A minha homenagem a Zeca Afonso: Recordando a canção que ele fez a uma das personagens da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e que também faz parte do meu próximo romance.
A Nau De António Faria
José Afonso
Vai-se a vida e vem a morte
O mal que a todos domina
Reina o comércio da China
Às cavalitas da sorte
Dinheiro seja louvado
A cruz de Cristo nas velas
Soprou o Diabo nelas
Deu à costa um afogado
A guerra é coisa ligeira
Tudo vem do mal de ofício
Não pode haver desperdício
Nesta vida de canseira
Demanda o porto corsário
No caminho faz aguada
Ali findou seu fadário
Morreu de morte matada
A nau de António Faria
Leva no bojo escondida
A cabeça do corsário
Que lhe quis tirar a vida
Aljôfre pérola rama
Eis os pecados do mundo
Assim vai a nau ao fundo
Sem arte honra e fama
Entre cristãos e gentios
em gritos e altos brados
Para ganhar uns cruzados
Lançam-se mil desafios
Em vindo de veniaga
Com a vela solta ao vento
Um mouro é posto a tormento
Por não dizer quem lhe paga
Vou-me à costa à outra banda
Já vejo o rio amarelo
Foi no tempo do farelo
Agora é o rei quem manda
Faz-te à vela marinheiro
Rumo ao reino de Sião
Antes do fim de Janeiro
Hás-de ser meu capitão.
23/02/2012
18/02/2012
Herança de Portugal no Mundo
O meu período preferido da História de Portugal - o Renascimento e os Descobrimentos - e os portuguesas como pioneiros da globalização no Mundo.
Visitei já parte destes monumentos e gostaria de ver os restantes, mas eles são tantos que não terei tempo de vida para o fazer. Aqui têm um vídeo da
Herança dos Portugueses no Mundo
Visitei já parte destes monumentos e gostaria de ver os restantes, mas eles são tantos que não terei tempo de vida para o fazer. Aqui têm um vídeo da
Herança dos Portugueses no Mundo
17/02/2012
Lulas à Coge Çofar
Um novo achado, durante a minha pesquisa, de outro tipo de Ciência - a Culinária: Procurava informações sobre um renegado italiano, convertido ao islamismo, chamado Coge ou Coja Çofar, mercador muito rico e influente junto do sultão Bahadur, que comandou um exército de guzarates e turcos contra os portugueses, no primeiro cerco à fortaleza de Diu, em 1538.
Para meu grande espanto, no blogue Rustythings da bibliotecária Andreia, apareceu-me esta pérola das "Lulas à Coge Cofar", receita retirada do livro "Diu e eu" de Miguel Paiva Couceiro, que, com a autorização da autora do Blogue, vos deixo aqui, se quiserem experimentar durante o fim-de-semana, como nós já fizemos para o almoço de hoje.
Poderá não remontar à época do cerco de Diu, mas é antiga. E asseguro-vos de que é deliciosa! Apenas substituímos o alho em pó (com tantos séculos podia ser indigesto!) por dentes de alho fresco, muito picadinhos.
Lulas à Coge Çofar
(receita adaptada de "Diu e eu", de Miguel Paiva Couceiro)
400 g lulas cortadas em rodelas
1 cebola picada
2 c. sopa de alho picado
Azeite q.b. 1 malagueta
1 lata pequena de tomate pelado (inteiros, aos bocados, o que tiverem à mão)
1 c. chá pimentão doce
Sumo de 1 laranja Sal e pimenta q.b.
Numa frigideira, aquecer o azeite e juntar a cebola picada e o alho. Cozinhar até adquirir uma tonalidade castanha, mexendo constantemente. Adicionar as lulas e deixar cozinhar durante 10 min.
Juntar o tomate, a malagueta, o pimentão doce e o sumo da laranja. Mexer e deixar cozinhar em lume brando, tapando a frigideira. Provar e adicionar sal e pimenta q.b. Servir com arroz branco solto.
Bom apetite!
Rustyboobz - Andreia
Mais uma vez, obrigada, Andreia!
Para meu grande espanto, no blogue Rustythings da bibliotecária Andreia, apareceu-me esta pérola das "Lulas à Coge Cofar", receita retirada do livro "Diu e eu" de Miguel Paiva Couceiro, que, com a autorização da autora do Blogue, vos deixo aqui, se quiserem experimentar durante o fim-de-semana, como nós já fizemos para o almoço de hoje.
Poderá não remontar à época do cerco de Diu, mas é antiga. E asseguro-vos de que é deliciosa! Apenas substituímos o alho em pó (com tantos séculos podia ser indigesto!) por dentes de alho fresco, muito picadinhos.
Lulas à Coge Çofar
(receita adaptada de "Diu e eu", de Miguel Paiva Couceiro)
400 g lulas cortadas em rodelas
1 cebola picada
2 c. sopa de alho picado
Azeite q.b. 1 malagueta
1 lata pequena de tomate pelado (inteiros, aos bocados, o que tiverem à mão)
1 c. chá pimentão doce
Sumo de 1 laranja Sal e pimenta q.b.
Numa frigideira, aquecer o azeite e juntar a cebola picada e o alho. Cozinhar até adquirir uma tonalidade castanha, mexendo constantemente. Adicionar as lulas e deixar cozinhar durante 10 min.
Juntar o tomate, a malagueta, o pimentão doce e o sumo da laranja. Mexer e deixar cozinhar em lume brando, tapando a frigideira. Provar e adicionar sal e pimenta q.b. Servir com arroz branco solto.
Bom apetite!
Rustyboobz - Andreia
Mais uma vez, obrigada, Andreia!
15/02/2012
História, Medicina e Descobrimentos
Mais uma vez, a propósito do "meu" Fernão Mendes Pinto _ que, entre mil outras coisas, se interessava pela medicina exercida em Portugal e no Oriente, a que recorreu muitas vezes, quer como paciente quer como "médico-barbeiro" _, encontrei bases e provas para a minha incondicional admiração pelo o período dos nossos Descobrimentos.
