31/01/2013

Deana Barroqueiro apresenta O Corsário dos Sete Mares em Macau

Casa de Portugal em Macau

A convite da Sra. Dra. Maria Amélia António,  presidente da Casa de Portugal em Macau, Deana Barroqueiro vai apresentar o seu romance, O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto,  na 2ª edição do festival literário “Rota das Letras”, que se realizará entre 10 e 16 de Março, em Macau.

O evento incluirá conferências e debates, uma Feira do Livro, exposições de artes plásticas, concertos e projecção de filmes. De acordo com a organização, o festival leva este ano a Macau vários autores da literatura lusófona e chinesa contemporânea:

De Portugal, estarão presentes, Dulce Maria Cardoso, Rui Zink, Francisco José Viegas e Valter Hugo Mãe, Ricardo Araújo Pereira, a escritora e jornalista Alexandra Lucas Coelho, o jornalista e tradutor Carlos Vaz Marques, a editora Bárbara Bulhosa e a romancista Deana Barroqueiro, esta presença com o apoio da Casa de Portugal.

Do espaço da lusofonia: De Angola estará presente José Eduardo Agualusa, de Timor-Leste Luís Cardoso, do Brasil o poeta Regis Bonvicino e o director-geral da Festa Literária Internacional de Paraty, Mauro Munhoz. Ainda do Brasil, marcam presença Paloma e Cecília Amado, filha e neta de Jorge Amado, que morreu em 2001 e que será um autor homenageado no festival, que inclui a exibição de um documentário e um filme de ficção sobre a sua vida e um dos seus livros.

Da China: Bi Feiyu, vencedor de vários prémios literários no país e do Asian Man Booker Prize, Hang Shaogong, autor de “A Dictionary of Maqiao” e tradutor de livros de Fernando Pessoa, Hong Ying, uma das autoras chinesas mais reconhecidas internacionalmente; e Yi Sha, um nome controverso na poesia chinesa contemporânea, assim como Sheng Keyi, Qiu Huadong, Pan Wei, Wang Gan, Haung Lihai, Li Shao Jun e a poetisa taiwanesa Xi Murong.

Macau estará representado pela poetisa Fernanda Dias e pelos escritores Tong Mui Siu, Chek In, Lou Mou e Wong Man Fai.

No campo do cinema, serão também várias as presenças e exibições de filmes com destaque para o filme “A Última Vez Que Vi Macau”, dos cineastas João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, “Journey to the South” do realizador chinês Wiseman Wang e que conta a história de um camionista atravessa a China em direção a sul e à província de Guangdong - adjacente a Macau e Hong Kong -, tentando arranjar dinheiro para solucionar problemas familiares. Ivo Ferreira, um realizador português agora residente em Macau, também dará a conhecer “Na Escama do Dragão”, o seu novo filme.

Na música, o fado será cantado por Camané, contando ainda o festival com Dead Combo, considerado um dos projectos musicais de maior destaque em Portugal. Organizado pelo Jornal Ponto Final, “Rota das letras” tem este ano o apoio de várias entidades públicas como a Fundação Macau e o Instituto Cultural que coorganizam o evento.

29/01/2013

Agenda de Fevereiro

1 - Sintra, 9 de Fevereiro, Sábado, às15 h.

 

 Casa do Fauno
Localização: http://casadofauno.wordpress.com/localizacao/
 
2 - Castelo Branco,  
dia 19, 3ª Feira, às 18 h.

