18/06/2011

Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial


A Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial foi lançada na quarta-feira, 15 de Junho, em Lisboa, com uma magnífica apresentação de Joaquim Furtado. Contém mais de 600 poemas de 180 autores, 18 dos quais são mulheres.

Honra-me muito pertencer a esse grupo e ver incluído na Antologia um dos primeiros poemas que escrevi na minha juventude, publicado no Suplemento Juvenil Diário de Lisboa, no dia 11 de Julho de 1967.

A Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, publicada pelas Edições Afrontamento, é uma obra pioneira, que se (des)esperava há muito, sobre os tempos negros da ditadura e da guerra, uma colectânea da nossa memória colectiva, de um passado próximo que nos tocou e toca a todos.
Obra feita com grande rigor, sensibilidade e um imensíssimo trabalho de pesquisa, coordenado pela Professora Dra. Margarida Calafate Ribeiro, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e pelo Professor Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha.

Aqui vos deixo meu poema seleccionado para a Antologia:

Cantiga de amigo

Olhei-me com sede na manhã fria
e só tinha mãos que o mar esquecia
Morrerei donzela
e sozinha

Toquei-me um calor de corpo macio
e só tive mãos para um mar vazio
Morrerei donzela
e sozinha

E só tinha mãos que o mar esquecia
nessa onda morta amigo não via
Morrerei donzela
e sozinha

E só tive mãos para o mar vazio
na onda lassa nem um barco esguio
Morrerei donzela
e sozinha

Nessa onda morta amigo não via
rumarei meus passos na areia fria
Morrerei donzela
e sozinha.

Diana Barroqueiro, "Juvenil" do DL, de 11/7/1967


15 de Junho de 2011, 19h00, Centro de Informação Urbana de Lisboa, CES-Lisboa

Enquadramento da obra

Entre 1961-1974 Portugal manteve com as suas então colónias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau uma guerra, mobilizando perto de um milhão de homens e tocando praticamente todas as famílias portuguesas. A experiência da participação portuguesa neste evento de indefinida colocação historiográfica, quer pela denegação que oficialmente o caracterizou, quer pela radical reformulação geopolítica do país que a partir dele se engendrou com a descolonização, tornou este acontecimento um dos mais complexos, mas também um dos mais trágicos eventos da contemporaneidade portuguesa.

A experiência colectiva e individual da participação dos portugueses neste evento teve, e continua a ter, o seu registo de expressão narrativa e crítica, e o seu registo estético nas mais variadas formas de arte – da pintura e escultura à narrativa, do cinema ao teatro, da música à poesia. Foi sem dúvida na literatura que este registo de reelaboração colectiva e individual do evento se tornou mais marcante, dando origem a cerca de uma centena de romances e a milhares de poemas. Esta poesia, de autores directa ou indirectamente envolvidos na guerra, e elaborada, ou no momento da vivência do evento bélico, ou em seguida, enquanto espaço de memória e de elaboração pós-traumática, foi objecto de estudo do projecto Poesia da Guerra Colonial: “ontologia” de um eu estilhaçado, que decorreu nos últimos anos no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sob orientaçao científica dos dois organizadores da presente antologia e o financiamento da Fundação da Ciência e Tecnologia. A Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial é o resultado visível deste projecto, reunindo mais de seis centenas de poemas de cento e oitenta poetas.

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