Não se tratou de um período de barbárie (muito menos bárbara do que a dos nossos concorrentes europeus colonialistas) como afirmam os auto-denominados civilizados, dando-nos apenas crédito por alguns conhecimentos da arte de marear _ o que só por ignorância ou má fé poderão afirmar. Os nossos Descobrimentos foram a fonte de inúmeras descobertas e conhecimento prático nos mais diversos ramos das Artes, das Letras e das Ciências, nomedamente na Medicina.
O que me leva e transcrever aqui, para os meus leitores mais curiosos, uns excertos do artigo de João José Cúcio Frada que descobri na Internet e a quem agradeço este magnífico contributo para a nossa percepção de um país moldado por gente de extraordinário valor, que existiu e continuará a existir e a deixar a sua marca no mundo, mesmo quando outras nações maiores lhe roubam a fama, sem todavia lhe poderem tirar o mérito. Vale a pena ler:
História, Medicina e Descobrimentos Portugueses
"As raízes da nossa presença foram ali [no Japão] tão profundas que o investigador holandês Kleiweg de Zwaan, comentá-las-ia desta forma: «Quanto à arte médica, os portugueses fizeram no Japão um trabalho meritório, especialmente como cirurgiões. Por isso, nós compreendemos também a grande estima que os Japoneses tributam a Portugal por esta acção civilizadora. Ela significa para o Japão um louvável trabalho cultural ao serviço da ciência e da humanidade sofredora» (Aires N. de Sousa, ob. cit.).
Na história moderna da cultura e da ciência, fomos pioneiros em múltiplos campos e realizações, mas, por ironias do destino, esses triunfos só muito raramente foram reconhecidos como feitos portugueses. Como diria Carlos França: «Sempre me surpreendeu a ausência de nomes portugueses na História das Ciências Naturais; conhecendo a orientação científica dos nossos descobrimentos, repugnava-me inteiramente admitir que só a estrangeiros se devesse o que veio a saber-se sobre
a História Natural das terras que fomos os primeiros a pisar e a colonizar» (Luís de Pina, As Ciências na História do Império Colonial Português).
A época dos Descobrimentos foi prolífica de descobertas revolucionárias nos domínios da Botânica, da Toxicologia e da Patologia, englobando esta última grande número de
enfermidades exóticas, estudadas actualmente pela Medicina Tropical.
Sobre o Escorbuto, (...) laceração, úlcera da boca, conhecem-se referências muito antigas. Plínio chamava-lhe «stomacaee», Hwakins, «peste do mar», Young «scorbutus nauticus», Good «porphyra nautica». No século XIII, Joinville (integrado no exército de S. Luís, no Egipto), traça pormenorizadamente esta doença.
De um modo idêntico ao de Joinville, João de Barros, no «Roteiro da Viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499), editado em 1552, descreve-nos o escorbuto que, em mares
tropicais, flagelou impiedosamente os marinheiros portugueses. Ao mesmo tempo Barros aponta também a cura e as melhoras dos que ingeriram laranjas frescas em Mombaça. Todavia, o autor do Roteiro não parece ter ainda uma noção consciente sobre a acção curativa dos citrinos.
Mas, em 1507, um piloto anónimo, referindo-se no seu diário à viagem de Pedr'Álvares Cabral à Índia, indica-nos claramente que, os «refrescos» oferecidos pelo rei de Melinde aos portugueses eram o remédio eficaz contra esta grave carência vitamínica:
«(...) carneiros, galinhas, patos, limões e laranjas, as melhores que há no mundo, e com ellas sararão de escorbuto alguns doentes que tinhamos connosco» (Luís de Pina, Na Rota do Império – a medicina embarcada nos sécs. XVI e XVII).
Não restam dúvidas que este autor anónimo se adiantou a João de Barros em relação ao conhecimento da eficácia dos citrinos na cura do escorbuto.
Incompreensivelmente, na história da ciência, Balduino Ronsseus (1564) é considerado o mais antigo tratadista de escorbuto.
Sobre o béri-béri, muito antes de J. de Bondton ou Bontins (1642), investigador holandês a quem se atribui a prioridade do seu estudo, as descrições dos portugueses fazem série: Gabriel Rebelo (1569), M. Godinho Eredia (1613), Diogo de Couto (1616),
Pedro de Basto e João de Barros, João Ribeiro (1685) e Ferrão de Queirós.
Segundo Silva Carvalho, o próprio Prof. Jeanselme, autoridade neste assunto, reconhece os portugueses como os primeiros a identificar esta entidade nosológica, uma vez que a sua presença nas colónias foi indiscutivelmente anterior à dos
holandeses.
Cientificamente, porém, não nos é reconhecida tal prioridade, e, só por direito moral a poderemos invocar.
O cólera asiático, designado também por morxi, mal gangético, colerica passio, mordexi, hacaiza, sarna castelhana, etc., doença epidémica na Índia, em 1543, é observado e bem descrito por Gaspar Correia e Garcia da Orta. Este último,
de formação médica, retrata-nos a doença de um modo mais correcto e científico.
A descrição da Filaríase e do respectivo tratamento, observada na «Relação do Reino do Congo» (1578-1587), garante ao seu autor, Duarte Lopes, a primazia científica.
Muito antes de Guilherme de Pison (considerado um dos fundadores da Medicina Tropical), António Galvão (1563) e Gabriel Soares de Sousa (1587), dentre outros escritores peninsulares (Gomara, Oviedo, etc.), deixaram-nos minuciosas descrições
sobre a Pulga penetrante (Pulex penetrans), vulgarmente conhecida em Portugal por «matacanha».
Soares de Sousa, sem formação médica ou científi ca,munido apenas de um espírito autodidáctico e arguto, descreve de uma forma eloquente animais e plantas brasileiros e as suas exposições nada ficam a dever às dos naturalistas e zoólogos
setecentistas, como Buffon, Lineu, Abeville e outros.
Aqueles dois autores portugueses quinhentistas informar-nos-iam, ainda sobre uma enfermidade conhecida por «mal-do-bicho ou xeringosa», rectite epidémica gangrenosa, que Aleixo de Abreu viria a descrever pormenorizada e cientifi camente no seu
«Tratado de las siete enfermedades», publicado em 1623.
