31/10/2010

Made in Portugal ou Produto Estrangeiro?

Caros amigos, estamos todos cansados de ouvir falar na nossa desastrosa economia, que Portugal não produz, importando muito mais do que exporta, que os portugueses gastam mais do que ganham, que o investimento e a iniciativa são baixos e o desemprego alto, que não somos competitivos, etc.

Os políticos são em grande parte culpados deste estado da nação, a crise mundial também... todos sabemos isso. E nós, os cidadãos comuns, estaremos isentos de pecado?
Os produtos e marcas portuguesas são quase sempre preteridos em relação às marcas estrangeiras, mesmo quando são de melhor qualidade, quer nos materiais quer na execução. Temo que isso seja fruto do síndrome, muito nosso, de mostrar desprezo por tudo o que é nacional e babar-se por tudo o que vem de fora, por mais "bacoco" que seja. Só se tem valor "cá dentro", depois de se vencer e ser conhecido "lá fora".
Por alguma razão os nossos criadores de sapatos têm de lançar as suas marcas de óptima qualidade, com nomes ingleses, italianos, franceses... para se venderem entre nós.

Este texto vem a propósito de um artigo que vi numa dessas revistas sobre televisão que acompanham os jornais, que passo a citar. Uma apresentadora de TV, chamada Júlia Pinheiro, "só veste criações de estilistas famosos", como Valentino, Cavalli, Armani e Gucci que "custam uma fortuna" - entre 1300 e 3000 euros -, que ela escolhe e a cadeia televisiva compra para as suas actuações e que ficam a pertencer ao guarda-roupa do dito canal. E, quanto a sapatos só Stivalli (cujo custo equivale ao dos vestidos). Nada a argumentar, trata-se de uma empresa privada, livre de gastar o seu dinheiro como quiser.

O que me pareceu ridículo e me trouxe a falar do assunto, foi a manifestação dessa espécie de novo-riquismo deslumbrado, contida na justificação da autora do artigo - "a escolha de estilistas de gabarito internacional não acontece por acaso" - e na frase lapidar de Júlia Pinheiro:
"Não encontro em Portugal alguém que tenha olho para me vestir".

Achei esta afirmação espantosa. E extremamente ofensiva para os talentosos estilistas portugueses que temos actualmente no mundo da Moda e são reconhecidos "lá fora", alguns com lojas nas grandes capitais e exposição de peças no MUDE. São aplaudidíssimos em New York, Paris ou em Milão os desfiles de Ana Salazar, Fátima Lopes, de José António Tenente, Pedro Pedro, Buchinho ou Nuno Gama (que me perdoem os que não cito e são igualmente bons). Bom gosto, sofisticação, elegância, materiais de qualidade, acabamentos perfeitíssimos (tenho peças de Ana Salazar que são prova do que afirmo).
E as criações dos nossos estilistas já surgem nos shows internacionais dos Óscares e outros. Contudo, nenhum deles serve para vestir Júlia Pinheiro ou para os "reality shows" de requintada elegância da TVI. Só de Armani para cima...

Faço-vos um apelo, queridos leitores: Quando pensarem nas prendas de Natal, se quiserem oferecer aos famíliares e amigos outra coisa que não seja livros (tenho de puxar a brasa à minha sardinha!), lembrem-se das peças de cortiça da Pelcor (lindíssimas e originais em que a cortiça parece veludo, já tem loja na Baixa lisboeta); ou da Casa das Peles (das malas, cintos e carteiras aos coletes e casacos de cabedal e peles, loja na Praça do Campo Pequeno); os vidros do Depósito da Marinha Grande ou a rústica cerâmica da Fábrica de Bordalo Pinheiro; a Vista Alegre; a Atlantis, a SPAL ou a Fábrica Jasmim com a delicadeza colorida dos seus copos.
E tantos e tantos outros...

Vamos comprar português (ou para soar mais "in" - made in Portugal)?

2 comentários:

Jorge Lourenço Goncalves disse...

Apoiado!
De facto, e mero bacoquismo, mas dessa apresentadora nao me admira!

DEANA BARROQUEIRO disse...

Temos muito má televisão, Jorge, sempre com a mesma gente e o mesmo tipo de programas que apelam àquilo que há de mais baixo e menos nobre ou interessante nas pessoas. Copiam-se uns aos outros e batem sempre na mesma tecla: concursos para atrasados mentais, telenovelas e programas de entretenimento que parecem feitos a papel químico. E com toda aquela gente a funcionar em circuito fechado auto-promovendo-se ou promovendo-se uns aos outros. Veja o que acontece quando um deles - jornalista ou pivot - publica um livro (e todos publicam!) tem entrevista e promoção assegurada em todos os canais e revistas das empresas. Imbatíveis!