Apresentação de O Corsário dos Sete Mares
por Deana Barroqueiro
em Cultura Vibra
Cine-Teatro Avenida
Avenida G. Humberto Delgado
Castelo Branco


3 - Vila Velha de Ródão,
dia 20, 4ª Feira, 17.30
 
 
na
Biblioteca Municipal de Vila Velha de Ródão
 

Entrevista a Deana Barroqueiro na RDP-i

 

Caros Amigos/as: Foi transmitida no passado dia 23 a entrevista que me fez Isabel Flora Albano para a rubrica Ilustres Desconhecidos no programa Tertúlia Portuguesa, da RDP-internacional, sobre a minha vida, obra e o meu mais recente romance, O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto, editado pela Casa das Letras/Leya.
Foi uma conversa informal e simpática, à mistura com muitas histórias da nossa História,  a que, se tiverem curiosidade e paciência para me ouvir, poderão aceder aqui: Ilustres Desconhecidos: http://www.rtp.pt/play/p683/e104769/ilustres-desconhecidos
 
 

Fernão Mentes? Minto! Uma expressão popular associada a uma fascinante personagem da história de Portugal e à sua peregrinação em terras do oriente, agora revisitada em mais um romance histórico de Deana Barroqueiro, autora galardoada com o prémio Máxima de Literatura - Prémio Especial do Júri.

Primeira Emissão: 11 Jan 2013
Duração: 38m
Classificação: T

Ilustres Desconhecidos
Um espaço onde lhe daremos a conhecer projectos de vida diferentes.
Mais importante do que a fama é o trabalho desenvolvido em prol dos outros.
Aqueles que pelo seu exemplo melhoram o mundo têm aqui o seu programa.

Dar a conhecer projetos ou indivíduos que... pelas suas ações ou postura, contribuam para criar um mundo melhor.
Pretende-se mostrar histórias de vida interessantes e revelar iniciativas que embora possuam valor, não tiveram anteriormente uma grande divulgação.
  

19/01/2013

Conversa na Biblioteca dos Anjos


Lembrete aos Amigos de Lisboa e arredores:

Dia 24, 5ª feira, às 17 horas, estarei na Biblioteca da Junta de Freguesia de Anjos, para conversar com os leitores e contar-lhes histórias da nossa História, sobre navegadores, aventureiros e conquistadores a propósito do meu novo romance, O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto.

Quem quiser aparecer para a tertúlia, será muito bem-vindo!
 

Endereço:

Biblioteca Clodomiro Alvarenga
Junta de Freguesia de Anjos
R. Maria da Fonte - Mercado Forno do Tijolo - Bloco C
1170-221 Lisboa

11/01/2013

Agenda de Janeiro


III - Lisboa, 24 de Janeiro, Quinta-feira, 17.00 h
 
Biblioteca Clodomiro Alvarenga
Junta de Freguesia dos Anjos
 Rua Maria da Fonte – Mercado do Forno do Tijolo
Lisboa 
 
Apresentação de
O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto

Deana Barroqueiro falará sobre o trabalho de pesquisa, como escritora, da paixão que nutre pela história de Portugal, sobre o que a move e a leva a fazer justiça à memória de certas personagens cruciais da nossa história
 
II - Beja, 18 de Janeiro, Sexta-feira, 18.30 h
 
Biblioteca Municipal de Beja
Rua Luís de Camões, s/n
 
Apresentação de
 
O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto
Deana Barroqueiro fala do seu romance, como veículo para melhor conhecimento as viagens de Descobrimento dos Portugueses no Oriente do Século XVI e o seu pioneirismo numa estratégia de Globalização
 
I - Beja, 17 de Janeiro, Quinta-feira, 14 h
 
Farei parte da MESA REDONDA sob o tema
"AS VIAGENS... REPRESENTAÇÕES DO TURISMO NA LITERATURA"
 
no âmbito do Projecto  
do Instituto Politécnico de Beja
Auditório dos Serviços Comuns
Rua Pedro Soares
Campus do Instituto Politécnico de Beja
 
Programa:

 14h00: Abertura dos Trabalhos
«Miguel Tavares», Diretor da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja
«João Silva», Coordenador do Curso de Turismo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja
«Edgar Carneiro», aluno do 3º ano do Curso de Turismo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja

14h45: Mesa Redonda
«João Pombeiro», Diretor da revista “Ler”
«Deana Barroqueiro», autora de numerosos romances inspirados em conhecidos personagens históricos
«Manuel Alberto Valente», diretor editorial da secção Lisboa da Porto Editora
«Ana Coelho», sócia da Livraria “Palavra de Viajante”
«Maria Paula Santos», responsável pela Biblioteca Municipal de Beja José Saramago

Moderadores:
«Fernando Martins», aluno do 3º ano do Curso de Turismo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja
«Ana Rita Caeiro», aluna do 3º ano do Curso de Turismo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja.