No domínio do Ofidismo, Fernão Cardim, Gabriel S. de Sousa e José de Anchieta, registariam também inúmeras informações, algumas delas importantes contributos para o
estudo da Imunidade e da Toxicologia. Antecipadando-se a Redi, quase cem anos, apontam claramente a sede do veneno nos ofídeos, localizado num pequeno dente, dentro da boca desses animais.
Anchieta alude mesmo, de uma forma inequívoca, à imunidade conferida por uma primeira mordedura de cobra venenosa. Na medicina, como em outros campos, a acção dos
portugueses dos Descobrimentos foi um rosário incontável de notáveis feitos, inovações e contributos.".
Frada, J.J.C. — História, Medecina e Descobrimentos Portugueses.
Revista ICALP, vol. 18, Dezembro de 1989, 63-73.
Não se tratou de um período de barbárie (muito menos bárbara do que a dos nossos concorrentes europeus colonialistas) como afirmam os auto-denominados civilizados, dando-nos apenas crédito por alguns conhecimentos da arte de marear _ o que só por ignorância ou má fé poderão afirmar. Os nossos Descobrimentos foram a fonte de inúmeras descobertas e conhecimento prático nos mais diversos ramos das Artes, das Letras e das Ciências, nomedamente na Medicina.
O que me leva e transcrever aqui, para os meus leitores mais curiosos, uns excertos do artigo de João José Cúcio Frada que descobri na Internet e a quem agradeço este magnífico contributo para a nossa percepção de um país moldado por gente de extraordinário valor, que existiu e continuará a existir e a deixar a sua marca no mundo, mesmo quando outras nações maiores lhe roubam a fama, sem todavia lhe poderem tirar o mérito. Vale a pena ler:
História, Medicina e Descobrimentos Portugueses
"As raízes da nossa presença foram ali [no Japão] tão profundas que o investigador holandês Kleiweg de Zwaan, comentá-las-ia desta forma: «Quanto à arte médica, os portugueses fizeram no Japão um trabalho meritório, especialmente como cirurgiões. Por isso, nós compreendemos também a grande estima que os Japoneses tributam a Portugal por esta acção civilizadora. Ela significa para o Japão um louvável trabalho cultural ao serviço da ciência e da humanidade sofredora» (Aires N. de Sousa, ob. cit.).
Na história moderna da cultura e da ciência, fomos pioneiros em múltiplos campos e realizações, mas, por ironias do destino, esses triunfos só muito raramente foram reconhecidos como feitos portugueses. Como diria Carlos França: «Sempre me surpreendeu a ausência de nomes portugueses na História das Ciências Naturais; conhecendo a orientação científica dos nossos descobrimentos, repugnava-me inteiramente admitir que só a estrangeiros se devesse o que veio a saber-se sobre
a História Natural das terras que fomos os primeiros a pisar e a colonizar» (Luís de Pina, As Ciências na História do Império Colonial Português).
A época dos Descobrimentos foi prolífica de descobertas revolucionárias nos domínios da Botânica, da Toxicologia e da Patologia, englobando esta última grande número de
enfermidades exóticas, estudadas actualmente pela Medicina Tropical.
Sobre o Escorbuto, (...) laceração, úlcera da boca, conhecem-se referências muito antigas. Plínio chamava-lhe «stomacaee», Hwakins, «peste do mar», Young «scorbutus nauticus», Good «porphyra nautica». No século XIII, Joinville (integrado no exército de S. Luís, no Egipto), traça pormenorizadamente esta doença.
De um modo idêntico ao de Joinville, João de Barros, no «Roteiro da Viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499), editado em 1552, descreve-nos o escorbuto que, em mares
tropicais, flagelou impiedosamente os marinheiros portugueses. Ao mesmo tempo Barros aponta também a cura e as melhoras dos que ingeriram laranjas frescas em Mombaça. Todavia, o autor do Roteiro não parece ter ainda uma noção consciente sobre a acção curativa dos citrinos.
Mas, em 1507, um piloto anónimo, referindo-se no seu diário à viagem de Pedr'Álvares Cabral à Índia, indica-nos claramente que, os «refrescos» oferecidos pelo rei de Melinde aos portugueses eram o remédio eficaz contra esta grave carência vitamínica:
«(...) carneiros, galinhas, patos, limões e laranjas, as melhores que há no mundo, e com ellas sararão de escorbuto alguns doentes que tinhamos connosco» (Luís de Pina, Na Rota do Império – a medicina embarcada nos sécs. XVI e XVII).
Não restam dúvidas que este autor anónimo se adiantou a João de Barros em relação ao conhecimento da eficácia dos citrinos na cura do escorbuto.
Incompreensivelmente, na história da ciência, Balduino Ronsseus (1564) é considerado o mais antigo tratadista de escorbuto.
Sobre o béri-béri, muito antes de J. de Bondton ou Bontins (1642), investigador holandês a quem se atribui a prioridade do seu estudo, as descrições dos portugueses fazem série: Gabriel Rebelo (1569), M. Godinho Eredia (1613), Diogo de Couto (1616),
Pedro de Basto e João de Barros, João Ribeiro (1685) e Ferrão de Queirós.
Segundo Silva Carvalho, o próprio Prof. Jeanselme, autoridade neste assunto, reconhece os portugueses como os primeiros a identificar esta entidade nosológica, uma vez que a sua presença nas colónias foi indiscutivelmente anterior à dos
holandeses.
Cientificamente, porém, não nos é reconhecida tal prioridade, e, só por direito moral a poderemos invocar.
O cólera asiático, designado também por morxi, mal gangético, colerica passio, mordexi, hacaiza, sarna castelhana, etc., doença epidémica na Índia, em 1543, é observado e bem descrito por Gaspar Correia e Garcia da Orta. Este último,
de formação médica, retrata-nos a doença de um modo mais correcto e científico.
A descrição da Filaríase e do respectivo tratamento, observada na «Relação do Reino do Congo» (1578-1587), garante ao seu autor, Duarte Lopes, a primazia científica.
