CONTINUAÇÃO DA NARRATIVA DA RESTAURAÇÃO
No período que antecedeu a revolução de 1640, os conjurados desesperavam com as hesitações de D. João, o duque de Bragança, em aceitar a coroa e chegaram a ameaça-lo com a escolha do irmão, D. Duarte, ou até com a implantação da República. Assim o relata D. Álvaro de Abranches a D. Francisco Manuel de Melo, quando o visita na prisão:
«– Dom Duarte de Bragança partilhara da aversão de seu pai ao domínio castelhano, tendo recusado a mão de Dona Maria de Guzmán, a filha do valido, que lhe tomou grande ódio. Exercia grande influência sobre o irmão mais velho e opôs-se ao seu casamento com “uma parenta do Olivares”. Por isso, Dona Luísa não morria de amores pelo cunhado, temendo que o seu Império sobre Dom João fosse maior que o dela. Um desamor agravado com o desrespeito que ele lhe mostrou ao ter conversação pecaminosa com uma das suas açafatas, pelo que forçou o marido a dar casa própria aos cunhados, fora do paço de Vila Viçosa. O Infante morou durante algum tempo com o irmão mais novo, Dom Alexandre, numa quinta cedida por Francisco de Lucena, mas o desejo de buscar fortuna levou-o a partir para Madrid, em 1634, acompanhado de Francisco de Sousa Coutinho…
– O mais célebre político e diplomático do nosso tempo – interrompo eu, pois nunca é tarde para se fazer justiça e elogiar a quem é merecedor.
– Sem dúvida! Era já o homem de maior confiança do duque Dom João, que o enviou com o cargo de aposentador-mor do seu irmão, para acomodar os sessenta criados, a livraria, o guarda-roupa, a repostaria, a cozinha, a coudelaria e a escrivaninha, entre outros serviços, com créditos abertos nas maiores cidades de Alemanha, Itália, e França.
«Talvez esperasse grandes mercês de Dom Filipe, por ser quem era, ou de uma recomendação para Fernando II, Imperador do Sacro Império e Rei da Hungria, mas nem sequer foi recebido em audiência pelo rei, como era devido a um Grande de Portugal. Sentindo-se pouco estimado e nada favorecido, seguiu para a Alemanha.
Quanto às hesitações do duque Dom João, de que falávamos há pouco, após nova visita, e já no auge da desesperação, Pêro de Mendonça atreveu-se mesmo a dizer-lhe que, se o irmão também declinasse a honra e o dever de ser Rei de Portugal, talvez os conjurados não tivessem outro remédio senão a substituir a monarquia por uma república, ao modo de Holanda ou Veneza.
«– Se nós proclamarmos a República, que partido tomará Vossa Excelência, o de Espanha ou o de Portugal? – perguntou-lhe, olhos nos olhos.
– O da Pátria, Pêro de Mendonça! – respondeu Dom João de imediato, dando novas esperanças aos patriotas que decidiram agir.».
(«1640» - Deana Barroqueiro)
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