13/03/2010

Um Professor suicidou-se

Suicidou-se um professor.

A anterior equipa do Ministério da Educação, se ainda estivesse em funções, diria certamente que ele era um dos muitos professores sem perfil para a complexa missão de ensinar crianças ou adolescentes, dos docentes que nunca poderiam progredir na carreira, dos que deveriam ser avaliados por quem de direito o poderia fazer com rigor, por serem os mais directamente interessados – os seus alunos e os respectivos Pais ou Encarregados de Educação.

Com a boa prática de estes últimos começarem a interessar-se muito mais pelo trabalho dos filhos, indo com maior frequência à escola, sobretudo para pedir satisfações ou até administrar uns tabefes ao docente que não souber levar o seu educando, mesmo contra vontade da criança ou do adolescente, a frequentar as suas aulas e, coisa mais rara e improvável, a estudar.

Suicidou-se um professor.

E, se ainda estivessem em funções trabalhando para impor a sua brilhante reforma do ensino, a anterior equipa ministerial diria talvez que o professor suicida era a prova viva de que tinham razão quando se devotaram, desde o primeiro dia da sua tomada de posse, à necessária e espinhosa tarefa de disciplinar a classe, “metendo os professores na ordem”, de os “triturar”, se necessário fosse, por serem uma classe de incompetentes, preguiçosos e absentistas.

Suicidou-se um professor.

Com esta desvalorização da classe, os professores foram espoliados da sua dignidade, despidos de toda a autoridade, deixados indefesos e sem recursos, no exercício de uma profissão que é das mais difíceis, exactamente pelo que exige dos seus membros e da relação com o Outro (os alunos), tão infinitamente delicada que o mais leve sopro a pode romper.
Face a uma sociedade cada vez mais grosseira, inculta, desprovida de ética e de moral – cujos maus exemplos vêm de cima, a começar por aqueles que nos desgovernam para se governarem –, em que muitos pais, para não dizer a maioria, se demitiram da sua função de pais e guias da vida dos seus filhos, não lhes inculcando no tempo devido (desde o berço) os mais básicos princípios de disciplina, civismo e decência.

Os alunos deixaram de respeitar os professores e de ouvir os seus ensinamentos, insultando-os e humilhando os mais fracos, porque a tutela os desrespeitou e humilhou.
Em muitas escolas as aulas transformaram-se em arenas e muitos professores não conseguiram enfrentar o pesadelo e desistiram ou adoeceram. Porque não têm apoio, porque a escola não quer ou não pode agir.

E um professor suicidou-se

Quando a antiga equipa ministerial viu os vídeos que passaram nas televisões, com crianças e adolescentes a portarem-se nas aulas como no recreio ou num circo, a insultarem e baterem nos colegas e em professoras (jovens e idosas, para as crianças isso não conta, quanto mais frágil for a vítima, tanto melhor…), negaram a evidência e tomaram por excepção o que começava a ser uma regra.

Seis mil professores pediram, no mesmo ano, a aposentação antecipada.
E, agora, um professor suicidou-se.

Se a anterior equipa ministerial estivesse em funções talvez fizesse um inquérito aos alunos do professor suicida, para apurar se estes jovens do 9º ano, com uma idade média de 15 anos, que o empurravam, lhe davam “calduços” e chamavam “cão”, não teriam ficado traumatizados pelo acto tresloucado do seu suicídio. Não hesitariam seguramente em fazer-lhe um processo disciplinar a título póstumo.

Um Professor suicidou-se.
Antes de se lançar ao rio, escreveu no seu diário: “Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio”.

A anterior equipa ministerial não é a única culpada da degradação do ensino, ela é fruto da degradação da nossa sociedade e toda a comunidade tem culpa, por se demitir das suas funções e dos seus deveres.

Talvez o desespero e a morte deste Professor façam despertar as consciências e haja uma reflexão séria sobre o estado a que chegou o nosso ensino, a nossa política e a nossa sociedade.

Eu escrevo com dor e asco. Para que os Professores que sofrem ou conhecem estas situações as denunciem e que se repensem as leis e os estatutos dos Professores e dos alunos, de modo a que os docentes possam ensinar num bom ambiente de trabalho, os alunos prevaricadores possam ser punidos com severidade e os pais responsabilizados pelo mau comportamento dos seus filhos.

60 comentários:

Anónimo disse...

Querida Deana
Este comovente e enérgico texto vai ser enviado a todas as pessoas dos meus contactos. Muita coisa tem que mudar e eu acredito na força das suas palavras.
Un beijo
Ofélia

DEANA BARROQUEIRO disse...

Quando se praticam reformas do ensino com intuitos meramente económicos e para ter bons resultados nas estatísticas, sacrificando uma classe profissional e a qualidade desse ensino, paga-se no futuro um preço muito caro.
O facilitismo, a diminuição do grau de exigência, o esvaziamento de conteúdos "difíceis ou trabalhosos" dos programas, as pedagogias do lúdico (tudo tem de ser um jogo), o regime de faltas dos alunos (podem não pôr os pés nas aulas que não reprovam) a quase impossibilidade de reter um aluno, mesmo sem aproveitamento à maioria das disciplinas, a sensação de impunidade com que esses alunos cometem as suas agressões verbais e físicas ou ostentam o seu desinteresse pelo estudo - porque sabem, como eles mesmo afirmam, "que passam de qualquer maneira" -, tornaram o acto de ensinar, em muitas turmas e escolas, uma tarefa impossível e de terrível desgaste para qualquer professor que, em 45 m. de aula, passa 30 tentar manter a disciplina e 10 ou 15 para "dar a matéria".
A actual Ministra da Educação, ao contrário da anterior, conhece bem a realidade das escolas, "no campo" e não no papel. Talvez ainda haja esperança, se o Governo lhe der margem para trabalhar e não a force a seguir as pisadas de Maria de Lurdes Rodrigues.

Fernando Frazão disse...

Este post é completamente patético.
Um professor suicida-se porque é insultado plos alunos...
Pelo amor de Deus...

Rogério G.V. Pereira disse...

Minha Cara, diz a certa altura: "A anterior equipa ministerial não é a única culpada da degradação do ensino, ela é fruto da degradação da nossa sociedade e toda a comunidade tem culpa, por se demitir das suas funções e dos seus deveres."

Não posso estar mais de acordo. Lembro que "A mão que embala o berço, governa o mundo". A mesma mão que coloca a cruz no boletim de voto e que assina o recibo de vencimento. A mesma que que, com um clique envia a sua declaração de IRS às finanças...

Meu Deus, como isto é tornado tão simples quando se quer explicar um suicídio.

Ribas disse...

Era bom que se mudasse este paradigma, a tempo de salvar a educação destes jovens, que vão ser no futuro, a própria classe docente.
Que valores terão? Que conhecimentos? Qual será a sua entrega à profissão?
Valerá a pena, nessa altura, mudar as regras ou será tudo isto, apenas a revolução necessária, para que se instale um modelo totalmente novo de ensino?
Entretanto, seria bom que a morte deste “mártir”, condenado pela inépcia do sistema educativo, não tivesse sido em vão.

Catarina disse...

Cheguei aqui através do Sorumbático.
Concordo com tudo o que diz. O laxismo, o facilitismo que há muito, muito tempo se verifica na educação, aliados a todos os outros factores já mencionados, ajudam a agravar a situação.
Desacato à autoridade. Porquê? Talvez porque a “autoridade” não se dá ao respeito, não aplica as medidas punitivas apropriadas à transgressão cometida?
Relativamente ao que o comentarista Fernando Frazão diz, talvez nunca se saiba ao certo o que realmente aconteceu, quais os problemas que este senhor teve e por quanto tempo os teve. Apenas eu não ponho em dúvida que o ambiente de trabalho em que este professor esteve inserido, não tivesse tido um grande impacto na sua decisão final. Para já tenho um grande respeito pelos professores. Em todas as profissões há os bons, os muitos bons, os assim assim, e por aí fora... Há alguns que são bastante dedicados à sua profissão, é aquilo que mais gostam de fazer e são bons professores: sabem ensinar, sabem transmitir conhecimentos. Mas acontece, que nem todos têm aquela personalidade que lhes permite dominar uma classe, sistematicamente, durante todo o ano lectivo. Deve ser muitíssimo frustrante querer fazer um bom trabalho e não ter ao seu dispor as condições propícias para o fazer.
Publicamente afirmaram, por meio dos jornais, que o professor tinha uma “fragilidade psicológica”, que “era do conhecimento público”! Eu fiquei abismada! Onde está o direito à privacidade? E se a escola (suponho eu) tinha conhecimento de que algo se passava com este professor, que fez neste sentido? Proporcionou-lhe apoio? Ajudou-o de qualquer forma? Não me admirarei se dentro de pouco tempo, quando todos os inquéritos forem feitos e analisados, cheguem à conclusão de que afinal estas vítimas foram culpadas do que lhes aconteceu ou da decisão que tomaram. E deixam de ser vítimas. E nenhumas medidas novas serão implementadas e tudo ficará na mesma. E passado pouco tempo, “business as usual”, como os ingleses dizem.

