17/06/2014

Como travar o terror do Levante?

 
Os actos do ISIS obrigam a pensar que não basta derrotá-los no terreno, é preciso algo mais.

Com Bush ironicamente de volta ao Iraque em forma de porta-aviões (o USS George H.W. Bush foi enviado pela Casa Branca para o mar Arábico, de forma a ajudar as forças iraquianas em combate) e com Tony Blair a justificar o seu passado (“Nós não causámos a crise no Iraque”), os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) divulgaram ontem no Twitter uma série de fotografias onde são vistos a conduzir para valas e a fuzilar dezenas de homens desarmados.
A confiar na sua versão, terão sido executados 1700 soldados iraquianos que descrevem como desertores, mas a BBC diz que eram soldados que, perdido o combate, se renderam aos fanáticos do ISIS. Seja isto verdade ou encenação (a versão “verdade” interessa às duas partes, ao ISIS para alardear a sua força, ao exército iraquiano para mostrar a impiedade dos adversários), não há a mínima dúvida de que o ISIS baseia a sua actividade, presente ou futura, no terror e na brutalidade mais abjecta.
Fuzilar ou decapitar têm sido actos frequentes no seu avanço e agora que o mundo reparou neles com mais atenção vão tornar-se mais exibicionistas e mais perigosos. A aura de invencibilidade com que ocuparam cidades iraquianas como Tikrit ou Mossul, assim como a forma com que se insinuam no território (em parte com apoio da população sunita que a irresponsabilidade de Maliki marginalizou), obriga a pensar que não basta derrotá-los episodicamente no terreno, é preciso algo mais.
É por isso que o discurso de Blair traz consigo, no entanto, algo de incómodo. Porque ao dizer que “a crise reside dentro da região, e não fora”, só confirma quão aventureira e inqualificável foi a invasão de 2003 que tão alegremente levou ao derrube de Saddam. Não porque com ele no poder o Iraque estivesse melhor (tinha o “sossego” criminoso das ditaduras), mas porque no fragor da “vitória” foi esquecido o dia seguinte. O resultado está à vista. E agora ninguém sabe como travar o terror do Levante.


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