27/09/2010

Memórias de Estalo - Crónica de uma Lisboa desaparecida


PRÓLOGO


os mui insignes Leitores da nobilíssima Nação de Portugal, venho submeter esta obra, fruito de aturado estudo e dos bons ensinamentos que tenho recebido, com muita humildade e gratidão, de tantos e tão grandes Mestres, vivos ou já desaparecidos desta Terra, cujas obras foram feitas com grandíssimo custo e sacrifício de seu parco descanso e lazer, a fim de acrescentar e creditar nossos saberes, pera melhor proveito de todos aqueles que acham prazer nas histórias antigas de sua cidade e de seus heróis.
Obrinha miúda e de mui pouca valia, estas memórias de um rústico peregrino, fruto tão só de um saber de experiências feito e de muito amor por uma cidade sofrida, como as gentes que nela vivem e ganham sua soldada com o suor de seu corpo, cidade de coração valoroso, capaz de renascer das chamas, dos terramotos, dos dilúvios ou maremotos (procedam eles da natureza ou do mesmo homem), prestes a chorar de alegria ou a rir entre lágrimas…

cronista desta viagem por Lisboa, em um tempo doutros tempos, é um estranho sujeito: português sem o ser, fazendo parte da sua cidade, embora dela excluído, dando-lhe toda uma vida de duro labor, mas sem dela receber gratidão ou reconhecimento como um ser capaz de sentir, sofrer e amar.
Olhar diferente, o desta criatura sem estudos, mas a viver em soledade meditativa, no retiro de um Mosteiro, ouvindo as historias e emborilhadas dos fradinhos Jerónimos e tudo gravando em sua prodigiosa memória. Essa atenção ao que o cerca e o amor por uma cidade em crescimento, toda cheia de cousas e gentes estranhas nunca antes vistas e capazes de espantar o mundo, são aquilo com que vai entretendo o seu espírito durante o longo percurso de sua jornada.

ão se deve esperar, pois, deste Cronista, a prosa elaborada de um João de Barros, mas tão só a de um Fernão Lopes, Gil Vicente ou Gaspar Correa, naquilo que há de mais popular em suas linguagens, das quais, na traslação destas memórias, não deixei de cometer erros e usar algumas variantes.

Vale.

No Outono do presente ano da graça do Senhor .

4 comentários:

DEANA BARROQUEIRO disse...

O original desta crónica imitava um fac-simile, em papel semelhante a pergaminho, escrito em letra gótica, com a grafia própria deste tipo de textos e iluminuras, feitas ao computador, a partir de ilustrações tiradas de obras da época.
Não consigo reproduzir neste blogue essas características, tanto mais que, se o fizesse, essa grafia e os erros, tornariam a leitura do texto muito difícil.
Modernizei, portanto essa grafia, sem tirar nada à sua linguagem "do tempo".

Anónimo disse...

Oh Deana, deixou-me com água na boca... isso faz-se? queremos mais!
Ofélia

Jorge Lourenço Goncalves disse...

Excelente iniciativa a sua que, agora descobri.
Vou ler os proximos capitulos pois, tambem, me deixou com a agua na boca...

DEANA BARROQUEIRO disse...

Caro Jorge, obrigada!
E aceite o meu desafio, descobrindo quem é o narrador.