Guida Q.Pires disse...

Parabéns Deana pelo seu excelente artigo. Pôs o dedo na ferida, ferida que há muito existe mas se vem agravando. A última equipa ministerial veio dar o golpe final. Aguardo ansiosamente pelo caminho que se quer trilhar daqui em diante(?!!). Não tenho grandes esperanças, pois o que se passa nas escolas é apenas o reflexo das maleitas graves da nossa sociedade.
Um abraço

Margarida Pires

Carlos Medina Ribeiro disse...

Até às 20h de 16 Mar 10, terça-feira, este caso está também em discussão [aqui], sendo atribuídos um exemplar de 'Capitães da Areia' (de Jorge Amado) e de 'Entre o Pavor e a Esperança' (de Loys Masson) aos autores dos melhores comentários.

jaime maia disse...

Caros leitores, começarei por dizer, que sou totalmente contra a "pena de morte" que na circunstância, não é o que está em análise, sobre o que a nossa querida amiga Deana Barroqueiro escreveu neste blog. Mas também não aceito de modo algum, o suicídio. Com o devido respeito por todos aqueles que se tenham suicidado; professores ou não, ou por aqueles que já equacionaram essa hipótese como forma de fuga para os seus problemas,penso que, todos os problemas têm uma solução, e que passa sempre por formas de agir , de acordo com os conflitos existentes; nunca pela desistência. Quantos escriturários, empregados fabris, estudantes, mulheres mal tratadas pelos seus maridos, técnicos disto ou daquilo, n
ão sofrem e sentem a pressão dos seus chefes,maridos, colegas, por vezes mal formados, levando-os ao desespero e, não é por isso que se suicidam.Para concluir, penso que o suicídio é uma forma de incapacidade do suicida, de conseguir gerir os problemas e as dificuldades que surgem durante o exercício das suas funções.No caso concreto que é apresentado neste blog, acredito que se tivesse havido mais ajuda ou interesse em estender a mão ao infeliz protagonista, talvez se tivesse evitado um desfeixo tão perturbador. Para finalizar esta minha longa dissertação sobre tão infeliz ato, quero deixar bem sublinhado que estou plenamente de acordo, quando se diz que cada vez mais se vão perdendo os valores da ética e da moral, pilares fundamentais para em qualquer sociedade se poder evoluir e viver em Paz, Amor e Humildade, formas elementares para a evolução da Humanidade! Algo está mal é certo, por isso devemos cada vez mais interferir em todas as áreas da sociedade em que estamos inseridos, de forma a não deixarmos que os mais fracos possam cometer este tipo de atos. Vivemos ou não em democracia? Não é ela precisamente que nos dá a soberania, enquanto povo, para podermos mudar as coisas! Então estamos à espera de quê ou de quem para o fazer?

FernandoRebelo disse...

A profissão de docente comporta uma carga grande de afectividade. Não é professor quem quer. É professor aquele que sabe entregar-se e possui, além do mais, competência científica. Pela nossa escola pública passaram grandes figuras da nossa cultura: Rómulo de Carvalho (António Gedeão); Zeca Afonso; Irene Lisboa, Rui Grácio e tantos outros. O combate à qualidade de ensino na escola pública não é de hoje, tem origem, de pelo menos, há uma dezena de anos a esta parte.
A Escola deixou de ser o lugar onde aprender poderia ser o caminho para pôr fim às desigualdades sociais. O suicídio de um professor não significa apenas a morte de uma pessoa: alerta-nos para uma sociedade em declínio; um colectivo que se vai regendo pelo mau-gosto e pelo pouco senso. Imperam os maus costumes, a falta de educação generalizada e a ideia de que não pode haver exigência, rigor e esforço para atingir o que quer que seja.
Nas escolas reina a confusão.Os professores, desautorizados pela tutela, reagem como podem.
Discutem-se números e não se pensa nas pessoas. Para onde caminhamos?

DEANA BARROQUEIRO disse...

Obrigada, amigos, pelo contributo dos vossos comentários tão honestos, inteligentes e sensíveis.
Pretendi, com este texto, suscitar a atenção dos meus leitores para o problema da indisciplina nas escolas e o (mau) estado do ensino.
Se conseguisse que dessem opiniões e trocassem ideias, seria o meu pequeno contributo para essa causa que tem sido a minha luta de anos.
Isso está a acontecer e eu fico-vos gratíssima.
É tempo de se fazer um trabalho de reflexão séria da parte do governo com todas as forças políticas e com gente que conheça a verdadeira realidade das escolas e não a esconda ou negue, sem teorias de eduquês, impraticáveis ou inadequadas.
Assim, quem nos visitar e ler os vossos comentários verá a nossa preocupação e talvez a comunique a outros, formando elos de uma cadeia que ainda poderá vir a ter algum peso e se torne visível. Antes que seja tarde demais.
Bem hajam!

DEANA BARROQUEIRO disse...

Guida

Muito obrigada pelas suas palavras. Vi que é professora, mas não consegui encontrar o seu e-mail para lhe responder directamente. Embora já me tenha retirado das lides escolares, continuo a partilhar e a solidarizar-me com os meus colegas e a lutar para que se faça uma reforma a sério e consensual, a fim de se criarem as condições para que o ensino volte a preparar e a formar alunos, com uma sólida base cultural e científica.

Um beijo solidário.

Fernando disse...

Cara Deana Barroqueiro e todos
Concorde-se ou não com o que escreveu, é de admirar a coragem que é precisa para submeter ao julgamento público algo que lhe vai na alma. Por isso, congratulo-me consigo. Quanto ao conteúdo, e embora não seja professor, muitos anos privei com eles, quer como aluno, quer como amigo de muitos. Não creio por isso que o suicídio de um professor tenha mais a ver com a profissão (ou com a escola) que com as condições psíquicas do próprio. Como em qualquer suicida. O mesmo, por exemplo, já não direi do aluno que se suicidou. E acho estranho que desse ninguém fale. Para se apurar se a profissão –ou a situação profissional- é importante, deveria ser feita uma triagem das profissões dos suicidas. Provavelmente, teríamos surpresas. Creio que valeria também a pena saber se o professor em questão tinha condições psíquicas para o ser. Alguém comentou que não é professor quem quer, mas quem pode. E isso, que deveria ser verdade, não o é: há muitos professores que o são, não por vocação mas por falta de encaixe no sector profissional para o qual se destinavam e no qual não tiveram lugar, o que poderá torná-los, à partida, pessoas menos competentes ou menos vocacionadas, por frustração pessoal. Reduzir o suicídio de um professor ao simples facto de ser professor, coloca de fora o aluno que também se suicidou e todos os estudantes que são obrigados a mudar de escola por agressão de colegas (e, muitas vezes, também de professores). Creio (infelizmente) ser a sociedade que está doente, e não somente a escola. Creio que o enorme aumento do afluxo de alunos a que assistimos depois do 25 de Abril (que permitiu o acesso a graus mais elevados de ensino de filhos de classes sociais que nunca tinham tido esse privilégio), aliado à menor preparação dos professores (pelo que acima afirmei) e a tremenda competição da escola com os média (mais atraentes, mais esclarecedores, mais intuitivos e fáceis de assimilar) levou a que os velhos métodos de ensino se tornassem obsoletos e pouco desejáveis. O que gera alguma frustração por parte de alunos e professores. Se é positiva e muito bem-vinda a democratização da educação, do civismo e da cultura, ela tem um preço que, provavelmente, não foi pago nem modernização da escola nem na adaptação da escola ao “novo meio”. Quanto a questões de educação e civismo (porque disso trata essencialmente o texto), é evidente que os exemplos que “vêm de cima” não abonam, mas estou em crer que o ensino elitista que existia antes do 25 de Abril (baseado na estratificação social que então tinha a cesso à escola) não foi em substância alterado (mas as classes que a ele têm acesso foram substancialmente ampliadas, como já disse). Quero com isto dizer que a escola não estava preparada para educar e sim para ensinar uma determinada elite, e que o paradigma mudou. Numa coisa creio que todos estamos de acordo: é urgente repensar todo, TODO o sistema de ensino. Mas façamo-lo sem preconceitos, sem pré-conceitos e sem o centrarmos num único vector. Bem haja, Deana, por ter despoletado todas as reflexões que li.

Fernando disse...

