08/01/2010

Desde o Minho... Ano Novo Estrelado

Navegadora,

Hoje a luz ténue da manhã trouxe-me, à ponta dos dedos, fantasias.

Um véu de chuva abicava a pele dela. Devagar, descia a rua, com o salto alto a tinir nas pedras e a saia preta com pintinhas brancas, roçagante nas nozes dos joelhos, que ele descascava com o miolo das mãos húmidas. Os dedos alados, voavam dos lábios para os bolsos e dos bolsos para o adeus. E nesses interiores nocturnos haviam restos de carmim e faúlhas que recolhiam nas bermas daquele palpitar. Eram felizes.

Conheceram-se no pousio do calendário, quando o sal dos olhos se dilui. Por detrás da vitrina, lá longe ele via entre os cumes, como se alourava a fogaça mais doce e gemiam remanescentes de água, nas nervuras da terra. Aurora, era o seu nome.
- A senhorita que deseja?
- Daquele tecido que está na montra.
- O das pintinhas?
- Esse mesmo.

A partir de então, dedos de alfaiate desabotoaram cada prímula que amanhecia. Devagar, foi talhada a vida com o ponto pé de flor do amor.
Até que um dia ela não veio e a vitrina estava deserta.
Um menino que apanhara um galho nos montes, lá longe, trotava pela rua que descia, quando caía neve como pintinhas no manto da noite, que emudecia.

Escuto Mahler, à procura do sonho perpétuo.

O beijinho e o sorriso, sempre. Muito obrigada, Navegadora, pelo carinho.

Isabel


Quem tem de agradecer sou eu, minha querida Poetisa Encoberta das Terras do Norte, pelo seu carinho e por estas esculturas de palavras que me permite partilhar com os meus leitores.

Escuto Bach, à procura de um Tempo Perdido para outro reencontro com a minha escrita.
Um beijo grande.

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