21/12/2020

CRÍTICA DE GASTRONOMIA NO FUGAS (PÚBLICO)

 Sugestão de oferta para o Natal, da crítica de Gastronomia, Alexandra Prado Coelho,




CRÍTICA DO GASTRÓNOMO FORTUNATO DA CÂMARA NA REVISTA DO EXPRESSO

Colheita gastroliterária de 2020: este é um dos quatro grandes livros de gastronomia do ano

<<O lote de letras gastronómicas deste ano faz-se de quatro castas: literatura, investigação, antropologia e ciência>>

TEXTOS FORTUNATO DA CÂMARA 

 Quem somos e do que é que gostamos enquanto seres humanos? Como é que as receitas que julgamos serem ‘as de sempre’ nos moldaram a cozinha dita tradicional? Ou porque é que temos a ameixa de Elvas como um património alimentar, ainda que saibamos pouco acerca da sua origem, e as algas nos pareçam tão distantes sendo um alimento quase omnipresente na costa portuguesa? Há perguntas que se calhar nunca fizemos até as vermos formuladas, mas é bom saber que há livros que as tentam esclarecer. O vírus estará mais longe de quem estiver sentado no recolhimento da sua casa, de mente curiosa e a ler um livro com as mãos a exalarem perfume a álcool-gel... A sugestão que se segue talvez funcione como ‘retroviral’.

 UMA FESTA SEDUTORA DE PALAVRAS SABOREADAS 

O calibre literário da primeira sugestão está intimamente ligado ao percurso da sua autora. Deana Barroqueiro tem um percurso sólido enquanto escritora de romances históricos, e agora com o lançamento desta “História dos Paladares” acrescenta requinte gustativo à sua prosa literária. A obra de fôlego, que ultrapassa as 460 páginas, divide-se em onze capítulos numa ordenação incomum onde se agrupam paladares: Lêvedos / Fintos / Alentadores (Capítulo II); Doces / Melosos / Sacarinos (Capítulo VI); Cremosos / Coalhados / Bolorentos (Capítulo X), só para citar alguns exemplos. O que se verifica é que a autora detalha com humor e deleite um miríade de ‘paladares’ alinhados ao longo da história, baseada numa extensa lista bibliográfica de fontes que surgem no final da obra. 

As centenas de textos de pequena e média dimensão vão desfilando intercalados com inúmeras receitas, algumas oriundas de livros conhecidos, sendo outras de recolha livre e popular. O alinhamento dos conteúdos assemelha-se a vórtice informativo que nos impede de interromper a leitura, numa espécie de festim de saberes e sabores que não queremos que termine. Nos subtítulos ora surgem citações de autores célebres ou ditados de cariz popular, muitas vezes num registo bem-humorado. 

Algumas rubricas como “Uma História de Pasmar” ou “História da Nossa História” são recorrentes e funcionam como um complemento a um dos ‘paladares’ que está a ser dissecado. Uma dessas histórias de pasmar, como a própria autora a classifica, é “o azeite Herculano” que o escritor Alexandre Herculano produzia na sua quinta em Santarém, e que acabaria por ser premiado em certames internacionais, a ponto de ser alvo da cobiça pela qualidade que tinha. Segundo conta a autora, a empresa Jerónimo Martins & Filho Lda. chegou a falsificar azeite Herculano, comprando depois os direitos de comercialização do azeite ao escritor. 

 É de um grande banquete gastronómico, repleto de referências históricas, com várias culturas e épocas em pano de fundo que trata esta “História dos Paladares”. Sob a égide da “Sedução”, pois é nesse domínio envolvente que os temas são tratados ao longo da obra, Deana Barroqueiro seduz o leitor a percorrer de forma incessante este seu anunciado Volume I. Quanto ao segundo tomo, que irá ser regido sob a égide da “Perdição”, a autora promete estabelecer a relação entre a gastronomia e as artes. De momento este faustoso repasto de conhecimento promete saciar a curiosidade de muitos.



09/12/2020

Encuentro con Deana Barroqueiro - 1er. Encuentro Virtual de Escritores L...

Fui convidada para representar Portugal neste Encontro de Escritores Lusófonos, Virtual, devido à Pandemia. Aqui fica a entrevista

02/12/2020

1º ENCONTRO VIRTUAL DE ESCRITORES LUSÓFONOS NA VENEZUELA

DE 8 A 12 DE DEZEMBRO

DEANA BARROQUEIRO REPRESENTA PORTUGAL

 DIA 8 DE DEZEMBRO, ÀS 21 HORAS  

No próximo dia 8, terça-feira, Deana Barroqueiro participa, como representante de Portugal, no 1º Encontro Virtual de Escritores Lusófonos, promovido pelo Instituto Camões e pela Embaixada de Portugal, na Venezuela, o qual vai decorrer de 8 a 12 de Dezembro, pelas redes da Coordenação para o Ensino da Língua Portuguesa na Venezuela. 

As entrevistas dos escritores serão transmitidas por YouTube: 

Coordenação de Ensino Português no Estrangeiro 
Vzla Facebook: Cepe Vzla Instagram: @cepe.vzla 
E pelas redes do Correio da Venezuela

26/11/2020

1640 - UM RETRATO DA RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL

 


A poucos dias do 380º Aniversário da Restauração da Independência Portuguesa  do domínio espanhol

No romance «1640», ao escolher para guias do leitor, quatro dos maiores mestres e cultores da língua portuguesa, fui forçada a meter-me na pele (ou a meter sob a minha pele) o épico Brás Garcia de Mascarenhas, a poetisa lírica Soror Violante do Céu, o maior prosador ibérico seiscentista D. Francisco Manuel de Melo e o pregador António Vieira, que deslumbrava pelo virtuosismo da expressão. Quatro narrações feitas em 1ª pessoa, que constituíram, para a escritora, um tremendo desafio, mas também um prazer sem limites.

 O romance está construído como um puzzle ou uma teia de intertextualidades documentais, geográficas, literárias, filosóficas, religiosas, sociais e culturais, para envolver o leitor, de modo a que ele possa sentir o prazer estético da leitura, aprofundando em simultâneo o seu conhecimento da época em que decorre a acção. No século XVI, passada a euforia da grande odisseia dos descobrimentos de outros mundos até então encobertos aos europeus, a crise endémica portuguesa, provocada pelos problemas políticos, económicos e sociais, vai culminar no desastre de Alcácer-Quibir e na posterior anexação de Portugal por Espanha. 

O romance 1640 reflecte esses tempos de crise e da vida problemática das suas gentes. Sendo obra de ficção, tem como principal objectivo o prazer estético da leitura, por isso o escritor frui de uma liberdade criativa que é negada ao historiador; contudo, enquanto género histórico, o romance exige uma componente de informação e conhecimento da História que o distingue e singulariza em relação a todos os outros tipos de romance. O que, para ser feito com honestidade intelectual e respeito pelo leitor, implica da parte do seu autor um estudo de alguns anos, não só dos factos narrados, mas sobretudo da sua contextualização, nos múltiplos aspectos de cada época e da mentalidade dos seus actantes.  

O desastre de Alcácer-Quibir (com que termina o meu romance D. Sebastião e o Vidente), a crise dinástica, a guerra civil e a anexação do reino por Filipe II de Espanha, numa pretensa União Ibérica, são os antecedentes do romance 1640, em que Portugal foi arrastado para os conflitos do Império espanhol, em particular, da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), uma das mais destrutivas da Europa. A fim de alimentar a guerra em várias frentes, Filipe IV de Espanha e o conde-duque de Olivares, fazendo tábua-rasa dos acordos sobre a autonomia de Portugal, esgotaram os seus recursos humanos e materiais, destruindo a economia e esmagando o povo com impostos, que eram aplicados não em benefício dos portugueses mas dos espanhóis, transformando o reino numa das mais pobres províncias da Península Ibérica. Olivares contou com os serviços de funcionários portugueses submissos e interesseiros, como Diogo Soares, em Madrid, e Miguel de Vasconcelos, em Lisboa, os bons alunos do Ministro estrangeiro, que não só obedeceram às suas directrizes, como foram mais longe na imposição de sacrifícios aos seus compatriotas, reduzindo-os à miséria e à fome. Ao estudar a crise social, económica e política de Portugal, nos textos deste período, foi possível estabelecer um paralelismo entre este triunvirato de governantes seiscentistas e a Troika que nos veio governar, em 2011, imposta pelo FMI/instituições europeias, com os seus nefastos resultados. 

Nestes períodos de crise, Portugal procurou uma panaceia ou incentivo contra o pessimismo e a estagnação do país, na afirmação da sua nacionalidade e identidade colectiva. E nada melhor para valorizar a nação do que atribuir-lhe origens divinas ou tão antigas, que remontassem a um tempo anterior à sua criação, legitimando-a. Assim, como princípio fundador, mais remoto, surge a identificação de Portugal com a Lusitânia e dos portugueses com os Lusos ou Lusitanos, e consequente apropriação do herói Viriato e da sua luta pela autonomia do território, como matriz e origem histórica de Portugal, uma tese veiculada e exaltada pela Literatura, com expressão máxima nos Lusíadas, de Luís de Camões, no século XVI, e no Viriato Trágico, de Brás Garcia Mascarenhas, no XVII. 

