FALTA DE CULTURA, AVERSÃO AOS AUTORES PORTUGUESES, SUBSERVIÊNCIA DAS EDITORAS PORTUGESAS E A BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO, BRASIL, ONDE PORTUGAL FOI O PAÍS CONVIDADO
Não sei se hei-de rir ou chorar, quando vejo o balanço feito, há poucotempo, sobre esta tão gabada Bienal, que fez uma pausa de 4 anos, devido à pandemia. Por ali passaram 660 mil visitantes, em 9 dias (muito pouco para uma cidade de mais de 12 milhões de habitantes; a Feira do Livro de Lisboa, com cerca de 2 milhões, em 2021, recebeu 350 mil visitantes), sendo Portugal o país convidado.
Estiveram presentes 182 expositores, com 500 chancelas editoriais que apresentaram 3 milhões de livros (segundo a CBL - Câmara Brasileira do Livro). Dizem ainda que a média foi de 7 livros comprados por pessoa (um aumento de 40% em relação a 2018), as editoras brasileiras estavam radiantes... e as portuguesas também.
E o que se passou na livraria do Pavilhão de Portugal, onde estavam expostos 5 mil livros, para deixar as nossas editoras tão felizes? Ora vejam bem os números:
Venderam-se 663 títulos, num total de 3.829 exemplares (o 1º volume da minha História dos Paladares está quase a atingir esse número!), no valor total de 50.450,30 euros (terá chegado para cobrir os custos das viagens e da logística dos editores, livreiros, funcionários, "penduras" e autores? Se calhar ainda ficaram com prejuízo!). No entanto, para os nossos editores e livreiros foi a "bienal das bienais" (contentam-se com bem pouco!).
O que mais me espanta, porém, são as vendas do pavilhão de Portugal. Os livros mais vendidos foram:
- "Cabeça fria, Coração Quente", escrito pelo treinador do clube brasileiro Palmeiras, Abel Ferreira e a sua equipa técnica (335 exemplares);
- "As doenças do Brasil", de Valter Hugo Mãe (167, chega a ser humilhante para um autor consagrado);
- "A Flecha", de Matilde Campilho (119);
- "O Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago (45).
E quanto a portugueses foi tudo, porque os mais acarinhados pelos brasileiros, no pavilhão de Portugal, foram os autores lusófonos (seguramente por não serem portugueses, independentemente do seu valor): "O plantador de Abóboras", do timorense Luís Cardoso (50) e "Niketche - uma história de poligamia", da moçambicana Paulina Chiziane (48).
O treinador Abel Ferreira foi o autor que fez abarrotar o Arena com cerca de mil brasileiros, por certo ávidos de cultura (outras conversas de autores nem se ouviam com o barulho à sua volta).
Ainda há alguém de boa fé que ache que os escritores portugueses interessam aos brasileiros, salvo honrosas excepções, como há em qualquer generalidade?
Há décadas que constato essa quase aversão do Brasil ao que tem a ver com a Cultura e a História Portuguesa, incluindo da parte das instituições oficiais. Enquanto nas nossas universidades estudávamos durante anos a literatura e a civilização brasileira (eu estudei-as durante 5 anos), no Brasil eram escassíssimos os cursos em que era dada a nossa literatura, por isso, a ignorância dos brasileiros sobre Portugal é total e consideram o nosso país o causador de todos os seus males.
Quando é que, no Brasil, os portugueses terão deixado de ser portugueses e passaram a ser brasileiros? Quando terá nascido a verdadeira nação brasileira, a pura, sem colonialismo nem racismo - exploração do negro e do índio pelo branco?
E eu adoro o Brasil, os seus escritores e os seus músicos.
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