Cara Deana Barroqueiro e todos
Concorde-se ou não com o que escreveu, é de admirar a coragem que é precisa para submeter ao julgamento público algo que lhe vai na alma. Por isso, congratulo-me consigo. Quanto ao conteúdo, e embora não seja professor, muitos anos privei com eles, quer como aluno, quer como amigo de muitos. Não creio por isso que o suicídio de um professor tenha mais a ver com a profissão (ou com a escola) que com as condições psíquicas do próprio. Como em qualquer suicida. O mesmo, por exemplo, já não direi do aluno que se suicidou. E acho estranho que desse ninguém fale. Para se apurar se a profissão –ou a situação profissional- é importante, deveria ser feita uma triagem das profissões dos suicidas. Provavelmente, teríamos surpresas. Creio que valeria também a pena saber se o professor em questão tinha condições psíquicas para o ser. Alguém comentou que não é professor quem quer, mas quem pode. E isso, que deveria ser verdade, não o é: há muitos professores que o são, não por vocação mas por falta de encaixe no sector profissional para o qual se destinavam e no qual não tiveram lugar, o que poderá torná-los, à partida, pessoas menos competentes ou menos vocacionadas, por frustração pessoal. Reduzir o suicídio de um professor ao simples facto de ser professor, coloca de fora o aluno que também se suicidou e todos os estudantes que são obrigados a mudar de escola por agressão de colegas (e, muitas vezes, também de professores). Creio (infelizmente) ser a sociedade que está doente, e não somente a escola. Creio que o enorme aumento do afluxo de alunos a que assistimos depois do 25 de Abril (que permitiu o acesso a graus mais elevados de ensino de filhos de classes sociais que nunca tinham tido esse privilégio), aliado à menor preparação dos professores (pelo que acima afirmei) e a tremenda competição da escola com os média (mais atraentes, mais esclarecedores, mais intuitivos e fáceis de assimilar) levou a que os velhos métodos de ensino se tornassem obsoletos e pouco desejáveis. O que gera alguma frustração por parte de alunos e professores. Se é positiva e muito bem-vinda a democratização da educação, do civismo e da cultura, ela tem um preço que, provavelmente, não foi pago nem modernização da escola nem na adaptação da escola ao “novo meio”. Quanto a questões de educação e civismo (porque disso trata essencialmente o texto), é evidente que os exemplos que “vêm de cima” não abonam, mas estou em crer que o ensino elitista que existia antes do 25 de Abril (baseado na estratificação social que então tinha a cesso à escola) não foi em substância alterado (mas as classes que a ele têm acesso foram substancialmente ampliadas, como já disse). Quero com isto dizer que a escola não estava preparada para educar e sim para ensinar uma determinada elite, e que o paradigma mudou. Numa coisa creio que todos estamos de acordo: é urgente repensar todo, TODO o sistema de ensino. Mas façamo-lo sem preconceitos, sem pré-conceitos e sem o centrarmos num único vector. Bem haja, Deana, por ter despoletado todas as reflexões que li.

Gonçalo Correia disse...

Vivemos tempos muito difíceis e, igualmente, complexos. Para (quase) todos. Como outras gerações anteriores já carregaram as respectivas cruzes… É nesse contexto que surgem os desafios e as necessárias acções fundamentais para corresponder, da melhor forma possível. O infinitivo do verbo “corresponder” é colocado no sentido de incluir a responsabilização de respostas a toda a sociedade.

Esta problemática começa, desde logo, no seio familiar. Sabendo que as contingências da vida moderna são o que são (os pais, muitas vezes, mais ausentes por razões profissionais; o aumento de sentimentos e comportamentos individualistas, em muitos casos, devido à dependência face à evolução tecnológica; e, para destacar só mais um aspecto, o culto do facilitismo e do mediatismo na prossecução de etapas que requerem outros tempos), o padrão social das famílias parece ter ficado para trás. Ter perdido o comboio… E, para agravar ainda mais a questão, muitos pais desresponsabilizam-se, pura e simplesmente, ou sacodem a água do capote com leviana ligeireza. Assim, o papel nuclear das famílias no processo educativo parece desfasado das exigências de um mundo global aliciante, mas igualmente perigoso.

Exigências relacionadas com a velocidade de circulação da informação e, consequente, tempo necessário para a sua digestão, ficando os jovens entregues à sua sorte. E sabemos que muita dessa informação acrescenta pouco, ou nenhum valor, ao crescimento intelectual e de percepção da realidade. Realidade que lhes é apresentada de forma, frequentemente, demasiado ficcional e, mesmo, com elevada carga de violência.

A escola, por sua vez, em muito devido a um enquadramento político demasiado rígido, tornou-se num centro burocrático, por excelência, de um Estado cada vez mais burocrático. O que parece e é um paradoxo, tendo em conta a flexibilidade e comodidade das novas tecnologias de informação no processo de agilização de procedimentos. Este paradoxo cria, inexoravelmente, sentimentos confusos nos diversos actores, a começar pelos professores. E na sua actividade professoral que vai muito mais além da mera exposição de conteúdos. Em relação a estes e à rigidez burocrática, relevam-se aspectos associados ao tempo necessário de preparação das aulas que, em muitos casos, é ocupado pelo preenchimento de mil e um papéis não directamente relacionados com essa preparação. Esta situação origina um aumento da pressão na gestão do tempo disponível para as actividades pedagógicas verdadeiramente relevantes.

Em termos mais abrangentes, ou seja, alargando o raio de análise para a sociedade, assiste-se a uma crise de valores que afecta negativamente o desenvolvimento educacional. Em muitos casos, existe um facilitismo exagerado na obtenção das coisas (sobretudo, de “elevado peso” material), que não premeia a capacidade de sacrifício e de empenhamento. No fundo, a responsabilidade e o mérito. Neste sentido, é, por muitos, referido como melhor exemplo: alguns concursos televisivos, com o Big Brother nos lugares cimeiros. No caso escolar, por exemplo, tem havido uma delapidação dos poderes dos professores que leva a que os alunos não sintam tanta necessidade de se esforçarem para atingir as suas metas. Situação que se reflecte no processo de avaliação em que é muito difícil e burocrático reprovar um aluno. Deste modo, parte do papel que compete ao professor é-lhe, simplesmente, sonegado.

Em conclusão, haverá muitos outros factores importantes, no entanto, parece-me que os que foram referidos têm a sua “quota-parte” de responsabilidade. O prazer de ensinar e de contribuir para o crescimento/desenvolvimento educativo de jovens, e não só, encontra-se miseravelmente condicionado. Sendo a educação um dos pilares do desenvolvimento humano, com tantas e tantas páginas, mais ou menos virtuais, dedicadas ao assunto, todo o contexto educativo actual parece estar, em grande parte, descontextualizado, espelhando uma sociedade à deriva.

Gonçalo Correia disse...

Vivemos tempos muito difíceis e, igualmente, complexos. Para (quase) todos. Como outras gerações anteriores já carregaram as respectivas cruzes… É nesse contexto que surgem os desafios e as necessárias acções fundamentais para corresponder, da melhor forma possível. O infinitivo do verbo “corresponder” é colocado no sentido de incluir a responsabilização de respostas a toda a sociedade.

Esta problemática começa, desde logo, no seio familiar. Sabendo que as contingências da vida moderna são o que são (os pais, muitas vezes, mais ausentes por razões profissionais; o aumento de sentimentos e comportamentos individualistas, em muitos casos, devido à dependência face à evolução tecnológica; e, para destacar só mais um aspecto, o culto do facilitismo e do mediatismo na prossecução de etapas que requerem outros tempos), o padrão social das famílias parece ter ficado para trás. Ter perdido o comboio… E, para agravar ainda mais a questão, muitos pais desresponsabilizam-se, pura e simplesmente, ou sacodem a água do capote com leviana ligeireza. Assim, o papel nuclear das famílias no processo educativo parece desfasado das exigências de um mundo global aliciante, mas igualmente perigoso.

Exigências relacionadas com a velocidade de circulação da informação e, consequente, tempo necessário para a sua digestão, ficando os jovens entregues à sua sorte. E sabemos que muita dessa informação acrescenta pouco, ou nenhum valor, ao crescimento intelectual e de percepção da realidade. Realidade que lhes é apresentada de forma, frequentemente, demasiado ficcional e, mesmo, com elevada carga de violência.

A escola, por sua vez, em muito devido a um enquadramento político demasiado rígido, tornou-se num centro burocrático, por excelência, de um Estado cada vez mais burocrático. O que parece e é um paradoxo, tendo em conta a flexibilidade e comodidade das novas tecnologias de informação no processo de agilização de procedimentos. Este paradoxo cria, inexoravelmente, sentimentos confusos nos diversos actores, a começar pelos professores. E na sua actividade professoral que vai muito mais além da mera exposição de conteúdos. Em relação a estes e à rigidez burocrática, relevam-se aspectos associados ao tempo necessário de preparação das aulas que, em muitos casos, é ocupado pelo preenchimento de mil e um papéis não directamente relacionados com essa preparação.
Esta situação origina um aumento da pressão na gestão do tempo disponível para as actividades pedagógicas verdadeiramente relevantes.