A reforçar essa legitimidade, uma tese posterior vai atribuir origem divina à fundação do reino de Portugal, por D. Afonso Henriques, sacralizada, em 1139, pelo milagre de Ourique, na sua anunciada visão de Cristo crucificado a prometer-lhe a vitória contra os cinco reis mouros. Um milagre que o consagra rei, em pleno campo de batalha, e que será descrito em futuras crónicas, servindo de argumento para a sua legitimação pelo papa. 

Sobrepondo-se à valorização política dos dois princípios fundadores, coexistiam três crenças messiânicas, que indicavam 1666 como o annus mirabilis: a dos judeus e cristãos-novos para a vinda do seu Messias; a dos sebastianistas para o regresso d’El-Rei Dom Sebastião; e a dos milenários à espera da destruição do Turco e da instauração de um Quinto Império, cristão e universal, que Bandarra mencionava nas suas Trovas. O povo oprimido começou a ansiar pelo regresso do rei D. Sebastião, desaparecido sem deixar rasto no campo de batalha e identificado com o Encoberto das profecias do sapateiro santo. Uma crença que foi crescendo, cada vez mais forte, durante o domínio dos três Filipes, alimentando a esperança do povo português na sua libertação. Padre António Vieira defenderá a deia do Quinto Império, o Império de Cristo, para um período de mil anos, que terá Portugal como guia, quando todos os pagãos, judeus e muçulmanos forem convertidos ao catolicismo, o reino do Deus único e verdadeiro. 

O romance 1640, apoiado em inúmeras fontes documentais coevas e actuais, procura fazer um retrato verosímil do Portugal seiscentista, dos seus conflitos internos e das suas difíceis relações internacionais, numa luta pela sobrevivência como nação independente. A acção decorre num período de cinquenta anos (1617-1667), riquíssimo em acontecimentos, dramas e personagens. No dia 1 de Dezembro de 1640, os portugueses dos três Estados – povo, clero e nobreza – soltaram o grito de liberdade e tomaram o destino do país nas suas mãos, iniciando uma intensa luta para sair da crise pelos seus próprios meios, num Portugal esgotado e acossado por nações inimigas – a Espanha e as suas aliadas –, mas também pelas «amigas», como a Inglaterra e a França, que impuseram condições esmagadoras em troca da sua ajuda. Tal como nos nossos dias.

 A estrutura formal da obra foi inspirada na Corte na Aldeia, de Francisco Rodrigues Lobo, que, ao estilo da época barroca e em total sintonia com a intriga, recorre aos Diálogos entre várias personagens que discutem, comentam e problematizam os assuntos mais variados, introduzindo os capítulos narrativos dos sucessos que mais os marcaram, preocuparam ou divertiram. Durante a dominação filipina, os reis e a Corte residiam em Madrid, centro de acção e decisão sobre todos os assuntos do Império Espanhol e das suas relações com o mundo, mas também um lugar privilegiado de criação e promoção de progresso, cultura e entretenimento. Lisboa, a antiga residência da dinastia de Avis, perdeu assim o seu estatuto de Corte régia, transformando-se em mera capital de província. Cansada de correr para Espanha, a mendigar mercês, parte da nobreza de Portugal retirou-se para os seus domínios, no campo, onde fez florescer as «cortes de aldeia», que procuravam imitar, segundo o estatuto e as posses dos seus senhores, as Cortes régias, com mecenato a escritores, músicos e outros artistas. A mais fulgurante, em dimensão e importância, foi a dos duques de Bragança, em Vila Viçosa, cujo cerimonial cortês era idêntico ao de Madrid. Uma mentalidade barroca que, segundo Vitorino Magalhães Godinho, “anseia pelo fausto e pela exibição, nos círculos nobres como nos religiosos – uma religião de exuberância decorativa, aquietando-se nos ritos de subterrâneas inquietações, satisfazendo-se na exterioridade de uma insatisfeita interioridade”. Assim, nas cidades, essa função cultural e intelectual é assumida nos conventos pelas freiras, cultas e de nobre ascendência, alguns célebres quer pelos seus Outeiros (representações teatrais, concertos musicais, saraus de poesia e produção literária), quer pelos escândalos de cariz licencioso das suas religiosas. 

Na primeira parte do romance, o narrador é o poeta Brás Garcia de Mascarenhas, autor do Viriato Trágico, a grande epopeia seiscentista cujo herói é o pastor dos Montes Hermínios, com a sua luta contra os romanos, que simboliza a revolta dos portugueses contra a ocupação espanhola. Brás é a personagem de maior relevância, embora desconhecida dos portugueses, que pretendi resgatar ao limbo do esquecimento, restituindo-a a um merecido lugar entre os maiores vultos da cultura portuguesa. Nascido em Avô, amante traído, proscrito e aventureiro, Brás vai conduzir o leitor pelo dédalo de sucessos anteriores à Restauração, como as guerras do Brasil contra os holandeses, a sua amizade com António Vieira, as experiências com os índios e a sua complexa vida amorosa. 

Na segunda parte, guia-o Soror Violante do Céu, desde o convento da Rosa, em Lisboa. Cultora do conceptismo e cultismo, tanto na poesia de temática religiosa como na de cariz secular/erótico. Celebrada pelos seus contemporâneos, como a Décima Musa e a Fénix dos Engenhos Portugueses, dará a conhecer a situação e vida das mulheres de seiscentos, enclausuradas sem vocação nos conventos, algumas desde a infância, uma prisão que, paradoxalmente, era para muitas uma libertação da tirania masculina castradora, permitindo-lhes estudar e exercer os seus talentos de artistas, letradas ou cientistas, o que de outro modo lhes era vedado pelos homens, sob o pretexto de serem intelectualmente inferiores. 

Na terceira parte, os conflitos de ordem militar serão relatados por D. Francisco Manuel de Melo, o grande prosador e poeta do século. Na prisão da Torre, este Fidalgo de Dom, aparentado com a Casa de Bragança, militar e marinheiro, foi vítima de uma Justiça corrupta (um traço comum às quatro personagens) que o condenou a doze anos de prisão e ao exílio no Brasil. O seu testemunho permite tomar conhecimento da intrincada rede de conspirações, espionagem e traições com que Portugal e D. João IV se debateram para ganhar a liberdade. 

Na quarta parte, o leitor é levado pelas palavras e reflexões do jesuíta António Vieira, o mais brilhante pensador e pregador de todos os tempos, que o guiará pelos meandros da diplomacia nacional e internacional, em que D. João IV se vai empenhar num dificílimo jogo de custosas alianças, para que Portugal possa recuperar o seu estatuto de nação independente. No cárcere da Inquisição, entre 1663 e 1667, ano em que termina o romance, Padre António Vieira, relembrando a sua vida passada, dará conta dos mais significativos sucessos em que participou até à crise política interna, do reinado de D. Afonso VI. 

A complexidade do assunto a tratar implicou o estudo de uma infinidade de temas, porque só no cruzamento de saberes se pode alcançar o multifacetado conhecimento de uma época, um trabalho que se arrastou por treze anos de investigação, embora alternando a sua escrita com a da trilogia dos Descobrimentos. 1640 é uma data fulcral da nossa História, que mudou o destino da nação, pois, sem a Restauração, Portugal não seria o mesmo e talvez não passássemos hoje de uma pobre província espanhola, a falar um dialecto e a sonhar com a independência, como a Catalunha, cuja revolta ajudou então à nossa libertação. Assim como, sem a Expansão Marítima Portuguesa, ou seja, sem os Descobrimentos portugueses dos séculos XV e XVI, os países da Lusofonia não existiriam como tal, nem falariam a Língua Portuguesa em todos os seus ricos matizes e este Colóquio não teria razão para existir. Deo gratias, por isso não ter acontecido.

Trabalhar a nossa língua em todos os seus registos é um prazer divino e a maior motivação da minha escrita. «1640», o meu último romance, levou esse exercício mais longe do que me permiti sonhar. Amo este país e a sua cultura por isso só escrevo romances históricos de temática nacional, a partir das histórias daqueles que souberam criar, desenvolver e manusear a nossa língua com infinita mestria e originalidade, de que nós hoje somos fracos herdeiros. Na minha trilogia dos Descobrimentos – O Navegador da Passagem, O Espião de D. João II e O Corsário dos Sete Mares – recorri ao estilo e linguagem dos cronistas dos séculos XV e XVI, em que a língua ainda se encontrava em processo de desenvolvimento, transbordante de criatividade; em D. Sebastião e o Vidente, mas, sobretudo, no «1640», que aqui venho apresentar, pude gozar com toda a plenitude a volúpia da Língua Portuguesa, que atingiu as maiores alturas no século XVII. 