16h30: Encerramento
«Vito Carioca», Presidente do Instituto Politécnico de Beja
«Jorge Pulido Valente», Presidente da Câmara Municipal de Beja
«Nuno Madeira», Assessor da Senhora Secretária de Estado do Turismo
«Luís Rodrigo», aluno do 3º ano do Curso de Turismo da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja

17h00: Alentejo de Honra
 

10/01/2013

SPA não vai adoptar Acordo Ortográfico

Já não era sem tempo que a Sociedade Portuguesa de Autores tomasse posição contra este Acordo Ortográfico feito por interesses políticos de alguns e à revelia da maioria dos Portugueses e das instituições credenciadas para tratarem da Língua Portuguesa. Foi preciso que o Brasil roesse a corda...
Não admira que Carlos Reis se insurja contra esta decisão da SPA, sendo um defensor acérrimo e militante deste canhestro AO e dos seus próprios interesses, enquanto professor de uma universidade brasileira, a ponto de insultar todos os que se opunham a esta pantomima política. No Público de 9/1/2013.

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) vai continuar a redigir os seus documentos e a sua comunicação de acordo com a norma ortográfica antiga. O professor Carlos Reis critica a decisão, acusando a instituição de estar a correr “atrás de lebres mal informadas ou tendenciosas”.

A decisão da administração da SPA, anunciada esta quarta-feira na sua página oficial na Internet, é justificada com a consideração de que “este assunto não foi convenientemente resolvido e se encontra longe de estar esclarecido”. A Sociedade invoca ainda a circunstância de “o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o AO” e de “Angola ter assumido publicamente uma posição contra”.

O professor Carlos Reis, reconhecido defensor do AO, critica a posição da SPA, acusando a instituição de “correr atrás de lebres mal informadas ou tendenciosas”. “Ao contrário do que diz o site da SPA, o Brasil não adiou uma decisão final sobre o AO, o que fez foi prolongar por mais algum tempo o período de transição até à sua aplicação obrigatória” em 2016, acrescenta, num depoimento enviado ao PÚBLICO por email, o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e ex-director da Biblioteca Nacional.

Carlos Reis – que no ano lectivo 2011-12 leccionou na Universidade Católica do Rio Grande do Sul – refere, de resto, que pôde verificar in loco “que o AO foi já generalizadamente adoptado no Brasil, sem dramas nem histerias”, e cita, como exemplo, o recente anúncio do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, de que vai ajustar já às novas regras os textos da comunicação da sua exposição permanente Linha do Tempo da Língua Portuguesa.

No seu comunicado, a SPA volta a criticar “a forma como este assunto de indiscutível importância cultural e política foi tratado pelo Estado português”, responsabilizando, em particular, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, do anterior governo socialista, Luís Amado, “que se caracterizou por uma ausência total de contactos com as entidades que deveriam ter sido previamente ouvidas sobre esta matéria, sendo a SPA uma delas”.

“O facto de não terem sido levadas em consideração opiniões e contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso” – acrescenta o comunicado da SPA – “prejudicou seriamente todo este processo, e deixa Portugal numa posição particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontado com as recentes posições do Brasil e de Angola.”

Carlos Reis concorda neste ponto com a SPA: “É de uma total irresponsabilidade a forma como este assunto tem sido tratado pelo Estado português, em particular quando Luís Amado foi ministro dos Negócios Estrangeiros.” Mas chama a atenção para outro aspecto a ter em conta, na posição que o Brasil tem tomado perante o assunto: “Como o AO carece de alguns reajustamentos (só a gritaria portuguesa em torno deste assunto impediu que isso fosse reconhecido com serenidade), será o Brasil a liderar esse processo, quando ele acontecer. As pessoas que tanto temem o protagonismo do Brasil nesta matéria estão a dar àquele grande país esse protagonismo, quando contribuem para amplificar notícias que aconselhariam mais informação e mais prudência”, diz o professor da Universidade de Coimbra.

