28/01/2011
Camões em Macau
Eduardo Ribeiro agarrou em Camões e não mais parou . Ao princípio, devem ter achado que era um “arroubo a minha investigação”, refere, mas com a “insistência séria” o seu trabalho levou a uma outra abordagem. Hoje chega de novo ao estrado para um colóquio, genericamente, apresentando “as balizas mestras sobre os indícios da historicidade da presença de Camões em Macau”. É toda uma tarefa que quer que fique para a posteridade. “Não quero colher os louros em vida”, diz. No final declara que, dada a sua universalidade e a sua passagem por Macau, Camões é um poeta de Macau e que “a RAEM devia absorver como seu poeta o poeta Luís Vaz de Camões.”
Nesta entrevista ao jornal "Hoje Macau", Eduardo Ribeiro faz algumas revelações surpreendentes sobre o Poeta e abre-nos o apetite para a leitura do seu próximo livro. Para ler AQUI.
27/01/2011
Mozart, Piano Concerto No. 21, Andante ("Elvira Madigan")
Dia do aniversário de Mozart, nasscido em Salzburgo, em 1756. Ouçam e deliciem-se.
Mais violência: "Violação correctiva"
“Violação correctiva”, a prática repugnante de violar lésbicas para “curar” a sua sexualidade, como no caso de Millicent Gaika, está a tornar-se numa crise na África do Sul.
Millicent Gaika foi amarrada, estrangulada, torturada e violada durante cinco horas por Andile Nkosa que deu como justificação estar a curá-la do seu lesbianismo. A vítima sobreviveu por milagre, mas não é um caso único – este crime é recorrente na África do Sul onde as lésbicas vivem com o terror de serem atacadas e ninguém foi ainda condenado por “violação correctiva”.
A barbárie e a ignorância de mãos dadas, perante a indiferença de quem governa os destinos das nações.
Ler mais em O Romance da Bíblia
26/01/2011
Mulheres: as maiores vítimas do fundamentalismo religioso
A herança do Antigo Testamento é actualmente mais visível e reivindicada pelos fundamentalistas muçulmanos das várias seitas. As suas principais vítimas são as mulheres que pouca ou nenhuma protecção têm nos países cujo poder político é inseparável do poder religioso, como no Irão, na Arábia Saudita ou no Afeganistão. Neste último país, apesar da intervenção americana e da mudança de regime, pouco mudou e os Talibãs estão a recuperar terreno, apesar das notícias optimistas.
A propósito da reconstrução do rosto de Aisha, mutilada pelo marido velho com quem fora forçada a casar-se e de quem recebia maus tratos, a violência dos Talibãs com a complacência ou o aval das autoridades, em Mulheres: as maiores vítimas do fundamentalismo religioso, no meu blogue O Romance da Bíblia
Notícias mais recentes do Afeganistão parecem mostrar, em teoria, alguma abertura dos Talibãs em relação à educação das mulheres e possibilidade de poderem trabalhar fora de casa, no exercício de uma profissão. Porém nem mesmo as deputadas e responsáveis afegãs aceditam em "milagres" como este:
Talibãs já aceitam meninas nas escolas afegãs
Sinais de abertura ou folclore "par Ocidente ver"?
Ler mais no meu blogue O Romance da Bíblia.
O que aconteceu no Irão a Sakineh Ashtiani? Os "piedosos" imãs já a "justiçaram" ou, depois de ter recebido a punição das 99 chicotadas, continua à espera de ser morta por lapidação ou por estrangulamento? Já deve ser notícia velha para a imprensa ou então eu distraí-me!
20/01/2011
Movimento 560
Como os nossos Media pouco informam e ainda menos se preocupam em promover campanhas úteis ao país, dou aqui voz aos cidadãos que, como eu, se interessam em contribuir por pouco que seja para melhorar a sua economia. Aqui tendes uma informação pormenorizada do Cóidigo de Barras dos produtos nacionais, dada pelo
É fundamental apoiar a produção nacional!