Muito antes de Guilherme de Pison (considerado um dos fundadores da Medicina Tropical), António Galvão (1563) e Gabriel Soares de Sousa (1587), dentre outros escritores peninsulares (Gomara, Oviedo, etc.), deixaram-nos minuciosas descrições
sobre a Pulga penetrante (Pulex penetrans), vulgarmente conhecida em Portugal por «matacanha».
Soares de Sousa, sem formação médica ou científi ca,munido apenas de um espírito autodidáctico e arguto, descreve de uma forma eloquente animais e plantas brasileiros e as suas exposições nada ficam a dever às dos naturalistas e zoólogos
setecentistas, como Buffon, Lineu, Abeville e outros.
Aqueles dois autores portugueses quinhentistas informar-nos-iam, ainda sobre uma enfermidade conhecida por «mal-do-bicho ou xeringosa», rectite epidémica gangrenosa, que Aleixo de Abreu viria a descrever pormenorizada e cientifi camente no seu
«Tratado de las siete enfermedades», publicado em 1623.
No domínio do Ofidismo, Fernão Cardim, Gabriel S. de Sousa e José de Anchieta, registariam também inúmeras informações, algumas delas importantes contributos para o
estudo da Imunidade e da Toxicologia. Antecipadando-se a Redi, quase cem anos, apontam claramente a sede do veneno nos ofídeos, localizado num pequeno dente, dentro da boca desses animais.
Anchieta alude mesmo, de uma forma inequívoca, à imunidade conferida por uma primeira mordedura de cobra venenosa. Na medicina, como em outros campos, a acção dos
portugueses dos Descobrimentos foi um rosário incontável de notáveis feitos, inovações e contributos.".
Frada, J.J.C. — História, Medecina e Descobrimentos Portugueses.
Revista ICALP, vol. 18, Dezembro de 1989, 63-73.
Os insustentáveis
por BAPTISTA BASTOS
08 Fevereiro 2012
DN OPINIÃO
Aguiar-Branco chegou e disse. Na cara de generais, coronéis e afins, decretou que a tropa, tal como está, é financeiramente insustentável. A afirmação caiu mal, ainda por cima porque pressupunha a redução drástica de efectivos. É um sinal dos tempos. Desde que este Governo ascendeu ao poder, fomos sabendo, com sobressalto e resignação, que a pátria é insustentável. Na saúde, na educação, na assistência social, na justiça, na segurança, nos transportes públicos, na RTP, na RDP, nas pensões e nas reformas, sem a supressão dos subsídios de férias e do décimo segundo mês, com a manutenção da tolerância de ponto no Carnaval, a pátria não consegue sustentar-se a si mesma. Pergunta-se: então, como se aguentou, até agora? Com dívidas, golpadas, ardis e manigâncias?
Nesta teoria de "insustentabilidade", os próprios portugueses estão incluídos. O Governo não sabe o que fazer deles, e incita-os a emigrar, com o descaramento de quem é incapaz de solucionar o problema e assim dissimula a sua incompetência política e ética.
Mas as coisas complicam-se. E as decepções vão-se acumulando. A solidariedade parece estar desempregada na Europa. O imigrante é olhado de soslaio. Uma das facetas essenciais do neoliberalismo é reduzir a democracia às funções de "superfície" e estimular o individualismo. O "estrangeiro" é o inimigo. A possibilidade de escolha, apanágio das sociedades democráticas, dissolveu-se: não há oásis; o conceito de pluralidade transformou-se numa hostilidade que ronda a abjecção. O jornalista Noé Monteiro, correspondente na Suíça da RTP, foi o autor, no domingo, p.p., de uma pungente reportagem sobre portugueses que tentaram fugir à fome e à miséria e entraram num outro crisol do inferno. A Suíça, outrora acolhedora, embora áspera e burocrática, ela própria feita de politeísmo de culturas e de valores, é uma incerteza irredutível. O neoliberalismo impôs a normalização das estruturas e dos comportamentos. O mundo, hoje, é um lugar de vazio, de afronta e de desumanização.
Em Portugal, ameaçados pelas contingências de uma filosofia política que alastrou como endemia, os portugueses não sabem que fazer. Aliás, como as hesitações, as derivas e as perplexidades de quem nos governa. Esta gente quer-nos levar para aonde?
Parece que ninguém possui capacidade e talento para enfrentar a realidade circundante. "Todos somos culpados." A frase, utilizada por quem, realmente, é responsável, serve de encobrimento a uma experiência político-económica que deixou a Europa de rastos e promoveu a mediocridade como norma. O surgimento de Merkel e de Sarkozy pertence a essa lógica do absurdo, incapaz de resolver a complexidade criada pela sua própria irracionalidade.
Estamos num ponto da História em que todos somos insustentáveis".
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
09/02/2012
Ainda o (Des)Acordo Ortográfico
Um texto do jornalista Nuno Pacheco, a propósito do tal Acordo que Vasco de Graça Moura erradicou do CCB:
Omens sem H... (e sem espinha!)
Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos.
No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim.
Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco.
Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje.
Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas.
Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio.
O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota.
"É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico.
É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie, tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen?
Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas.
Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita".
Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema.
A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.
Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo.
Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas?
Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo.
Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido.
Por Nuno Pacheco - Jornalista
Omens sem H... (e sem espinha!)
Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos.
No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim.
Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça. Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco.
Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje.
Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas.
Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio.
O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota.
"É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico.
É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie, tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen?
Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas.
Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita".
Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema.
A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.
Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo.
Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas?
Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo.
Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido.
Por Nuno Pacheco - Jornalista
07/02/2012
O reverso da medalha: agressão de professores
A indignação, mágoa e frustração dos professores já é difícil de silenciar, como mostra este texto de Maria do Rosário Meireles Cunha:
Um dia cinzento…professor
Hoje o dia amanheceu cinzento e chuvoso…Para muitos mais um dia de inverno! Para mim um dia triste, coberto de indignação, revolta, medo, impotência e desolação.
