30/03/2018

Cenas adaptadas do meu romance por João Botelho no seu filme Peregrinação

As principais cenas de O Corsário dos Sete Mares que João Botelho adaptou no seu filme Peregrinação:
1. Não há nenhuma namorada ou amante de Pinto na sua obra, só existem no meu romance (exceptuando a rainha da Etiópia). 
2. A violação da chinesa, por António de Faria, não existe de todo na Peregrinação – refere-se ao cap. 47, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que a compra aos companheiros e, despeitado pelo seu desprezo, acaba por a violar, algum tempo depois, no barco.
3. A personagem da amante chinesa, assim como o nome Meng e os seus amores, inventei-os, a partir da menção feita por Pinto aos filhos do português Vasco Calvo - «dois meninos e duas moças” -, no cap. 116 da sua Peregrinação. Ora a cena que se vê no filme de «Meng» com uma bacia de água perfumada de flores (na foto), a lavar as cicatrizes que Pinto tem nas costas, das chicotadas na prisão, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos. A diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia onde vão viver os portugueses junto à muralha da China, como condenados a trabalhos forçados)
4. Em Pequim, a cena da filha do «monteo», o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para a Muralha da China. A moça toca e canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, não há referência a qualquer filha, mas apenas à “mulher do monteo”. No meu romance inventei esta personagem e estas cens, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução.
5. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinação e sim no meu livro, permitindo-me criar episódios cómicos com elas.
– A fala da prostituta a Cristóvão Borralho sobre o Yin e Yang no sexo (obra citada Cap. X), a menção ao Mercado dos Cavalos Magros, etc., são do meu romance.
6. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly.
7. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio da Senhora, Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um 2º amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire.
8. Na entrevista a Nuno Pacheco, Botelho refere-se à magia do número nove, embora cometendo uma imprecisão, que é um leitmotiv no meu romance.


Uma das cenas tirada em pormenor do meu romance (inexistente na Peregrinação)

