Os Jogos da Lusofonia 2014 arrancaram este fim-de-semana, com Macau em alta representação – a delegação do território é a segunda maior, apenas ultrapassada pela de Goa, orgulhosa anfitriã. Na cerimónia de abertura, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, deixou elogios e manifestou satisfação por ver “o sonho de Goa concretizado”. Espera medalhas no wushu e no judo, mas teme os resultados dos desportos colectivos.
A 3ª edição dos Jogos da Lusofonia deu o pontapé de saída no sábado, em Goa, com uma cerimónia em grande estilo. Apesar das críticas à organização do evento, o estádio Fatorda, remodelado para os Jogos, esteve lotado e nas bancadas não faltou entusiasmo. A delegação de Macau entrou em sexto lugar no recinto, com uma comitiva largamente superior à maioria – mas ainda assim inferior à de Goa. Nas bancadas, de bandeira com a flor de lótus na mão, estavam personalidades conhecidas do território, como o secretário Cheong U e o presidente do Instituto do Desporto, José Tavares.
A chegada ao estádio Fatorda confirmou as suspeitas de desorganização que vinham a ser levantadas nos meses antecedentes ao evento. Às portas de Margão, onde o estádio está localizado, o trânsito já se revelava entupido e o acesso às portas de entrada teve de ser feito a pé, com os veículos privados a serem obrigados a ficar a mais de 500 metros de distância. Em torno do estádio ainda muita terra batida, pó, e falta de sinalização. Alguma confusão e estruturas de suporte deficitárias foram compensadas pelo staff solícito e simpático, do qual fazem parte cerca de dois mil voluntários.
Apesar de um entusiasmo moderado nas ruas, o estádio encheu as bancadas com cerca de 19 mil espectadores, que não pouparam nas palmas e nos assobios. A cerimónia arrancou, como não poderia deixar de ser, com fogo-de-artifício e música. Portugal foi a primeira das 12 equipas a entrar no recinto e Macau avançou em sexto lugar, com delegação, a segunda maior dos Jogos, a fazer-se notar. Nada, no entanto, comparável, à comitiva goesa, com 200 atletas, que recebeu uma ovação redobrada.
Ausentes estiveram a delegação do Brasil e da Guiné Equatorial, cujos atletas chegarão apenas nos próximos dias. O galo Jojo, a mascote dos Jogos, circulou pela arena, enquanto as equipas eram apresentadas em três línguas: português, inglês e concani, a língua franca de Goa.
Keshav Chandra, presidente-executivo do comité organizador dos Jogos da Lusofonia, fez um discurso, em português, sobre a importância de “mostrar ao mundo o desempenho, responsabilidade, profissionalismo e amor ao desporto” dos atletas em competição. “É a vossa oportunidade de fazer a diferença”, lançou aos cerca de 800 desportistas. E piscou o olho à questão da organização: “Estou feliz por partilhar convosco infra-estruturas de nível internacional”.
Para o secretário de Macau para os Assuntos Sociais e Cultura, há elogios a fazer, apesar de admitir fragilidades: “Sabemos que houve um pouco de dificuldade, até adiaram a data, mas o importante é que conseguiram resolver os problemas para ter o sonho de Goa concretizado. Não é nada fácil. Gostaria de dar os parabéns à organização de Goa”.
Cheong U, que no intervalo se juntou a alguns convidados ilustres para provar especialidades indianas como chamuças e quiches vegetarianas, lembrou que os Jogos da Lusofonia têm para Macau “um significado muito especial”. A realização da primeira edição implicou um largo investimento “para a criação de uma rede de equipamento e espaços desportivos de modo a atingir o nível, pelo menos, regional”.
Para o secretário, esse investimento teve frutos para o desporto na RAEM, com uma renovada cooperação comas associações locais para incentivar o chamado “desporto para todos”. “O Governo presta subsídio às escolas para abrirem o equipamento desportivo à população. Está a resultar bem”, defendeu. O Executivo continua também a trabalhar para resolver a falta de instalações desportivas, garantiu Cheong U. E deu um exemplo: “Uma notícia boa é que vai começar a funcionar já o novo campo [desportivo] da universidade da Taipa, com um campo de futebol, pista de atletismo e um pavilhão desportivo. Segundo a informação que a universidade transmitiu, vão tentar abri-lo, não só para a universidade mas também para população”.
Quanto ao desporto de competição, onde Macau tem ainda muito pouca expressão, o secretário é menos optimista. “Sabemos que não podemos investir em tudo. Temos de estabelecer uma estratégia adaptada a Macau. A natação, o wushu e o judo são modalidades que estão a começar a elevar o nível. Mas quanto à bola grande, o futebol e o basquetebol, é muito difícil”, admitiu.
Apesar das dificuldades, Cheong U está confiante que Macau conquistará medalhas no wushu e no judo. No entanto, “o mais importante”, diz, “é a oportunidade de os atletas terem um momento para mostrarem todo o esforço, [resultado] de tanto tempo de prática” e também a oportunidade “para fazerem amizade com os atletas de outros países”.