Os portugueses vivem hoje num clima de crise, desde o desemprego, à nossa fraca economia é certo que quem mais sofre somos nós, mas o que certamente muitas vezes não nos passa pela cabeça é que podemos ter uma certa culpa nesta grave situação. Frequentemente, quando vamos às compras, tentamos ir à procura do produto mais barato, mas o que agora é barato, pode vir a curto prazo, a tornar-se muito caro para todos nós. Desde a mais pequena especiaria ao peixe que comemos, o nosso mercado está inundado por produtos fabricados no estrangeiro. Tendo normalmente esses países uma economia mais forte que a nossa, conseguem vender os seus produtos a um preço mais baixo e, desta forma, somos levados, a comprá-los. Mas, quando o fazemos, estamos a contribuir para um maior crescimento das exportações desses fabricantes estrangeiros e, sem dúvida, por vezes, a tirar postos de trabalho no nosso país. Quando não compramos produtos nacionais e compramos artigos estrangeiros, os nossos fabricantes são obrigados a subir o preço dos seus produtos para compensar as quebras de produção. Ora se os produtos concorrentes já eram mais baratos na origem, isto faz com que os nossos fiquem ainda mais caros. E sendo mais caros, ninguém os compra. Toda esta situação leva posteriormente ao encerramento de muitas empresas e consequentemente ao crescimento do desemprego.
Produtos portugueses? E Como é que eu sei quais eles são?
É simples, bastante simples. Antes de mais, existem dois aspectos a distinguir: existem marcas portuguesas e produtos portugueses.Marcas portuguesas, como o nome indica, são marcas de carácter nacional, com origem e produção no nosso país (exemplos: Sumol, Compal, Mimosa, Critical Software)Produtos portugueses, são produtos fabricados em Portugal por marcas nacionais, multinacionais ou mesmo internacionais, mas são produtos feitos com mão de obra nacional, que contribuem superiormente para o nossa economia e para o emprego no nosso país.
E na hora de escolher, como é que devo agir? Que atitude?
Bem, na hora de escolher, é bastante fácil tomar uma atitude correcta: procure no produto, o código de barras e verifique se ele começa por 560, seguidamente confirme na embalagem a origem do produto. Quase todos os produtos portugueses começam por 560 no código de barras. Posteriormente poderá ter em conta se a marca é nacional ou não e, claro, a qualidade e preço do produto. Atenção: existem algumas empresas portuguesas (produtos portugueses) que possuem códigos de barras proprietários, o que significa que são produtos portugueses que não têm o código 560, no entanto os códigos proprietários "costumam" ter um formato diferente (não têm 13 dígitos), existe também o caso dos produtos de peso e quantidade variável, por isso informe-se sempre antes comprar. Para uma total garantia de que seja um produto nacional verifique sempre na embalagem ou na informação do produto, o local de fabrico ou de origem.
Produtos portugueses? E Como é que eu sei quais eles são?
É simples, bastante simples. Antes de mais, existem dois aspectos a distinguir: existem marcas portuguesas e produtos portugueses.Marcas portuguesas, como o nome indica, são marcas de carácter nacional, com origem e produção no nosso país (exemplos: Sumol, Compal, Mimosa, Critical Software)Produtos portugueses, são produtos fabricados em Portugal por marcas nacionais, multinacionais ou mesmo internacionais, mas são produtos feitos com mão de obra nacional, que contribuem superiormente para o nossa economia e para o emprego no nosso país.
E na hora de escolher, como é que devo agir? Que atitude?
Bem, na hora de escolher, é bastante fácil tomar uma atitude correcta: procure no produto, o código de barras e verifique se ele começa por 560, seguidamente confirme na embalagem a origem do produto. Quase todos os produtos portugueses começam por 560 no código de barras. Posteriormente poderá ter em conta se a marca é nacional ou não e, claro, a qualidade e preço do produto. Atenção: existem algumas empresas portuguesas (produtos portugueses) que possuem códigos de barras proprietários, o que significa que são produtos portugueses que não têm o código 560, no entanto os códigos proprietários "costumam" ter um formato diferente (não têm 13 dígitos), existe também o caso dos produtos de peso e quantidade variável, por isso informe-se sempre antes comprar. Para uma total garantia de que seja um produto nacional verifique sempre na embalagem ou na informação do produto, o local de fabrico ou de origem.