A minha resposta a João Botelho

Lisboa, 13 de Dezembro 2017
Excelentíssimo Sr. João Botelho:
Confesso que aguardava por um pedido de desculpa da sua parte, porque o aprecio como realizador, admiro o seu trabalho de adaptação cinematográfica de obras literárias portuguesas e sempre o considerei uma pessoa de princípios. Por isso, estranhei que, estando em falta para comigo, preferisse entregar um assunto tão delicado a outrem, em vez de o fazer pessoalmente.
E, de novo, por via indirecta, em terceira mão, me chegou a sua mensagem. É um bonito texto, literário mesmo, escrito com aquela subtilíssima ironia que faz o seu encanto, nas entrevistas. Fez-me pensar naqueles versos que ambos conhecemos bem, «O poeta é um fingidor/ finge tão completamente»… Porque é difícil de crer no que diz, quando tudo o que fez o contradiz.
A sua justificação de que não me conseguiu contactar nem à editora LEYA é inverosímil, bastava que algum dos seus ajudantes pusesse o meu nome no Google e acharia diversos meios para o fazer – sou figura pública, tenho blogues, várias páginas no facebook, e-mails e telefones e passo meses sem sair de casa, a escrever; do mesmo modo, a Leya não é uma editora de vão de escada, que não atende o telefone.
Quanto a pensar que eu pudesse estar nos EUA, também me custa a crer, pois o romance que usou traz a minha biografia na badana ou, ainda, bastava pôr o meu nome no Google, para me ver no activo. Além disso, João Botelho, se eu vivesse na América, o senhor não se atreveria a usar a minha obra do modo como o fez, porque lá os direitos de autor são sagrados. Em Portugal, as leis existem, mas só são cumpridas por alguns.
Se me tivesse falado do seu desejo de usar o meu livro como uma das fontes do filme, eu teria ficado desvanecida com a honra e nunca deixaria a editora pedir-lhe direitos de autor, nem ela tinha intenção disso. Bastava-nos que fizesse o que é costume e a ética impõe, quando se usa a obra de outrem, sobretudo se o autor ainda está vivo (e eu, ao contrário do Aquilino, ainda estou viva e lúcida). Ou seja, citar o título da obra e o autor nos materiais de promoção, cartazes, DVDs, documentos e também nas entrevistas em que se fale das fontes, como seguramente sabe.
Nada disto aconteceu. Fui alertada por leitores que comentaram a “adaptação cinematográfica do Corsário dos Sete Mares”, convencidos de que o realizador usara o meu romance e que eu sabia. Perplexa, fui pesquisar na internet. O primeiro texto/entrevista que li foi o de Nuno Pacheco, no Ípsilon. E passei da admiração ao pasmo. O senhor fala das personagens que eu inventei no meu romance, como se fossem da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. E refere como fontes a obra do próprio aventureiro, as canções do Fausto e a adaptação do Aquilino, de onde tirou a conhecida e rebatida ideia do alter ego de Fernão, sem nunca mencionar o meu livro, que tantas personagens e ideias lhe deu.
Vi e li mais textos, entrevistas e vídeos, com o mesmo resultado. O senhor nunca menciona o meu romance e tem falado sempre das minhas personagens, cenas e ideias, como se fossem suas ou da Peregrinação de FMP, mostrando, desculpe-me que lhe diga, conhecer muito mal esta obra. Eu, pelo contrário, conheço-a “como as minhas mãos” por a ter lido quatro vezes na íntegra e ter trabalhado nela e no meu livro quase cinco anos. Com o aplauso de jornalistas que nunca a leram nem ao meu livro e propagam o erro.
Tão reiterada é esta atitude, João Botelho, que contraria claramente a sua afirmação de querer “reparar um mal e, ao mesmo tempo, agradecer tardiamente um bem”, apesar da beleza poética da frase. Contudo, justiça poética, apesar de doce, não me consola.
Vi o filme, de que gostei bastante, mas fiquei com a sensação de que o senhor seguiu mais de perto o guião do meu romance (porque de um guião se trata) do que o da Peregrinação, que é confuso e de tal maneira intrincado, que me levou muitíssimo tempo a destrinçar.
Em O Corsário dos Sete Mares, a tarefa de desbravamento está, portanto, simplificada, com todos os erros e falhas corrigidos: dividido em mares, os episódios desenrolando-se em cenas, com diálogos, monólogos/pensamentos e flashbacks das personagens, tanto da obra de FMP, como ficcionados por mim, a partir de meras sugestões, como a de Joana e de Manuel Freire – enfim, um trabalho fácil de transpor para o cinema, como são todos os meus romances dos Descobrimentos.
Sabe bem que não foram apenas as cenas da China que adaptou do meu romance ou nas quais se inspirou, João Botelho. A japonesa Wakasa também não existe na Peregrinação, foi com muita pesquisa que encontrei a história e as crónicas japonesas, ficcionei o seu casamento com Fernão, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly. E a “Senhora” adúltera foi também uma ficção minha a partir de um crime do tempo, que encontrei num arquivo e numa genealogia. Até o “número mágico nove”, de que fala nas entrevistas, é o leit-motiv do meu livro. Não tenho acesso ao seu guião original, mas, quando o filme aparecer em DVD, vou poder compará-lo em pormenor, com a Peregrinação de FMP e com o meu romance, para tirar teimas.
Assim, é de facto muitíssimo pouco o seu reconhecimento. No fim da ficha técnica, na penúltima entrada, a dos agradecimentos, mal consegui ler o meu nome envergonhado. Para se salvaguardar, talvez, de uma natural reacção da editora ou da autora. Os textos de Fausto são identificados, os meus não. Não estranhe que eu me sinta usada por si.
O filme vai ser passado para as escolas, apresentando aos alunos muitas cenas de O Corsário dos Sete Mares, de Deana Barroqueiro, como se pertencessem à Peregrinação de Pinto, o que é nocivo e antipedagógico, uma coisa que, enquanto professora, com 35 anos de serviço, não posso aceitar.
Se, de facto, pretende «reparar um mal e, ao mesmo tempo, agradecer tardiamente um bem», João Botelho, faça-me a justiça de indicar a minha obra como uma das suas fontes. Ainda está muito a tempo de reparar a injustiça. Se não o fizer, saberei que agiu, conscientemente, de má-fé.
Tenho muitos milhares de leitores, o seu filme até seria beneficiado por essa indicação. Aliás, com a cinta que a editora vai pôr no romance, o senhor irá lucrar muito mais com a publicidade do que eu. Chama-se a isto pagar o mal com o bem.
Atentamente
Deana Barroqueiro

Reconheceram o plágio...com reservas e arrogância

Nos contactos com a editora (nunca comigo) os produtores "concederam-me o favor" (como se o acto abusivo fosse meu), de permitir que a Leya pusesse uma cinta nos exemplares do meu romance indicando que o cineasta adaptara algumas cenas dele. Não podem negar aquelas que não existem na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, embora procurem fugir ao facto de que, mesmo as partes que são da obra renascentista, estão todas no meu livro (assim, só tiravam algumas?). Aliás, em todas as entrevistas que deu, João Botelho comete erros de palmatória sobre a obra de Pinto, confundindo-o com o meu romance, o que mostra não ter lido de facto a Peregrinação, mas o meu livro.

