com muito cuidado num tachinho com água a fervilhar docemente, para não rebentarem; deixe cozer só até ficarem firmes por fora (cerca de 3 minutos). 
Escorra-as e no copo da varinha mágica, misture-as com o resto dos ingredientes, até obter uma pasta homogénea. Ponha este creme numa pequena taça, no frigorífico e sirva fria com tostinhas de pão. 
Variantes: Pode substituir as sardinhas por atum ou salmão. 




15/03/2020

O COVI-19 E AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO


Não há nada pior, nem mais perverso, do que inventar teorias da conspiração em tempo de crise grave, como esta que apanhou o mundo desprevenido. Aumentar o "ruído" e o pânico, dizendo que já há muitos mortos que as autoridades não divulgam, é um acto irresponsável, porque contribui apenas para dificultar o trabalho de governantes, pessoal dos serviços de Saúde e de todos os que estão a trabalhar para minorarem e, se possível, porem fim a esta terrível doença. É um acto vergonhoso, senão criminoso! 

Enquanto escritora, não posso passar sem as redes sociais, como o Facebook ou o linked-in, por serem o melhor instrumento para comunicar com os meus leitores ou promover as minhas obras. Mas este "instrumento", como qualquer outro, tanto pode ser usado para o bem como para o mal, pois depende do carácter e do estofo moral daqueles que o usam No caso das redes sociais, para muita gente de baixo estofo moral, este instrumento serve, de modo mais ou menos anónimo, como veículo para as suas frustrações, ódios, invejas, que, sem ele, jamais seriam ouvidos. 

Enquanto nas minhas páginas e nas dos meus amigos, o convívio é são, inteligente, sensível, solidário e amistoso, causando-me um enorme prazer (fora de qualquer interesse em relação a vendas de livros, não vivo da escrita, vivo para a escrita), se passarmos em revista por outras páginas ao acaso, podemos ver o que de pior há no ser humano, pois é um esgoto a céu aberto. Forjam e propagam mentiras, notícias, fotos e vídeos falsos que enganam as pessoas de bem, acirram ódios e desconfianças sobre aqueles em quem devíamos confiar (e que são enviados por pessoas bem-intencionadas mas crédulas, que acabam por ajudar a propagar esta desgraçada poluição ou vírus). 

Circulam por aí vídeos e textos de inúmeros "gurus de meia-tigela", de "cientistas da universidade da vida" a promoverem remédios e tratamentos milagrosos para o Covid-19, como faziam na Idade Média para a Peste Negra, aconselhando as pessoas a desprezarem os avisos e conselhos dos médicos e outros cientistas sérios. Estamos no séc. XXI, no 3º Milénio, temos toda a informação possível, não nos desinfectamos com vinagre, mas com álcool, não curamos pneumonias com chás de ervas, tomamos vacinas que erradicaram doenças de que a humanidade morria aos milhões, voamos em aviões e foguetões, coisa tão sonhada por Leonardo da Vinci no séc. XV. 

Por favor, não divulguem essas imbecilidades criminosas, não enviem esses vídeos e textos com curas de perlimpimpim. Deixem os responsáveis dos serviços próprios fazerem o seu trabalho e ajudem-nos, cumprindo as regras, conselhos e ordens que nos dão, para o bem nosso e de todos.
Deana Barroqueiro

14/03/2020

Receitas de cozinha para a quarentena

2 RECEITAS PARA A CLAUSURA
Se tiverem em casa costeletas de porco (ou de vaca), aconselho qualquer destas receitas - a primeira é mais fácil - Pode usar também bifanas 

COSTELETAS À SALSICHEIRO 
Ingredientes: Costeletas de porco 4; Margarina 2 c. de sopa; Farinha I c. de sopa; Concentrado de tomate 2 c. de sopa; Vinho branco 1,5 dl; Caldo de carne 1,5 dl; Cebola1; Pepinos de conserva 4; mostarda, sal e pimenta. 
Preparação: Polvilhe as costeletas com sal grosso e pimenta. Pique a cebola para dentro de um tacho, deixe alourar muito ligeiramente com urna colher de sopa de margarina. Polvilhe com a farinha e mexa para que a cebola fique bem envolvida. Regue com o caldo e o vinho misturados e deixe o molho cozer sobre lume muito brando. Adicione um pouco de mostarda, o concentrado de tomate e os pepinos de conserva muito picadinhos. Conserve quente. 
Entretanto derreta a restante margarina numa frigideira, deixando-a aquecer. Introduza as costeletas, deixando-as fritar e alourar bem dum dos lados. Vire-as e deixe alourar do outro lado. Disponha as costeletas num prato de serviço e cubra-as com o molho. Acompanhe com puré de batata. 