Divulgue, mude os seus hábitos, ajude, tome uma atitude!
Fale com os seus amigos acerca deste assunto, divulgue o Movimento 560 no seu local/site através dos painéis de divulgação, ponha um cartaz na sua loja/empresa, mande uma msg, mande esta mensagem por correio electrónico, por fax, mas acima de tudo, mude de atitude. Todos nós agradecemos. Um pequeno gesto, uma grande atitude... Compre produtos portugueses!
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17/01/2011
Uma crise planetária da educação II
Continuação do texto de Martha Nussbaum: excertos do artigo publicado no Courrier Internacional, n.º 175, Setembro de 2010 (ed. portuguesa), com Trad. de Ana Cardoso Pires[o texto publicado no Courrier Internacional, é uma versão condensada do primeiro capítulo do livro Not for Profit: Why Democracy Needs Humanities]
Uma crise planetária da educação (cont.)
(...) "Para compreenderem efectivamente o mundo complexo que os cerca, os cidadãos não têm suficientes conhecimentos factuais nem de lógica. Necessitam de um terceiro elemento, estreitamente ligado a esses dois, a que poderia chamar-se imaginação narrativa. Noutros termos, a capacidade de se pôr no lugar do outro, de ser um leitor inteligente da história dessa pessoa, de compreender as emoções, os desejos e os sentimentos que ela pode sentir. Essa cultura da empatia está no centro das melhores concepções modernas de educação democrática, tanto nos países ocidentais como nos demais. Isso deve fazer-se em grande parte no seio familiar, nas escolas, e mesmo as universidades desempenham também um papel importante. Para preenchê-lo correctamente, devem atribuir um espaço nos seus programas para as Humanidades e as Artes, visto que melhoram a capacidade de ver o mundo através dos olhos do outro – capacidade que as crianças desenvolvem por meio de jogos de imaginação.
(…) Devemos cultivar os «olhares interiores» dos estudantes. As artes têm um duplo papel na escola e na universidade: enriquecer a capacidade de jogo e de empatia, de uma maneira geral, e agir sobre os pontos cegos, em especial.
Esta cultura da imaginação está estreitamente ligada à capacidade socrática de criticar as tradições mortas ou inadaptadas, e fornece-lhe um apoio essencial. Não se pode tratar a posição intelectual do outro com respeito sem ter pelo menos tentado compreender a concepção de vida e as experiências que lhe estão subjacentes. Mas as artes contribuem também para outra coisa. Gerando o prazer associado a actos de compreensão, subversão e reflexão, as Artes produzem um diálogo suportável e até atraente com os preconceitos do passado, e não um diálogo caracterizado pelo medo e pela desconfiança. Era o que Ellison queria dizer quando qualificava o seu Homem invisível como «jangada de sensibilidade, de esperança e de divertimento».
(…) As Artes, diz-se, custam demasiado dinheiro. Não temos meios, em período de dificuldades económicas. E, no entanto, as Artes não são necessariamente tão caras como se diz. A literatura, a música e a dança, o desenho e o teatro são poderosos vectores de prazer e de expressão para todos, e não requerem muito dinheiro para os favorecer. Diria mesmo que um tipo de educação que solicita a reflexão e a imaginação dos estudantes e dos professores reduz efectivamente os custos, reduzindo a delinquência e a perda de tempo induzidas pela ausência de investimento pessoal.