Em termos mais abrangentes, ou seja, alargando o raio de análise para a sociedade, assiste-se a uma crise de valores que afecta negativamente o desenvolvimento educacional. Em muitos casos, existe um facilitismo exagerado na obtenção das coisas (sobretudo, de “elevado peso” material), que não premeia a capacidade de sacrifício e de empenhamento. No fundo, a responsabilidade e o mérito. Neste sentido, é, por muitos, referido como melhor exemplo: alguns concursos televisivos, com o Big Brother nos lugares cimeiros. No caso escolar, por exemplo, tem havido uma delapidação dos poderes dos professores que leva a que os alunos não sintam tanta necessidade de se esforçarem para atingir as suas metas. Situação que se reflecte no processo de avaliação em que é muito difícil e burocrático reprovar um aluno. Deste modo, parte do papel que compete ao professor é-lhe, simplesmente, sonegado.

Em conclusão, haverá muitos outros factores importantes, no entanto, parece-me que os que foram referidos têm a sua “quota-parte” de responsabilidade. O prazer de ensinar e de contribuir para o crescimento/desenvolvimento educativo de jovens, e não só, encontra-se miseravelmente condicionado. Sendo a educação um dos pilares do desenvolvimento humano, com tantas e tantas páginas, mais ou menos virtuais, dedicadas ao assunto, todo o contexto educativo actual parece estar, em grande parte, descontextualizado, espelhando uma sociedade à deriva.

DEANA BARROQUEIRO disse...
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DEANA BARROQUEIRO disse...

Caros Fernando, Gonçalo e restantes amigos que têm escrito neste blogue e no Sorumbático:

Tocaram em todos os aspectos que eu desejei ver discutidos, de uma forma brilhante e com a seriedade que o problema merecia. Nunca pensei que poderia ter tanta participação no meu blogue e ainda não saí dessa surpresa. Bem hajam por isso.

E, pelo muito que me deram com as vossas palavras, vou entrar no âmbito pessoal e pôr a alma a nu:
Em relação ao suicídio do aluno, que ocorreu antes do do professor, comecei a escrever sobre isso... e não consegui. Há traumas na infância que, quer queiramos ou não, deixam sequelas e eu estive sujeita a um bullying diário, durante os mais vuberáveis anos da minha vida (dos 7 aos 14), não na escola mas dentro da própria família.

Não foi apenas isso que me levou a tentar o suicídio aos 20 anos (estive 3 dias em coma e escapei por um triz), mas contribuiu em grande parte, porque as cicatrizes da alma reabrem ou infectam muito mais facilmente do que as do corpo, e não era preciso muito para ficarem de novo em "carne viva".

O suicídio é uma fuga, sem dúvida, e eu nunca pensaria cometê-lo em idade adulta. Houve, no entanto, algo de positivo na minha tentiva gorada: deu-me força e uma certa carapaça contra a adversidade e, com essa experiência terrível (e foi aterradora!), eu pude salvar alguns alunos meus de o fazerem.
No entanto, não consegui escrever sobre o menino que se lançou ao rio.
Julgo que, ajudou também o repugnante aproveitamento que Judite de Sousa fez do drama, com a sua reportagem, guiada pelo primo adolescente (e ainda falam estes "jornalistas" da falta de liberdade de expressão!), de que vi apenas o início e me levou a desligar o televisor, enojada.

Podem crer que, ao escrever o meu texto sobre o Professor, não foi para fazer retórica, mas porque me doeu. Para mim, escrever é como respirar: é obrigatório para viver e não apenas porque "se quer fazer". Por isso escrevo pouco, fora dos romances. Não tive forças para ver escritas as palavras e os sentimentos que, então, me ocorreram.

Obrigada, meus amigos, pelo vosso testemunho.

*Os dois comentários anteriores foram duas tentativas de postar este meu texto que saiu mal. Não há censura aqui, a não ser que os comentários contenham linguagem imprópria, o que obviamente não aconteceu.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Há quatro dias escrevi no meu blogue o seguinte:

A culpa é deles, por serem frágeis
[Já antes escrevi que] o sistema educativo não está pensado para proteger os Leandros, mas sim para proteger os
bullies. Também não foi pensado, pelos vistos, para proteger os Luíses.

Um rapaz de doze anos, um homem de cinquenta e um, foram torturados até à morte em duas escolas portuguesas. Mas isto que interessa? A culpa é deles. Eles que não fossem frágeis. É o que pensa um tal Leitão, que por acaso ou por desígnio é Director Regional da Educação de Lisboa.


Antes disso, já tinha escrito que o que nas escolas se chama bullying se chama nas famílias violência doméstica e nas organizações assédio laboral. E tinha acrescentado que o combate a uma destas formas de violência só pode ter resultados, dadas as sinergias entre elas, no contexto do combate às três.

Ao escrever isto, estava a pensar na entrevista a Chistophe Dejours a que a Deana se refere no post a seguir a este. O que os professores estão a viver nas escolas é assédio laboral organizado, e organizado ao mais alto nível da administração pública.

Os jovens não são estúpidos e percebem até que ponto os seus professores estão fragilizados na sua relação com a sociedade. Se a autoridade pública põe nas mãos de adolescentes o poder de torturar pessoas, é estatisticamente inevitável que alguns o exerçam. Já o faziam antes? Claro que sim. Mas agora viram-se libertos de todos os limites, e nem eles próprios sabem onde vão parar.

DEANA BARROQUEIRO disse...

Obrigada, Luís Sarmento, pelo seu comentário e intervenção. Estou em sintonia com o que disse, por isso responsabilizei, em particular, a anterior equipa ministerial, porque nenhuma outra ofendeu, humilhou e desautorizou os professores como Maria de Lurdes Rodrigues e os seus Secretários. Foi um pouco como se declarassem caça aberta aos docentes, maus ou bons, porque foram todos metidos no mesmo saco.
E não vale a pena Manuela Ferreira Leite vir defender os Professores, com lágrimas de crocodilo, porque quando foi Ministra também quis implantar uma reforma de números, de cortes para poupar dinheiro, mas como "caiu" do poleiro mais depressado que Maria do Lurdes Rodrigues, fez menos estragos.
A memória desta gente da política é muito curta e os os partidos não trabalham nem se interessam pelo bem comum e pelo país, por isso raramente há consensos ou políticas a longo prazo. Interessa-lhes apenas os jogos do Poder e nadar à tona do pantanal e criar uma rede de influências que lhes permita individualmente arranjar um "bom tacho" quando saírem.

Fernando Frazão disse...

Meu caro José Luís Sarmento

Eu tenho 60 anos.
Entrei para o liceu Passos Manuel em 1960.
Não queira seber o que passei às mãos dos mais velhos e uns anos mais tarde o que fiz passar a alguns fresquinhos que entraran também com dez aninhos.
Durante esse tempo todo nem queira saber o que alguns professores passaram nas nossas mãos entre os quais o grande Joel Serrão.
Não é de agora, não é de agora.
E por amor de Deus tenham tento na língua e cuidado nas qualificações.
Tortura? Tortura é outra coisa meu caro.

DEANA BARROQUEIRO disse...

E eu tenho 64 anos, Fernando, e estive em dois liceus e na escola primária, com algumas das Professoras mais sádicas que se possa imaginar! E nós não fazíamos nem a milésima parte daquilo que mesmo uma turma simpática, mas indisciplinada, faz. E garanto-lhe que é mesmo tortura para alguns miudos, quando os queimam ou os fazem bater de pernas abertas contra um poste ou lhes dão pontapés e socos repetidamente, além dos insultos e do isolamento a que o forçam.

Catarina disse...

