17/12/2013

Os escolhidos

É o futuro que interessa a esta geração de filhos únicos na China. E nem sempre esse futuro passa por um segundo filho, mas sim pela liberdade de escolha. Muito mudou no país desde que, em 1979, foi anunciada uma nova política de controlo de natalidade. A primeira geração de descendentes únicos aprendeu a viver com uma política ambígua e, desde sempre, condenada por cidadãos, especialistas, activistas e organizações de direitos humanos. O Governo Central chegou a um impasse, quando o envelhecimento da população limitou uma renovação geracional.
Catarina Domingues, em Pequim

Miaoyi está no quarto com as tias, e com a avó, e vai passando de colo em colo, e dos braços de uma para a outra, e para a outra, de um dialecto do norte para um do centro, de Hebei para Jiangsu. Tem dois anos, é filha única, e passa os dias na companhia das três mulheres, enquanto os pais estão no trabalho. A mãe, Liji, é auditora na multinacional britânica PricewaterhouseCoopers, e o marido, Zhou Zhichen, está à frente da Fuscent, uma empresa de serviços financeiros. Às sete da noite, a mãe já está em casa. Depois, as cinco mulheres ficam à espera de Zhichen, que só chega às dez.

Liji trata a filha por Zoe, nome inglês que a pequena reconhece e repete quando chega à sala, com a boca suja de chocolate e uma nota de um renminbi a balançar na mão. `Qian´, diz Zoe, que em chinês quer dizer `dinheiro´. Zoe fala ainda com os tons fora do sítio, e ainda com a nota na mão. Zoe, a que horas te vais deitar?, pergunta a mãe. Quando fica escuro, responde. E a que horas te levantas? Quando fica claro. Zoe, queres um maninho? Zoe já sabe a resposta, não, não quero nada, quero desenhos animados.

Se há um mês perguntassem a Liji e a Zhichen se queriam um segundo filho, diriam: sim, claro que sim, é óbvio, mas não, não vai acontecer. Em Pequim, temos de pagar 400 mil renminbis para ter um segundo filho, explica Liji. Não temos condições para pagar a multa ao governo, só com ajuda dos meus pais e dos meus sogros, acrescenta o marido.

 Plante mais árvores e faça menos filhos

Em Novembro tudo mudou. Segundo as novas medidas anunciadas pelo governo chinês, vai ser possível uma nova criança no apartamento espaçoso deste casal de classe média. A mudança à política permite um segundo filho se um dos membros do casal for descendente único – e é o caso de Liji. A auditora tem 29 anos e nasceu em Daqing, na província de Heilongjiang. Daqing tem os maiores campos petrolíferos da China, o meu pai trabalha numa empresa estatal ligada ao sector. Naquela altura, mesmo pagando uma multa, ter um segundo filho significava ser despedido, explica Liji.

O marido, Zhou Zhichen, com a mesma idade, é oriundo de Xuzhou, na província de Jiangsu. Lembro-me de ver cartazes espalhados pelas ruas, plante mais árvores e faça menos filhos, dizia um deles, crie mais porcos e faça menos filhos, dizia outro. Nada que tenha feito eco em casa da família Zhou. Os meus pais pagaram uma multa de 30 mil yuans pela segunda e terceira criança. Em cidades pequenas como a minha, as multas eram mais baratas, reforça Zhichen, o mais velho dos três filhos.

A política do filho único foi implementada em 1979 para dar resposta ao acelerado crescimento da população chinesa. Aplicada ao nível provincial, as minorias étnicas foram, desde logo, uma das excepções à lei. Nos anos 1980, o governo permitiu, nas zonas rurais, uma segunda criança aos casais com uma menina. A política voltou, mais tarde, a dar sinais de abertura, autorizando um segundo filho a casais sem irmãos.

Segundo dados oficiais, nas últimas três décadas, o controlo impediu 400 milhões de nascimentos. Lu Yilong, professor de Sociologia e Estudos Populacionais da Universidade Renmin, em Pequim, afirma que a política era um mal necessário. Se não tivesse sido aplicada, hoje teríamos cerca de 1,8 mil milhões de habitantes, maiores níveis de pobreza e, provavelmente, tumultos sociais. O especialista acredita, porém, que a política do filho único está longe de ser a ideal. Restringe a liberdade de ter filhos e está a causar a diminuição da população activa, sem resolver o rápido envelhecimento populacional, diz Lu. Além disso, o especialista explica que, na China, é no filho único que recaem todas as expectativas: assegurar o bem-estar e o futuro financeiro da família. O filho único vive com esse peso, diz Lu, explicando que uma segunda criança pode ajudar a aliviar essa pressão.