Como se apresenta a educação para a cidadania democrática no mundo actual? Bastante mal, temo eu. Ainda se porta relativamente bem no lugar onde a estudei, nomeadamente nas disciplinas de cultura geral dos currículos universitários norte-americanos. Esta faixa curricular, em estabelecimentos coma o meu [a Universidade de Chicago], beneficia ainda de um apoio generoso de filantropos. Pode-se mesmo dizer que é uma faixa curricular que trabalha melhor hoje para a cidadania democrática do que há 50 anos, época em que os estudantes não aprendiam muito sobre o mundo fora da Europa e da América do Norte, ou sobre as minorias do seu próprio país. Os novos domínios de estudo integrados no tronco comum aumentaram a sua compreensão de países não ocidentais, de economia mundial, de relações intracomunitárias, de dinâmica de género, de história das migrações e de combates de novos grupos para o reconhecimento e a igualdade. Após um primeiro ciclo universitário, os jovens de hoje são, no seu conjunto, menos ignorantes do mundo não ocidental que os estudantes da minha geração. O ensino da literatura e das artes conheceu uma evolução similar: os estudantes são confrontados com um leque de textos claramente mais vasto.
Não podemos, contudo, afrouxar a vigilância A crise económica levou numerosas universidades a cortar nas Humanidades e nas Artes. Não são, certamente as únicas disciplinas abrangidas pelos cortes. Mas sendo as Humanidades consideradas supérfluas por muitos, não se vê inconvenientes em amputá-las ou em suprimir totalmente certos departamentos. Na Europa, a situação é ainda mais grave. A pressão do crescimento económico levou muitos dirigentes políticos a reorientarem todo o sistema universitário – o ensino e a investigação, em simultâneo — numa óptica de crescimento.
(…) Numa época em que as pessoas começaram a reclamar democracia, a educação foi repensada no mundo inteiro, para produzir o tipo de estudante que corresponde a essa forma de governação exigente: não se pretendia um gentleman culto, impregnado da sabedoria dos tempos, mas um membro activo, critico, ponderado e empático numa comunidade de iguais, capaz de trocar ideias, respeitando e compreendendo as pessoas procedentes dos mais diversos azimutes. Hoje continuamos a afirmar que queremos a democracia e também a liberdade de expressão, o respeito pela diferença e a compreensão dos outros. Pronunciamo-nos a favor destes valores, mas não nos detemos a reflectir no que temos de fazer para os transmitir à geração seguinte e assegurar a sua sobrevivência".
16/01/2011
Uma crise planetária da educação I
Martha Nussbaum é um dos grandes nomes da filosofia norte-americana contemporânea. Professora de Direito e Ética na Universidade de Chicago, é conhecida pelos seus trabalhos sobre questões do desenvolvimento. Martha Nussbaum e Amartya Sen [economista, Prémio Nobel em 1998], na década de 80, criaram o conceito de The Capability Approach que permite medir o desenvolvimento de um país, não em termos de PIB mas em função da liberdade dos indivíduos, culminando no trabalho The Quality of Life. Permite-nos reflectir sobre as questões levantadas sobre os jovens e o sonho da fama e do sucesso instantâneos (sem esforço e a qualquer preço). O texto, embora sendo um apanhado de excertos é longo, pelo que será transcrito em duas postagens.
Uma crise planetária da educação
Martha Nussbaum
Atravessamos actualmente uma crise de grande amplitude e de grande envergadura internacional. Não falo da crise económica mundial iniciada em 2008; falo da que, apesar de passar despercebida, se arrisca a ser muito mais prejudicial para o futuro da democracia: a crise planetária da educação.
Estão a produzir-se profundas alterações naquilo que as sociedades democráticas ensinam aos jovens e ainda não lhe aferimos o alcance. Ávidos de sucesso económico, os países e os seus sistemas educativos renunciam imprudentemente a competências que são indispensáveis à sobrevivência das democracias. Se esta tendência persistir, em breve vão produzir-se pelo mundo inteiro gerações de máquinas úteis, dóceis e tecnicamente qualificadas, em vez de cidadãos realizados, capazes de pensar por si próprios, de pôr em causa a tradição e de compreender o sentido do sofrimento e das realizações dos outros.