A geração que se segue
O optimismo de José Tavares era ainda superior ao de Cheong U. O presidente do Instituto do Desporto acredita que a prestação de Macau vai ser “muito melhor que na edição passada”, já que Macau veio para Goa “com uma comitiva em força”. “Penso que vamos ter mais medalhas. Penso que no wushu vamos levar quase as medalhas todas”, afirmou. A convicção não é abalada pelo facto de a equipa ser toda nova – de tal modo que não foi possível destacar um nome mais forte: “Posso garantir que têm capacidade de arrancar muitas medalhas. É a hora exacta de dar uma oportunidade para se estrearem nestas competições. O nosso campeão vai ter de se retirar, já tem 27 ou 28 anos”.
Tavares não ignora “uma certa desorganização” e admite a falta de espaço para treinos [ver entrevista na página ao lado], mas assegura que os atletas de Macau treinaram em casa de modo a compensar a falta de oportunidade em Goa. “Viemos mesmo à hora para não termos a preocupação dos treinos”, apontou.
“Penso que a desorganização tem que ver com o pouco espaço de tempo que tiveram para limar as arestas. Quando vim cá em Abril isto estava um caos e ninguém acreditava que podia receber os Jogos. Mas eu sabia que iam conseguir”, manifestou o dirigente. Apesar disso, “vê-se um grande empenhamento por parte da organização em todos os aspectos”, o que merece elogio, na opinião de Tavares.
Portugal prejudicado
Elogios foram também deixados pelo secretário de Estado do Desporto e Juventude português, Emídio Guerreiro. “Há um grande investimento, uma presença enorme nas ruas da cidade. Ao contrário do que podia ter transparecido, com os problemas do adiamento dos jogos, nota-se aqui um grande compromisso do Governo de Goa na realização destes jogos”, comentou. Guerreiro salientou as várias infra-estruturas erguidas especialmente para os Jogos – dois estádios totalmente renovados e quatro construídos de raiz. “Há muitas infra-estruturas novas, algumas ainda estão em fase de acabamento mas sente-se uma presença dos Jogos na cidade, o que é bastante positivo”, apontou.
Ainda assim, o atraso na realização do certame, que inicialmente se iria realizar em Novembro de 2013, prejudicou significativamente a participação portuguesa: “Não trazemos muitas das equipas que costumamos trazer. É evidente que esta mudança de calendário prejudicou a possibilidade de algumas equipas e alguns atletas estarem presentes. Mas temos uma boa representação e estamos expectantes que vamos vencer bastantes medalhas.
Guerreiro alertou ainda para a importância de uma calendarização cuidada: “Acho que para o futuro é preciso pensar em acomodar isto melhor com a própria realização dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Há uma confluência que penso que não é positiva do ponto de vista da coordenação e qualidade desportiva”.
A 3ª edição dos Jogos da Lusofonia deu o pontapé de saída no sábado, em Goa, com uma cerimónia em grande estilo. Apesar das críticas à organização do evento, o estádio Fatorda, remodelado para os Jogos, esteve lotado e nas bancadas não faltou entusiasmo. A delegação de Macau entrou em sexto lugar no recinto, com uma comitiva largamente superior à maioria – mas ainda assim inferior à de Goa. Nas bancadas, de bandeira com a flor de lótus na mão, estavam personalidades conhecidas do território, como o secretário Cheong U e o presidente do Instituto do Desporto, José Tavares.
A chegada ao estádio Fatorda confirmou as suspeitas de desorganização que vinham a ser levantadas nos meses antecedentes ao evento. Às portas de Margão, onde o estádio está localizado, o trânsito já se revelava entupido e o acesso às portas de entrada teve de ser feito a pé, com os veículos privados a serem obrigados a ficar a mais de 500 metros de distância. Em torno do estádio ainda muita terra batida, pó, e falta de sinalização. Alguma confusão e estruturas de suporte deficitárias foram compensadas pelo staff solícito e simpático, do qual fazem parte cerca de dois mil voluntários.
Apesar de um entusiasmo moderado nas ruas, o estádio encheu as bancadas com cerca de 19 mil espectadores, que não pouparam nas palmas e nos assobios. A cerimónia arrancou, como não poderia deixar de ser, com fogo-de-artifício e música. Portugal foi a primeira das 12 equipas a entrar no recinto e Macau avançou em sexto lugar, com delegação, a segunda maior dos Jogos, a fazer-se notar. Nada, no entanto, comparável, à comitiva goesa, com 200 atletas, que recebeu uma ovação redobrada.
Ausentes estiveram a delegação do Brasil e da Guiné Equatorial, cujos atletas chegarão apenas nos próximos dias. O galo Jojo, a mascote dos Jogos, circulou pela arena, enquanto as equipas eram apresentadas em três línguas: português, inglês e concani, a língua franca de Goa.
Keshav Chandra, presidente-executivo do comité organizador dos Jogos da Lusofonia, fez um discurso, em português, sobre a importância de “mostrar ao mundo o desempenho, responsabilidade, profissionalismo e amor ao desporto” dos atletas em competição. “É a vossa oportunidade de fazer a diferença”, lançou aos cerca de 800 desportistas. E piscou o olho à questão da organização: “Estou feliz por partilhar convosco infra-estruturas de nível internacional”.