Ontem, em frente à Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira, nos Carvalhos – Vila Nova de Gaia, um Professor de Matemática, de 63 anos, foi violentamente agredido por três indivíduos de etnia cigana. Não. Não agrediu nenhum aluno. Não foi incorreto com ninguém, nem tão pouco falou mais alto. O exemplo de civismo, educação, correcção e
profissionalismo é a descrição deste nosso colega. Apenas mandou que uma aluna de etnia cigana se retirasse da sala onde entrou sem autorização e sem educação. Motivo este bastante para que a aluna comunicasse com os familiares que de forma selvagem se encarregaram do “ajuste de contas”.
Sou professora e tenho também alunos de etnia cigana. Terei provavelmente princípios de educação e civismo semelhantes aos da maior parte dos professores, como este colega. Corrijo todos os dias os comportamentos e atitudes que considero despropositados. Trato todos os alunos de igual forma tendo como principio a igualdade de que todos falam com a “boca cheia”. Igualdade essa de direitos, mas também de deveres. Sim, porque não pensem que a igualdade só serve para ter direitos! O cumprimento das regras de civismo e respeito também fazem parte. E se um dos meus alunos achar que “cuspir em cima das secretárias” é um direito que ele tem? Isso vai contra o meu entendimento de respeito e educação e, como tal terei de informá-lo da
necessidade de limpar a secretária que é de todos. Se a moda pega, terei com toda a certeza de pedir proteção policial para sair da escola.
Cada vez que tento visualizar a situação de agressão a que foi sujeito este professor, fico completamente de rastos, desmoralizada e sem motivação alguma para continuar a fazer aquilo que escolhi há muitos anos.
E falam-me em revisão curricular??
Podem fazê-las todas e todos os anos! Não é aí que se encontra o “cancro” da Escola/Educação. Podem aumentar as cargas horárias todas que quiserem! Os alunos não vão saber mais por isso. É o mesmo que tentar tratar o doente com a medicação errada.
A indisciplina grassa em grande escala e em percurso crescente na maior parte dos estabelecimentos de ensino do nosso país. É mais ou menos camuflada, numas ou noutras escolas, por interesses vários, desde directores a ministros. Mas está instaurada e cada vez com maior número de aderentes. A nós pouco nos resta fazer. Tentamos de todas as formas, nunca infringindo a lei ou ferindo os tão pregoados direitos do aluno, proteger os poucos que sabem para que serve a Escola, o Professor e a Educação.
Mesmo correndo algum risco de, segundo os entendidos, traumatizar as crianças, ainda elevamos o tom de voz ou castigamos um ou outro aluno, na tentativa, quase inglória, de “salvar” mais um.
Sabendo que a missão primeira de educar compete aos pais e sabendo que poderemos ser verbalmente e fisicamente agredidos, arriscamos e transmitimos sempre que achamos premente, os valores e princípios que os nossos alunos não trazem de casa, corrigimos atitudes, somos pai e mãe sempre que necessário. Recebemos mensagens escritas dos encarregados de educação, revelando uma falta de respeito, educação e
desconhecimento atroz, porque cansamos o seu educando com os trabalhos de casa. Somos ameaçados pelos pais e familiares dos alunos a quem dizemos que é necessário um caderno e uma caneta para escrever e que esse material é muito mais importante numa sala de aula, do que um telemóvel…
E falam-me em revisão curricular??…
Não aguento mais medidas sem sentido e de nenhum efeito. Um médico não receita sem saber qual é o mal de um doente, ou não deveria fazê-lo. Então como se quer tratar a Escola/Educação sem antes perceber, analisar, verificar onde está realmente o grande, imenso problema?
É urgente e inadiável impor a disciplina nas escolas portuguesas.
É urgente e inadiável que se percebam as diferenças de direitos e deveres entre um adulto e uma criança.
É urgente e inadiável que um professor possa ensinar quem quer realmente aprender.
É urgente e inadiável que o medo deixe de ser uma sombra permanente sobre as cabeças dos docentes do nosso país.
É urgente e inadiável que possamos intervir assertivamente e no imediato em situações que estão no limiar do humanamente suportável.
É urgente e inadiável que o respeito e educação que exijo aos meus filhos, possa exigir da mesma forma aos meus alunos.
E falam-me de revisão curricular??
É inadmissível que o professor seja obrigado a engolir os insultos de um aluno que tem mais ou menos a idade dos seus filhos quando em sua casa isso não é minimamente tolerável.
Não pensem que quero “a menina dos cinco olhinhos”. Não. Apenas penso que fomos exactamente para o outro extremo. Quase que me apetece dizer que se vive uma anarquia nas escolas. Gritar fere a sensibilidade das crianças, mas falar baixo não resulta pois estas não sabem estar caladas. Uma bofetada ou puxão de orelhas? Completamente desadequado.
Isso só com os nossos filhos surte efeito. Aos nossos alunos traumatiza e marca para toda a vida. Talvez seja por isso, por tantos traumas destes, que a nossa geração cresceu, formou-se, trabalha e não espera que nenhum subsídio seja criado e nenhuma casa lhe seja oferecida.
Os meus vinte e cinco anos de serviço não me ensinaram a viver uma escola em que importa apenas que as crianças sejam muito felizes e acreditem que a vida é super fácil; que o trabalhar é apenas para os “totós”, pois a preguiça compensa e de uma forma ou de outra todos conseguirão fazer a escola; que independentemente de cumprirmos as
regras teremos sempre direitos; que pudemos ofender de todas as formas possíveis e agredir sempre, pois o pior que poderá acontecer são uns dias de “férias” em casa; que de uma forma ou de outra, a culpa é sempre do professor.
O nosso colega está em casa, depois de uma tarde nas urgências do hospital, com cortes no rosto e muitos hematomas. Tenho o estômago embrulhado e um nó na garganta. Uma vida inteira dedicada a ensinar e a formar um futuro melhor para o nosso país é desta forma agraciada quase no fim da sua carreira. E quem está a ler e a sentir-se da mesma forma que eu perguntará: “ E a escola não age?” E eu digo-vos qual é a
resposta: “Foi fora do recinto escolar.” Gostaram? Conseguem imaginar como será o estado de espírito deste professor de matemática?