De que alterações estamos a falar? As Humanidades e as Artes perdem terreno sem cessar, tanto no ensino primário e secundário como na universidade, em quase todos os países do mundo. Consideradas pelos políticos acessórios inúteis, numa época em que os países têm de desfazer–se do supérfluo para continuarem a ser competitivos no mercado mundial, estas disciplinas desaparecem em grande velocidade dos programas lectivos, mas também do espírito e do coração dos pais e das crianças. Aquilo a que poderíamos chamar os aspectos humanistas da ciência e das ciências sociais está igualmente em retrocesso, preferindo os países o lucro de curto prazo, através de competências úteis e altamente aplicadas, adaptadas a esse objectivo.
Procuramos bens que nos protegem, satisfazem e consolam — aquilo a que [o escritor c pensador indiano] Rabindranath Tagore chamava o nosso «invólucro» material. Mas parecemos esquecer as faculdades de pensamento e imaginação que fazem de nós humanos e das nossas interacções relações empáticas e não simplesmente utilitárias Quando estabelecemos contactos sociais, se não aprendermos a ver no outro um outro nós, imaginando-lhe faculdades internas de pensamento e emoção, então a democracia é votada ao malogro, porque assenta precisamente no respeito e na atenção dedicados ao outro, sentimentos que pressupõem que os encaremos como seres humanos e não como simples objectos.
Hoje mais que nunca, dependemos todos de pessoas que nunca vimos. Os problemas que temos de resolver – sejam de ordem económica, ecológica, religiosa ou política – têm envergadura planetária. Nenhum de nós escapa a esta interdependência mundial. As escolas e as universidades do mundo inteiro têm, por conseguinte, uma tarefa imensa e urgente: cultivar nos estudantes a capacidade de se considerarem membros de uma nação heterogénea (todas as nações modernas o são) e de um mundo ainda mais heterogéneo, bem como uma noção da história dos diferentes grupos que o povoam.
Capacidade de referenciar culturas
Se o saber não é a uma garantia de boa conduta, a ignorância é quase infalivelmente uma garantia de maus procedimentos. A cidadania mundial implica realmente o conhecimento das humanidades? 0 indivíduo necessita certamente de muitos conhecimentos factuais que os estudantes podem adquirir sem formação humanista – memorizando, nomeadamente, os factos em manuais padronizados (supondo que não contêm erros). Contudo, para ser um cidadão responsável necessita de algo mais: de ser capaz de avaliar os dados históricos, de manipular os princípios económicos e exercer o seu espírito crítico, de comparar diferentes concepções de justiça social, de falar pelo menos uma língua estrangeira, de avaliar os mistérios das grandes religiões do mundo. Dispor de uma série de factos sem ser capaz de os avaliar, pouco mais é que ignorância. Ser capaz de se referenciar em relação a um vasto leque de culturas, de grupos e de nações e à história das suas interacções, isso é que permite às democracias abordar de forma responsável os problemas com os quais se vêem actualmente confrontadas. A capacidade – que quase todos os seres humanos têm, em maior ou menor grau – de imaginar as vivências e as necessidades dos outros deve ser amplamente desenvolvida e estimulada, se queremos ter alguma esperança de conservar instituições satisfatórias, ultrapassando as múltiplas clivagens que existem em todas as sociedades modernas.
«Uma vida que não se questiona não vale a pena ser vivida», afirmava Sócrates. Céptico em relação à argumentação sofista e aos discursos inflamados, pagou com a vida a sua fixação neste ideal de questionamento crítico.