17/11/2020

História dos Paladares - Crítica gastronómica

 pelo  Prof. Virgílio Nogueiro Gomes

História dos Paladares - Sedução 

 «Surgiu-me, inesperadamente, este volumoso livro que foi uma leitura agradável durante a semana passada. Não conhecia a autora, e talvez por isso, dediquei-lhe uma atenção especial. Este é o primeiro volume de “História dos Paladares” com o subtítulo “Sedução”. Do Prefácio transcrevo: 

A erudição muitas vezes tolhe o espírito, pois provoca sobrecargas incontroláveis. Felizmente, Deana Barroqueiro é uma sábia fecunda que, depois de décadas de uma vida profissional dedicada aos alunos e a uma cidadania activa, prossegue essa mesma dedicação à grei oferecendo-nos pedaços da sua sabedoria. … A melhor forma de agradecermos a sua generosidade é lermos o seu texto para nos enriquecermos… 

Só isto bastaria para definir a autora! 

O livro tem onze capítulos e a estrutura que lhe arquitectei nada tem de convencional, na pena da própria autora. Ora esta forma de organizar o livro é uma das atracções da obra. Mas primeiro, antes dos capítulos anunciados, tem um conjunto de textos aos quais chama “História do Paladar”: No princípio era o gosto…; Paladares Planetários; Paladares Míticos; Paladares Primordiais; Paladares Ancestrais; Paladares Mediterrânicos; Paladares Científicos e Paladares Certificados. Seguem-se agora os onze capítulos que não irei anunciar, pois são 488 páginas de puro prazer de leitura e aprendizado. 

Quem gosta de entender a história da alimentação através de receitas tem duzentas e cinquenta para se distrair e comer, com a vantagem de dispor no final de um índice alfabético. Estas receitas estão integradas nos textos como que a ilustrá-los. E as histórias vêm desde as tradições populares à cozinha mais requintada. Trabalhadas com o mesmo nível para o conhecimento e ambas integradas nos conceitos de que a alimentação é, de facto, Património Imaterial da Humanidade. 

Surpreendente este livro com uma escrita clara e compreensível, e que revela o estudo e grande critério de investigação da autora, a quem envio os meus Parabéns. Se já temos o primeiro volume, lido com muito entusiasmo, o segundo “Perdição” já nos abre o apetite e apetece perguntar quando o teremos. 

Este é um livro que seguramente recomendarei aos meus alunos. 

© Virgílio Nogueiro Gomes

Título: História dos Paladares - Sedução 

Autor: Deana Barroqueiro 

Editora: PRIME Books 

ISBN: 9789896554293 

VIRGILIOGOMES.COM História dos Paladares - Sedução 
Compra através da Editora PRIME BOOKS  ou nas livrarias

15/11/2020

História dos Paladares, de Deana Barroqueirto

CARLOS FIOLHAIS 
13/11/2020 14:35
Jornal i

A História dos Paladares apresenta a história da alimentação em Portugal e no mundo, com grande foco em Portugal e nas suas interações alimentares com o resto do mundo. 

 Deana Barroqueiro (New Haven, 1945) é uma romancista portuguesa, oriunda de uma família da Murtosa que emigrou para os Estados Unidos. Cursou Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo feito parte do grupo de teatro onde pontificaram Maria do Céu Guerra, Jorge de Silva Melo e Luís Miguel Cintra. Foi por genuína vocação professora de Português na Escola Passos Manuel, em Lisboa, o mais antigo liceu português, onde desenvolveu vários trabalhos pedagógicos relacionados com os Descobrimentos, encontrando-se hoje na situação de reforma. Na literatura portuguesa, preferindo os séculos XVI a XVII, tem dado livre curso à sua paixão por contar algumas das histórias desse tempo, embebendo-as numa trama ficcional. 

 Começou por escrever romances históricos juvenis: são sete os seus livros da colecção “Cruzeiro do Sul”, da Livros Horizonte, dos quais o primeiro foi Uraçá: O índio branco (2002). Publicou depois contos e romances inspirados na Bíblia, enfatizando as figuras femininas: Contos Eróticos do Velho Testamento, com prefácio de Maria Teresa Horta (Livros Horizonte, 2003; reedição: Planeta Manuscrito, 2018), publicado em Espanha, Itália e Brasil; Novos Contos Eróticos do Antigo Testamento (Livros Horizonte, 2004); e O Romance da Bíblia: Um olhar feminino do Antigo Testamento (Ésquilo, 2012; reedição: Tentação da Serpente, Ésquilo, 2012). 
Abalançou-se depois a romances históricos de grande fôlego. Uma das linhas que cultivou diz respeito à expansão portuguesa: O Navegador da Passagem: A história de um descobridor de mundos que o mundo ignorou (Porto Editora, 2008); O Espião de D. João ii: Na demanda dos segredos do Oriente e do misterioso Reino do Preste João (Ésquilo, 2009; reedição: Casa das Letras, 2015); e O Corsário dos Sete Mares: Fernão Mendes Pinto (Casa das Letras, 2012) 
Numa outra linha, focou a crise da independência nacional: D. Sebastião e o Vidente: Um romance de conspiração, mistério e revelação (Porto Editora, 2006; reedição: Casa das Letras, 2016), que recebeu o Prémio Máxima de Literatura 2007 - Prémio especial do júri e se tornou um best-seller; e 1640. O poeta, a professa, o prosador, o pregador (Casa das Letras, 2017), onde entra o Padre António Vieira. 

Tenho entre mãos a sua primeira obra de não ficção, História dos Paladares, Vol. I,  Sedução (Prime Books, 2020). É um volume enorme, de 486 páginas, aproximadamente o mesmo tamanho dos seus romances históricos. Está prometido para breve o Vol. ii, com o subtítulo Perdição, que incidirá sobre a relação da gastronomia com o cinema, a moda, a religião, etc. A História dos Paladares apresenta a história da alimentação em Portugal e no mundo, com grande foco em Portugal e nas suas interacções alimentares com o resto do mundo. Inclui mais de 250 receitas de época. 

 A minha primeira impressão quando comecei a folhear o livro foi o atraente design: seduz desde logo a capa, baseada num quadro de Pieter Bruegel. Mas o que mais me impressionou foi a quantidade e a qualidade da informação do livro. O índice elenca os 11 capítulos do livro após o prefácio do historiador João Paulo Oliveira e Costa, da Universidade Nova de Lisboa (também ele autor de romances históricos de grande circulação) e de uma Carta ao Leitor, assinada pela autora. As divisões foram feitas pelo tipo de paladares, devidamente adjetivados: I Elementais/ Tradicionais/ Orais; II Lêvedos/ Fintos/ Alentadores; III Viscerais/ Sanguinosos/ Telúricos; IV Silvestres/ Bravios/ Monteses; V Salgados/ Marinhos/ Curados; VI Doces/ Melosos/ Sacarinos; VII Amaros/ Amargos/ Amargosos; VIII Acres/ Ácidos/ Acerbos; IX Espirituosos/ Encorpados/ Alcoólatras; X Cremosos/ Coalhados/ Bolorentos; e XI Aromáticos/ Pungentes/ Ardentes. 

O prefaciador chama à obra “suculenta.” E acrescenta: “Viajamos pelo tempo, mas também pelo mundo, fruto das aventuras ultramarinas dos povos mediterrâneos e depois dos portugueses e dos seus seguidores da Europa do Norte”. Não poupa nos encómios: “Entenda o leitor que tem em mãos um depósito de sabedoria rara. Um livro deste tipo corresponde à sedimentação de conhecimentos variados que só podem ser expressos por uma pessoa ao cabo de uma vida longa; nenhum jovem tem arcaboiço para compilar e apresentar de modo claro e inteligível tamanha informação”. 

 O propósito da obra está bem expresso na Carta ao Leitor: “A estrutura que arquitectei nada tem de convencional. Porque a minha intenção foi, sobretudo, articular a história com os diversos ramos da cultura, ciência e civilização universais (dando particular relevo a Portugal), através de anedotas, acontecimentos e personalidades mais relevantes para a evolução do paladar e da gastronomia, desde a Idade da Pedra aos nossos dias”. Mais adiante, a autora fala das camarinhas que apanhava nas dunas de Aveiro, da arte da xávega em São Jacinto e dos doces da ria aveirense (ovos-moles e pão-de-ló de Ovar). Ficamos emocionados ao saber da “sopa de pedra” que fazia em criança para as suas amigas que, ao contrário dela, passavam fome. Ficamos a saber que quando, aos sete anos, veio morar para Lisboa, ganhou o gosto pela culinária: “Sentia-me como uma aprendiz de feiticeira que, por artes mágicas, de uma colher de pau ou de um batedor de claras, empunhados pela minha mão, podia criar iguarias perfumadas e saborosas que, ante os meus olhos, e pela força alquímica do fogo, ganhavam vida própria a partir da mistura de matérias inertes e comezinhas, como água, farinha e ovos e açúcar. Ganhei a minha coroa de glória, aos 12 anos, com uns coscorões dourados e estaladiços para a ceia de Natal”. Por via do marido, que é professor de Física Nuclear na Universidade de Lisboa, descobriu a extraordinária cozinha de Beira Baixa (declaração de interesses: conheço o simpático casal, mas comprei o livro!). O livro é, para ela, um “contributo para preservação da memória do nosso riquíssimo património gastronómico.” E é - digo eu - um grande contributo!

