Este livro foi também o primeiro de uma colecção de sete romances de viagens e aventuras, com navegadores e exploradores portugueses - a Colecção Cruzeiro do Sul, publicada pela editora Livros Horizonte -, uma saga de personagens históricas eu pretendia dar a conhecer a um público jovem, de preferência universitário e dos últimos anos do ensino secundário.
Os nossos críticos pouca atenção lhes prestaram, ao contrário dos "lá de fora", de França, Itália, Estados Unidos da América e Canadá, que lhes deram o relevo de páginas centrais nos jornais mais lidos pelos portugueses da 1ª e 2ª gerações de emigrantes, e cujos professores os usaram nas aulas de Português das suas universidades.
Essa falta de interesse foi o "empurrão" que me levou a escrever para um público mais alargado, a partir do imenso material de pesquisa que tinha armazenado naqueles cinco anos de trabalho.
Tendo saído agora a nova edição de "O Espião de D. João II - Pêro da Covilhã", recordo aqui essa minha aventura de uma saga, à maneira do Emilio Salgari, com esta cuidadosa análise da crítica literária e grande senhora de cultura que é Maria Fernanda Pinto.
Deana Barroqueiro, ou a Arte de Contar
por Maria Fernanda Pinto, para o Jornal Encontro, Paris
A
arte de contar, não se aprende. É um
dom natural, nasce com a pessoa. Como
no velho Oriente, onde “contador
de histórias” era uma profissão
das mais respeitadas, à volta
do qual se reuniam todos aqueles
que queriam saber como foi o início
das eras, como tal coisa deu origem
a uma outra, e o porquê dos usos e
costumes que eles maquinalmente efectuavam
de geração em geração
sem
saber porquê.
Pela
voz, pela escrita, à medida que vão
contando, conseguem seduzir-nos
a imaginação levando-nos até nossa
adolescência, infância, e mesmo
a latitudes reais ou imaginárias
onde nunca pusemos os pés.
Deana Barroqueiro possui uma força
de expressão e uma elegância de
estilo dignos de nota, ao mesmo tempo
que mantém uma linguagem compreensível
a todos.
A
sua escrita é perfeita e colorida, descritiva
de uma maneira que nos transporta
para a época em questão, ficando
sempre com vontade de saber mais.
Já era tempo que se falasse da expansão
dos portugueses para além dos
mares, desta maneira. Já
não sonhávamos, desde a época de Stephan Zweig, Jules Vernes ou Emílio
Salgari que fizeram as delícias
das nossas infâncias.
Claro
que justamente as pessoas possuindo
este dom raro, porque é raro,
são sempre olhadas um pouco de
esguelha pelos “puros literatas”, que
chamam ao seu estilo, romance histórico.
Nem todos!
Nós
continuamos admiradores incondicionaisde
Júlio Dinis, Almeida Garrett, Deana
Barroqueiro e dos outros!
(...)
Deana Barroqueiro afirma-nos com muita convicção
“o que pretendo fazer é escrever
romances de aventuras com fundo histórico e
nunca biografias
históricas, se fosse isso, estes
meus livros tinham de ser vistos como
uma caricatura do romance histórico,
transformando os nossos aventureiros em heróis de ficção. E foi
exactamente isso que interessou as
editoras por este projecto. Foi
no fundo a sua “originalidade”, pegar nas
figuras intocáveis do nosso passado
histórico e transformá-las em Indiana Jones ou James Bond portugueses, contando
ao mesmo tempo o melhor
possível a sua história”.
Mas
é necessário especificar aqui, que
os mestres principais da autora, são
os próprios cronistas da época dos
Descobrimentos e que nesse campo, ela tem 15 anos de estudo e leu quase tudo o que tem sido publicado,
na sua maioria deportugueses,
entre os Séculos XV-XVII,
mas também de estrangeiros como
António Pigafetta, cujos textosprocura
dar a conhecer, como pano de fundo
dos seus romances.
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