31/05/2015

Que se passa com este livro?

Neste mundo dos livros e leitores, há coisas que escapam completamente a um autor, como, por exemplo: Por que razão, um livro que achamos que vai ter sucesso - seja pelo assunto, seja pela personagem ou (também) porque foi uma obra a que demos mais tempo e mais trabalho, que consideramos a mais rica em conteúdos e ligações com outros temas, até por ter tido melhores críticas dos entendidos - acaba afinal por suscitar menos interesse aos leitores do que todas as nossas obras anteriores?

Para meu espanto, e com bastante pena minha, vejo que esse fenómeno parece estar a acontecer com o meu romance "O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto". Pensei que um livro que leva o leitor numa incrível viagem no tempo, por toda a Ásia dos Descobrimentos, haveria de despertar um interesse ainda maior do que o alcançadp pelas duas obras anteriores sobre o tema da Expansão Portuguesa. Com ele, eu dei por concluída a minha saga dos portugueses, fechando-a com chave de ouro, segura que depois dele, os meus leitores ficariam com um bom conhecimento deste período riquíssimo da nossa História.

Por isso escolhi para protagonista Fernão Mendes Pinto, um homem extraordináriao, injustamente tratado pela pelos críticos dos séculos posteriores ao da publicação da sua obra Peregrinação (que foi um bestseller no sec. XVII na Europa, com inúmeras edições em várias línguas).

Será possível que a rábula do «Fernão Mentes? Minto.», tão infame como injusta ( mas que é talvez a única coisa que a maioria dos portugueses ouviu sobre este aventureiro ),  se tenha inscrito como um ferrete de eterno desprezo sobre o seu nome,  apesar dos estudos actuais que o devolvem à dignidade e valor que merece?

Será por isso que este meu romance, que procurava dar-lhe visibilidade e fazer-lhe justiça, está a ter menos sucesso do que os outros? Por não gostarem da personagerm Fernão Mendes Pinto?

Se for, tenho uma grande mágoa, embora não lamente os quase 4 anos anos que levei a escrevê-lo. Fernão Mendes Pinto vale mesmo a pena e o esforço.

19/05/2015

Feira do Livro 2015

Feira do Livro de Lisboa - Parque Eduardo VII

Estarei na Praça Leya - Casa das Letraspara conversar com os meus amigos leitores, nos seguintes dias:

- 30 de Maio, 18 horas

- 10 de Junho, 18 horas 

Estar convosco, com pessoas que amam os livros e gostam de conversar sobre eles, é um dos grandes prazeres que a escrita me dá. Lá vos espero, com uma surpresa.


Entrevista no Jornal i

Entrevista à escritora Deana Barroqueiro, autora de «O ESPIÃO DE D. JOÃO II», na secção A Minha Estante Corre Mundo, Do «Jornal i». 


Precisa de renovar o passaporte. Que livro leva consigo para suportar a fila de espera?
 Uma pequena monografia ou ensaio, de pesquisa para o meu novo romance.

Qual o sítio mais estranho onde já encontrou um livro seu?
Em Macau, o meu «Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto»

 Já perdeu/esqueceu-se de algum livro durante uma das suas viagens? Se sim, qual e onde? Conseguiu recuperá-lo?
Durante um cruzeiro ao Estreito de Magalhães, levei O Espião de D. João II, para fazer a revisão e deixei-o no sofá da biblioteca do navio. Quando voltei para o recuperar, tinha desaparecido. Havia muitos passageiros lusófonos, espero que quem o levou tenha gostado do romance.

Vê uma pessoa a roubar um livro na livraria de um aeroporto. Como reage?
 Se for jovem, peço-lhe discretamente que me permita oferecer-lhe o livro e pago-lho na caixa. Se for adulto denuncio-o

Ao lado de que autor não se importava de viajar até ao fim do mundo? Porquê?
 De nenhum, para uma viajem assim tão longa! Preferia dialogar com as suas obras, que são aquilo que de melhor têm os escritores. Há livros fabulosos de autores que, como seres humanos, são insuportáveis.

Se pudesse escolher apenas um sítio/paisagem/país onde passaria o resto da vida a escrever, qual seria e porquê?
 Lisboa, Portugal, que é onde estou, de facto, a passar o resto da minha vida a escrever. Tenho dupla nacionalidade, mas nunca escolheria os E.U.A. para lugar do meu fim. Conheço sítios preciosos, no mundo, mas por muito que a maltratem, Lisboa continua a ser uma cidade belíssima, solarenga e marítima, onde cada rua, casa ou pedra tem um passado e uma história para contar, e cujo horizonte verde-azul apela à imaginação e sonho de viagens e aventuras.

Está no estrangeiro e decide enviar um postal à sua editora. O que escreve?
 «Descobri um verdadeiro filão narrativo para um “best-seller”, mas preciso de seis meses de pesquisa nos arquivos da cidade. A editora estaria interessada em patrocinar este projecto?»

Qual a nacionalidade que melhor assenta a um detective de um romance policial e porquê?
 A inglesa, da velha escola: Detectives fleumáticos, elegantes, sóbrios e de raciocínio brilhante.