E quando não há indícios de tortura física? As psicológicas existem... oh se existem. E por não causarem lesões que todos possam ver a olho nu, não quer dizer que não haja “tortura”. Esta é mais sofisticada, mais subtil e mais difícil de detectar. Quer seja assédio quer sejam 5 minutos de bulha, após os quais os garotos se abraçam, é imperativo que se apliquem consequências punitivas a estas crianças. Nem as bulhas “a brincar” nem tão pouco o assédio, o bullying, deve ser permitido desde o primeiro segundo que ocorre.
Ainda hoje podemos ouvir pais, relativamente jovens, que dizem: “Eles estavam a brincar, são crianças!” para justificar as brigas na escola. Ou então: “Eu disse ao meu filho, se eles te baterem, não fiques atrás, dá-lhes também” – estes últimos comentários proferidos mais frequentemente pelos pais do que pelas mães. Medo de que a masculinidade dos seus filhos lhes caia no chão, como se a masculinidade fosse isso mesmo: ser o mais forte a dar murros ou pontapés?! Errado. Muito errado se se quiser ter um ambiente onde reinam a segurança, o respeito e a harmonia para uma aprendizagem mais bem sucedida. Os pais devem tomar responsabilidade pelo comportamento dos seus filhos, têm o dever de continuar a ser os seus primeiros educadores e deixarem de ser tão permissivos. Ainda me recordo de algumas das minhas amigas justificarem a reguilice dos filhos dizendo que “eram crianças com forte personalidade”, quando na realidade eram irrequietos, indisciplinados e elas viam-se gregas para os controlar.
Os garotos/adolescentes podem ser muito, muito cruéis e é assustador verificar isso. Sim, sempre houve escaramuças, brigas entre crianças. Mas o que se está a passar actualmente vai muito além do que nós, como crianças, presenciámos. E se este senhor juntamente com os colegas fizeram a vida negra a algum professor, mais uma razão para ser o primeiro a reconhecer a situação que prevalece na maioria das escolas.
Não esquecer – se as estatísticas que ouvi esta semana são exactas – apenas 10% destes “delinquentes” se recuperam. Os outros crescem e continuam a ser cada vez mais delinquentes, mais perigosos.

Delmira disse...

Li ,emocionada, o seu artigo.
Também eu sou professora e viúva de um professor que praticou o suicídio.
Por favor, não me digam que talvez não fosse um bom professor. Que talvez não tivesse perfil para a profissão. – NÃO- Este Professor era amado e respeitado por todos. Pelos seus alunos, pelos colegas, funcionários e encarregados de educação. Foi apenas mais um professor que não resistiu à anterior equipa ministerial. Foi apenas mais um lutador que acabou vencido. Nas suas últimas palavras escritas, disse “não consigo mais ser um bom professor. Esta ministra secou tudo o que havia de bom em ser Professor”…

Sir do Vasco disse...

Nunca mais haverá autoridade do professor!
Desiludam-se! Com este sistema nunca mais haverá ordem e educação nas salas de aula.
O eduquês continua a ser rei!
Para haver educação é preciso "dá-la" em casa e na Escola.
Pão numa mão e pau na outra! Era assim. De pequenino se torce o pepino!
Só com medidas repressivas e coercivas se reporá a ordem e educação! E mesmo assim já vai tarde... Os jovens cada vez mais baterão nos professores e nos pais.
Neste momento há pais que não controlam a situação só que têm vergonha e não dizem nada! Foi esta a politica que se quis dita de igualdade.
E digam lá que o burro sou a ver se eu estou preocupado. Mas tomem nota e veremos quem tem razão.

José Alberto Mar disse...

O meu-irmão-gémeo-que- coitado-até-é-professor-em-Portugal, agradece-lhe este texto!

Carlos Medina Ribeiro disse...

A classificação, que abrangeu os comentários feitos até às 20h de ontem (e em ambos os blogues) está afixada [aqui].

Sérgio Marques disse...

É o sinal dos tempos,cara colega!
Uma sociedade do consumismo, aonde dita o vale tudo, para ser o melhor, o mais forte ou o mais vaidoso...
É com tristeza, que tive o conhecimento da morte de um colega, alguém que dava o seu melhor para que exista um dia, uma sociedade melhor e mais digna.
Mas há quem não queira... um povo justo, inteligente e educado.
Gostei de saber qye existe afinal pessoas que não se conformam e que pensam... num dia melhor.

* sou colega de Ed Física na EB2 Benedita

Paula Brandão disse...

Em boa verdade, daqui a algum tempo a notícia do Professor que se suicidou será mais uma, a acrescentar a tantas outras, que se amontoará em alguma secretária poeirenta... Muita água tem corrido sobre o actual estado da (de)Educação que reina no nosso Portugalzinho terceiro-mundista... Pergunto, o que tem sido feito?

DEANA BARROQUEIRO disse...

Pois é, Paula Brandão, infelizmente isso é verdade e esse "não passar da cepa torta" assusta-me muito.

Anónimo disse...

Pouco após o 25 de Abril "As mais amplas liberdades" foram mal interpretadas, mas os responsáveis políticos deixaram correr, para não perderem votos! Houve escolas que denunciaram a indisciplina que começava sendo insuportável nalgumas delas. Responderam-lhes que se tratava de casos pontuais. E como "casos pontuais" ficaram até aos dias de hoje. A indisciplina e o facilitismo tomaram conta do nosso Ensino. Infelizmente a desautorização que se abateu sobre os Professores chegou a outros sectores, como as Forças de Segurança. E que dizer da Justiça?!
Por isso o País está como está.
Finalmente... seria de bom tom que os responsáveis respondessem pelas atitudes erradas que tomaram, em vez disso ainda são guindados para melhores "TACHOS".

DEANA BARROQUEIRO disse...

Delmira, não tenho meio de lhe escrever particularmente, por não ter e-mail, por isso faço-o aqui.

Queria dizer-lhe as palavras certas para a sua dor, mas não as tenho, tudo o que gostaria de lhe transmitir soa a vazio. Receba a minha solidariedade e a minha mágoa que nada mudam na sua tragédia e nem servem de consolo, porque a perda de um ser querido é inconsolável.
Tenho muita, muita pena.
Um beijo de amizade

Anónimo disse...

Cara Deana B.

Tudo o que escreve acerca da nobre missão do professor e do vilipêndio que sobre si vem desabando nos últimos tempos é correcto, embora peque por tardio.

Faz lembrar alguma imprensa que temos, sempre disponível para cavalgar qualquer onda que passe perto, desde que a violência soe a moeda de subsistência, ou arma de arremesso político.

A violência que grassa nas escolas espargida em todas as direcções, a crise de autoridade das direcções escolares, com repercussões na integridade física e psicológica dos professores, não é mais que o reflexo da sociedade que fomos construindo e um péssimo prenúncio de um futuro que se prepara para se abater sobre todos nós.

O professor é um construtor de futuros a quem sempre quiseram responsabilizar por tudo o que de mau a sociedade contém.
De simples transmissor de conhecimentos a formador, exige-se-lhe agora que seja também o pai e a mãe dos alunos que se arrastam pelas escolas, quais órfãos desprovidos de carinho e conforto mínimo familiar.
Os alunos são os maus da fita. Mas os pais, a verdadeira face oculta de uma sociedade em perfeita degradação de valores, que nos porá, breve prazo, uns contra os outros, sem que ninguém esteja disposto a assumir responsabilidades.

Relacionar esta indesejável realidade com o lamentável suicídio do professor em causa (circunstância que se deplora com muito pesar) é pura demagogia e um aproveitamento que não dignifica nada nem ninguém, nem compagina a essência da questão.

Os professores não precisam disso para proclamarem a sua dignidade.
Não ergamos mais mártires onde eles não são necessários.
O país tem mártires a mais.

Peter C.

Anónimo disse...

Delmira...

Por favor...!

Essa não.

Onde isto chegou.

Será que podemos pôr os pés no chão...?
Haja algum senso.

F.L.

DEANA BARROQUEIRO disse...

Caro Peter C.

Vem de muito longe a minha luta contra as más políticas do ensino, contra os maus professores, contra as demagogias e as reformas feitas por gente que não conhece o que se passa no terreno e as implanta a trouxe-mouxe para fazer curriculum, mudando a cada governo/partido as regras do jogo, sem aproveitar o pouco de bom que se fez no anterior, começando novamente do zero, implantando políticas mal pensadas que levam a práticas desastrosas. Como se professores e alunos fossem cobaias que se podem usar a bel-prazer. Passei por todas elas (e foram inúmeras) e vi o ensino a degradar-se a cada mudança.
Fui avaliada, a sério, até fiz dois anos de Mestrado para passar para o 10º escalão da carreira.

A repressão dos alunos, pura e dura, não é solução, tenho horror ao "antigamente" que sofri na pele. Mas também não é de modo algum admissível aquilo que se passa nas escolas (não em todas, como é óbvio, embora até as escolas, fora das grandes cidades, já se defrontem com essa mesma indisciplina, tornando-se cada vez mais difícil ensinar seja o que for.
E é necessário pensar nos milhares de bons alunos, que fazem a alegria dos professores e que os seus colegas prejudicam porque os professores e os programas não os ajudam a atingir ou a chegar aonde as suas qualidades e desejo de realização os levariam. Dessas vítimas dos seus colegas indisciplinados pouco se fala. E isso também me doía, quando eu puxava incansavelmente a carroça dos desinteressados e gozões, "para os recuperar" e deixava a marcar passo os bons alunos, apesar de tentar fazer um ensino diferenciado. Com 25 (mais ou menos) alunos, basta haver 3 ou 4 indisciplinados para não se poder ensinar nessa turma.

