Estranho tais reacções porque, enquanto escritora de romance histórico, publiquei em 2003/2004 os meus Contos Eróticos do Velho Testamento e os Novos Contos Eróticos do Velho Testamento, com a chancela da Editora Livros Horizonte, nos quais rescrevi as lendas do Livro do Génesis, do Antigo Testamento, transformando-as em crónicas realistas da Antiguidade pré-clássica que põem em evidência os mesmos defeitos apontados por José Saramago, referindo-me ao dito Livro, numa entrevista que me fez Maria Teresa Horta para o Diário de Notícias (17/03/04), em idênticos termos, como um livro de maus exemplos com todos os defeitos e muito poucas virtudes.
Não são, portanto, textos ditados por Deus, mas inventados e plagiados por homens que acreditavam em deuses cruéis e vingativos e os usavam para justificar as suas lutas pelo poder, os seus actos de violência e crueldade ou o domínio pelo terror supersticioso da gente crédula e ignorante. Como ainda acontece com os países muçulmanos onde impera o fundamentalismo. Por isso, o Deus cristão, o Jeová judeu ou o Alá muçulmano não se distinguem em nada de Baal ou de qualquer outro deus pagão, com a sua brutalidade, ódio ao ser humano e pusilanimidade, como criatura feita à imagem do homem… que o criou.
Do ponto de vista histórico (o único que me interessa), o Antigo Testamento que foi o exclusivo objecto do meu estudo não passa de um texto literário, uma colectânea de lendas como a Ilíada ou a Odisseia, embora de pior qualidade do que as referidas obras gregas. Procurei nos meus contos repor o realismo da vida daquelas tribos de pastores, primitivas e nómadas, investigando a História desse período através dos documentos e provas existentes, assim como das notas dos padres Capuchinhos.
Os meus contos lançaram um olhar feminino sobre a Bíblia, nada comum até aos nossos dias, procurando mostrar a condição da mulher, desprezada, aviltada, usada pelos homens como objecto de compra e venda, inferior ao gado dos seus rebanhos, e como animal de procriação, essa condição veiculada nos ditos livros sagrados das três religiões principais e de que, mesmo no Século XXI, a mulher ainda continua a ser vítima.
Porque não suscitei, então, a mesma indignação, se os meus contos são muito mais violentos e denunciadores desses maus exemplos de vícios e crimes, do que os livros de José Saramago? Só encontro uma resposta: eu não era o Nobel da Literatura, mas apenas uma escritora pouco conhecida, que não provocaria o mesmo “perigoso” efeito de denúncia no mundo, apesar das versões brasileira, espanhola e italiana dos seus contos.
Santa hipocrisia! Espero que o livro de José Saramago seja um sucesso!