Carlos Reis acrescenta que se a recente posição do Brasil, de adiar a obrigatoriedade de utilização das determinações do AO para 2016, “tem alguma coisa que ver com Angola (que, mais tarde ou mais cedo, vai ter mesmo de adoptar o AO), então isso só mostra que aquele país tem mais atenção ao universo da língua portuguesa e às suas singularidades do que Portugal, destituídos como estamos de uma política de língua estrategicamente ponderada”.

O polémico dossier do AO teve, esta semana, mais um desenvolvimento na Assembleia da República, com a aprovação, por unanimidade, na terça-feira, da criação de um Grupo de Trabalho para Acompanhamento da Aplicação do AO, sob proposta do deputado comunista Miguel Tiago.

07/01/2013

Revista Portugal Mag

Na revista PortugalMag, publicada em França, no seu número de Dezembro, nas páginas 10 e 11, vem um extenso artigo de Maria Fernanda Pinto sobre o meu trabalho de romancista - " Deana e a sua Arte". Os meus sinceros agradecimentos à jornalista e aos Directores da Revista, Pedro António e Frankelim Amaral, pelo destaque que me deram. Para ler aqui: http://www.portugalmag.fr/

06/01/2013

Dia de Reis e Padre António Vieira


Ecce Magi ab Oriente venerunt ...

Nasceu hoje a cristandade, porque os três reis que neste dia vieram adorar a Cristo foram os primeiros que o reconheceram por Senhor, e por isso lhe tributaram ouro; os primeiros que o reconheceram por Deus, e por isso lhe consagraram incenso; os primeiros que o reconheceram por homem em carne mortal, e por isso lhe ofereceram mirra. Vieram gentios, e tornaram fiéis; vieram idólatras, e tornaram cristãos. (...)
 
Foram três, e nem mais nem menos que três, os reis que vieram adorar a Cristo, porque neles se representava todas as partes do mundo que também são três: Ásia, África e Europa. (...)
Dizem que  os três reis significavam a Ásia, a  África e a Europa; e onde lhes ficou a América? A América não é também parte do mundo, e a maior parte?

Havemos de supor que neste mesmo Mundo em diferentes tempos houve dois Mundos: o Mundo Velho, que conheceram os antigos, e o Mundo Novo, que eles e o mesmo Mundo não conheceu, até que os portugueses o descobriram.

O Mundo Velho compunha-se de três partes: Ásia, África e Europa; mas de tal maneira que entrando neste primeiro composto toda a Europa, a Ásia e a África não entravam inteiras, senão partidas e por um só lado: a África com a parte que abraça o mar Mediterrâneo, e a Ásia com a parte a que se estende o mar Eritreu.

O Mundo Novo, muito maior que o Velho, também se compõe de três partes: Ásia, África e América; mas de tal maneira também, que entrando neste segundo composto toda a América, a Ásia e a África, só entram nele partidas, e com os outros dois lados tanto mais vastos e tanto mais dilatados, , quanto o mar Oceano que os rodeia excede ao Mediterrâneo e Eritreu.

E como os autores antigos só conheceram o Mundo Velho e não tiveram, nem podiam ter conhecimento do Novo; por isso Beda e Ruperto disseram com muita propriedade que os três reis do Oriente ( os Reis Magos  que vieram adorar a Cristo ) representavam as três partes do mundo: Ásia, África e Europa. (...)

São Bernardo arguiu com seu grande engenho, que assim como houve três reis do Oriente que levaram as gentilidades[1] a Cristo, assim havia de haver outros três reis do Ocidente que as trouxessem à mesma fé.(...)

