Quando o Museu do Prado faz anos, a festa é também da rainha portuguesa que o criou: Isabel de Bragança teve uma vida curta e muito infeliz, mas isso não a impediu de criar uma das melhores pinacotecas do mundo.
(Edição Público Porto19 Nov 2019 Artes - Lucinda Canelas)Nada mais apropriado do que o museu que deve em boa parte a sua existência a uma mulher celebre o dia exacto do seu 200.º aniversário com uma das suas principais exposições dedicada a duas pintoras, coisa inédita na sua história. Falamos do Museu do Prado, em Madrid, da rainha que o fundou, a portuguesa Isabel de Bragança, e de Sofonisba Anguissola e Lavinia Fontana, duas artistas italianas dos séculos XVI e XVII. Francisco de Goya também lá está (e por direito), numa exposição saída de um projecto mais vasto para o novo catálogo raisonné dos seus desenhos ( fica até 16 de Fevereiro).
Estas são praticamente as últimas propostas de um intenso ano de festa marcado por conferências, restauros e exposições, com destaque para a de Fra Angelico e a que juntou Velázquez, Rembrandt e Vermeer. Foi há precisamente 200 anos que uma colecção destinada à esfera da corte se transformou num importante instrumento de democratização da arte, embrião daquela que viria a ser uma das melhores pinacotecas do mundo, hoje visitada por três milhões de pessoas por ano.
Na sua génese está uma princesa portuguesa, Isabel de Bragança (1797-1818), a primeira de nove fi lhos de um casal eternamente desavindo, o rei D. João VI e D. Carlota Joaquina. Para reforçar as alianças entre Portugal e Espanha, a infanta viria a tornar-se mulher de um dos seus tios maternos em 1816. Fernando VII tinha, então, 31 anos, Isabel apenas 19. Pouco tempo depois, engravidou da sua primeira filha, que morreu aos cinco meses, tornando ainda mais difícil a sua vida na capital espanhola. O marido, de “gesto antipático” e “modos camponeses”, conta Marsilio Cassotti no livro Infantas de Portugal, Rainhas em Espanha, desprezava-a. (Jornal Público)
Embora não fosse feliz no casamento, Isabel terá conseguido levar Fernando VII a investir na criação de um museu, com as centenas de obras que encontrou armazenadas no Mosteiro do Escorial , convencendo o marido a recuperar o degradado edifício do Gabinete de História Natural. Isabel conseguiu o seu intento, mas morreu do seu segundo parto em 1818, um ano antes da inauguração do seu museu.
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