17/01/2010

Cartinha do Minho

Navegadora,

Um instante para o suspiro das palavras...

Só se abria aquela janela quando o Sol espontava na tília do jardim.
Era a hora afortunada e redonda, como as bolachas de aveia que saíam da boca do forno para a boca sôfrega do menino, que chegava da escola.

A mochila galopava dois degraus de cada vez, e ouvia-se a barafusta entre a lata dos lápis de cor e a colecção de berlindes. E os olhos do verde mais verde que a Primavera arranca à terra, inundavam de alegria o tricotar cinzento derramado no colo da avó. Os dedos bondosos e frios perdiam-se no labirinto de caracóis castanhos do menino, que lhe lembravam a mãe em tardes que a memória pescava, com o mar quase
sempre à beira dos olhos.

Logo vinha a sombra da tília. Ela dizia que era uma porta para um jardim subterrâneo de flores, que só se podiam ver se se piscasse três vezes. Ele dizia que eram asas de morcegão que a bengala podia espantar, como se fosse uma varinha de condão.

Depois, quando o depois do dia se escurece de noite a janela fechava-se, com um estalido de dedos, para a magia se arrastar pelos corredores do sono, dos dois.

O beijinho e o sorriso.

Isabel

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