COSTELETAS PANADAS COM CREME 
Ingredientes: Costeletas de vitela ou porco 6; Ovos 2; Farinha qb; Pão ralado qb; Manteiga 100 g. Creme: Farinha 70 g; Manteiga 20 g; Leite 2 dl; Queijo parmesão qb; Gema 1. 
Preparação: Bata as costeletas com o maço para as espalmar, e passe-as por um pouco de manteiga na frigideira. Faça o creme, pondo os 20 g. de manteiga num tacho e, quando derreter, junte-lhe farinha, mexa e depois acrescente o leite, mexendo sempre até obter um creme; tire do lume e deite-lhe a gema e o queijo ralado, tempere com sal e pimenta. Deixe arrefecer para engrossar. 
Ponha as costeletas em cima de uma tábua e cubra-as com uma porção de creme, espalmando-o muito bem com uma espátula untada com óleo. Volte as costeletas para cima de uma tábua polvilhada com uma mistura de pão ralado e farinha, e cubra-as do outro lado com uma camada de creme, como se fez da primeira vez. Embrulhe-as numa boa camada de farinha e pão ralado, passe-as por ovo batido, depois novamente na mistura de pão ralado e frite-as em óleo fervente, mas em lume brando para não as queimar. 

BOM PROVEITO!

13/03/2020

Enclausurados nas caravelas e naus

Encerrados nas caravelas e naus dos Descobrimentos iam os portugueses, durante meses. Aqui vos deixo um rol de produtos alimentares, que eles levavam para a viagem e que recomendo aos açambarcadores:

Gerido directamente pela coroa, o Complexo Real de Vale de Zebro era constituído por 27 fornos de cozer biscouto, armazéns de trigo, cais de embarque e um moinho de maré de 8 moendas – o Moinho d’ElRei, o maior da região -, além de vastas áreas de pinhal circundante.. A sua instalação deve remontar ao reinado de D. Afonso V, e era comparável a um outro existente em Lisboa, os Fornos da Porta da Cruz. Em conjunto constituíam as duas unidades régias que asseguravam o fabrico de todo o biscoito necessário aos empreendimentos marítimos da expansão e dos descobrimentos. Estas actividades exigiam grandes quantitativos de mão-de-obra.
Nesse contexto, a Coroa recorreu à importação de escravos, empregues quer no Complexo Real, quer como escravos domésticos nas casas senhoriais. Em 1553 a quantidade de escravos era tal, que existia na Igreja de Nª Sª da Graça uma «Confraria do Rosário dos Homens Pretos».

Uma fábrica de biscoutos do século XV
Esta fábrica de biscoitos situava-se nas proximidades do rio, podendo assim dispor de um moinho para a moagem do trigo e junto à mata da Machada, fornecendo lenha para manter os fornos. Os biscoutos (bis significa duas vezes e couto significa cozido) ali confeccionados, em formas de barro com um diâmetro semelhante ao de uma pizza, dariam para conservar durante várias semanas.

O biscoito era a base alimentar das tripulações na época dos Descobrimentos Portugueses. Consistia num pão de farinha de trigo, de forma achatada, cozido no forno duas, três ou mais vezes para ficar duro "duro como corno" e assim durar muito tempo. A ração diária de cada tripulante era de 400 gramas. Como o biscoito estava muito rijo para se comer, mergulhavam-no em água – fazendo uma espécie de açorda – e comiam assim ou acrescido de outros condimentos, quando era possível.

“Do rol dos mantimentos que recebeu Miguel Luiz Romeu, escrito nos Açores (Angra), datado em 5 de Outubro de 1645”: “Setenta e cinco quintais em arroba de biscoito; vinte e quatro arrobas de bacalhau em duas pipas; setenta e duas arrobas e vinte arráteis de carne em oito barris de seis almudes; seis pipas de vinho da Canárias; um quarto de vinagre; cinquenta cestos de alhos; um cento de cabo de cebola; seis alqueires de lentilhas; um moio de favas”.

Receitas de cozinha para a clausura

Para ajudar a ocupar os tempos de clausura, vou passar a deixar-vos aqui algumas receitas, enquanto espero a publicação da minha História dos Paladares. Podem fazer esta Açorda à Italiana com os vossos filhos, porque os produtos usados são fáceis de achar em qualquer cozinha. Aprendi esta receita num Curso de Culinária que fiz aos 16 anos, no Liceu D. Filipa de Lencastre:



  AÇORDA ITALIANA 
Ingredientes: 1 pão de forma; queijo Gruyère 150 g fatiado; fiambre 150 g em fatias; leite q.b.; ovos inteiros 2; manteiga q.b.; molho de tomate q.b.; nata 100 g. 