 Em cada capítulo, a Deana, que escreve muito bem, vai saltando entre paladares do mesmo tipo, não se importando nem com a ordem cronológica nem com a ordem geográfica, pois uns sabores evocam outros. O texto é cortado por “histórias de pasmar,” citações e receitas. No capítulo dos “Elementais”, aprendi que o livro de receitas mais antigo são três tabuletas de argila da Suméria, de há 4 mil anos, que contêm mais de duas dúzias de pratos (no livro está a receita do “caldo vermelho”). Outros pratos desse capítulo são a sopa de peixe à moda do rei Wamba, um rei visigodo do séc. vii, de Vila Velha de Ródão, e a galinha mourisca do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria, o mais antigo livro de cozinha português (séc. xv). No capítulo “Lêvedos” aprendi como foi inventada a piza Margherita no século xix, em Itália, e como se faz o bolo do caco, da ilha da Madeira. No capítulo dos “Viscerais” aprendi como se preparam as papas de sarrabulho, do Minho, e o cozido à portuguesa segundo o gastrónomo Olleboma (António Maria de Oliveira Bello, o autor de Culinária Portuguesa, 1928). No capítulo “Silvestres” fiquei a saber como se faz a feijoada de lebre, um sabor feudal, e o leitão assado, um sabor setecentista da Bairrada. No capítulo dos “Salgados” inteirei-me da confeção da caldeirada de enguias, tão típica da Murtosa, e das choras de bacalhau, uma sopa de arroz e caras de bacalhau comida pelos pescadores da Terra Nova. No capítulo dos “Doces” vi como era feito o manjar-branco do referido Livro de Cozinha e os pastéis de nata de Macau, introduzidos na Ásia por um espião inglês. No capítulo dos “Amaros” vem o pudim de chá, uma influência oriental, e o bolo-rei de Olleboma. No capítulo dos “Acres” reparei no peixe no seu molho de escabeche e no bacalhau alabardado, que tão bem aproveita o azeite português. No capítulo dos “Espirituosos” achei curioso o “meio de tornar velho vinho novo (manual do destilador)”. No capítulo dos “Cremosos” encontrei as queijadas de Sintra, que Eça de Queirós refere n’Os Maias. No capítulo dos “Aromáticos” chamou-me a atenção a muamba de galinha à angolana. A secção final intitula-se “É manha de Portugal comer bem, dizer bem e dizer mal”. Eu, cheio de água na boca, digo bem. 

 No livro abundam as referências às trocas alimentares ocorridas com a expansão marítima. A autora cita a BBC Travel: “De facto, a cozinha portuguesa, que se mantém fortemente ofuscada pelas cozinhas de Itália, Espanha e França, talvez seja a cozinha mais influente do mundo”. 

 Na lista bibliográfica encontrei livros muito úteis de referência como, além dos já referidos, o imponente À Mesa dos Reis de Portugal (Círculo de Leitores, 2011), de Ana Isabel Buescu e David Felismino. Encontrei clássicos como as Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci, tiradas da internet (há em livro: Althum, 2012), e a Cozinha Arqueológica, de Eça de Queiroz, embora sem referenciação completa (há uma edição da Colares Editora, 2007). Mas não encontrei a aparentada trilogia de livros de José Quitério (Livro de Bem Comer, Assírio & Alvim, 1987; História e Curiosidades, idem, 1992; e Bem Comer & Curiosidades, Documenta, 2015). O único senão do livro é alguma falta de cuidado da bibliografia: por exemplo, a Fisiologia do Gosto, de Jean Brillat-Savarin, está traduzida em português (Relógio d’Água, 2010). Pelo preço de uma refeição num restaurante médio podemos comprar um livro que nos faz comer e chorar por mais!

13/11/2020

Deana Barroqueiro e os Paladares

 Recensão de Carlos Fiolhais à História dos Paladares

de Deana Barroqueiro

 (Jornal i, 12 de Novembro 2020)

29/10/2020

HISTÓRIA DOS PALADARES: I - SEDUÇÃO

Acaba de sair a História dos Paladares: I - Sedução, de Deana Barroqueiro, com Prefácio do Prof. Dr. João Paulo Oliveira e Costa, publicada pela ed. Prime Books. 


A História dos Paladares é uma obra singular e ambiciosa, que não pode ser reduzida a uma vertente meramente histórica, embora principal, porque ela é muito mais do que isso, ao abarcar uma miríade de categorias, temas e estilos que a completam e lhe dão vida. 

 A história da evolução do gosto, que levou à educação do paladar e à eleição da gastronomia como uma arte, percorreu um longuíssimo caminho, desde a Idade da Pedra até aos nossos dias. Esse percurso é aqui narrado através de acontecimentos passados nos cinco continentes, estórias e mitos nacionais e universais, personalidades que reflectiram e influenciaram o mundo dos paladares (reis, filósofos, cientistas, escritores) e também receitas que atravessaram séculos ou mesmo milénios, por via oral, manuscrita ou impressa, através de incontáveis gerações, chegando quase inalteradas às nossas cozinhas. 

 É uma história mundial, daí ser ambiciosa, mas é também nacional e subjectiva, pelas escolhas pessoais da autora, que dá particular atenção a Portugal, nomeadamente, às influências exercidas e sofridas, na culinária e alimentação, tanto pelos portugueses como pelos povos que contactaram durante a nossa Expansão Marítima, como se pode ver ainda hoje, na gastronomia de muitas nações dos vários continentes, o cozido à portuguesa, o sarapatel ou o porco em vinha-de-alhos. 

 A vastidão do tema (fruto de um trabalho de 4 anos) levou a autora a dividir a sua obra em dois volumes, que se completam, embora com perspectivas distintas: este, da Sedução, acabado de sair, gira em torno dos paladares mais viscerais e que mais apelo fazem aos sentidos; e o da Perdição, ainda no prelo, que liga a Gastronomia a outras artes, como o cinema, moda, religião, e também ao prazer, fausto e tentação… 

 O livro está disponível para entregas imediatas: http://www.primebooks.pt/produto/historia-dos-paladares-vol-i-seducao A editora Prime Books garante pagamento seguro através de referência multibanco ou Paypal, entregas em 3 dias úteis, a oferta dos portes para Portugal e descontos significativos (mínimo 20%) noutros livros das mesmas temáticas. 
E estará à venda nas livrarias, a partir de 5 de Novembro, com a oferta de um voucher de €30.00 da agência de viagens TRYVEL.

20/10/2020

 HISTÓRIA DOS PALADARES

I - SEDUÇÃO

LEVANTANDO O VÉU... 
Caros Amigos leitores, venho deixar-vos aqui o rascunho das 2 primeiras páginas do Cap. II, para terem uma ideia da estrutura muito fora do comum (louca?) que dei a esta minha obra. 
Todos os capítulos têm por títulos não produtos, mas sensações, sempre traduzidas em 3 adjectivos, que ligam o físico, ao psicológico e ao simbólico, que depois são completadas pelos títulos dos paladares, pelos provérbios e pelas histórias e receitas, além de outras coisas que cada leitor achará a seu gosto, e será diferente de qualquer outro, porque, como dizia Fernando Pessoa, «Sentir, sinta quem lê». Atenção que isto é o meu rascunho, não é o livro, que está muito bonito, tanto por fora como por dentro. Divirtam-se! 

CAP. II – LÊVEDOS / FINTOS / ALENTADORES 
Paladares míticos: Beleza e formosura nem dão pão nem fartura 
Um dos mais belos mitos da Grécia Antiga, posteriormente adoptado pelos romanos, é o da trágica aventura das deusas da agricultura e das sementeiras: 

«Perséfone/Proserpina, filha de Zeus/Júpiter e da sua irmã Deméter/Ceres, era o orgulho da mãe e, juntas, tornavam a terra viçosa e fecunda, alimentando a humanidade, que lhes rendia culto por todo o mundo. Um dia a Virgem da Primavera foi raptada pelo seu próprio tio, Hades/Plutão, o Senhor dos Mundos Subterrâneos, que a levou para o seu palácio, no meio do Tártaro, criando para ela, um jardim cheio de flores e frutos, oásis luminoso num deserto de trevas, onde a convidou a comer as iguarias mais raras, mandadas vir dos quatro cantos do universo para seu prazer. Perséfone recusou, sabendo que se quebrasse o jejum no mundo dos mortos não mais poderia partir. 
O sombrio Adamastos (nome dado a Hades, Plutão, que significa indomável, inflexível, dele deriva Adamastor) sentou-se a seu lado sob uma romãzeira carregada de frutos e falou-lhe do seu horrendo trabalho, da sua vida sem amor nem esperança. Como poderia ele ser compassivo e generoso se nunca fora amado? Perséfone, comovida pelo sofrimento e a solidão dos belos olhos negros, aceitou os bagos rubros da romã que ele lhe oferecia, com as mais ternas palavras de amor, selando assim o seu destino. 
Durante nove dias e nove noites, sem comer nem dormir, Deméter percorrera a Terra à procura da filha, mas ninguém sabia do seu paradeiro. Desesperada, abandonou o Olimpo e refugiou-se numa cabana, nos confins do mundo, recusando-se a abençoar a terra com as sementes e os frutos, tornando os solos estéreis e condenando a humanidade à fome, miséria e morte. Vendo a raça humana prestes a extinguir-se, Zeus ordenou ao irmão que deixasse Perséfone voltar para junto da mãe. Forçado a obedecer, Adamastos só sossegou, quando a jovem esposa lhe prometeu que passaria a viver metade do ano com ele, no Mundo dos Mortos, e a outra metade com a mãe, para a ajudar a fecundar a terra e alimentar a Humanidade. 
Quando a filha vem viver com ela, Deméter faz eclodir na terra a Primavera e o Verão numa profusão de flores e frutos; porém, logo que Perséfone regressa aos Infernos, a deusa da abundância recolhe-se na sua solidão e o Inverno apodera-se da terra, cobrindo-a com o seu manto de tristeza. 

