Deana Barroqueiro A escritora falou-nos da nova edição do seu romance histórico, publicado com a Leya, de nome “O espião de D. João II”
Acaba de sair uma nova
edição de “O espião de D. João II”. O que nos pode contar sobre o mesmo?
Escrevi uma trilogia
de romances sobre os Descobrimentos Portugueses, que é um dos períodos mais
fascinantes da nossa História. Iniciei a saga com “O Navegador da Passagem”,
que narra, entre outras, as viagens de Bartolomeu Dias até ao cabo de África e
o achamento do Brasil, na corte de D. João II e de D. Manuel; seguiu-se-lhe “O
Espião de D. João II”, com a odisseia de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva por
três continentes, em busca das especiarias
e do Reino do Preste João; o 3º da saga foi “O Corsário dos Sete Mares” com as
viagens dos portugueses, e em particular de Fernão Mendes Pinto, por terras do
Oriente longínquo.
“O Espião de D. João II” é uma reedição, revista e aumentada, porque as três anteriores esgotaram. Pretendi com esta trilogia recriar um dos mais espantosos empreendimentos europeus (na verdade é a 1ª globalização da modernidade), segundo o olhar e as experiências das personagens que a viveram, com muita atenção à contextualização e ao pormenor e dando a cada romance uma estrutura diferente, relacionada com a escrita e tipologia das obras da época, para que o leitor possa fazer uma verdadeira viagem no tempo, na companhia dos seus antepassados.
“O Espião de D. João II” é uma reedição, revista e aumentada, porque as três anteriores esgotaram. Pretendi com esta trilogia recriar um dos mais espantosos empreendimentos europeus (na verdade é a 1ª globalização da modernidade), segundo o olhar e as experiências das personagens que a viveram, com muita atenção à contextualização e ao pormenor e dando a cada romance uma estrutura diferente, relacionada com a escrita e tipologia das obras da época, para que o leitor possa fazer uma verdadeira viagem no tempo, na companhia dos seus antepassados.
Diz-se que Pêro da
Covilhã é uma personagem da História Portuguesa não muito valorizada. Porquê?
Pêro da Covilhã fez
uma das viagens mais extraordinárias do seu tempo. Nos finais do século XV, e
durante cerca de seis anos, viajou
sozinho (depois da morte de Afonso de Paiva) por três continentes – Europa,
África e Ásia –, a fim de espiar e traçar uma derrota por terra até as
especiarias da Índia, missão que concluiu com sucesso. Descobriu ainda na
Etiópia o reino do Preste João, o mítico imperador cristão do Oriente que toda
a Cristandade procurava há mais de 200 anos. Um feito extraordinário, reduzido
a uma curta frase e uma data nos livros de História do meu tempo. Foi por ver
como este grande homem era injustamente esquecido e desconhecido dos
portugueses que o quis trazer à vida.
Foram necessárias 566
páginas para bem narrar esta história. Qual foi a maior dificuldade que
encontrou no seu percurso de escrita?
Não é possível
escrever pouco com o tema dos Descobrimentos, que é de uma riqueza e variedade
avassaladoras. A dificuldade maior está na escolha dos temas, pois apetece-me
contar aos leitores as centenas de histórias que vou descobrindo, na pesquisa
de mais de três anos que faço para
cada romance, e que me deixam maravilhada.
Viajamos ao Oriente no
século XV ao ler este livro. Como pode definir, em breves linhas, esta viagem?
Pêro da Covilhã é uma
personagem solar, um grande aventureiro, guerreiro e espião que vai explorar
mundos adversos, mas também fazer
uma viagem iniciática, uma espécie de “busca do graal”, que é esse reino do Preste João das Índias.
Por isso dei ao livro
a estrutura de um romance de cavalaria, recriando os mundos estranhos e
maravilhosos que este nosso cavaleiro andante vai desvendando e que procuro
recriar de forma verosímil, sempre com base nas crónicas e outras fontes
históricas do seu tempo e também atuais.
É conhecida por escrever
romances históricos. O que a motiva a escrever neste estilo?
O romance histórico
sério permite dar ao leitor algo mais do que uma história ou uma intriga, por
muito boa que seja. Oferece-lhe uma
mais-valia de conhecimento sobre épocas, lugares, costumes, vidas e
personagens, que só encontraria em obras académicas.
O escritor de romance
histórico precisa, por isso, de despender muito tempo de estudo, pesquisa e
reescrita, isto é, tem de trabalhar muito mais do que se escrevesse uma obra de
ficção contemporânea ou de pura fantasia, porque tem o dever de não enganar o
leitor e, portanto, precisa de conhecer a fundo a
época e os
acontecimentos sobre os quais escreve, desde a comida, aos trajos, sucessos,
ideologias, etc.
A História do nosso
povo tem sido tema de vários romances. Os portugueses precisam de ser
relembrados da sua História?
Sem dúvida: para que
passem a admirar mais o que é do seu país e do seu passado coletivo, enquanto
povo de uma nação com milénios de existência e não se deslumbrarem tanto com “o
que vem de fora”. A nossa História e Literatura são riquíssimas, das mais
apaixonantes e antigas da Europa, mas os portugueses conhecem-nas pouco e mal,
muitas vezes fazem gala em desprezar aquilo que, no fundo, ignoram.
Ou têm ideias
pré-concebidas e deformadas sobre factos e figuras problemáticas, como D.
Sebastião. Espero contribuir um pouco para minorar esse desconhecimento, apesar
de as minhas obras serem de ficção, com muita fantasia e não livros de
História.
Além de escritora,
quem é a Deana Barroqueiro?
Apesar de aposentada,
creio que nunca deixarei de ser professora e também uma estudante que não se
cansa de estudar e de aprender
sempre mais; mas sou, acima de tudo, uma compulsiva contadora de histórias (da
nossa História). Sofro de uma espécie de “síndrome de Joana d’Arc”, ou seja,
tenho o vício de me bater contra a injustiça e pelas causas perdidas, e
fá-lo-ei até morrer, porque o escritor deve ser interventivo na sociedade em
que vive. Estabeleço sempre que possível paralelos e comparações entre o
passado e o presente, denunciando os erros e os crimes, para que não se
repitam.
Escrever, para mim, é
tão necessário como respirar.
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