A obra
de Deana Barroqueira foca-se sobretudo em figuras históricas e na era dos Descobrimentos
como Bartolomeu Dias, Pêro da Covilhã ou Fernão Mendes Pinto. No seu romance D.
Sebastião e o Vidente, agora reeditado, faz uma abordagem mítica ao reinado
de D. Sebastião. A autora, que venceu o Prémio Máxima de Literatura-Prémio
Especial do Júri em 2007, também escreveu vários livros de aventuras para
jovens, que focavam a História de Portugal.
Jornal de
Letras: Quando começou a interessar-se por D. Sebastião?
Deana
Barroqueiro:
quando andava à procura de figuras da literatura e das ciências. A certa altura,
descobri um fidalgo, Miguel Leitão de Andrada, que tinha ido parar a Alcácer
Quibir e tinha tido uma fuga rocambolesca. Casou três
vezes e teve uma vida muito
acidentada e engraçada. A partir do livro dele tive a percepção de uma
personagem fantástica para se fazer um romance. Ao começar a desmontar a época e
o tempo, vi que era quatro meses mais velho do que D. Sebastião. Miguel
Andrada de Leitão andou muito enredado com o rei e tinham muitos pontos em
comum. Perderam os pais muito cedo e vão juntos na ala do aventureiros para
Alcácer Quibir. E o irmão mais velho de Leitão de Andrada estava muito
próximo do rei e por isso este tem sempre uma percepção muito próxima desta
figura histórica.
O que é que esta
nova edição revista do seu livro tem de novo?
Simplesmente melhorei o livro em
termos de linguagem. O livro teve a primeira edição há 10 anos, quando a Porto
Editora se lançou na área da ficção. Não quis modificar a história e mantive a
estrutura, que eu concebi à maneira
do século XVI.
Nessa estrutura
destaca-se o papel do narrador. É fundamental para perceber este romance?
Quis que fosse. Não é o
fundamental, porque nos diálogos e nas situações o leitor percebe a história,
mas lança uma constante piscadela de olho. Vai sempre interferindo, pontuando, comentando
e fazendo observações acerca do futuro, se será ou não de uma maneira ou de
outra. O romance histórico é sempre um manancial de informação, inclusivamente
para os políticos, para não
repetirem os erros, mas não é só um livro de história seco, puro e duro.
O objetivo deste
livro é entender
quem é D. Sebastião?
É tentar entender D. Sebastião
como ser humano na sua complexidade através de tudo o que passou nas suas
experiências de vida. Dos seus traumas, da forma como foi educado, como foi
apaparicado, como ninguém o contrariava quando foi rei absoluto aos 14 anos. E
depois todas as intrigas daquele tempo, incluindo os espiões de D. Filipe II que mexia as peças e
governava. A estas, acrescentei a minha: sobre a forma como D. Sebastião ficou
doente.
O Vidente ajuda
perceber quem é D. Sebastião?
Creio que sim. Ele descreve no
seu próprio livro que viu D. Sebastião morto no cavalo. Ele é uma das
testemunhas da batalha de Alcácer Quibir. Ele vai comentando sempre, é muito
crítico no livro.
Qual
foi o período mais importante da vida de D. Sebastião, para perceber a
personagem?
Eu acho que é a primeira fase da
vida dele até ser rei aos 14 anos. Essa fase raramente é falada, sabe-se que
ele perdeu o pai. Mas é importante saber que o próprio Pedro Nunes foi
professor dele, que era amante de xadrez, que contraria a ideia que ele era um
idiota. A sua generosidade, há muitos relatos de que ele era capaz de oferecer
a sua camisa se visse um pobre a pedir esmola. A sua coragem incrível, ele ia
na proa dos navios quando havia tempestades. O seu sofrimento, aquela ideia de
ser capitão de Deus, formada pela religião e pelos romances de cavalaria. O
idealismo que faz dele uma personagem
extraordinária no aspecto de ser humano
ou então do mito. Acho que consigo dar a personagem mais próxima do real
através de tudo o consegui ler dele.
Qual o
significado de D. Sebastião na História portuguesa?
Não há melhor significado do que
o Desejado permanecer na nossa memória colectiva ao longo de 500 anos. O único rei
que todos os portugueses conhecem. É o mítico. É muito comum D. Sebastião ser o
mais amado ou mais odiado.
JL. Rodrigo Vaz Pinto
Deana
Barroqueiro
D. SEBASTIÃO E
O VIDENTECasa das letras, 692pp , 21,90 euros
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