Paladares ancestrais: «Um cheiro salutar e honesto a pão no forno» (Cesário Verde) 

Os vários tipos de farinha têm distintos componentes em diferentes proporções, entre amido, açúcares, proteínas, gorduras, sais minerais e água. Quando se junta à farinha um líquido, como água ou leite, as proteínas ligam-se para formar como que uma rede (glúten) forte e elástica, desejável quando fazemos pão ou massa folhada, mas não para bolos, massas de tarte, crepes ou scones, pois ficariam duros. A farinha que se vende com fermento, usada para bolos, tem um baixo conteúdo em proteínas, dificultando a formação desta rede. O fermento em pó é formado por bicarbonato de sódio (uma base) e um ácido em quantidade suficiente para reagirem entre si, mantendo-se separados e secos graças ao amido que absorve a humidade do ar. 
Quando se mistura o fermento com um líquido contendo água dá-se uma reacção química entre o bicarbonato e o ácido e novos produtos se formam. Neste caso, o mais importante é a formação de dióxido de carbono que vai contribuir para tornar os bolos mais leves. 


Crê-se que os povos pré-históricos começaram por comer os grãos dos cereais crus ou torrados, demolhados em água ou nas espigas grelhadas. Há mais de dez mil anos, na antiga Mesopotâmia, moíam os grãos com pedras e misturavam o pó com água para formar uma massa que era cozida nas fogueiras ou entre pedras aquecidas, produzindo uma espécie de pão espalmado. 

As Tabuletas de Culinária da Mesopotâmia mostram como o pão desempenhava um papel preponderante na dieta suméria, acompanhado de carne picada e outros recheios. Neste tratado em escrita cuneiforme, descreve-se o fabrico de uma massa que permite fazer vários tipos de pão achatado, com diferentes texturas, cozinhado nas paredes de fornos abertos ou fechados, e também em moldes, como o actual khobz tannour do Líbano ou o tabouna da Tunísia. Em outras receitas, aconselha-se a achatar e a esticar a massa para fazer um folhado, a fim de confeccionar uma torta barrada de manteiga e recheada com pássaros, alhos-porros e mel. Desta massa saem o bapiru, um esparguete primitivo, seco e cozinhado em líquido, o ziqqu e o butumtu, semelhantes ao cuscuz e bulgur. 

Receita de Pombos em folhado 
Os pombos são previamente desossados, de modo que a carne branca e as coxas possam ser tratadas de forma diferente. As carnes brancas são escalfadas em um caldo ou potagem de carneiro, num caldeirão de metal, enquanto as coxas são flamejadas e embrulhadas em massa, cozidas como empada num basallu, o molde próprio, colocado num forno vertical. Quando o prato sai do forno, adicionam-se as outras carnes, as fêveras dos pombos e os pedaços do carneiro. 
O basallu desempenha um duplo papel, servindo como um utensílio de cozinha e prato de serviço. A iguaria é decorada com uma salada verde em vinagre. 

Paladares faraónicos: Dos cheiros o pão, e dos sabores o sal 
Desde 2600 a. C., que os egípcios utilizavam diversos tipos de cereais para fazer farinhas e pães, quando inventaram os fornos de barro. Segundo consta, descobriram o processo da fermentação da mistura de água e farinha, por acidente, quando um padeiro se esqueceu da massa crua junto do forno em que cozia o pão e ao voltar, passadas umas horas, viu que ela inchara, ficando leve e com bolhas; cozeu-a assim mesmo e maravilhou-se com o resultado. 
Como o pão de farinha de trigo era de melhor qualidade, tornou-se muito popular e os egípcios experimentavam novos sabores e texturas, adicionando à massa diferentes ingredientes, como mel, ovos, tâmaras, sementes ou condimentos e moldavam-na em forma de pássaros, peixes e outros animais para as festividades. 

Ofertas de pão às divindades e no culto dos mortos faziam parte dos rituais da maioria das religiões, pela crença de que o pão era uma dádiva dos deuses ao homem, portanto, sagrado. De início, os gregos compravam-no aos egípcios, a quem chamavam arthophagoi, «comedores de pão», mas não tardaram a imitá-los e, no século III a. C., o padeiro Thearion criou uma cadeia de padarias como estabelecimentos comerciais públicos, prática que os romanos copiaram. Teriam sido os padeiros da Capadócia, os primeiros a adicionar à farinha de trigo um pouco de leite, azeite e sal, obtendo assim um tipo de pão muito suave e delicado. (Paulo Moreiras) 

Paladares helénicos: Com pão e vinho, anda-se caminho 
No poema Hedypatheia, Arquéstrato atribui ao pão uma importância fundamental e descreve a variedade de pães que os gregos consumiam.


ara saberem mais, terão de esperar pelo livro

13/10/2020


 SINOPSE DA HISTÓRIA DOS PALADARES 

Volume I - SEDUÇÃO 
Deana Barroqueiro

História dos Paladares é uma obra singular e ambiciosa, que não pode ser reduzida a uma vertente meramente histórica, embora principal, porque ela é muito mais do que isso, ao abarcar uma miríade de categorias, temas e estilos que a completam e lhe dão vida. 

A história da evolução do gosto, que levou à educação do paladar e à eleição da gastronomia como uma arte, percorreu um longuíssimo caminho, desde a Idade da Pedra até aos nossos dias. Esse percurso é aqui narrado através de acontecimentos passados nos cinco continentes, estórias e mitos nacionais e universais, personalidades que reflectiram e influenciaram o mundo dos paladares (reis, filósofos, cientistas, escritores) e também receitas que atravessaram séculos ou mesmo milénios, por via oral, manuscrita ou impressa, através de incontáveis gerações, chegando quase inalteradas às nossas cozinhas. 

É uma história mundial, daí ser ambiciosa, mas é também nacional e subjectiva, pelas escolhas pessoais da autora, que dá particular atenção a Portugal, nomeadamente, às influências exercidas e sofridas, na culinária e alimentação, tanto pelos portugueses como pelos povos que contactaram durante a nossa Expansão Marítima, como se pode ver ainda hoje, na gastronomia de muitas nações dos vários continentes, o cozido à portuguesa, o sarapatel ou o porco em vinha-de-alhos. 

A vastidão do tema levou a autora a dividir a sua obra em dois volumes, que se completam, embora com perspectivas distintas: de Sedução, o primeiro que o leitor tem nas mãos e gira em torno dos paladares mais viscerais e que mais apelo fazem aos sentidos; de Perdição, o segundo ainda no prelo, em que a Gastronomia se liga a outras artes, como o cinema, moda, religião, prazer, fausto, tentação…

 HISTÓRIA DOS PALADARES

I - SEDUÇÃO

Novo livro de Deana Barroqueiro

AOS MEUS AMIGOS

Isto de ter a vida amordaçada e confinada, isolada do calor humano que nos dão a família e os amigos (sem aquele beijo terno, o abraço apertado ou sequer o leve toque à flor da pele) já me teria posto louca, se não estivesse desde há muito acostumada a confinar a minha «loucura», com tudo o que de bom e de mau ela possa ter, à escrita dos meus livros. 

Nunca tive outra terapia para as frustrações e demais acidentes desta peregrinação existencial de 75 anos, além da Escrita. E desse convívio físico daqueles que amo, que o coronavírus me roubou - tirando algumas parcas escapadelas. 

Ajudaram-me a atravessar o deserto de sensações os meus caros amigos deste mundo virtual de redes sociais e blogues, que me acompanharam nestes últimos anos, tão constantes como os outros, os de presença física, o eram antes da pandemia. Por isso vos dedico o livro que terminei hoje, porque sem leitores, não há motivo para escrever, tal como sem amigos não há razão para viver. 

Assim, se tivermos de recolher ao Inverno do nosso desconfinamento, os meus amigos que gostam de História e de Gastronomia terão o 1º volume da minha História dos Paladares - o da SEDUÇÃO - para vos acompanhar e aliviar o stress, com as suas histórias e receitas, colhidas ao longo dos milénios que a raça humana tem percorrido, sofrido, resistido e evoluído, em busca da felicidade e do prazer, que o Destino, o Azar ou a Tirania teimam em negar-lhe. 

Um livro que, segundo dizem os editores, é muito original, completamente fora dos cânones habituais. Talvez esteja cá fora no fim deste mês ou, então, princípios de Novembro, publicado pela PRIME BOOKS.

31/08/2020

História com Paladares - Viagem Gastronómica à Beira Interior

Viagem Gastronómica e Histórica a Vila Velha de Ródão - Castelo Branco - Idanha a Velha - Monsanto ~Belmonte - Guarda - Viseu.
A publicação, em Outubro, da minha História dos Paladares foi o pretexto para a Tryvel organizar uma viagem gastronómica e histórica, de 5 dias, à Beira Interior, em que servirei de guia/contadora de histórias, durante um belo percurso por aqueles lugares de ricas tradições.