Já não falo das marcas físicas e das dores que deve ter, pois foram muitos pontapés e murros covardemente dados por três homens na casa dos vinte anos. Covardemente por serem três a agredirem um senhor de sessenta e três anos. Falo na dor psicológica, uma dor que não passa com analgésicos, que vai lá ficar muito tempo. Será a recordação mais viva que terá da sua longa carreira que está quase no final. Aqui fica a medalha de “cortiça” que recebe pela sua dedicação e entrega à escola e aos alunos.
No final apenas fica o amargo de boca de quem tem consciência de que fez o melhor trabalho que pode, que entregou a melhor parte da sua vida e juventude aos seus alunos, que exerceu com toda a dignidade a sua profissão, respeitando sempre todos, engrandecendo o conhecimento de muitos.
Resta-me dizer que este dia cinzento tem toda a razão de ser e todos os professores se sentirão exactamente neste cinzento que porventura será a cor que melhor define os sentimentos de quem neste momento consegue imaginar-se no lugar deste professor.
Maria do Rosário Meireles Cunha
Professora na Escola EB 2/3 de Olival
Um dia cinzento…professor
Hoje o dia amanheceu cinzento e chuvoso…Para muitos mais um dia de inverno! Para mim um dia triste, coberto de indignação, revolta, medo, impotência e desolação.
Ontem, em frente à Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira, nos Carvalhos – Vila Nova de Gaia, um Professor de Matemática, de 63 anos, foi violentamente agredido por três indivíduos de etnia cigana. Não. Não agrediu nenhum aluno. Não foi incorreto com ninguém, nem tão pouco falou mais alto. O exemplo de civismo, educação, correcção e
profissionalismo é a descrição deste nosso colega. Apenas mandou que uma aluna de etnia cigana se retirasse da sala onde entrou sem autorização e sem educação. Motivo este bastante para que a aluna comunicasse com os familiares que de forma selvagem se encarregaram do “ajuste de contas”.
Sou professora e tenho também alunos de etnia cigana. Terei provavelmente princípios de educação e civismo semelhantes aos da maior parte dos professores, como este colega. Corrijo todos os dias os comportamentos e atitudes que considero despropositados. Trato todos os alunos de igual forma tendo como principio a igualdade de que todos falam com a “boca cheia”. Igualdade essa de direitos, mas também de deveres. Sim, porque não pensem que a igualdade só serve para ter direitos! O cumprimento das regras de civismo e respeito também fazem parte. E se um dos meus alunos achar que “cuspir em cima das secretárias” é um direito que ele tem? Isso vai contra o meu entendimento de respeito e educação e, como tal terei de informá-lo da
necessidade de limpar a secretária que é de todos. Se a moda pega, terei com toda a certeza de pedir proteção policial para sair da escola.
Cada vez que tento visualizar a situação de agressão a que foi sujeito este professor, fico completamente de rastos, desmoralizada e sem motivação alguma para continuar a fazer aquilo que escolhi há muitos anos.
E falam-me em revisão curricular??
Podem fazê-las todas e todos os anos! Não é aí que se encontra o “cancro” da Escola/Educação. Podem aumentar as cargas horárias todas que quiserem! Os alunos não vão saber mais por isso. É o mesmo que tentar tratar o doente com a medicação errada.
A indisciplina grassa em grande escala e em percurso crescente na maior parte dos estabelecimentos de ensino do nosso país. É mais ou menos camuflada, numas ou noutras escolas, por interesses vários, desde directores a ministros. Mas está instaurada e cada vez com maior número de aderentes. A nós pouco nos resta fazer. Tentamos de todas as formas, nunca infringindo a lei ou ferindo os tão pregoados direitos do aluno, proteger os poucos que sabem para que serve a Escola, o Professor e a Educação.
Mesmo correndo algum risco de, segundo os entendidos, traumatizar as crianças, ainda elevamos o tom de voz ou castigamos um ou outro aluno, na tentativa, quase inglória, de “salvar” mais um.
Sabendo que a missão primeira de educar compete aos pais e sabendo que poderemos ser verbalmente e fisicamente agredidos, arriscamos e transmitimos sempre que achamos premente, os valores e princípios que os nossos alunos não trazem de casa, corrigimos atitudes, somos pai e mãe sempre que necessário. Recebemos mensagens escritas dos encarregados de educação, revelando uma falta de respeito, educação e
desconhecimento atroz, porque cansamos o seu educando com os trabalhos de casa. Somos ameaçados pelos pais e familiares dos alunos a quem dizemos que é necessário um caderno e uma caneta para escrever e que esse material é muito mais importante numa sala de aula, do que um telemóvel…
E falam-me em revisão curricular??…
Não aguento mais medidas sem sentido e de nenhum efeito. Um médico não receita sem saber qual é o mal de um doente, ou não deveria fazê-lo. Então como se quer tratar a Escola/Educação sem antes perceber, analisar, verificar onde está realmente o grande, imenso problema?
É urgente e inadiável impor a disciplina nas escolas portuguesas.
É urgente e inadiável que se percebam as diferenças de direitos e deveres entre um adulto e uma criança.
É urgente e inadiável que um professor possa ensinar quem quer realmente aprender.
É urgente e inadiável que o medo deixe de ser uma sombra permanente sobre as cabeças dos docentes do nosso país.
É urgente e inadiável que possamos intervir assertivamente e no imediato em situações que estão no limiar do humanamente suportável.
É urgente e inadiável que o respeito e educação que exijo aos meus filhos, possa exigir da mesma forma aos meus alunos.
E falam-me de revisão curricular??
É inadmissível que o professor seja obrigado a engolir os insultos de um aluno que tem mais ou menos a idade dos seus filhos quando em sua casa isso não é minimamente tolerável.
Não pensem que quero “a menina dos cinco olhinhos”. Não. Apenas penso que fomos exactamente para o outro extremo. Quase que me apetece dizer que se vive uma anarquia nas escolas. Gritar fere a sensibilidade das crianças, mas falar baixo não resulta pois estas não sabem estar caladas. Uma bofetada ou puxão de orelhas? Completamente desadequado.