Não pretendi fazer demagogia, ao escrever o texto sobre o professor que se suicidou, apenas desejei suscitar alguma reflexão sobre o que se passa nesta profissão e que muita gente prefere ignorar e outra, por não conhecer o problema ou por má fé, escreve ou fala nos media e nos blogues (li tantos!) sobre os professores como uma classe privilegiada de incompetentes e "baldões", que não querem trabalhar.

Um suicida não é um mártir, nem um herói, é uma vítima. Nada ganha com o seu acto - perde tudo. Apenas quer deixar de sofrer. É um fraco. Não é, decerto, como o Peter C. ou como eu!
Mas, eu li a última mensagem que ele deixou. E de facto ele culpa os alunos e, por trás deles a sociedade, a si Peter C e, naturalmente a mim também. Eu não falo de mártires, falo de vítimas.
As pessoas perceberam isso e reflectiram sobre o problema. Veja os comentários. Não mudamos nada? Talvez não. Porém, a morte do professor não será um desperdício se fizer pensar aqueles que podem mudar as coisas - com seriedade e em concertação com as várias partes interessadas, para se ter, no futuro um ensino a sério.

DEANA BARROQUEIRO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

À Deana Barroqueiro

A Deana eliminou um comentário meu que contrapunha este seu último.

Uma vez que não havia qualquer indelicadeza, ou linguagem menos apropriada, apenas a expressão de uma opinião, quer dar-nos uma explicação para o sucedido?

Entendo-o imprescindível, a fim de melhor entendermos o seu posicionamento nesta sua intervenção.

Esperando que o mesmo não aconteça com este, fico na expectativa.

Peter C.

Anónimo disse...

Esta visão redutora e pouco atenta a este texto, é profundamendamente assustadora e tb reveladora.
"Um professor suicida-se porque é insultado plos alunos...Pelo amor de Deus..."
É realmente urgente que haja uma reflexão séria sobre o estado a que chegou o nosso ensino. Eu sou mãe e não cosigo perceber pq é que sinto q a queixa que eu faço do professor, tem mais peso que aquela que ele faz do meu filho.
Eu não sou professora. Gostava muito de sentir que os meus filhos estão entregues as educadores com autoridade e ferramentas para exercer disciplina dentro da sala. Estou verdadeiramente preocupada.


Parabéns Deana

DEANA BARROQUEIRO disse...

Peter C.
Eliminei o seu e a minha resposta, porque se repetiam e eram cada vez mais pessoais, o senhor acusando-me de aproveitamento da morte do meu colega e eu justificar-me. Achei que, não tendo tido essa desonestidade intelectual de que me acusa, não tinha que justificar. Não prejudiquei a sua argumentação, porque é a do seu comentário anterior e eu respondi-lhe com boa-fé. Não precisa de bater mais no ceguinho. Com a resposta que lhe escrevi, continuaríamos a repetir-nos e não traríamos nada de novo a esta troca de impressões.

DEANA BARROQUEIRO disse...

Agradecia aos participantes que não se apresentem como Anónimos. Gostaria que se identificassem pelo e-mail ou pelo blogue, como quase todos fizeram, para lhes publicar os comentários, sem reservas.

Catarina disse...

É interessante verificar como os textos e os comentários são interpretados e criticados. Ou porque se fala apenas sobre o professor que se suicidou e se deixou de comentar sobre o garoto de Mirandela, ou porque os professores afinal... ou porque os pais isto e aquilo.. é como se cada um de nós fosse detentor(a) da verdade absoluta. Porém, estou em crer que todos são unânimes em concordar que existe algo que não funciona e muito se tem que fazer a vários níveis para se conseguir um equilíbrio. Certas medidas são mais fáceis e rápidas de desenvolver e implementar. Ninguém põe em dúvida a existência do bullying, do assédio; da ineficiência do sistema educacional, das mudanças no seio familiar: autoridade ou falta dela, permissividade, alheamento das responsabilidades a ela inerentes, etc; e de que a docência está sujeita a grandes níveis de stress e de burnout, esta exaustão, este desgaste emocional que acontece quando o ambiente de trabalho é altamente inadequado e há falta de apoio a vários níveis. E sobre este assunto estou certa que a cara Deana poderia escrever um livro.
Tudo o que se diga daqui em diante será, de facto, repetitivo. Há que fazer pressão nas entidades responsáveis pelo melhoramento do sistema. E nós, como cidadãos, devemos fazer a nossa parte porque de certeza faremos uma diferença, qualquer que seja a situação em que nos encontremos: no activo, com mais ou menos impacto a nível mediático, como aposentados, em profissionais liberais ou não. Querer é poder. Há que canalizar, direcionar as nossas energias para fins positivos.

Catarina disse...

Correcção: “profissões liberais” em vez de “profissionais liberais” : (

David Rodrigues disse...

Deana, subscrevo na integra as suas palavras. Oxalá haja, num futuro breve, um(a) ministro(a) da educação que tenha a sentatez de perceber a verdadeira dimensão do problema e a audácia e a perseverança suficiente para investir sobre ele. A existência de pessoas como a Deana fazem-me acreditar. Bem-haja

RúbenFGCampos disse...

Desde já felicito-a pela iniciativa de escrever sobre este tema.

Li os comentários anteriores aos meus, e eu, como estudante que sou, com 17 anos, sinto que, apesar de fazer parte daquela faixa etária que se tem vindo a considerar a mais problemática, considero realmente o estado a que "as coisas" chegaram "cadavérico"...


Frequento o ensino secundário e, com muito orgulho, posso dizer com toda a alegria que ando numa escola até bastante pacífica. Existe uma harmonia que pelos vistos há muito tempo que não é quebrada por demais.
Contudo, sei a situação em que nos encontramos.
Acho que se podia fazer muito mais pelo ensino. Sinto que o nível de facilitismo e "deixa andar" da Educação de hoje em dia é elevado... até demais. Sei que saí de graus de ensino inferiores com um nível de conhecimento que se faz muito pobre, e resultado disso são as dificuldades que se fazem sentir no ano em que estou (12º). É um mero exemplo.


Quanto ao bullying propriamente dito, até tive contacto com casos de violência por parte de colegas meus, nunca à minha pessoa, mas a professores e a outros colegas. Infelismente, como era ainda mais novo do que sou, era inocente e não tinha a capacidade de reagir a uma situação destas. Falo por mim e secalhar por maior parte da minha faixa etária.

Simplesmente é um sistema educativo falhado em muitos aspectos. Gostava que um dia mais tarde viesse a olhar para este tipo de notícias como um passado triste do país.

P.S. Agradeço a quem opinou aqui e me deixou passar um pouco da visão de estudante para a visão de quem está no centro desta questão. Obrigado.

Rúben Campos.

Catarina disse...

Que ar fresco entrou por este seu blogue, cara Deana, através do comentário deste estudante! Que prazer tive em lê-lo! Finalmente, leio algo pela perspectiva de um aluno. Muitos mais deveriam pronunciar-se sobre este e outros aspectos da educação. Desejo-lhe, Rúben, o maior sucesso nos seus estudos e na sua carreira profissional qualquer que seja a escolhida. A forma como se apresentou, demonstrou bom senso, alguém que pondera antes de agir.

DEANA BARROQUEIRO disse...

Rúben, não imagina o prazer que me deu com o seu comentário, neste blogue que foi pensado para eu poder comunicar com os meus leitores e não para um público em geral!

São alunos como o Rúben que fizeram e felizmente fazem, ainda hoje, o orgulho e o prazer de milhares de Professores e nos deixam recordações que nunca esquecemos.

Com eu já disse aqui, não acredito que a repressão generalizada resolva o problema ou seja justa para aqueles que são jovens bem formados, com ideais, os bons estudantes, que não causam problemas, sem todavia deixarem de ser jovens, irreverentes e contestatários, como é próprio da juventude e espero que nunca percam essa capacidade de lutar pelos seus ideais e pelo que acham justo.

Não há dúvida de que há escolas com poucos problemas, com casos de indisciplina, como sempre houve, fáceis de resolver. E casos de grande sucesso, independentemente de serem de escolas públicas ou privadas. É esse ensino que tem que ser salvo a todo o custo., exigindo-se mais e não nivelar por baixo, porque isso só prejudica os próprios alunos e, a médio prazo, o país.

Ainda ontem assisti na Gulbenkian à Conferência e encerramento do Ano da Astronomia, em que foram entregues os prémios atribuídos aos alunos de uma escola da Caparica, escolhida entre muitas que participaram. E eu mesma fiz parte de um Júri para escolha de contos de estudantes dos vários anos, com alguns trabalhos de muito boa qualidade.

Foi tão bom que viesse dar-nos o ponto de vista do "vosso" lado!
Bem haja, Rúben. Tive muitos alunos de igual carácter ao que aqui mostra.

Pedro Lemos disse...