Para o secretário de Macau para os Assuntos Sociais e Cultura, há elogios a fazer, apesar de admitir fragilidades: “Sabemos que houve um pouco de dificuldade, até adiaram a data, mas o importante é que conseguiram resolver os problemas para ter o sonho de Goa concretizado. Não é nada fácil. Gostaria de dar os parabéns à organização de Goa”.
Cheong U, que no intervalo se juntou a alguns convidados ilustres para provar especialidades indianas como chamuças e quiches vegetarianas, lembrou que os Jogos da Lusofonia têm para Macau “um significado muito especial”. A realização da primeira edição implicou um largo investimento “para a criação de uma rede de equipamento e espaços desportivos de modo a atingir o nível, pelo menos, regional”.
Para o secretário, esse investimento teve frutos para o desporto na RAEM, com uma renovada cooperação comas associações locais para incentivar o chamado “desporto para todos”. “O Governo presta subsídio às escolas para abrirem o equipamento desportivo à população. Está a resultar bem”, defendeu. O Executivo continua também a trabalhar para resolver a falta de instalações desportivas, garantiu Cheong U. E deu um exemplo: “Uma notícia boa é que vai começar a funcionar já o novo campo [desportivo] da universidade da Taipa, com um campo de futebol, pista de atletismo e um pavilhão desportivo. Segundo a informação que a universidade transmitiu, vão tentar abri-lo, não só para a universidade mas também para população”.
Quanto ao desporto de competição, onde Macau tem ainda muito pouca expressão, o secretário é menos optimista. “Sabemos que não podemos investir em tudo. Temos de estabelecer uma estratégia adaptada a Macau. A natação, o wushu e o judo são modalidades que estão a começar a elevar o nível. Mas quanto à bola grande, o futebol e o basquetebol, é muito difícil”, admitiu.
Apesar das dificuldades, Cheong U está confiante que Macau conquistará medalhas no wushu e no judo. No entanto, “o mais importante”, diz, “é a oportunidade de os atletas terem um momento para mostrarem todo o esforço, [resultado] de tanto tempo de prática” e também a oportunidade “para fazerem amizade com os atletas de outros países”.
A geração que se segue
O optimismo de José Tavares era ainda superior ao de Cheong U. O presidente do Instituto do Desporto acredita que a prestação de Macau vai ser “muito melhor que na edição passada”, já que Macau veio para Goa “com uma comitiva em força”. “Penso que vamos ter mais medalhas. Penso que no wushu vamos levar quase as medalhas todas”, afirmou. A convicção não é abalada pelo facto de a equipa ser toda nova – de tal modo que não foi possível destacar um nome mais forte: “Posso garantir que têm capacidade de arrancar muitas medalhas. É a hora exacta de dar uma oportunidade para se estrearem nestas competições. O nosso campeão vai ter de se retirar, já tem 27 ou 28 anos”.
Tavares não ignora “uma certa desorganização” e admite a falta de espaço para treinos [ver entrevista na página ao lado], mas assegura que os atletas de Macau treinaram em casa de modo a compensar a falta de oportunidade em Goa. “Viemos mesmo à hora para não termos a preocupação dos treinos”, apontou.
“Penso que a desorganização tem que ver com o pouco espaço de tempo que tiveram para limar as arestas. Quando vim cá em Abril isto estava um caos e ninguém acreditava que podia receber os Jogos. Mas eu sabia que iam conseguir”, manifestou o dirigente. Apesar disso, “vê-se um grande empenhamento por parte da organização em todos os aspectos”, o que merece elogio, na opinião de Tavares.
Portugal prejudicado
Elogios foram também deixados pelo secretário de Estado do Desporto e Juventude português, Emídio Guerreiro. “Há um grande investimento, uma presença enorme nas ruas da cidade. Ao contrário do que podia ter transparecido, com os problemas do adiamento dos jogos, nota-se aqui um grande compromisso do Governo de Goa na realização destes jogos”, comentou. Guerreiro salientou as várias infra-estruturas erguidas especialmente para os Jogos – dois estádios totalmente renovados e quatro construídos de raiz. “Há muitas infra-estruturas novas, algumas ainda estão em fase de acabamento mas sente-se uma presença dos Jogos na cidade, o que é bastante positivo”, apontou.
Ainda assim, o atraso na realização do certame, que inicialmente se iria realizar em Novembro de 2013, prejudicou significativamente a participação portuguesa: “Não trazemos muitas das equipas que costumamos trazer. É evidente que esta mudança de calendário prejudicou a possibilidade de algumas equipas e alguns atletas estarem presentes. Mas temos uma boa representação e estamos expectantes que vamos vencer bastantes medalhas.
Guerreiro alertou ainda para a importância de uma calendarização cuidada: “Acho que para o futuro é preciso pensar em acomodar isto melhor com a própria realização dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Há uma confluência que penso que não é positiva do ponto de vista da coordenação e qualidade desportiva”.
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