Hoje, o seu exemplo é o fulcro da teoria e prática do ensino da cultura geral da tradição ocidental, e ideias similares estão na base do mesmo ensino na Índia e noutras culturas. Se insistirmos em dispensar a todos os estudantes do primeiro ciclo uma série de ensinamentos da área das Humanidades, é porque pensamos que essas matérias os estimularão a pensar e a argumentar por eles mesmos, em vez de se resumirem simplesmente à tradição e à autoridade; e porque consideramos que, como proclamava Sócrates, a capacidade de raciocinar é importante em qualquer sociedade democrática. É-o particularmente nas sociedades multiétnicas e multiconfessionais. A ideia de que cada um possa pensar por si próprio e relacionar-se com os outros num espírito de respeito mútuo é essencial à resolução pacífica das diferenças, tanto no seio de uma nação como num mundo cada vez mais dividido por conflitos étnicos e religiosos.
O ideal socrático está hoje submetido a uma rude prova, porque queremos promover a qualquer custo o crescimento económico. A capacidade de pensar e argumentar por si não parece indispensável para os que visam resultados quantificáveis.
Excertos do texto publicado no Courrier Internacional, n.º 175,
Setembro de 2010 (ed. portuguesa), com Trad. de Ana Cardoso Pires
[o texto publicado no Courrier Internacional, é uma versão condensada do primeiro capítulo do livro Not for Profit: Why Democracy Needs Humanities]
15/01/2011
Portugal e os cidadãos de primeira - Carlos Castro e Vítor Alves
As mortes de Vítor Alves, capitão de Abril, e do cronista cor-de-rosa Carlos Castro mostram algumas evidências sobre o país — escreve António de Sousa Duarte no “Público”, num comentário em que critica o comportamento deplorável dos media.
Portugal e os cidadãos de primeira
Separadas por escassas horas, as mortes do coronel Vítor Alves, “capitão de Abril”, e do cronista “cor-de-rosa” Carlos Castro tiveram o condão de fazer notar uma vez mais algumas evidências sobre Portugal e os portugueses que nunca será de mais destacar. Na verdade, mesmo admitindo as macabras circunstâncias em que Castro foi assassinado e os requintes de malvadez de que foi aparentemente vítima, não parece normal que tal facto tenha merecido tão esmagadoramente maior espaço mediático do que o desaparecimento de um dos principais símbolos da Revolução do 25 de Abril de 1974 e destacado operacional da construção do processo democrático.
Vítor Alves faleceu domingo, cerca de 36 horas depois da morte, em Nova Iorque, de um colunista social conhecido por se dedicar há décadas a analisar os factos da actualidade “cor-de-rosa” nacional. Considerado em muitas das biografias espontâneas que dele nos últimos dias chegaram ao nosso conhecimento como “um cidadão de primeira”, Vítor Alves foi um homem probo, sério, rigoroso, sensível que contribuiu de forma decisiva – antes e depois do dia 25 de Abril de 74 – para o actual regime democrático em Portugal. Vítor Alves, que integrou, com Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho, a comissão coordenadora e executiva do MFA (Movimento das Forças Armadas), foi o autor do primeiro comunicado dirigido à população no dia 25 de Abril e o militar que foi o porta-voz do Movimento. Mas as exéquias mediáticas de Vítor Alves foram curtas, muito curtas, se levarmos em conta a importância do seu legado e o impacte informativo que outros factos da actualidade suscitaram e de que é exemplo, sublinho, a vaga noticiosa relativa à morte de Carlos Castro.
O país trocou “um cidadão de primeira” por uma “história de segunda”, mas o desiderato é positivo: chancela-se a morte do militar, político, ministro e conselheiro da Revolução em rodapés a correr e baixos de página e atribuem-se honras de Estado… mediático ao assassinato do cronista (não cronista social como alguns lhe chamam, como se Carlos Castro e Fernão Lopes fossem páginas do mesmo livro…) e às incidências macrotrágicas em que foi encontrado o seu corpo após alegada tortura, castração e assassinato. Mas a responsabilidade de todo este “estado a que – de novo e citando Salgueiro Maia – chegámos” não é do povo. Porque não é o povo que edita jornais, blocos noticiosos, telejornais ou sites. Nem é o povo o responsável por Marcelo Rebelo de Sousa ter dedicado ontem, no Jornal da TVI, mais tempo de antena à morte de Carlos Castro do que ao desaparecimento de Vítor Alves.