Imagine que no meio do nevoeiro de Londres encontra uma das suas personagens. Que lhe diria ela?
 «Que faço eu aqui? Este tempo não é o meu! Que raio de escritor de romance histórico és tu, se não logras recriar o meu mundo, com rigor e verosimilhança, para que eu possa viver nele como se ele fora real e eu tão de carne e osso como tu? Contextualiza-me ou apaga-me, ó aprendiz de feiticeiro!».

Passeia pelas ruas estreitas de Veneza quando o confundem com um escritor que detesta. Como se comporta?
Com a maior naturalidade possível, tratarei de desenganar o leitor e de me apresentar, dando-me a conhecer e à minha obra, de modo a que ele se sinta na obrigação de fazer parte do meu clube de leitores 


Em que livro saltou antecipadamente para a última página para saber como acabava a história?
EM NENHUM! Nunca o fiz, nem quando era menina-devoradora-de-livros. Se alguém me conta o fim de um romance, já não o leio.

Em 140 caracteres, explique qual é o enredo do livro que nunca escreverá.
 Ascensão e queda de Político
I Girino: das Jotas partidárias a remora colada ao peixe maior que parasita
II Polvo: predador que tudo devora
III Queda: nas malhas da rede

Deana Barroqueiro

04/05/2015

515º Aniversário do Achamento do Brasil

Foi precisamente há 15 anos que escrevi o meu primeiro romance, "Uraçá. o Índio Branco", para as comemorações do 5º centenário do descobrimento ou achamento do Brasil. Fascinada por este país, cuja Literatura e Cultura estudei durante anos, com paixão, o desafio não podia ser mais gratificante.

Este livro foi também o primeiro de uma colecção de sete romances de viagens e aventuras, com navegadores e exploradores portugueses - a Colecção Cruzeiro do Sul, publicada pela editora Livros Horizonte -,  uma saga de personagens históricas eu pretendia dar a conhecer a um público jovem, de preferência universitário e dos últimos anos do ensino secundário.

Os nossos críticos pouca atenção lhes prestaram, ao contrário dos "lá de fora", de França, Itália, Estados Unidos da América e Canadá, que lhes deram o relevo de páginas centrais nos jornais mais lidos pelos portugueses da 1ª e 2ª gerações de emigrantes, e cujos professores os usaram nas aulas de Português das suas universidades.

Essa falta de interesse foi o "empurrão" que me levou a escrever para um público mais alargado, a partir do imenso material de pesquisa que tinha armazenado naqueles cinco anos de trabalho.

Tendo saído agora a nova edição de "O Espião de D. João II - Pêro da Covilhã", recordo aqui essa minha aventura de uma saga, à maneira do Emilio Salgari, com esta cuidadosa análise da crítica literária e grande senhora de cultura que é Maria Fernanda Pinto.

 



Deana Barroqueiro, ou a Arte de Contar
 por Maria Fernanda Pinto, para o Jornal Encontro, Paris


A arte de contar, não se aprende. É um dom natural, nasce com a pessoa. Como no velho Oriente, onde “contador de histórias” era uma profissão das mais respeitadas, à volta do qual se reuniam todos aqueles que queriam saber como foi o início das eras, como tal coisa deu origem a uma outra, e o porquê dos usos e costumes que eles maquinalmente efectuavam de geração em geração
sem saber porquê.

Pela voz, pela escrita, à medida que vão contando, conseguem seduzir-nos a imaginação levando-nos até nossa adolescência, infância, e mesmo a latitudes reais ou imaginárias onde nunca pusemos os pés. Deana Barroqueiro possui uma força de expressão e uma elegância de estilo dignos de nota, ao mesmo tempo que mantém uma linguagem compreensível a todos.

A sua escrita é perfeita e colorida, descritiva de uma maneira que nos transporta para a época em questão, ficando sempre com vontade de saber mais. Já era tempo que se falasse da expansão dos portugueses para além dos mares, desta maneira. Já não sonhávamos, desde a época de Stephan Zweig, Jules Vernes ou Emílio Salgari que fizeram as delícias das nossas infâncias.

Claro que justamente as pessoas possuindo este dom raro, porque é raro, são sempre olhadas um pouco de esguelha pelos “puros literatas”, que chamam ao seu estilo, romance histórico. Nem todos! 
Nós continuamos admiradores incondicionaisde Júlio Dinis, Almeida Garrett, Deana Barroqueiro e dos outros!
  (...)

Deana Barroqueiro afirma-nos com muita convicção “o que pretendo fazer é escrever romances de aventuras com fundo histórico e nunca biografias históricas, se fosse isso, estes meus livros tinham de ser vistos como uma caricatura do romance histórico, transformando os nossos aventureiros em heróis de ficção. E foi exactamente isso que interessou as editoras por este projecto. Foi no fundo a sua “originalidade”, pegar nas figuras intocáveis do nosso passado histórico e transformá-las em Indiana Jones ou James Bond portugueses, contando ao mesmo tempo o melhor possível a sua história”.

Mas é necessário especificar aqui, que os mestres principais da autora, são os próprios cronistas da época dos Descobrimentos e que nesse campo, ela tem 15 anos de estudo e leu quase tudo o que tem sido publicado, na sua maioria deportugueses, entre os Séculos XV-XVII, mas também de estrangeiros como António Pigafetta, cujos textosprocura dar a conhecer, como pano de fundo dos seus romances.