 Mas o tempo, que é o mais claro intérprete dos futuros, nos ensinou dali ( do tempo de D. Afonso Henriques ) a quatrocentos anos, que estes felicíssimos reis são el-rei D. João II, el-rei D. Manuel e el-rei D. João III; porque o primeiro começou, o segundo prosseguiu e o terceiro aperfeiçoou o descobrimento das nossas conquistas, e todos três trouxeram ao conhecimento de Cristo aquelas novas gentilidades, como os três Reis Magos as antigas. Os Magos levando a luz da fé do Oriente para o Ocidente; eles do Ocidente para o Oriente; os Magos presentando a Cristo a Ásia, África e Europa; e eles a  Ásia, África e América; os Magos estendendo os raios da sua estrela por todo o Mundo Velho até as gargantas do Mediterrâneo, e eles alumiando com o novo sol a todo o Mundo Novo até as balizas do Oceano.

(Sermão da Epifania - Pregado na Capela Real à Rainha Regente - ob.cit. Vol.III ) 
[1] Gentilidades  - Pagãos. Sem religião.

“Livros de verão e literatura de verdade”, de Milton Hatoum

Excelente o texto de Milton Hatoum publicado no site do "Estadão"

"Há poucos meses atrás, na Feira do Livro de Guadalajara, vi uma cena que, de algum modo, diz muito sobre a literatura e a solidão, essas irmãs siamesas.

A Feira estava cheia de gente, mas não necessariamente de leitores. Ao visitar o estande de uma editora, vi um escritor de língua espanhola, sentado diante de uma mesinha, à espera de leitores. Ele tinha um ar desolado e conversava com uma mulher. Quando eu passava perto dos dois, ele perguntou à mulher onde estavam os leitores. Ela sorriu e apontou para uma fila de leitores excitados, que queriam comprar a edição espanhola de Cinquenta Tons de Cinza, o best-seller do momento.

É improvável que os leitores dessas historinhas de sexo e violência – ou sexo com violência – leiam romances de Conrad, de Dostoievski ou de Graciliano Ramos. Quantos se aventuram a ler Coração das Trevas, Crime e Castigo ou Infância? Para a maioria dos leitores, um livro de ficção é puro entretenimento, algo que não convida a pensar nas relações humanas, no jogo social e político, na passagem do tempo e nas contradições e misérias do nosso tempo, muito menos na linguagem, na forma que forja a narrativa. Talvez por isso o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez tenha afirmado que a poesia é a arte da imensa minoria. Isso serve para a literatura e para todas as artes. Os poucos, mas felizardos espectadores da peça O Idiota, dirigida por Cibele Forjaz, sabem disso.

Flaubert costumava lamentar a época em que viveu: a crença entusiasmada e cega no progresso e na ciência, as batalhas fratricidas na França, a carnificina das guerras imperialistas, e a idiotice e bestialidade humanas, que ele explorou com ironia em sua obra. Em uma carta de sua vasta correspondência, escreveu que o ser humano não podia devorar o universo. Referia-se ao consumismo crescente na segunda metade do século 19.

O que o “Ermitão de Croisset” diria dos dias de hoje, quando a propaganda insidiosa na tevê não poupa nem as crianças e tudo gira em torno da vida de celebridades, de uma fulana famosa que teve um bebê, de sicrano que se separou de beltrana ou traiu uma fulaninha? Qual o interesse em saber que a princesa da Inglaterra está grávida? Essas baboseiras são ainda mais graves num país como o Brasil, cuja modernidade manca ou incompleta exclui milhões de jovens de uma formação educacional consistente.

No começo da década de 1990, quando eu passava uma temporada em Saint-Nazaire, um jovem operário entrou no meu apartamento para consertar o vazamento de uma tubulação. Quando passou pela sala, viu um romance em cima da mesa e exclamou:

Ah, Stendhal. Li vários livros dele, e o que mais aprecio é esse mesmo: A Cartuxa de Parma.

E onde você os leu? Quando? Aqui mesmo, ele disse. Na escola secundária.

Era uma das escolas públicas daquela pequena cidade no oeste da França.