Uma viagem que dá particular atenção às provas e degustação dos mais variados produtos da região, como pratos típicos beirões, um almoço inspirado nos banquetes do gastrónomo romano Apício, em Idanha-a-Velha, ou uma refeição kosher na comunidade judaica de Belmonte.

Será no fim de Outubro e o grupo terá no máximo 20 pessoas, por questões de segurança da pandemia. Se estiverem interessados, podem ver todos os pormenores na página da Tryvel, abaixo indicada. 

VIAGEM GASTRONÓMICA “HISTÓRIAS COM PALADARES”®️ O MELHOR E O MAIS SABOROSO DA BEIRA BAIXA E BEIRA ALTA 28 OUT a 1 NOV 2020 | € 990 DPL | BEBIDAS INCLUÍDAS | 20 TRYVELERS Com a escritora e conferencista DEANA BARROQUEIRO 
A VIAGEM: https://tryvel.pt/tour/viagem-gastronomica/




11/06/2020

OS MODERNOS AUTOS-DE-FÉ

Vou indignar muita gente, seguramente, com esta opinião, mas a minha própria indignação é mais forte do que o incómodo de ferir susceptibilidades.
Odeio autos-de-fé, mesmo que sejam a estátuas (como fazia a nossa Santa Inquisição quando as suas vítimas fugiam: na sua falta, queimavam um boneco em tamanho natural).

O assassínio de George Floyd, nos Estados Unidos da América, provocou uma imensa onda de indignação que se propagou solidariamente a muitos outros países, onde também existem racismo e discriminação, mais ou menos encapotados. Infelizmente, e quase sempre, estes movimentos de indignação colectivos e globais, que começam com genuína boa-fé e generosidade, tendem a suscitar a histeria do politicamente correcto, que vem de mãos dadas com o fundamentalismo e a prepotência (apoiados na força do número de uma multidão exaltada, que pensa mais com o coração e as tripas do que com o cérebro), acabando por cair naquilo que é suposto serem contra - a violência, a destruição e a censura.

Sentimentos crus que levaram desde tempos imemoriais aos linchamentos e aos autos-de-fé "purificadores" das consciências, pelos que querem re-escrever a História, apagando do passado tudo o que lhes ofende a sensibilidade ou a causa que defendem.

Indigna-me que se censurem, proíbam e destruam estátuas, livros, monumentos e agora até filmes, que são obras-primas e testemunhos de um passado colectivo, que deviam permanecer como memórias de tudo aquilo que não devia voltar a acontecer (e que se repete, afinal, ao longo dos séculos), que nos permitem tirar lições e ilações, se não estivermos cegos pela ignorância e pela febre das redes sociais. Os nazis começaram por fazer fogueiras e queimar tudo o que era, na sua opinião enquanto raça superior, "a cultura decadente do Ocidente", depois passaram a meter os seus autores em guetos e campos de extermínio.

Ainda há bem pouco tempo o mundo se indignou contra os jihadistas do Daesh que destruíram os Budas gigantes do Afeganistão e os monumentos de Palmira, que degolam os americanos e fazem "limpeza" aos que não são da sua fé. Vejo agora, na América, e em alguns países da Europa, o mesmo histerismo prosélito de grupos a vandalizarem monumentos, a derrubarem estátuas e a lançarem-nas ao rio.

Senti o mesmo calafrio! Gente que não sabe conhecer o aceitar seu passado, com os seus defeitos e virtudes, estudá-lo e contextualizá-lo, preferindo destruí-lo e apagá-lo, é pouco mais do que um bárbaro ignorante. Esquece-se que qualquer movimento que pense o contrário, vindo a cavalo noutra grande ideia, fará o mesmo auto-de-fé às suas ideias e convicções.

Indigna-me, sobretudo, que as instituições académicas e culturais se acobardem com a censura destes novos inquisidores. Agora, até o grande clássico, de todos os tempos do Cinema, "E tudo o Vento levou", também está proscrito? Para quando as fogueiras de livros nas praças públicas?

Mutiladas as estátuas de Colombo e de outras personagens históricas, nos EUA (irão renegar os pais fundadores da nação, que tinham plantações com escravos?). Isto é também um vírus e não se cura com o confinamento, nem com a vacina, só com Estudo e Cultura.

10/06/2020

Pêro da Covilhã, herói de um Romance Histórico de Cavalaria

"O Espião de D. João II" ou Como recriar a vida e viagens de Pêro da Covilhã

Personagem incontornável no dealbar do Renascimento europeu,  Pêro da Covilhã foi, durante séculos, praticamente desconhecido dos portugueses.

Era um misto de James Bond e Indiana Jones português, mas de existência real, que levou a cabo duas das mais desejadas empresas do seu tempo: descobrir um caminho, por terra para a Índia das especiarias e achar o encoberto reino do Preste João, uma demanda que só tem paralelo na busca do Graal, pelos Cavaleiros do Rei Artur.

PORTUGU esses

O episódio 2, da série de documentários sobre as relações dos portugueses entre si, no qual participei a convite de André Torres e Rui Veiga.

NÃO SE DEVE COMPARAR MARTIN LUTHER KING COM GEORGE FLOYD

Ninguém, incluindo assassinos e criminosos da pior espécie, deve ser morto, linchado ou mesmo condenado sem julgamento, muito menos às mãos da polícia que deve proteger TODOS os cidadãos, mesmo os que cometem crimes graves.

O que eu considero um erro, nesta luta seríssima contra o racismo, é meterem no mesmo saco o grande activista dos direitos dos negros, Martin Luther King, e um criminoso reincidente como George Floyd (um dos seus crimes foi o assalto com arma de fogo a uma mulher, que ia com o filho, uma criança).
Indignarmo-nos com a sua morte é uma coisa, transformá-lo num herói mundial, com cerimónias e romarias de homenagens ao seu caixão é outra: tira o valor e propósito à causa dos direitos dos negros.

A morte de George Floyd foi um acto de grande barbárie, infelizmente muito frequente na América e levantou grandes manifestações contra o racismo que já deviam ter acontecido nas outras ocasiões, forçando a uma nova legislação e regulação das polícias. E eu respeito a dor da sua família.

Eu nasci nos EUA, tenho dupla nacionalidade - americana e portuguesa -. mas, em vez de voltar para junto do meu pai, nesse país que era uma espécie de «El Dourado» para muitos portugueses, escolhi ficar por cá, porque me repugnava a mentalidade americana, esse racismo violento e visceral dos brancos contra os negros (e não só), aos quais na minha juventude ainda eram negados todos os direitos, havendo mesmo um apartheid em tudo semelhante ao da África do Sul, porque, para os brancos, os negros não passavam de descendentes dos seus escravos e, portanto, eram inferiores.

Toda a minha vida defendi os direitos das minorias, dos injustiçados, do perseguidos, e Martin Luther King (assim como outros activistas negros) foi um dos meus heróis, cuja morte chorei. A sua vida e morte fizeram diferenças, mas pouco mudaram na mentalidade da América profunda, aquela que venera Trump, ou na atitude criminosa e racista da polícia contra os negros, matando gente inocente com toda a impunidade.

Mas, terá o ladrão George Flyd, nos nossos dias de redes sociais e veneração dos "famosos" de pacotilha, mais valor do que Martin Luther King?Lamento, se assim for.

13/05/2020

Romance Histórico de Reconstrução: O Navegador da Passagem



O Navegador da Passagem, sobre as viagens de descobrimento de Diogo Cão e Bartolomeu Dias em busca do «cabo» de África e de uma derrota para a Índia das especiarias, onde cabe também o achamento do Brasil.
do Brasil

TRUMP, O «CROMO» AMERICANO


O Presidente norte-americano, Donald Trump, abandonou a conferência de imprensa de segunda-feira, na Casa Branca, depois de sugerir a uma jornalista de origem chinesa que dirigisse à China a sua pergunta sobre a realização de testes à covid-19 nos Estados Unidos. 

Weijia Jiang, uma repórter norte-americana do canal de televisão CBS nascida na China e que emigrou para os Estados Unidos com os seus pais aos dois anos de idade, questionou Trump sobre a sua insistência em salientar o número de testes realizados no país.
“Refere muitas vezes que os Estados Unidos estão a fazer um trabalho muito melhor do que qualquer outro país no que diz respeito aos testes”, disse a jornalista. “Porque é que isso importa?”, questionou. “Porque é que olha para isto como uma competição global, quando todos os dias os americanos continuam a perder as suas vidas e continuamos a ter mais casos a cada dia que passa?”
Na resposta, o Presidente norte-americano disse que “há pessoas a perder as suas vidas em todo o mundo”.
“Talvez devesse fazer essa pergunta à China”, sugeriu Trump à jornalista. “Não me pergunte a mim, pergunte à China. Quando lhes fizer essa pergunta, talvez receba uma resposta muito invulgar.”
Em seguida, o Presidente norte-americano apontou para a jornalista que estava atrás de Weijia Jiang, a correspondente da CNN Kaitlan Collins, pedindo-lhe que fizesse outra pergunta. Mas a repórter da CBS reagiu: “Porque é que me fez essa pergunta a mim, especificamente, sobre a China?”
“Não estou a dizer-lhe especificamente a si, digo-o a qualquer pessoa que me faça uma pergunta desagradável”, respondeu o Presidente norte-americano.
Ao ver que a correspondente da CNN permitira que Weijia Jiang fizesse uma segunda pergunta antes de ela própria tomar a palavra, Donald Trump recusou-se a responder a Kaitlan Collins e passou à jornalista seguinte, Yamiche Alcindor, do canal público PBS.
Donald Trump deu por concluída a conferência de imprensa e abandonou os jardins da Casa Branca quando a jornalista Yamiche Alcindor também quis esperar que a sua colega da CNN fizesse uma pergunta.