Este foi o meu primeiro contacto com este blogue. Foi mais uma boa prenda de Dia do Pai.
Tenho a sorte de ter amigos e colegas (com quem tenho aprendido muito e em quem muito me apoio) interessados/preocupados com o actual estado da educação, da justiça e da sociedade em geral.
Agradeço o texto que despoletou esta discussão e todos os comentários que se lhe seguiram (incluindo os dissonantes).
Tenho 60 anos e lembro-me, perfeitamente (como se fosse hoje), que também padeci às mãos de alguns colegas (nós, humanidade, ainda somos muito imperfeitos – ainda nos faltam muitos milhares de anos para evoluir a um nível menos cruel...), mas não tenho dúvidas em afirmar que aquelas sevícias se não comparam com as que se praticam hoje.
Lembro-me, igualmente (também como se fosse hoje) de todos os meus professores (da primária até ao final do liceu). Todos eles bons professores. Uns mais autoritários do que outros (os tempos permitiam-no). Uns mais sensíveis do que outros, mas igualmente bons professores (mesmo bons). A diferença é que estes (os mais sensíveis) sabiam estar mais próximos de nós e ser mais amigos – estavam menos distantes, acompanhavam-nos e apoiavam-nos nas nossas fraquezas.
Devo-lhes, a uns e a outros, uma parte importante do que hoje sou – a outra, a maior fatia da minha formação, devo-a, naturalmente, aos meus pais que, tanto me ensinaram e estimularam/responsabilizaram nos estudos (pois eu era um grande cábula).
Pergunto-me, quase convicto da resposta, se os tais professores, bons e sensíveis que tive, conseguiriam, hoje, ser felizes/realizados; se conseguiriam, sequer, nas actuais condições, ser os tais “bons” professores que conseguiram ser, então. Mais: pergunto-me mesmo, como estariam a reagir, muitos deles, às adversidades que, actualmente, o sistema impõe aos professores... Acredito que alguns, no mínimo, já teriam pedido a reforma antecipada (como muitos fazem hoje). E não me atreveria a considerar esse acto como sendo uma fuga. Pelo contrário, até será a atitude mais corajosa e honesta que um professor deveria tomar...
Por definição, a missão de um professor não se resume à de um mero técnico, transmissor de saber (talvez, por isso, seja tão incompreendido!). Ser professor é ser muito mais do que isso: é ser um pai atento (por vezes o único que a criança/jovem tem), um amigo leal, um confidente sensível... E quanto mais sensível se é, mais frustrado e vulnerável se sentirá uma pessoa...
Quem se sente em condições de a julgar?!

DEANA BARROQUEIRO disse...

Pedro Lemos, obrigada!

Fez um resumo completo do que sentem muitíssimos professores efectivos, com mais de 60 de idade e com uma vida inteira de trabalho dedicada ao ensino. Muitos com verdadeira paixão e total empenhamento (quantos não estariam entre os 6.000 que se reformaram com antecipação no mesmo ano que eu?).

Como já disse aqui, em outras respostas, há muitos anos que vou a escolas falar para alunos e professores do meu trabalho de escritora de romance histórico, porém, nunca como nestes dois anteriores anos lectivos, ouvi tantas queixas de colegas, tão grande desânimo e tanta amargura.
E, sobretudo, aquela sensação de não conseguir fazer o verdadeiro trabalho de professor, esse que o Pedro Lemos tão bem enunciou, por estarem esmagados com burocracia, o preenchimento de centenas de papéis com o mais absurdo linguajar(de "eduquês"), que todos sabemos que ninguém do Ministério irá alguma vez ler - basta fazer um cálculo ao número de escolas, de alunos por disciplina, etc. O Simplex aqui transformou-se em Complex do mais estéril e asfixiante. Roubando um tempo precioso ao acompanhamento dos alunos, à preparação das aulas, ao tempo de estudo de actualização do professor que deve ser contínua.

Quando escrevi este texto sobre o colega que se suicidou deixando uma mensagem arrepiante, fi-lo como um desabafo para os meus leitores que me visitam, sem sequer imaginar que a minha mensagem iria despertar tanta atenção dos internautas, mesmo em outros blogues. O que me permitiu ver que há muita gente a pensar sobre o que se passa na nossa sociedade desmoronada e nos efeitos que ela tem produzido sobre a juventude. Talvez ainda haja esperança e se comece a arrepiar caminho.

A minha imensa gratidão a todos os que aqui deixaram as suas reflexões
sobre esta questão.

Anónimo disse...

QUERIDA IRMÃ, DEANA,
MUITO OBRIGADO PELA CORAGEM DE TERES TOCADO NA FERIDA ONDE MUITOS NÃO TÊM CORAGEM:
QUE FAZEM ENTÃO?
-HIPOCRITAMENTE, VENDO FINGEM NÃO VER;
-OUVINDO FINGEM NÃO TERR OUVIDO:
-SENTINDO FINGEM NÃO TER SENTIDO;

E ASSIM VÃO ESPERANDO QUE AS COISAS SE RESOLVAM SÓZINHAS.
ENVIO-TE UM DESABAFO DE UM AMIGO PROFESSOR QUE ME CAUSOU OS MAIS SURPREENDENTES ARREPIOS:
- COMO É POSSIVEL CONTINUAR A SER PROFESSOR ASSIM:
-UM GOVERNO DO SÓCRATES MALTRATOU OS PRÓPRIOS PROFESSORES QUE O FORMARAM PARA HOJE SER GOVERNANTE;
ATIROU-OS AO CHÃO E COMO UM CÃO RAIVOSO ESMORDAÇOU-OS, HUMILHOU-OS, METEU-OS A TODOS EM FUGA PARA A REFORMA ANTECIPADA E A ALGUNS-MAIS DO QUE SE POSSA PENSAR LANÇOU-OS PARA A LOUCURA QUE AINDA SÓ SE ESTÁ AGORA A COMEÇAR A VER, SEM TER AUMENTADO OS CENTROS DE RECUPERAÇÃO PSIQUIÁTRICOS QUE VÃO SER OBRIGATORIAMENTE NECESSÁRIOS A CURTO PRAZO.POIS NÃO HÁ RESISTÊNCIA POSSIVEL.
-E AFINAL QUE FEZ A SOCIEDADE A ESSE SENHOR QUE TODA A GENTE CONHECE ATÉ PELO TRISTE FACTO DE TER UM DIPLOMA DE CONCLUSÃO DE UM CURSO QUE AO QUE CONSTA NÃO DEVE TER SIDO CONCLUÍDO MAS SIM COMPRADO, UMA VEZ QUE O MESMO FOI PASSADO A UM DOMINGO, DIA QUE NÃO CONSTA SER NORMAL NESTAS COISAS.
O CERTO É QUE NO FIM DESTE MANDATO ELE IRÁ PARA UM DOS PARAÍSOS FISCAIS,COM OS DIVIDENDOS DO FREEPORT E AS MUITAS REFORMAS QUE LHE SERÃO ATRIBUÍDAS POR MOTIVOS DESCONHECIDOS...