Nicolas Sarkozy e outros presidentes conservadores tentaram prejudicar o ensino de literatura e ciências humanas na escola pública francesa, mas nenhum deles teve pleno êxito. Aprender a ler e a pensar criticamente é um dos preceitos de uma sociedade democrática, e esse mandamento republicano ainda vigora na França. O que os prefeitos e secretários de Educação dos quase 5.700 municípios brasileiros dizem a esse respeito?

A precariedade da educação pública é um dos problemas estruturais da América Latina. Até mesmo a Argentina, que já foi uma exceção honrosa, começa a padecer desse mal.

Comecei essa crônica evocando a solidão de um escritor em Guadalajara. Melhor assim: a solidão está na origem do romance moderno, é um de seus pilares constitutivos e faz parte do trabalho da imaginação do escritor e do leitor.

O tempo se encarrega de apagar todos os cinquenta tons de cinza, e ainda arrasta para o esquecimento os crepúsculos, cabanas e toda essa xaropada que finge ser literatura. Enquanto isso, Coração das Trevas, publicada há mais de um século, é uma das novelas mais lidas por leitores de língua inglesa. ".

Cortesia do blogue Autores e Livros

05/01/2013

Férias de luxo de Relvas e Dias Loureiro

Tiago Mesquita
 
Em circunstâncias normais, as viagens privadas que os políticos ou ex-políticos fazem (para nos darem um bocadinho de descanso) são um problema deles. Num cenário diferente do actual, ser-me-ia completamente indiferente se o ministro Relvas escolhia ir passear a tanga ao Brasil ou brincar pelado com os pinguins na Antártida. Se o passado do ex-administrador da famigerada SLN - Dias Loureiro - não tivesse directamente a ver com um presente envenenado e o futuro condenado (nosso, entenda-se), não perderia um minuto a pensar neste assunto.
 
Acontece, porém, que Relvas é a cara desta espécie de governo que nos impõe sacrifícios diariamente e Dias Loureiro é uma das faces visadas na mega-fraude do BPN - via SLN - escândalo que já custou aos portugueses a módica quantia de 3405 milhões de euros (custo estimado até ao final de 2102), custo para os contribuintes que pode atingir 6509 milhões de euros, mais juros e contingências. Coisa pouca. Ora nestas circunstâncias ler notícias como a que se segue aumenta exponencialmente a vontade de fretar um avião (conduzido por um primo do capitão Schettino) e enviá-los para o triângulo das Bermudas.
 
"O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, foi passar os últimos dias do ano ao Rio de Janeiro, Brasil, e esteve num dos mais luxuosos hotéis da "Cidade Maravilhosa", o emblemático Copacabana Palace. Mas não foi o único. O ex-administrador da SLN, holding que era detentora de 100% do BPN - Banco Português de Negócios, Dias Loureiro, e o ex-ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional, José Luís Arnaut, também lá estiveram." - jornal i.
 
A diária no Copacabana Palace, segundo o jornal i, "custa um mínimo de 600 euros e o preço médio por dormida é de 800 euros, sem incluir taxas de serviços de hotel ou pequeno-almoço - e a preços de balcão. Uma refeição no hotel pode custar bem mais que a pernoita e os preços sobem em época alta, como acontece nos períodos de Natal e Ano Novo" .
 
Numa época em que apenas falta ao ministro Gaspar lembrar-se de pagar os subsídios com vouchers de 'A Vida é Bela', em que os portugueses contam tostões antecipando o incerto, em que muitos hotéis estão de portas fechadas por falta de clientes (16% dos hotéis portugueses encerraram na época baixa. Só no Algarve, de acordo com dados da Associação da Hotelaria de Portugal, quase metade dos hotéis (48%) fecharam esta estação por falta de turistas), o ministro Relvas não se coibiu de laurear a pevide no Brasil, à grande e à Sócrates, demonstrando uma total falta de decoro, bom senso e sensibilidade. Foi festejar o quê, pergunto?
 
Meus senhores, o sacrifício maior exigido aos portugueses é mesmo termos de continuara alimentar-vos. É uma vergonha.
 
Tiago Mesquita - 100 reféns