Alexandra Lucas Coelho, cronista do jornal Público, escreve sobre uma delegação de "novíssimos autores", que o Grupo LeYa com o apoio do Instituto Camões escolheu para uma colecção e “tours” de promoção integrados no Ano de Portugal no Brasil, em Novembro passado. Os primeiros cinco (de dez) “Novíssimos” em que o grupo editorial LeYa investiu foram João Ricardo Pedro, Nuno Camarneiro, Sandro William Junqueira, Patrícia Reis e Patrícia Portela.
Ao ler o artigo de Alexandra Lucas Coelho, com citações destes jovens escritores, incluindo o vencedor do Prémio LeYa de 2012, as suas intervenções parecem-me manifestações de infantilismo e de um fraco conhecimento da grande Literatura mundial e dos seus maiores mestres do que rasgos de juventude e originalidade.
Como diz António Guerreiro, no Actual/Expresso de 17 de Novembro, comentando o referido artigo: "No nosso tempo, a juventude tornou-se um padrão comportamental e de consumo, mas desapareceu como categoria de espírito, não tem pretensões históricas (não interrompe nem desvia o curso do mundo) nem metafísicas (tornou-se mero objecto sociológico)." (...) "A ideia de uma metafísica da juventude está ligada a uma geração trágica delapidade pela guerra; os "novíssimos", sem juventude nem metafísica, são também solddados de uma guerra em curso, sem grandeza nem tragédia, mobilizados para a batalha da novidade, com a linguagem que os velhos lhe forneceram, sem nenhuma concepção de História".
Alexandra Lucas Coelho comenta assim a mesa redonda dos Novíssimos Autores Portugueses:
(...) "O programa da festa resumia: “Uma mesa portuguesa com certeza.” A explicação vinha a seguir: “Esta mesa é o marco inaugural, no campo da literatura, do Ano de Portugal no Brasil. Esses autores farão em seguida um tour pelo Brasil. Cada integrante lerá um texto curto sobre o seguinte assunto: o que faz de mim um escritor português? E uns comentarão o texto dos outros (...)
Playboy, Homero,
crise
Patrícia Reis passa
a palavra a Nuno Camarneiro (“No Meu Peito não Cabem Pássaros”), apresentando-o
assim: “O único entre nós que tem vida sexual activa porque é o único que não
tem filhos.” Pausa. “Como é contigo, Nuno, português, escritor…?” Agradecendo
quanto à sua vida sexual, ele responde: “Todos os que nascemos ali no
rectângulo somos portugueses, uns por inevitabilidade outros por
incompetência.” As duas Patrícias trocam o papel de moderadoras, para que
Patrícia Reis possa responder também, dizendo que se considera “profundamente
portuguesa e europeia”, embora as interrogações universais da literatura a
aproximem de “brasileiros, americanos ou israelitas”.
Patrícia Portela,
que vive em Antuérpia, casada com um flamengo, e tem uma filha bilingue, diz:
“Eu sou russa.” Explica como o seu livro foi escrito em inglês, no contexto de
um espectáculo internacional em que a única coisa portuguesa era ela. Quando
correu mundo, foi melhor entendido na Rússia. Os russos sentiam que ela lera
Púchkin e outros. E lera.
João Ricardo avança
para a tirada António Lobo Antunes-“wannabe”-da-tarde”: “Uma das que eu mais
gostava era a Bruna Lombardi. Numa novela estava apaixonada pelo Tarcísio
Meira. Mas havia um problema. Ele tinha um tumor na cabeça. Sabiam que a todo o
momento ele podia morrer. E é isso que nos faz escrever. Se calhar vou ficar
aqui num cemitério no Rio de Janeiro. Os escritores anseiam pela imortalidade.
O único que conseguiu foi o Homero. Eu quero ser o Homero do século XXI. Quero ser lido daqui a 20 mil anos.”
Sandro atenua: “A
vaidade é uma resposta. Mas se calhar [escrever] também é uma salvação.” Nuno
confessa: “Admiro o João por conseguir todos os saltos dialécticos partindo das
erecções infantis. Eu sinto que estou a escrever para que as palavras me
entendam. Quando se lê muito, pensa-se que se tem uma dívida. Quero oferecer
alguma coisa.”Patrícia Portela concorda com Sandro sobre a escrita (“uma salvação”), evocando a teoria mais interessante da tarde: “O caos, o mundo é uma consequência de toques mínimos entre corpos, e quando entra em cena o terceiro corpo tudo pode acontecer.” É também esta Patrícia que fala, já respondendo à plateia, de como a sua geração é “híbrida”, a primeira a trabalhar tanto fora, e de como viver fora enriquece a língua.
A pergunta mais
espicaçante vem de Julio Ludemir, o idealizador da FLUPP: quer que falem da crise, mas os cinco começam
por desviar o assunto com piadas. Sandro acaba por resumir o negro do momento,
falando das contas que tem atrás da cabeça, quando se senta para escrever.
“Claro que isso interfere. A minha energia devia estar canalizada para
escrever.” Todos concordam que a literatura acabará por absorver este momento.
Em 2013, a LeYa
quer levar os outros cinco autores “Novíssimos” a Paraty, em Julho, juntando-se
à programação paralela que acontece durante a FLIP.".
(Público,
12-11-2012)
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