04/10/2009

O Espião de D. João II e O Navegador da Passagem, as duas faces da medalha

No verão de 2008, ao concluir O Navegador da Passagem, que narra as viagens de Bartolomeu Dias, já não consegui afastar do pensamento a história de outra personagem que aí aparecia, embora fugazmente: Pêro da Covilhã.

Como podia eu glorificar um e ignorar o outro, se eles eram como as duas faces da mesma áurea medalha? Para mais, a minha admiração por estes dois descobridores já vinha de longe, de um anterior projecto de criação de uma colecção juvenil de romances de aventuras com a saga dos Descobrimentos Portugueses, de cuja galeria de heróis ambos faziam parte.

Desde esse tempo, por mais de uma vez, tentei retomar a personagem de Pêro da Covilhã e escrever a sua odisseia, numa perspectiva mais histórica e menos efabulada, embora aproveitando muito do material da saga, fruto de uma pesquisa de longos anos. Narrar a sua peregrinação solitária (separou-se de Afonso de Paiva, em Adem, nos primeiros meses de jornada) de mais de seis anos através da Europa, África e Ásia – um mundo hostil de gente dominada pelo medo, o fanatismo religiosos e a superstição –, durante a qual Pêro da Covilhã desvendou mitos e lendas velhas de muitos séculos, descobriu impérios perdidos e reinos nunca antes visitados por um europeu, desenhando nos mapas imprecisos da sua época os contornos e trilhos do futuro. Uma Demanda mística, concretizada num tempo e espaço reais, semeada de triunfos, perigos e sofrimentos verdadeiros, que só pode ter paralelo na busca do Graal.

Irresistível!

Assim surgiu O Espião de D. João II, romance de viagens e de acção, com uma narrativa linear, adequada a esta personagem solar, um aventureiro dos quatro costados que, embora nado e criado no Portugal do século XV, não deixa de ser um misto de James Bond e de Indiana Jones, sem tecnologia, porém, com talentos extraordinários que o distinguiram dos homens do seu tempo.
Deana Barroqueiro

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