António de Sousa Duarte
Ex-jornalista, consultor de comunicação, doutorando em Ciência Política
“Público” 12 Jan 2011
Portugal e os cidadãos de primeira
Separadas por escassas horas, as mortes do coronel Vítor Alves, “capitão de Abril”, e do cronista “cor-de-rosa” Carlos Castro tiveram o condão de fazer notar uma vez mais algumas evidências sobre Portugal e os portugueses que nunca será de mais destacar. Na verdade, mesmo admitindo as macabras circunstâncias em que Castro foi assassinado e os requintes de malvadez de que foi aparentemente vítima, não parece normal que tal facto tenha merecido tão esmagadoramente maior espaço mediático do que o desaparecimento de um dos principais símbolos da Revolução do 25 de Abril de 1974 e destacado operacional da construção do processo democrático.
Vítor Alves faleceu domingo, cerca de 36 horas depois da morte, em Nova Iorque, de um colunista social conhecido por se dedicar há décadas a analisar os factos da actualidade “cor-de-rosa” nacional. Considerado em muitas das biografias espontâneas que dele nos últimos dias chegaram ao nosso conhecimento como “um cidadão de primeira”, Vítor Alves foi um homem probo, sério, rigoroso, sensível que contribuiu de forma decisiva – antes e depois do dia 25 de Abril de 74 – para o actual regime democrático em Portugal. Vítor Alves, que integrou, com Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho, a comissão coordenadora e executiva do MFA (Movimento das Forças Armadas), foi o autor do primeiro comunicado dirigido à população no dia 25 de Abril e o militar que foi o porta-voz do Movimento. Mas as exéquias mediáticas de Vítor Alves foram curtas, muito curtas, se levarmos em conta a importância do seu legado e o impacte informativo que outros factos da actualidade suscitaram e de que é exemplo, sublinho, a vaga noticiosa relativa à morte de Carlos Castro.
O país trocou “um cidadão de primeira” por uma “história de segunda”, mas o desiderato é positivo: chancela-se a morte do militar, político, ministro e conselheiro da Revolução em rodapés a correr e baixos de página e atribuem-se honras de Estado… mediático ao assassinato do cronista (não cronista social como alguns lhe chamam, como se Carlos Castro e Fernão Lopes fossem páginas do mesmo livro…) e às incidências macrotrágicas em que foi encontrado o seu corpo após alegada tortura, castração e assassinato. Mas a responsabilidade de todo este “estado a que – de novo e citando Salgueiro Maia – chegámos” não é do povo. Porque não é o povo que edita jornais, blocos noticiosos, telejornais ou sites. Nem é o povo o responsável por Marcelo Rebelo de Sousa ter dedicado ontem, no Jornal da TVI, mais tempo de antena à morte de Carlos Castro do que ao desaparecimento de Vítor Alves.
António de Sousa Duarte
Ex-jornalista, consultor de comunicação, doutorando em Ciência Política
“Público” 12 Jan 2011
11/01/2011
O Reverso da Fama: A Fama sem Glória
O culto da "Fama", da notoriedade a qualquer preço, causa-me arrepios. Assiste-se actualmente entre a juventude (embora não seja exclusivo dela) a uma ansiosa busca de visibilidade, de exposição nos media, em particular na Televisão, quase sempre pelas piores razões ou à custa da própria degradação do indivíduo. Muitas vezes incentivados pela própria família, cujo dever seria incutir-lhes valores morais que parecem desconhecer.
Expõem-se sem reservas nas redes sociais, exibindo o corpo e a alma perante centenas de desconhecidos. Concorrem aos milhares na esperança de serem escolhidos (e quase se suicidando quando são rejeitados) para programas degradantes, sob todos os pontos de vista, como o Big Brother e quejandos, onde o titereiro da produção os manipula e reduz à mais baixa, vil condição humana, para gozo dos Voyeurs.