Isso só com os nossos filhos surte efeito. Aos nossos alunos traumatiza e marca para toda a vida. Talvez seja por isso, por tantos traumas destes, que a nossa geração cresceu, formou-se, trabalha e não espera que nenhum subsídio seja criado e nenhuma casa lhe seja oferecida.
Os meus vinte e cinco anos de serviço não me ensinaram a viver uma escola em que importa apenas que as crianças sejam muito felizes e acreditem que a vida é super fácil; que o trabalhar é apenas para os “totós”, pois a preguiça compensa e de uma forma ou de outra todos conseguirão fazer a escola; que independentemente de cumprirmos as
regras teremos sempre direitos; que pudemos ofender de todas as formas possíveis e agredir sempre, pois o pior que poderá acontecer são uns dias de “férias” em casa; que de uma forma ou de outra, a culpa é sempre do professor.
O nosso colega está em casa, depois de uma tarde nas urgências do hospital, com cortes no rosto e muitos hematomas. Tenho o estômago embrulhado e um nó na garganta. Uma vida inteira dedicada a ensinar e a formar um futuro melhor para o nosso país é desta forma agraciada quase no fim da sua carreira. E quem está a ler e a sentir-se da mesma forma que eu perguntará: “ E a escola não age?” E eu digo-vos qual é a
resposta: “Foi fora do recinto escolar.” Gostaram? Conseguem imaginar como será o estado de espírito deste professor de matemática?
Já não falo das marcas físicas e das dores que deve ter, pois foram muitos pontapés e murros covardemente dados por três homens na casa dos vinte anos. Covardemente por serem três a agredirem um senhor de sessenta e três anos. Falo na dor psicológica, uma dor que não passa com analgésicos, que vai lá ficar muito tempo. Será a recordação mais viva que terá da sua longa carreira que está quase no final. Aqui fica a medalha de “cortiça” que recebe pela sua dedicação e entrega à escola e aos alunos.
No final apenas fica o amargo de boca de quem tem consciência de que fez o melhor trabalho que pode, que entregou a melhor parte da sua vida e juventude aos seus alunos, que exerceu com toda a dignidade a sua profissão, respeitando sempre todos, engrandecendo o conhecimento de muitos.
Resta-me dizer que este dia cinzento tem toda a razão de ser e todos os professores se sentirão exactamente neste cinzento que porventura será a cor que melhor define os sentimentos de quem neste momento consegue imaginar-se no lugar deste professor.
Maria do Rosário Meireles Cunha
Professora na Escola EB 2/3 de Olival
06/02/2012
Os meus romances no Facebook
Descobri, há tempo, que alguém se tinha dado ao trabalho de criar no Facebook páginas dedicadas a três dos meus romances.
Foi uma surpresa que me encantou e emocionou muito, visto que, para fazer tal coisa, essa pessoa tinha de ser um(a) leitor(a) apaixonado(o) pela minha obra. Procurei em vão saber quem era esse generoso desconhecido, pois, nas páginas do Facebook, os nomes e as fotos de perfil eram os dos respectivos livros: D. Sebastião e o Vidente, O Navegador da Passagem e O Espião de D. João II.
Este fim-de-semana descobri finalmente a identidade do meu misterioso e devotado Leitor. Aminha fã (pois de uma Leitora se trata) é essa lindíssima moça da foto, chama-se Ana Filipa Santos, e tem (imaginem só, pois custa a crer)... 15 anos!
E ainda se diz que os jovens portugueses não gostam de ler... Ana Santos até pode ser uma excepção _ é-o,sem dúvida, pois os meus livros não são de leitura fácil, quer pela linguagem, quer pelo conteúdo e extensão _, mas são jovens assim que me mantêm a esperança neste país.
Aqui fica o meu público agradecimento a Ana Santos, cuja Página do Facebook, se a quiserem visitar é: http://www.facebook.com/profile.php?id=100000308722822.
Para acederem às Páginas dos meus romances, por ela criadas, basta clicar nos títulos acima indicados para abrir os links.
Bem haja, querida Ana, pelo prazer que me deu!
Foi uma surpresa que me encantou e emocionou muito, visto que, para fazer tal coisa, essa pessoa tinha de ser um(a) leitor(a) apaixonado(o) pela minha obra. Procurei em vão saber quem era esse generoso desconhecido, pois, nas páginas do Facebook, os nomes e as fotos de perfil eram os dos respectivos livros: D. Sebastião e o Vidente, O Navegador da Passagem e O Espião de D. João II.
Este fim-de-semana descobri finalmente a identidade do meu misterioso e devotado Leitor. Aminha fã (pois de uma Leitora se trata) é essa lindíssima moça da foto, chama-se Ana Filipa Santos, e tem (imaginem só, pois custa a crer)... 15 anos!
E ainda se diz que os jovens portugueses não gostam de ler... Ana Santos até pode ser uma excepção _ é-o,sem dúvida, pois os meus livros não são de leitura fácil, quer pela linguagem, quer pelo conteúdo e extensão _, mas são jovens assim que me mantêm a esperança neste país.
Aqui fica o meu público agradecimento a Ana Santos, cuja Página do Facebook, se a quiserem visitar é: http://www.facebook.com/profile.php?id=100000308722822.
Para acederem às Páginas dos meus romances, por ela criadas, basta clicar nos títulos acima indicados para abrir os links.
Bem haja, querida Ana, pelo prazer que me deu!
276 € para desentupir o cano do lava-louça!
Este país está a saque. Da firma "24 horas Alerta" - serralharia, canalizações e Electricidade, vieram a minha casa desentupir um cano do lava-louças e levaram 225 € + 51 € de IVA, por 45m. de trabalho.
Ainda há quem diga que se ganha mal, em Portugal - 275 € para desentupir um cano! Conto-vos este caso para vos prevenir contra estes golpes: Não enfiem o barrete, como nós, peçam sempre orçamento antes, mesmo que precisem de desentupir o cano no próprio dia. E nesta firma, nunca! Foi pura extorsão!
Contactámo-los pelas Páginas Amarelas. Costumamos usar os serviços do ACP, que funcionam bem e se informam depois como decorreu o serviço. Como já do ACP tinham feito o trabalho semelhante por uns 80€, não pedimos orçamento.
