Tiago Mesquita
Em circunstâncias normais, as viagens privadas que os políticos ou ex-políticos
fazem (para nos darem um bocadinho de descanso) são um problema deles. Num
cenário diferente do actual, ser-me-ia completamente indiferente se o ministro
Relvas escolhia ir passear a tanga ao Brasil ou brincar pelado com os pinguins
na Antártida. Se o passado do ex-administrador da famigerada SLN - Dias
Loureiro - não tivesse directamente a ver com um presente envenenado e o futuro
condenado (nosso, entenda-se), não perderia um minuto a pensar neste assunto.
Acontece, porém, que Relvas é a cara desta espécie de governo que nos impõe sacrifícios
diariamente e Dias Loureiro é uma das faces visadas na mega-fraude do BPN - via
SLN - escândalo que já custou aos portugueses a módica quantia de 3405 milhões
de euros (custo estimado até ao final de 2102), custo para os contribuintes que
pode atingir 6509 milhões de euros, mais juros e contingências. Coisa pouca.
Ora nestas circunstâncias ler notícias como a que se segue aumenta
exponencialmente a vontade de fretar um avião (conduzido por um primo do
capitão Schettino) e enviá-los para o triângulo das Bermudas.
"O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, foi passar os
últimos dias do ano ao Rio de Janeiro, Brasil, e esteve num dos mais luxuosos
hotéis da "Cidade Maravilhosa", o emblemático Copacabana Palace. Mas
não foi o único. O ex-administrador da SLN, holding que era detentora de 100%
do BPN - Banco Português de Negócios, Dias Loureiro, e o ex-ministro das
Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional, José Luís
Arnaut, também lá estiveram." - jornal i.
A diária no Copacabana Palace, segundo o jornal i, "custa um mínimo de 600
euros e o preço médio por dormida é de 800 euros, sem incluir taxas de serviços
de hotel ou pequeno-almoço - e a preços de balcão. Uma refeição no hotel pode
custar bem mais que a pernoita e os preços sobem em época alta, como acontece
nos períodos de Natal e Ano Novo"
.
Numa época em que apenas falta ao ministro Gaspar lembrar-se de pagar os
subsídios com vouchers de 'A Vida é Bela', em que os
portugueses contam tostões antecipando o incerto, em que muitos hotéis estão de
portas fechadas por falta de clientes (16% dos hotéis portugueses encerraram na
época baixa. Só no Algarve, de acordo com dados da Associação da Hotelaria de
Portugal, quase metade dos hotéis (48%) fecharam esta estação por falta de
turistas), o ministro Relvas não se coibiu de laurear a pevide no Brasil, à
grande e à Sócrates, demonstrando uma total falta de decoro, bom senso e
sensibilidade. Foi festejar o quê, pergunto?
Meus
senhores, o sacrifício maior exigido aos portugueses é mesmo termos de continuara alimentar-vos. É uma vergonha.
Tiago Mesquita - 100 reféns
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