DIZIA-ME ESSE AMIGO PROFESSOR:
-ESTE GOVERNO ACABOU DE NOS TIRAR A ARMA MAIS IMPORTANTRE DO PROFESSOR: A SUA AUTORIDADE PARA ENSINAR E EDUCAR.
À MÍNIMA PALAVRA QUE EU DIGA FORA DO COMUM, "´-ÉS UM MAL-EDUCADO...MAL-CRIADO..."ETC...LEVAS LOGO COM UM:...VOU DIZER AO MEU PAI QUE ME ESTÁ A TORTURAR PSICOLOGICAMENTE...E ELE VIRÁ CÁ FALAR COM O DIRECTOR...
E LÁ VEM O PAI...E A SEGUIR O DIRECTOR VAI DIZER AO PROFESSOR: - CUIDADO COM O QUE DIZES AOS MENINOS!...
-ASSIM NÃO SE VAI A NENHUM LADO NA EDUCAÇÃO.
E CONTINUANDO DISSE-ME:
-E QUANDO SOU MUITO DURO E DIGO QUE VOU ENVIAR MENSAGEM AO ENC. DE EDUCAÇÃO A AVISÁ-LO DO COMPORTAMENTO DO EDUCANDO NA MINHA AULA,ESTE DÁ-ME A CADERNETA COM TRANQUILIDADE SABENDO QUE NÃO IRÁ CONTAR O QUE DIZ O PROFESSOR MAS SIM AS MENTIRAS QUE ELE IRÁ DIZER AO PAI. E COMO ESTE JÁ ESTÁ DIVORCIADO DA MÃE E NÃO QUER PERDER A CUSTÓDIA DO FILHO, DIZ-LHE:
-OH FILHO EU TAMBÉM FIZ SOFRER OS MEUS PROFESSORES NO MEU TEMPO ESCOLAR.
DE SEGUIDA O PROFESSOR CHEGOU AO PARQUE DE ESTACIONAMENTO E CANSADO DE ATURAR 29 ALUNOS-QUIAS 29 FILHOS GÉMEOS NA ADOLESCÊNCIA, ATIROU-SE PARA O BANCO DO CARRO E DIZ:-FINALMENTE LIVRE DESTES MAL-CRIADOS POR DOIS DIAS.COLOCA A CHAVE NA IGNIÇÃO E O CARRO NÃO ANDA.
QUE SE PASSA?
HÁ UM ANO CHEGUEI AO CARRO E ESTAVA TODO RRISCADO COM UM OBJECTO METÁLICO QUALQUER.
-PASSADO DIAS O VIDRO DA FRENTE ESQUERDA-DO LADO DO PENDURA PARTIDO;
AGORA OS DOIS PNEUS DA FRENTE FURADOS.
TOCA DE PEDIR BOLEIA A UM COLEGA QUE SE APERCEBEU DO SUCEDIDO. O CARRO, ESSE FICOU LÁ PARA NO DIA SEGUINTE SER REBOCADO PARA UMA GARAGEM E VAI DE SUBSTITUIR OS DOIS PNEUS.
-PASSADOS MAIS UNS DIAS, O PROFESSOR DIZ A UM ALUNO QUE SE HAVIA PORTADO MAL NA AULA:-ESPERA UM POUCO,QUE EU TENHO DE MANDAR UMA MENSAGEM PARA TEU ENC. DE EDUCAÇÃO.
COMO AINDA TINHA DE ESCREVER O MESMO PARA MAIS CINCO COLEGAS,ELE PEGOU NO CAIXOTE DO LIXO E VAI PARA O FUNDO DA SALA FAZER XI-XI,ATÉ QUE UM COLEGA ME AVISOU DO QUE ESTAVA A SUCEDER.
LEVEI-O AO CONSELHO EXECUTIVO QUE LÁ FALOU COM A MAMÃ E ENFIM...
ORA PERANTE COISAS DESTAS NÃO SERÁ UM GRITO DE DESESPERO ESSE FENÓMENO DO SUICÍDIO DO TAL PROFESSOR?
o PIOR AINDA NÃO FOI VISTO....

RúbenFGCampos disse...

Agradeço as vossas palavras. Fiz por dar a minha opinião sincera, pois vi que há neste um concentrado de vozes de profissionais da educação, e que havia necessidade de me expressar tanto como estudante, como pessoa.

Reafirmo o que disse anteriormente. O que sinto realmente sobre vós, professores, é que deviam ser os profissionais mais respeitados do país.
Porquê?
Muito simples. Uma razão suficiente para isso é a vossa intenção de transmitir cultura e sabedoria para nós, sendo que para tal não nos dão o que queremos, mas sim o que precisamos. Essa é a base. E é a essa base que muitos de nós, adololescentes, não entende. O que acontece para se previnir, ao ministério diz respeito, e é aí que eles(ministros), pecam.

É pena as pessoas encararem as notícias como um meio de se informarem, e não de reagirem.


Apenas vos peço para não deixarem de fazer o que gostam, apesar de ser muito difícil fazê-lo hoje em dia. Continuarão a ser a base para a nossa formação.

Obrigado, Rúben Campos.

Anónimo disse...

O que se está a passar é de facto muito grave, mas vai muito mais longe. O suícidio é colectivo, porque amarrámos, as nossas crianças e jovens num espaço a que chamamos Escola, mas a maior parte das vezes é um depósito. Grande parte dos pais demitiram-se das suas funções e depositaram os seus (queridos filhos) nas escolas. Porque não 24 horas?Porque não levarem na mochila o pijama? Ainda questionam o suicidio de um professor?
Nós matamos as relações entre familiares. Os avós não têem netos, os tios não têem sobrinhos, os pais não têem filhos. Amanhã não vamos ter (Grandes Adultos). Por favor parem, reflictam, e tenham também a responsabilidade de se envolverem no crescimento duma sociedade que queremos muito ver e sentir diferente. Ainda acredito que vale a pena dar as mãos.Maria Santos

Lamartine DIas disse...

Concordo plenamente. Numa sociedade plenamente desprovida de valores e em que o facilitismo e o curto prazo imperam pouco ou nada se pode esperar. Necessitamos de uma "purga", de uma mudança de valores e mentalidades

Unknown disse...

Anónimo diz!
Que autoridade tem o senhor, o senhor não. O director regional da educação, sobre o Professor que se suicidou, que já apresentava fragilidade psicológica desde há muito. O senhor director regional, assim como muitos directores das escolas, têm um tapete muito grande e não se passa nada. nos seus quintais. PREPOTENTES!

Catarina disse...

Eu até gostaria de comentar sobre este comentário, apenas não tenho a certeza que o compreendi! Algo me falhou.

Catarina disse...

Cara Deana,
Vou usar o seu espaço porque abordou o assunto do bullying. Desculpe, mas achei o espaço muito apropriado, pois ainda não li nenhum blogue sobre este assunto (talvez haja algum a abordar o assunto, não sei) Li esta notícia no DN:
“O inquérito aberto pelo Ministério Público (MP) de Mirandela para esclarecer as causas que levaram à morte de Leandro nas águas do Tua está suspenso devido às férias Judiciais da Páscoa, que terminam na próxima segunda-feira.”
Agora estou a pensar: O sofrimento dos pais de Leandro também ficará suspenso devido às férias Judidicais da Páscoa?
Esta notícia – também divulgada no DN – “O inquérito contra três agressores de Leandro Pires, o jovem de 12 anos que morreu no Tua, foi arquivado. O Ministério Público (MP) justificou a decisão pelo facto de todos terem menos de 16 anos, o que os torna inimputáveis segundo o código penal.” – eu não compreendo. Isto quer dizer que, em Portugal (me perdoem a ignorância), os jovens com menos de 16 anos podem transgredir toda e qualquer lei sem serem punidos? Podem espancar, atacar, roubar, matar e não sofrem nenhumas consequências? Alguém me explique, por favor, porque estou confusa!

Anónimo disse...

Caríssima Deana Barroqueiro, peço desculpa por utilizar este seu espaço, para responder a um comentário feito pela "Catarina" e que não tem a ver directamente com a sua "Conversa com os leitores", sobre "Um professor suicidou-se". Quero afirmar que subscrevo de todo as palavras e a indignação da Catarina e que estas situações que se estão a verificar cada vez mais, aliás todos nós o sabemos, deveriam ser tratadas urgentemente pelos nossos governantes e legisladores; para que não se venham a agravar cada vez mais.Se esses adolescentes têm capacidade para cometerem os mais variados crimes, também deverão ser responsabilizados por eles.

DEANA BARROQUEIRO disse...

Não têm de pedir desculpa por escreverem neste blogue, são muito bem-vindos e não necessitam de ser meus leitores para o fazerem.
Peço-vos apenas o favor de se identificarem, porque não gosto de ter correspondentes anónimos neste blogue e acabarei, no futuro, por excluir os comentários que não vierem identificados.

As opiniões e reflexões que aqui deixaram foram extremamente gratificantes para quem, como eu, se sentiu tão incomodada e magoada pela morte do professor. Bem hajam por esta discussão.

Anónimo disse...

Foi com muita emoção que li o seu texto.
Essa imagem da escola actual não é a minha da infância, que quando levava uma reguada da Professora, rezava para que ela não fosse falar com os meus pais a razão porquê que tinha levado uma reguada! Actualmente quando cruzo-me com a minha professora da primária, sorriu de boas lembranças e porque lhe tenho um grande carinho e "Dádiva" por ela.
Nunca pensei que fosse assim tão "mau ou péssimo" o ensino em Portugal.
Saí do Secundário à 15 anos e da Faculdade à 10 anos. Tenho um irmão que é professor de História e vários amigos também são professores, e todos dizem que a escola virou uma autêntica guerra civil!
Dizem que os sucessivos Governos destruíram o ensino do Secundário. dizem também que a antiga equipa Ministerial da Maria Lurdes quis acabar com a autoridade do professor do ensino Escola Primária e pré-primária porque também a violência tomou conta dessas escolas.
Estes actuais governantes querem acabar também com o ensino universitário com o facilitismo do processo Bolonha e a quebra da confiança com os docentes.
Os exemplos vêm de cima!
Não me admirou nada que neste País alguém chegue a primeiro-ministro fazendo sete cadeiras na faculdade ao Domingo, deve ser muito "iluminado" ou algo vai mal no "Reino dos chicos-espertos" e nada fazem.
Julgo se nada for feito, caminhamos para o abismo, para a autêntica GUERRA CIVIL na sociedade.
Desculpem os desabafos
Dantas

Claudeci Andrade disse...

Qual é o nome do Professor?