por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, DN 29-01-2014
É apresentado hoje (foi apresentado ontem, 29-01-2014) em Lisboa um breve mas esclarecedor Manifesto contra a Crise, assinado por mais de uma centena de subscritores, provenientes dos mais diversos campos da ciência, da cultura e das artes.
O texto foi escrito ainda antes de se saber a decisão expedita seguida pelo Governo para resolver a desproporção entre o número de investigadores e a escassez orçamental: efectuando o corte mais brutal de bolsas da história da política de ciência em Portugal.
O mais interessante neste Manifesto consiste em mostrar que só existe hoje uma crise na cultura (do cinema ao teatro, das artes plásticas à pesquisa de ponta) porque existe uma cultura da crise. Os actuais decisores políticos reiteram, noutras roupagens, escolhas que lesaram gravemente o País.
Tal como no tempo da Inquisição, quando a nossa elite intelectual e comercial foi expulsa por um catolicismo fundamentalista, sem cuidar dos danos para os interesses do País e do império que tal hemorragia iria causar, temos hoje um Governo que saúda a emigração forçada de dezenas de milhares de jovens licenciados, sem avaliar o que significa regredir décadas na criação de uma massa crítica capaz de imaginar e construir novas saídas para a crise nacional.
O analfabetismo crónico da população portuguesa sempre foi um factor de desvantagem, tanto em relação aos países protestantes como aos católicos. Quarenta anos de democracia quase venceram esse estigma.
O que não foi possível foi derrubar a iliteracia funcional de uma falsa elite, que dentro do Estado manda sem mérito para tal. Há um relógio invisível que todos os dias avança em direção ao futuro. E sem atrasos. Cada vez nos aproximamos mais do dia em que os que apelam ao êxodo, serão obrigados, também eles, a sair da sua "zona de conforto".
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