A troco dinheiro fácil(?), da "fama" efémera dada por umas fotos em revistas de escândalos ou um convite para uma festa de outros igualmente "famosos". Depois, o programa acaba, ou acaba o "famoso" - quando já lhe espremeram toda a valia -, substituído por idêntica novidade, igualmente ansiosa de se mostrar, de se desnudar até ao mais íntimo do seu ser, de se aviltar e ser humilhada (parece que nem se apercebem de como estão a ser usados, pois mostram ter prazer nisso).
Tornam-se heróis e heroínas de pacotilha, desperdiçando o seu potencial (quando o têm) e comprometendo o futuro que poderia ser brilhante, mas cujo sucesso só se consegue com tempo e trabalho. O outro caminho, o das "Estrelas, palcos e passarelles", parece tão mais fácil, rápido e fulgurante, mesmo que tenham de se prostituir com os que possam ter influência no meio e promovê-los.
E, quando os holofotes se apagam e regressa o anonimato, nem todos têm força para recomeçar o que deixaram a meio, como os estudos ou o seu próprio crescimento - uns roubam, outros prostituem-se ou drogam-se.
Outros conseguem por fim alcançar os seus momentos de Grande Fama, embora sem glória, nas Páginas do Crime.
Foto: Holofotes da fama, de Rogério Gonçalves
José Mourinho, treinador do ano: " Sou um Orgulhoso Português"
"Boa noite. Peço desculpa por falar em Português, mas sou um orgulhoso Português".
Não tem de pedir desculpa, José Mourinho, por falar em Português, essa nossa Língua, que é partilhada por tantos milhões de indívíduos, uma Língua tão nobre e tão maltratada por quem, na terra onde ela nasceu e soube voar tão alto, não se apercebe sequer do tesouro que ela representa. Quando os nossos políticos falam, cá dentro e lá fora - no Parlamento Europeu, nas televisões e em outros locais públicos -, fazem-no quase sempre em outra Língua, mesmo que não a dominem bem, preferindo usar o "espanholês" ou qualquer outro "linguês" a exprimir-se no seu próprio idioma.
José Mourinho, ao ouvi-lo senti um profundo orgulho, não só pelo seu sucesso extraordinário como Treinador, o qual traz honra Portugal, ou pelas qualidades do seu carácter que fazem com que o admirem mesmo quando o odeiam, mas, acima de tudo, emocionou-me o modo como defendeu a nossa Língua perante o Mundo, em um dos momentos mais fulgurantes da sua carreira.
Não há dúvida de que é ÚNICO - THE ONE.
08/01/2011
ACONTECE
Na Página do ACONTECE, do saudoso Carlos Pinto Coelho, a sua produtora Luísa Barragon está a fazer um trabalho notável de divulgação dos programas em arquivo, disponibilizando-os para quem os quiser ouvir de novo ou recordar no Facebook (http://www.facebook.com/profile.php?id=1228238676#!/pages/ACONTECE/120806991277243).
Luisa Barragon enviou-me o link antigo (de 2007) da entrevista que Carlos Pinto Coelho me fez para o Agora Acontece nº420-28 Mai a 3 Jun-07. Se estiverem interessados, podem ouvir-nos, baixando o programa aqui:
Sendspace.com: Agora Acontece nº420-28 Mai a 3 Jun-07-.cda
05/01/2011
Malangatana poeta
Pensar alto
Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar
fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer
mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor
enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.
Em: http://kafekultura.blogspot.com/2007/06/valente-malangatana-pintura-poesia.html
Malangatana (um pintor de Moçambique)
Malangatana morreu, mas vive e perdurará para sempre na sua pintura tão cheia de vida, de alegria e de dor. A minha homenagem.
01/01/2011
Cortar o Tempo
Enviado pelo querido amigo Jorge Manuel Gonçalves um belo poema de Carlos Drummond de Andrade para vos desejar a todos um portentoso e saudável Ano de 2011.
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