Preparação: Unte uma forma (de preferência quadrada ou rectangular)e encha-a com fatias de pão de forma untadas de manteiga, alternando com fatias fininhas de queijo e fiambre. A primeira e a última camadas devem ser de pão que se borrifa com leite. Quando a forma estiver cheia, deite-lhe a nata batida com os ovos. Esta mistura deve penetrar bem em todas as fatias de pão. Leve ao forno em banho-maria. Quando estiver bem douradinha, retire do forno, desenforme e sirva coberta com molho de tomate. 
Bom proveito!

Nota: Banho-maria é o processo de aquecer ou de cozinhar iguarias delicadas, mantendo o tacho em que se cozinham meio mergulhado dentro ou sobre outro maior com água a ferver levemente, mas de maneira que os fundos não se toquem. Pode pôr-se no forno ou directamente no lume; O mesmo processo pode ser efectuado com água fria, com o intuito de arrefecer os alimentos.

PORTO EDITORA - ESCOLA VIRTUAL

Sendo o objectivo do encerramento das escolas manter as crianças e os jovens estudantes dentro das suas casas (de contrário será uma medida inútil e só ajudará a disseminar o vírus) a Porto Editora vai prestar uma ajuda, facilitando acesso gratuito à sua escola virtual.  Aqui:

https://www.portoeditora.pt/noticias/covid-19-porto-editora-da-acesso-gratuito-a-escola-virtual-para-1-5-milhoes-de-alunos/163426

12/03/2020

COVID-19 A BANHOS EM CARCAVELOS


CELEBRAR O  CORONA VÍRUS  EM CARCAVELOS E OUTRAS PRAIAS PORTUGUESAS 

Ontem, 11 de Março, quando foi declarada a pandemia do Covid-19 e continuavam as recomendações cada vez mais prementes de se evitarem ajuntamentos, com as escolas e empresas a fecharem, para as pessoas se manterem em casa em «distanciamento social», pois o número de casos duplicou, entrando já na 2ª fase de propagação, o que fizeram os lisboetas?

Foram para as praias, aos milhares, gozar o sol e o mar, «protegendo-se» do vírus com protector solar e comendo nos restaurantes apinhados, em alegre companhia. É assim que vai funcionar a quarentena dos portugueses (feita para evitar contágios do próprio e dos outros) que, em vez de ficarem em casa com os filhos, aproveitaram o facto de não irem trabalhar ou de não poderem frequentar as escolas e universidades, para irem conviver com outras centenas de chicos-espertos, nas praias, restaurantes, parques infantis, bares, etc?

Nas próximas semanas, quantas mais cadeias de infecção iremos ter à conta da inconsciência, oportunismo e falta de sentido cívico desta gente? Só porque ainda não morreu ninguém, está tudo bem? Quando houver mortos, a culpa vai ser do Governo e do SNS? Não ir trabalhar, com grande prejuízo das empresas e do Estado, é para ficar em casa, porque isso é um dos meios mais eficazes de evitar o contágio e a propagação da doença.

Por isso se fala no pagamento dos salários às pessoas isoladas. Mas os mesmos que infringiram as regras e aproveitaram as ´férias" inesperadas serão seguramente os primeiros a exigirem aos patrões o pagamento total dos salários pelo sacrifício de terem de ficar fechados em casa.

Dizem que não têm nada que fazer? Eu estou quase sempre em casa e falta-me tempo para tudo o que tenho de fazer... Aproveitem para conviver com os filhos, leiam livros - uma actividade que a maioria dos portugueses há muito deixou de praticar, infelizmente, porque ler bons livros torna-nos mais cultos, mais informados e menos receptivos às falsas notícias e imbecilidades veiculadas nas redes sociais; trabalhem em casa, vejam filmes e documentários, cultivem algum hobby, como cozinhar em família, etc.

Vejam a tragédia de Itália, em que o vírus tomou freio, graças a essa indisciplina e bruteza egoísta tão própria dos povos latinos. Ou será que só com medidas draconianas, como as que foram tomadas na China (em que prendiam ou entaipavam os prevaricadores), para que os portugueses obedeçam às leis e saibam viver em sociedade?

Viver em democracia não é fazer apenas o que nos dá na real gana, borrifando-se para os outros.

07/03/2020

Homenagem à Mulher

Contos Eróticos do Velho Testamento e 
Novos contos Eróticos do Velho Testamento 

Os dois livros que eu escrevi para as mulheres (mas de que os homens também gostam), agora reunidos num único volume, na nova edição da Planeta.

05/03/2020

Romance Histórico - Mesa redonda

Na sexta-feira, dia 6,  pelas 16 h, no Auditório A14 do Colégio Almeida Negreiros (Campus da Universidade Nova)

Vou participar, com outros escritores, numa mesa-redonda sobre o romance histórico em Portugal: “(Re)Writing Historical Fiction and Fictionalizing History in Portuguese", no âmbito do Congresso Internacional Historical Fiction, Fictional History, and Historical Reality, da Universidade Nova (org. Rogério Miguel Puga).

Os títulos estão em inglês, mas a discussão será em português.