A Arábia Saudita é um dos países muçulmanos mais fundamentalistas e repressivos dos direitos humanos (sobretudo das mulheres) e da liberdade de expressão. Pura hipocrisia a participação do seu representante na manifestação de Paris.
Raif Badawi, co-fundador do site Rede Liberal Saudita, foi condenado a dez anos de prisão e 1000 chicotadas. As primeiras foram aplicadas numa praça pública
10/01/2015
Uma testemunha anónima contou à Associated Press que o co-fundador do site Rede Liberal Saudita, e laureado em 2014 com o prémio Repórteres sem Fronteiras, estava algemado mas com a cara descoberta. Foi transportado da prisão para o local, pouco depois de terem terminado as orações do meio-dia numa mesquita próxima. Cumpriu, assim, as primeiras 50 chicotadas por ter criticado o poder dos líderes religiosos na Arábia Saudita, no blogue que fundou com a activista dos direitos das mulheres Suad al-Shammari e onde defendeu o fim da influência da religião na vida pública daquele país.
Outra testemunha disse à Amnistia Internacional que a multidão se juntou em círculo. "Quem passava juntou-se e a multidão cresceu. Mas ninguém sabia porque é que Raif estava a ser castigado. Era um assassino? Um criminoso? Não reza?", perguntavam. Depois, "um polícia aproximou-se por trás e começou a bater-lhe. Raif levantou a cabeça em direcção ao céu, fechou os olhos. Estava em silêncio mas era visível pela expressão do rosto e movimento do corpo que estava a sofrer". O polícia bateu nas pernas e nas costas, contando até 50.
Activistas dos direitos humanos acreditam que as autoridades sauditas estão a utilizar Raef Badawi, pai de três filhos, como exemplo do que pode acontecer a quem ousa criticar o poder instalado. “Castigos físicos não são novidade na Arábia Saudita mas punir publicamente um activista pacífico que apenas manifestou as suas ideias é uma mensagem de intolerância horrível», criticou Sarah Leah Whitson, directora para o Médio Oriente e Norte de África da Human Rights Watch. A organização sedeada em Nova Iorque apelou ainda ao Rei Abdullah para anular a sentença e perdoar “imediatamente” o blogger.
O pedido também foi reforçado pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) que classificou a punição de “odiosa”. “Apesar de as autoridades sauditas terem, até aqui, ignorado os pedidos repetidos pelas organizações internacionais, a RSF afirma que vai continuar o seu combate para que este cidadão, que apenas abriu o debate público sobre a evolução da sociedade através do seu blogue, possa ser libertado rapidamente”, disse Lucie Morillon, uma das directoras da organização francesa.
Aliados próximos da Arábia Saudita, os Estados Unidos criticaram a “punição inumana” e pediram a anulação da sentença “brutal”. Apelaram ainda à “reavaliação do dossier de Badawi e da sua condenação”.
A União Europeia (UE) veio, igualmente, lamentar a flagelação, dizendo que as “punições físicas são inaceitáveis e contra a dignidade humana”. Um porta-voz da diplomacia da UE, citado pela AFP, reiterou a “forte oposição” de Bruxelas à sentença e apelou às autoridades sauditas de “suspender todas as punições a Badawi e a colocar um fim à utilização de flagelação”. Riade deve travar estas "sentenças violentas no contexto da reforma judicial" em curso, e que “abre a possibilidade de melhorar a protecção dos direitos individuais”, indica a mesma fonte.
Em 2013, Badwi foi condenado a sete anos de prisão e 600 chicotadas mas depois de um recurso o juiz agravou o castigo. A mulher e os filhos vivem no Canadá, para onde foram viver logo após a detenção.
O co-fundador da Rede Liberal Saudita foi acusado de criticar a política religiosa e já tinha sito acusado de renúncia à fé, crime que pode levar à pena de morte. As autoridades desistiram desta acusação mas detiveram Badwi, em 2012, na altura com 35 anos.
Notícia corrigida às 07h14 de 11 de Janeiro de 2015: Altera número de chicotadas a que Raif Badawi foi condenado, de 600 para 1000.
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