05/05/2020

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

O Dia Mundial da Língua Portuguesa, uma das mais belas do mundo, comemora-se a 5 de Maio, pela 1.ª vez, em 2020. Foi proclamado pela 40.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Novembro de 2019.

Alerta contra o radicalismo e terrorismo

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA / JORNAL PÚBLICO 

Fiscalização das secretas alerta para jihadistas, supremacistas e radicais: Do terrorismo clássico à emergência de novos desafios, os fiscalizadores desfilam aos deputados uma série de perigos e necessidades. 


No relatório sobre as suas actividades em 2019 divulgado esta segunda-feira, o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP), que tem a responsabilidade de fiscalizar a actividade dos serviços de informação portugueses - SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa) e SIS (Serviço de Informações de Segurança) -, alerta os deputados para diversos riscos.

Às referências, já habituais, ao jihadismo e ao perigo do regresso à Europa dos combatentes estrangeiros na guerra da Síria, ou o ciberterrorismo, o novo relatório assinala a extrema-direita racista e grupos conotados com as teses da supremacia branca e o aceleracionismo radical. Referindo-se aos riscos do terrorismo de matriz islamista jihadista da Al Qaeda e de outros grupos, como o auto--denominado Estado Islâmico que o relatório admite ser uma das “preocupações centrais dos serviços de informações portugueses, a fiscalização da secreta deixa um aviso: estas organizações têm demonstrado “assinalável resiliência e a realidade patente em várias zonas do continente africano (...) que não apenas na região do Sahel”, prossegue o texto assinado pelo jurista Abílio Morgado, o parlamentar socialista Filipe Neto Brandão e o antigo deputado do PSD António Rodrigues. Um fenómeno que os relatores classificam como disseminação por vários territórios e que, sublinham, “deve reclamar a preocupação da comunidade internacional, da Europa e de Portugal”.

O CFSIRP adverte, ainda, “que não está ultrapassada a delicada questão do regresso dos chamados combatentes estrangeiros, incluindo dos respectivos familiares”. Uma situação que afecta a cidadãos portugueses ou luso-descendentes e suas famílias. O conselho de fiscalização dos serviços de informações avisa, também, para os riscos de “extremismos violentos” de grupos conotados com a “supremacia branca” e radicais do chamado “aceleracionismo”. Estes últimos, anota o relatório, são uma tendência externa que ganha evidência.

O aceleracionismo é uma corrente, marginal, que se baseia na ideia de que o sistema capitalista deveria expandir-se, ou seja, acelerar, para causar uma mudança social radical, segundo a descrição feita num artigo publicado em 2017 pelo jornal britânico The Guardian. Sobre esta questão, o relatório apenas enuncia o problema. Considerando a actual situação de pandemia de covid-19, o CFSIRP não avança com propostas além das que já formulara no relatório do primeiro semestre da sua actividade em 2019. Então, defendia a revisão global do enquadramento normativo das secretas para o adaptar às exigências de segurança nacional, numa indirecta aos condicionamentos económicos vividos no SIRP, SIED e no SIS.

Mas, no relatório de Novembro de 2019, os fiscalizadores insistiam na urgência do acesso aos metadados, dados de tráfego e das comunicações sem acesso aos conteúdos das chamadas e das mensagens escritas. Um método que consideravam indispensável à segurança nacional para aprofundar a cooperação internacional, conferindo aos serviços de informação portugueses a legitimidade na lógica de reciprocidade com os serviços de informação congéneres no estrangeiro.

03/05/2020

A arte de fazer um Romance Histórico

Virtudes e defeitos deste género literário

Deana Barroqueiro

Cada roca com seu fuso, cada escritor com seu uso…

29/04/2020

BOLSONARO SOBRE NÚMERO DE MORTOS POR COVID-19: "NÃO SOU COVEIRO"

O CROMO BOLSONARO NO SEU MELHOR
Bolsonaro perante o número recorde de mortes por covid-19 no Brasil: “Lamento, mas quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres” - , fazendo um trocadilho com o seu nome [Jair Messias Bolsonaro], após ser questionado por jornalistas sobre o facto de o Brasil ter ultrapassado o total de mortos da China, com um recorde de 474 óbitos nas últimas 24 horas, totalizando agora 5.017 óbitos.
Há dias disse que não sabia do número de mortos porque "não.era coveiro". E esta criatura desprezível é o presidente do Brasil!

27/04/2020

OS CROMOS DO CORONAVÍRUS: TRUMP

Donald Trump, o Presidente dos EUA, para combater a covid-19, aconselhou os americanos a injectarem-se com "shots" de desinfectantes, nomeadamente lixívia e a levarem radiações ultravioletas.

Donald Trump sugeriu, na última conferência de imprensa da Casa Branca sobre a Covid-19, que a injecção de desinfectante no corpo poderia ajudar a matar o novo coronavírus. O Presidente lançou ainda a hipótese de expor os doentes a radiações ultravioleta, uma vez que este vírus pode ser sensível ao calor.

As declarações de Trump provocaram rapidamente manifestações de preocupação por parte da comunidade médica, que previa o que aconteceu, pois o número de envenenados com detergentes que foi parar aos hospitais, mostra como a América profunda sofre de um atraso quase medieval, em termos de mentalidade.
 

OS «CROMOS» DO BRASIL: OS IRMÃOS «METRALHA»?

Em menina, eu lia a banda desenhada do «Tio Patinhas», onde aparecia um bando de meliantes mascarados que eram os irmãos Metralha.
Esta notícia é sobre outros irmãos suspeitos do Brasil:
Carlos Bolsonaro
«Polícia identifica filho de Bolsonaro como líder de esquema de 'fake news'»
 A Polícia Federal brasileira identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, Jair Bolsonaro, como um dos líderes de um esquema ilegal de desinformação, segundo uma investigação sigilosa conduzida pelo Supremo Tribunal Federal, divulgada pela imprensa local.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o inquérito foi aberto em Março do ano passado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar juízes daquele tribunal.

O jornal detalha ainda que Carlos, segundo filho do chefe de Estado, é investigado por suspeita de ser um dos líderes do grupo que cria e divulga notícias falsas, de forma a intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. A Polícia também investiga a participação no esquema do seu irmão e deputado federal, Eduardo Bolsonaro.

Os Irmãos "Metralha" com o seu papai

OS "CROMOS" DA COVID-19 EM PORTUGAL

Cromos da Covid-19, também os há por cá, e não são poucos!
Como o presidente da Câmara de Trofa, o social democrata Sérgio Humberto, que devia ser imediatamente demitido das suas funções, para as quais não tem formação nem moral, nem política.

«O presidente da Câmara da Trofa colocou um ‘gosto’ numa publicação no Facebook que apelava à transformação da Assembleia da República numa câmara de gás, precisamente por causa da celebração do 25 de Abril numa altura em que as pessoas estão obrigadas a ficar em casa. O coordenador da equipa de assistentes operacionais da Câmara da Trofa escreveu o seguinte "Se houver quem ponha aquele espaço a funcionar como uma câmara de gás, eu pago o gás". O presidente da câmara ‘gostou’ do que leu.
Apesar desta boçalidade, pelos vistos, para o PSD, não há drama, pois, como justificou o presidente da distrital do PSD Porto, Alberto Machado:
“Não estamos a falar da página oficial do autarca”.»
(Expresso)
São estes "cromos" - nas fotos, respectivamente, Sérgio Humberto e Alberto Machado - que envergonham a Democracia e a Liberdade!

21/04/2020

SAMS - UM HOSPITAL FECHADO DURANTE A PANDEMIA?!


UM HOSPITAL BEM EQUIPADO, FECHADO DURANTE A PANDEMIA?!

 E não há quem se escandalize? Os sócios, sem hospital, calam-se? Os media não se interessam? As redes sociais, sempre tão indignadas, não protestam? 

 Portugal é o único país que se dá ao luxo de ter um hospital totalmente equipado com 120 camas, ventiladores, blocos, etc., com a sua equipa médica disponível parada em casa porque o dito hospital está, simplesmente, fechado em plena crise da covid-19!

O hospital é o do SAMS, do sindicato dos bancários. 

