20/12/2009

Belmonte e um Museu dos Descobrimentos

Terra antiga, habitada desde os tempos da Pré-História, obteve foral próprio de D. Sancho I, em 1199, porém, vai adquirir maior relevo, a partir do século XV, quando a sua história se começa a fundir com a história da família dos Cabrais e posteriormente com a dos judeus e cristãos-novos que ali buscaram refúgio.

É, no entanto, com Pedro Álvares Cabral que Belmonte vai entrar com maior pompa e circunstância na grande Epopeia dos Descobrimentos, quando o capitão-mor da segunda armada que el-rei D. Manuel envia à Índia, se desvia da sua rota e concretiza o polémico “achamento” das terras do pau-brasil, um Novo Mundo para a coroa Portuguesa.

Quinhentos e nove anos mais tarde, Belmonte concretiza, por fim, o longo anseio de dar a conhecer esse passado riquíssimo, não só no presente mas também para as gerações vindouras, criando um núcleo museológico de notável interesse, com visitas guiadas por gente conhecedora e apaixonada por tão rico património: O Castelo com a sua preciosa janela manuelina; a antiga judiaria, a sinagoga e o Museu Judaico; a Igreja de Santiago e Panteão dos Cabrais; o Museu do Azeite, o Ecomuseu do Zêzere e, por último, a peça que faltava: O Centro Interpretativo à Descoberta do Novo Mundo

É deste Centro Interpretativo que vos quero falar, por ser uma obra original, apelativa e espectacular, em termos de tecnologia digital de ponta, que conta a Historia do achamento ou descobrimento do Brasil, como um filme em que os visitantes participam, não só enquanto espectadores, mas sobretudo como actores, desde que se predisponham ao jogo interactivo que as imagens e os botões, ao alcance de um clique, lhes propõem com muito saber, imaginação e graça. Crianças e adultos poderão meter-se na pele do navegador, sentir os balanços da caravela ou da nau até ao enjoo, informar-se sobre aparelhos e técnicas de marear, sofrer uma tempestade e naufrágio, avistar o Novo Mundo, ouvir-lhe os sons distintos, conhecer os seus produtos, trocar presentes com os seus naturais e até dançar ao som de estranhos instrumentos.



Uma viagem lúdica, maravilhosa e profundamente didáctica, diria até de visita obrigatória para as escolas portuguesas. Os estudantes vivê-la-ão como um filme ou um gigantesco jogo de computador, enquanto aprendem a nossa História. Encantou-me a visita e não regateei elogios à gentilíssima guia que me acompanhou e ao meu marido, nessa tarde tremendamente chuvosa de Belmonte.

No entanto, passado algum tempo, apercebi-me de que me faltara algo, de que só vagamente me dera conta, durante a visita: faltava (com raras excepções como a pia baptismal na entrada) a magia e a emoção que conferem a presença de objectos coevos, desses vestígios verdadeiros do Passado, que nos transportam, mais do que um filme ou uma foto, para a vida de épocas remotas, porque foram usadas e serviram a gente viva como nós e, por isso, têm alma e nos comovem, como aqueles objectos da exposição Encompassing The Globe – Portugal e o Mundo, do Museus de Arte Antiga.

Ter uns tantos objectos reais distribuídos estrategicamente pelas salas a reforçar as imagens e as descrições, como por exemplo, um astrolábio exposto enquanto as imagens e o áudio ensinam para o que serviu e como se usou. Enquanto não tiver esses testemunhos autênticos do Passado, o Centro Interpretativo da Descoberta do Novo Mundo, não poderá ser considerado um Museu, na verdadeira acepção da palavra. Espero que com o tempo (abriram há poucos meses e já contam com um número impressionante de visitantes) isso possa acontecer, porque têm espaço, os seus colaboradores têm vontade e dedicação e todos nós sabemos que há, em muitos armazéns poeirentos, milhares de objectos coevos. O Centro Interpretativo precisará seguramente de dinheiro para os obter e fazer as suas exposições com segurança.

Se há sempre tanto dinheiro para estádios redundantes de futebol, não poderá haver também uma pequena parcela do bolo para os museus? Quando teremos neste país, pioneiro da Globalização, da Descobertas e da Cartografia do Globo, um verdadeiro Museu dos Descobrimentos?

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