Biólogos vão estudar os vários avistamentos destes cetáceos no rio desde meados do século XIX. Número de observações tem aumentado nos últimos anos e os investigadores querem saber porquê.
Perante esta incerteza, e como os avistamentos destes cetáceos no Tejo se multiplicaram nos últimos anos,
os investigadores da empresa Escola de Mar e da Associação para as
Ciências do Mar (uma organização sem fins lucrativos que promove a
investigação do meio marinho, à qual Cristina Brito preside), decidiram
mergulhar na história e procurar respostas. Através do projecto
“Conservação e golfinhos no estuário do Tejo: realidade, imaginário ou
mito?”, vão tentar perceber se os golfinhos estão a voltar a uma antiga
área de residência ou se são visitantes ocasionais numa zona onde há
hoje mais comida disponível e melhor qualidade ambiental, em resultado
das intervenções ao nível do saneamento na área metropolitana de Lisboa.
Os avistamentos mais recentes são de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), da sub-espécie residente no estuário do Sado, e de golfinhos-comuns (Delphinus delphis), mais frequentes nas zonas costeiras. "Mas há registo de avistamentos até em Vila Franca de Xira", nota a bióloga. A especialista lembra que o número de avistamentos, que parece mais significativo nos últimos "dois ou três anos", pode estar simplesmente relacionado com uma maior atenção dada pela população e pelos próprios meios de comunicação a esta espécie.
Golfinhos toleram poluição
O objectivo, continua a investigadora, é “compilar os diversos registos [de observações] numa escala temporal e perceber se há um padrão que indique eles estão a voltar”. Se esse regresso se confirmar, depois é preciso saber o motivo: será a melhoria da qualidade da água, motivada pelas obras que permitiram, em Janeiro de 2011, deixar de lançar no rio os esgotos de 120 mil habitantes de Lisboa?
“Não é fácil relacionar directamente uma coisa com a outra”, adverte Cristina Brito. Isto porque os golfinhos não são uma espécie indicadora da qualidade da água – toleram facilmente sítios poluídos, já que acumulam a poluição na gordura corporal. No entanto, nota a bióloga, pode haver uma relação indirecta. “Num ecossistema com melhor qualidade há naturalmente mais peixes, o que atrai mais golfinhos.”
O estudo, que já começou no ano passado e deverá estar concluído no final de 2015, tem o apoio do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa. Mas os investigadores querem também envolver os municípios. As câmaras de Almada e Cascais vão apoiar financeiramente o projecto, as de Alcochete e do Seixal disponibilizam apoio logístico, e outros municípios que fazem fronteira com o maior estuário da Europa Ocidental serão ainda contactados.
A Câmara de Cascais explica que este apoio está inserido num “esforço” que a autarquia está a fazer desde 2008 com vista à caracterização e monitorização da zona costeira, através do programa Aquasig Cascais.
Durante a investigação, serão apresentadas conclusões provisórias em palestras e em actividades de sensibilização ambiental – outro dos objectivos do projecto.
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