26/05/2014

A abstenção e a (i)legitimidade dos nossos representantes


Eu fui votar, claro, mas com a sensação de estar a participar numa votação que, com base em cadernos eleitorais desactualizados e incorrectos, teria de dar forçosamente uns resultados que não corresponderia à realidade do país. Não acredito que Portugal possa ter 9.7 milhões de eleitores!

 O caderno eleitoral para as autárquicas de setembro 2011 contava com mais de 9,4 milhões de inscritos, enquanto os dados dos últimos Censos indicavam que em 2011 residiam em Portugal apenas 8,6 milhões de pessoas com mais de 18 anos. Das contas feitas por jornais, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), existiam entre 800.000 e 1.250.000 eleitores-fantasmas, que acabaram por contar para os números finais da abstenção das eleições.

 Ora, apenas 2 anos depois, o número de eleitores ainda  aumentou desses 9.4  para 9.7 milhões?!

Dito isto, voltemos às Eleições Europeias de 2014: Feitas as contas aos 66% de abstenção, mais os 4.41% de votos brancos e os 3.06% de votos nulos (que perfazem mais de 73% dos eleitores), os nossos deputados europeus foram eleitos por apenas 27% do eleitorado! Pouco mais de 1 milhão de portugueses votaram no PS e 900 mil na coligação PSD/PP!  Que grande legitimidade foi conferida aos nossos deputados!

Seria de pensar que, face a estes números assustadores que mostram o abismo de indiferença (senão aversão!) que separa os portugueses dos seus representantes, os partidos iriam reflectir sobre as suas responsabilidades por tão grande descalabro, tirar ilações e repensar a sua política e os seus deveres para com  o país e o povo que juraram servir. Todavia não o fizeram! Tanto a derrotada coligação como o ganhador PS se limitaram a sacudir a água do capote (acusando os eleitores de falta de consciência cívica) e, como é habitual, a dar alfinetadas um no outro, como se de um jogo de futebol se tratasse e não do destino de Portugal.

Que podemos esperar desta gente, no futuro? Se as próximas eleições legislativas tiverem semelhante tipo de participação e os nossos governantes forem eleitos por um tão baixo número de cidadãos, que legitimização podem ter para governar este país e os portugueses?

A mesma reflexão devia fazer a União Europeia. Na maioria dos seus países membros, a  percentagem de abstenções, votos brancos e nulos, assim como a votação em partidos de extrema direita (que defendem ideologias perversas, contrárias a tudo o que UE desde o início da sua formação pretendeu combater), são sinais de que a UE precisa urgentemente de arrepiar caminho nas suas políticas económicas de usura, que estão a cavar um fosso de desigualdade entre os seus parceiros, enriquecendo os mais ricos à custa do empobrecimento dos mais fracos.

O descontentamento e a descrença no projecto da UE aumentam e alastram por toda a Europa, mesmo entre aqueles que o desejaram e defenderam, e o risco de desagregação é cada vez maior e será fatal.

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