O hospital anuncia-se assim: ​«Inaugurado em Setembro de 1994 e em funcionamento desde Novembro do mesmo ano, o Hospital do SAMS constitui uma aposta clara no alargamento e melhoria dos cuidados de saúde disponibilizados aos Beneficiários e Utentes. Assente em critérios como a Qualidade e a Inovação, reúne condições únicas ao nível de capacidade e diversidade de serviços. Concebido na perspectiva de desenvolver uma gestão de recursos humanos e materiais ao serviço de uma medicina de qualidade, humanizada e tecnicamente avançada, é, sem dúvida, um Hospital projectado para o futuro.​»

Nem mais! Muita parra e pouca uva, porque, quando os portugueses precisam dele, fecha-se em copas!

 Numa altura em que o Governo está a montar hospitais de campanha em Lisboa — e não só — para fazer face ao crescente número de casos do novo coronavírus, os Serviços de Assistência Médico-Social (SAMS), que são geridos pelo Sindicato dos Bancários Sul Ilhas (SBSI) — actual Mais Sindicato —, têm todas as suas unidades de saúde fechadas, nomeadamente o hospital localizado nos Olivais, que não tem data prevista de reabertura.

Quem mandou fechar o hospital e porquê, numa altura tão complexa para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), em que está a ser feita uma articulação com o sector privado, para garantir o cuidado de um número cada vez maior de doentes?

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) garante que a autoridade de saúde local apenas determinou o “a suspensão provisória” da urgência e não de toda a unidade hospitalar:
“A Autoridade de Saúde Local determinou a suspensão provisória de actividade do Serviço de Urgência do hospital, como medida cautelar, na sequência da detecção de casos confirmados de COVID-19 em profissionais de saúde neste serviço. O encerramento de toda a unidade dos SAMS nada tem a ver com esta determinação da Autoridade de Saúde Local”, refere a DGS.

A Direcção do Hospital SAMS terá aproveitado a Pandemia para pôr os seus médicos, enfermeiros e auxiliares (que tanta falta fazem) em "lay-off"?

E os seus sócios doentes, que ficaram abandonados, vão parar ao SNS, que está a braços com os infectados da Covid-19?

E o governo não tem poder para requisitar este hospital?

Ricardo Jorge contra a peste bubónica no Porto

(Francisco Louçã - Expresso) 

Médico nascido no Porto em 1858, ajudou-nos a perceber uma epidemia e como o serviço público de saúde é uma condição da democracia. É o que Portugal lhe deve. 


No ano passado assinalaram-se os 120 anos do último foco de peste bubónica numa cidade da Europa ocidental. Esse surto aconteceu no Porto, e o seu estudo e combate devem-se, em grande medida, à acção de um médico notável, Ricardo Jorge (1858-1939). Portuense de origem humilde, foi um aluno brilhante, tendo-se matriculado na Escola Médico-Cirúrgica com apenas 16 anos, numa época em que a ciência ainda era socialmente desvalorizada, se comparada com as humanidades. A sua actividade como médico e professor centrou-se no desenvolvimento da medicina e na modernização do seu ensino, que acusava de escolástico, dogmático e caduco. Em 1881, foi um dos fundadores da “Revista Scientifica”, a qual juntava cientistas com reformadores políticos e sociais (republicanos e socialistas). Em 1884, passou a ocupar-se da higiene pública e, no mesmo ano, promoveu quatro conferências sobre higiene, sepulturas, cemitérios e cremação, que seriam publicadas no livro “Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa”, onde propunha, perante o cenário insalubre com que se deparou, que o Estado criasse um sistema de saneamento. Pouco depois, seria convidado para integrar uma comissão de estudo das condições sanitárias na cidade, no âmbito da qual redigiu o relatório “O Saneamento no Porto”. Em 1899 publicou “Demografia e Higiene da Cidade do Porto: Clima, População, Mortalidade”, em que descrevia a cidade e identificava as condições habitacionais e de higiene das ilhas como causas de proliferação de doenças.

A peste no Porto 
O livro “A Peste Bubónica no Porto” reúne os relatórios médicos destinados às autoridades civis, redigidos por Ricardo Jorge entre Julho e Agosto de 1899. Ler estes documentos nesta altura é uma viagem extraordinária. Apesar de a covid-19 e a peste bubónica serem distintas, não só porque a primeira é um vírus e a segunda é provocada por uma bactéria mas sobretudo porque as condições sociais de habitação e higiene foram determinantes para contrair a peste, transmitida por pulgas de ratos, ficamos a conhecer uma parte importante do debate sobre políticas públicas de saúde através destes relatórios. Também descobrimos as medidas que há mais de um século foram tomadas para travar o contágio da peste, num cenário de ausência de qualquer medida de apoio social aos infectados. No dia 4 de Julho de 1899, Ricardo Jorge recebeu um bilhete enviado por um negociante da Rua de São João que o alertava para estranhos falecimentos ocorridos na Rua da Fonte Taurina, na Ribeira. Ele próprio lá se dirigiu, recolheu amostras e fez o estudo bacteriológico do material recolhido nos bubões dos infectados. A sua primeira batalha foi provar que se tratava de peste bubónica e que ela, afinal, não estava erradicada da Europa há 300 anos, como se pensava; a segunda foi provar que se tratava de uma epidemia e não de um caso isolado. O debate sobre as medidas profilácticas e sanitárias a tomar, da construção de balneários públicos à perseguição dos agentes transmissores (cada rato grande entregue numa esquadra de polícia valia 20 réis, 10 réis se fosse pequeno), está intimamente ligado com estas questões. Cerca de dois meses depois, foi imposto um cordão sanitário à cidade, controlado pelo Exército, o que originou a revolta quer das elites quer das classes populares. O Porto foi cercado. Suprimiram-se os comboios, as feiras e as romarias, foi imposta uma quarentena de nove dias aos passageiros e trabalhadores dos comboios. No entanto, foram as medidas radicais anti-contágio de Ricardo Jorge, nomeadamente as respeitantes ao isolamento dos infectados, que contiveram a doença e, consequentemente, a mortalidade.

As barreiras sociais na doença 
As descrições minuciosas feitas por Ricardo Jorge das condições higiénicas e de habitação em que viviam os infetados são um verdadeiro trabalho etnográfico, que desenha o retrato do Porto, a anatomia social da cidade. Nos seus relatórios encontramos também reflexões sobre reações ao cerco da cidade, que provocaram a asfixia de toda a atividade comercial e industrial, resultando em desemprego e dificuldades de abastecimento de bens alimentares, de onde surgiu uma grande agitação social, de que o próprio médico seria vítima. Ricardo Jorge demarcou-se de muitas regras sanitárias impostas administrativamente, invocando simultaneamente razões sociais e científicas, numa crítica interessante à ausência de articulação entre a política e a medicina na escolha de medidas. De tal modo o debate foi intenso que a Sociedade de Medicina e Cirurgia (Agosto de 1899) lhe enviou uma mensagem, assinada por 52 médicos, na qual sublinhava a sua “coragem cívica, a sua serenidade em meio da desorientação geral, a sua devoção pela causa pública, a compreensão nítida dos seus deveres”, revelando a querela entre decisores políticos e associações médicas, que reivindicavam a importância do conhecimento científico e a necessidade de este valer no desenho das medidas de combate à peste.
Se as classes populares não sabiam, o aparelho do Estado era incompetente para decidir por si as medidas higienicamente mais convenientes. Dizia Ricardo Jorge: “Cidade porca na rua e em casa, mobilize-se um exército não para sitiá-la mas para limpá-la”, numa crítica evidente à imposição do cerco. Banhos obrigatórios, desinfecção de roupas e casas, isolamento, notificação obrigatória de infecção eram algumas das medidas que defendia.

O ataque contra Ricardo Jorge 
A alteração da rotina e do negócio quotidiano, aliada à ignorância e ao medo, fizeram de Ricardo Jorge um alvo preferencial da fúria popular, tendo sido mesmo acusado de sair “misteriosamente de noite a deitar ratos pestosos nas sarjetas” ou que seria ele quem “espalha e entretém a epidemia”. Um dia, perante a detecção de um caso num bairro pobre da cidade, a brigada sanitária cercou o prédio. A infectada, para escapar à brigada, atirou-se da janela e morreu. Ricardo Jorge foi logo acusado pelos vizinhos. A turba em fúria dirigiu-se à casa onde julgava viver o médico, para a apedrejar. Valeu-lhe já não residir nessa moradia da Rua do Almada. Mas foi, logo depois, sitiado em sua casa e preparou-se para o confronto de caçadeira na mão, valendo-lhe, porém, a chegada da cavalaria da Guarda Municipal, que dispersou a multidão. Pouco depois, em Outubro de 1899, Ricardo Jorge partiu para Lisboa, onde foi nomeado inspector-geral dos Serviços Sanitários do Reino, lente de Higiene na Escola Médico-Cirúrgica e membro do Conselho Superior de Higiene e Saúde. A ele se deve a organização dos Serviços de Saúde Pública.
Hoje é indiscutível a importância da saúde pública no combate a epidemias. Sabemos que sem um Serviço Nacional de Saúde e sem medidas de apoio social o mapa da tragédia seria o das fronteiras sociais, como no tempo da peste bubónica. Ricardo Jorge ajudou-nos a perceber uma epidemia e como o serviço público de saúde é uma condição da democracia. É o que Portugal lhe deve.

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 10 de Abril de 2020