João Botelho reconheceu o plágio, mas não fez nada para o corrigir

Esta é a "carta" de João Botelho, à qual respondi. Não se deu ao trabalho de me escrever uma carta privada, mandou-me a mensagem num email que a Produção enviou à representante da minha editora para que ma enviassem. Eles diziam que se queriam reunir comigo, mas nunca o fizeram, apenas trataram com a Leya. Como foi uma mensagem em quarta mão, e não uma carta privada, aqui deixo o email:
From: Ar de Filmes Lda [mailto:ardefilmesgeral@gmail.com]
Subject: Re: PEREGRINAÇÃO e o livro CORSÁRIO DOS SETE MARES (nova proposta para a cinta do livro)

Cara Helena, pediu-me o realizador João Botelho para que transmitisse o seguinte texto à autora Deana Barroqueiro,
"Excelentíssima Senhora,
Escrevo-lhe para reparar um mal e, ao mesmo tempo, agradecer tardiamente um bem.
Sou o autor do filme "Peregrinação" e durante meses nesta "arte de vampiro" que é afinal o cinema, li, consultei, adaptei e rescrevi cenas para a minha curta adaptação da vida e do livro de viagens de Fernão Mendes Pinto. Na verdade o seu romance, o Corsário dos Sete Mares, foi forte inspiração para algumas cenas do filme, as da China.
Tentei contactar a editora e não consegui, à primeira e à segunda e pensei que a Dr. Deana Barroqueiro ainda estivesse nos E.U.A. É evidente que devia ter insistido três, quatro vezes. Mas meteu-se a produção - trabalhosa, longa e difícil. Tive o cuidado de colocar em primeiro lugar dos agradecimentos, no genérico final do filme, o seu nome. É pouco, eu sei.
Eu e o produtor aceitamos a sugestão da sua editora para colocar uma cinta com os dizeres: "Inclui episódios adaptados do romance O Corsário dos Sete Mares".
Perdoe-me.
Com os meus respeitosos cumprimentos e sobretudo agradecimentos tardios,
João Botelho"
Obrigado pela atenção,
Cumprimentos,
Pedro Augusto Almeida
Produção

Meus amigos e amigas, isto parece-vos um pedido de desculpa sincero ou uma troça e um insulto à minha inteligência?
Deana Barroqueiro

Silêncio cúmplice dos jornalistas face ao plágio de João Botelho

Os nossos jornalistas preferem manter o erro a reconhecer que erraram, mesmo quando prejudicam outros, como neste uso indevido da minha propriedade intelectual e dos meus direitos de autor. 
Quando o cineasta João Botelho adaptou, no seu Peregrinação, parte do meu romance O Corsário dos Sete Mares, em vez da obra do Fernão Mendes Pinto, sem autorização minha ou da editora, em todas as entrevistas que deu falou do meu livro e das cenas que eu inventei como se fossem da obra do aventureiro ou de sua própria invenção (referindo as minhas personagens fictícias pelo nome e tudo o mais). Os jornalistas dos vários "media" (incluindo os do JL, o jornal literário de referência) propagaram entusiasticamente a fraude, porque desconheciam a "Peregrinação" do Fernão Mendes Pinto (um dos maiores clássicos da Literatura Portuguesa), assim como o meu romance.
Eu e a editora enviamos cartas a todos os jornalistas/críticos que tinham sido enganados, enviando-lhes o meu romance e os detalhes dos episódios "adaptados" (mais de metade do filme). Pois , de entre tantos, só Nuno Pacheco teve a cortesia e a honestidade intelectual de me responder. Os outros preferiram calar-se e ignorar-me, porque se me respondessem teriam de dar a mão à palmatória pela sua ignorância e mau jornalismo.
Esta foi a pior "subvalorização" que me fizeram os "media", porque é crime punido por lei, embora se safem porque a nossa Justiça não funciona.

22/03/2018

29º Colóquio da Lusofonia - Belmonte

Apresentação do romance «1640», no Centro Cultural de Belmonte, 28 de Março (4ª feira), às 16.40 h.

A convite da Câmara Municipal de Belmonte, irei apresentar o meu novo livro e falar do romance histórico, no âmbito do 29º Colóquio da Lusofonia