Irrita sermos enganados por termos boa fé. Este é o meu aviso para que não caiam no mesmo. E vou participar à DECO.
Ainda há quem diga que se ganha mal, em Portugal - 275 € para desentupir um cano! Conto-vos este caso para vos prevenir contra estes golpes: Não enfiem o barrete, como nós, peçam sempre orçamento antes, mesmo que precisem de desentupir o cano no próprio dia. E nesta firma, nunca! Foi pura extorsão!
Contactámo-los pelas Páginas Amarelas. Costumamos usar os serviços do ACP, que funcionam bem e se informam depois como decorreu o serviço. Como já do ACP tinham feito o trabalho semelhante por uns 80€, não pedimos orçamento.
Irrita sermos enganados por termos boa fé. Este é o meu aviso para que não caiam no mesmo. E vou participar à DECO.
04/02/2012
Não posso aceitar este Acordo Ortográfico
Não aceito este Acordo Ortográfico, porque o acho desnecessário - para mais feito em gabinetes, à revelia da maioria dos seus utentes e das instituições que velam por ela -, e me prejudica a escrita e a corrompe, criando a cada passo confusões que chegam a ser absurdas ou mesmo ridículas.
Assinei todas as petições contra, ainda não calei os meus protestos e nunca aceitarei ter os meus livros "emendados", segundo o Acordo. Se me quiserem obrigar a fazê-lo, não voltarei a publicar outro livro no resto da minha vida.
O que me custou mais em todo o processo foi exactamente a falta de amor pela nossa Língua, a qual, sendo a matriz de todas as variantes do Português falado no mundo, os promotores do Acordo dizem querer valorizar, corrompendo-a para a aproximar das ditas variantes, porque é de facto apenas desta subordinação que se trata e não de uma evolução do nosso idioma. É o mundo às avessas
Neste país nunca houve da parte dos governantes qualquer respeito pelos cidadãos, só fingem tê-lo no tempo das eleições, depois "borrifam-se" para o que pensamos ou queremos, porque estão habituados ao nosso conformismo, porque, enquanto povo, nós dobramos a espinha ao poder, não temos orgulho no nosso país, na nossa Língua que é o cerne da nossa identidade, da nossa História ou da nossa Cultura. Por isso temos uma troika estrangeira a estalar o chicote nos nossos lombos.
A nossa Língua evoluía naturalmente, como é próprio de qualquer idioma do mundo. O que se fez foi um "favor" não ao nosso país, mas a outro, uma cedência como muitas mais que os nossos governantes e os seus satélites têm feito, com esse eterno complexo de menoridade (falam com muita bazófia para esconder a insegurança ou a falta de cultura e de competência), dobram a cerviz por sua vez "aos de fora", "aos maiores e mais ricos" e sujeitam-se a acordos que as outras partes depois não respeitam. Já no anterior acordo, o Brasil, depois de o assinar, "borrifou-se" para ele e para nós e continuou a escrever como sempre o fez.
Venderam-nos por pouco e ficaram muito contentinhos! Alguns nem esperaram por a data do desastre. Este malfadado Acordo só entraria em vigor oficialmente em 2014, infelizmente os agentes de cultura, como os Media e as editoras, que deviam acautelar a Língua dos seus jornalistas e escritores, apressaram-se a render-se ao poder e aos interesses (decerto em futuros ganhos, ainda que possam vir a ser apenas fumo...).
Conto com os meus leitores, se gostaram de me ler até hoje, continuarão a ler-me no futuro, embora a "escrever mal e com erros", segundo o novo Acordo Ortográfico. Pelo que, desde já,peço a vossa compreensão e perdão, queridos amigos leitores.
Assinei todas as petições contra, ainda não calei os meus protestos e nunca aceitarei ter os meus livros "emendados", segundo o Acordo. Se me quiserem obrigar a fazê-lo, não voltarei a publicar outro livro no resto da minha vida.
O que me custou mais em todo o processo foi exactamente a falta de amor pela nossa Língua, a qual, sendo a matriz de todas as variantes do Português falado no mundo, os promotores do Acordo dizem querer valorizar, corrompendo-a para a aproximar das ditas variantes, porque é de facto apenas desta subordinação que se trata e não de uma evolução do nosso idioma. É o mundo às avessas
Neste país nunca houve da parte dos governantes qualquer respeito pelos cidadãos, só fingem tê-lo no tempo das eleições, depois "borrifam-se" para o que pensamos ou queremos, porque estão habituados ao nosso conformismo, porque, enquanto povo, nós dobramos a espinha ao poder, não temos orgulho no nosso país, na nossa Língua que é o cerne da nossa identidade, da nossa História ou da nossa Cultura. Por isso temos uma troika estrangeira a estalar o chicote nos nossos lombos.
A nossa Língua evoluía naturalmente, como é próprio de qualquer idioma do mundo. O que se fez foi um "favor" não ao nosso país, mas a outro, uma cedência como muitas mais que os nossos governantes e os seus satélites têm feito, com esse eterno complexo de menoridade (falam com muita bazófia para esconder a insegurança ou a falta de cultura e de competência), dobram a cerviz por sua vez "aos de fora", "aos maiores e mais ricos" e sujeitam-se a acordos que as outras partes depois não respeitam. Já no anterior acordo, o Brasil, depois de o assinar, "borrifou-se" para ele e para nós e continuou a escrever como sempre o fez.
Venderam-nos por pouco e ficaram muito contentinhos! Alguns nem esperaram por a data do desastre. Este malfadado Acordo só entraria em vigor oficialmente em 2014, infelizmente os agentes de cultura, como os Media e as editoras, que deviam acautelar a Língua dos seus jornalistas e escritores, apressaram-se a render-se ao poder e aos interesses (decerto em futuros ganhos, ainda que possam vir a ser apenas fumo...).
Conto com os meus leitores, se gostaram de me ler até hoje, continuarão a ler-me no futuro, embora a "escrever mal e com erros", segundo o novo Acordo Ortográfico. Pelo que, desde já,peço a vossa compreensão e perdão, queridos amigos leitores.
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