Filho vs filha 

Quando Zhaoliang nasceu, a avó paterna não podia acreditar. Era menina, não, não podia ser menina. "A minha avó disse ao meu pai que me matasse, conta a professora de Mandarim de 26 anos. Ainda hoje não sei o nome da aldeia onde ela vivia, sei que é perto de Baoding, na província de Hebei, e sei que matavam muitas meninas à nascença, a minha mãe nunca quis que lá fosse, porque a minha avó nunca gostou de mim".

Quatro anos depois, a mãe de Zhaoliang voltou a engravidar. Era menino, finalmente menino, gritou a avó. Mas a família não tinha como pagar a multa e acabou por interromper a gravidez. "A minha avó ficou furiosa porque queria um neto. A minha mãe contava-me que, até morrer, a minha avó sempre tratou bem dos meus primos homens".

Ainda existe discriminação sexual sobretudo em ambiente rural, diz o sociólogo Lu Yilong, realçando que é nessas zonas, onde existe uma preferência por rapazes, que a educação é urgente. "O rapaz carrega o nome da família", continua Zhaoliang, "e isso é extremamente importante para os chineses. Além disso, a geração da minha avó acredita que o homem tem mais poder e pode ganhar mais dinheiro. É o rapaz que herda tudo, não é lei, mas é tradição", conta a professora.

Na pequena cidade onde o empresário Zhichen nasceu, na província de Jiangsu, ter um filho homem também é sinal de sucesso. "Existe esse preconceito", explica Zhichen, "o meu primo tem três meninas, mas não desiste de um filho homem. A mulher já fez pelo menos três abortos porque todas eram meninas e, apesar de não estar bem de saúde, continua a tentar engravidar".

Na China, clínicas e hospitais estão proibidos de revelar o sexo da criança, mas muitas famílias conseguem ter acesso a essa informação. A preferência por homens fez com que, no início do século, o rácio fosse de 119,2 homens para 100 mulheres. Especialistas acreditam que, em 2020, o país terá mais 35 milhões de homens do que mulheres.
Em 2005, a organização `East-West Center´ divulgou um estudo do sociólogo Wang Feng, que refere a prática de abortos selectivos, esterelizações forçadas, infanticídio e a existência de `crianças não registadas´ como consequências da política do filho único. Estas `crianças não registadas´ nasceram à margem da política e da sociedade; vivem escondidas entre quatro paredes, sem acesso a identidade, educação e cuidados de saúde. Não há dados sobre o número de crianças sem registo, diz o especialista em Estudos Populacionais, Lu Yilong, que garante que o governo dispõe de agências para solucionar o problema.

No centro do debate têm estado as comissões provinciais de planeamento familiar. De acordo com a publicação `21st Century Business Herald´, em 2012, quinze províncias chinesas arrecadaram 12,8 mil milhões de yuan com as multas cobradas às famílias que escolheram ter mais filhos. Lu Yilong explica que as novas alterações à política vão ficar a cargo de cada província. Por um lado, algumas comissões vão continuar a implementar rigorosamente a política como forma de manter uma fonte de rendimento, mas acredito que outras defendam a abolição desta medida, porque é um processo de trabalho duro e motivo de conflito entre as autoridades e a população.

Quem sou eu? 

"Havia um casal de gémeos na minha turma, e percorríamos juntos o caminho de regresso a casa, e lembro-me de pensar que eram tão unidos, e lembro-me de sentir que eu não pertencia àquele círculo", diz Tianyi, 28 anos, filho único. "Sinto que, por um lado, recebo amor a dobrar, por outro sinto muita pressão dos meus pais, e dos meus avós, que depositam todas as esperanças em mim". Tianyi nasceu e cresceu em Tianjin, a 120 quilómetros da capital chinesa, onde trabalha num departamento do governo chinês. "Sempre que posso regresso a casa, os meus pais reformaram-se e estão aborrecidos". "Queres ter filhos?". "Só um, e quanto mais tarde, melhor", responde Tianyi," mas os meus pais pressionam-me, porque estão aborrecidos, porque precisam de se ligar emocionalmente a alguém".

Tianyi diz que nunca parou para pensar se queria um irmão ou não. Passava os fins-de-semana com a prima, a quem chama irmã, e com o primo, a quem trata por irmão. "Acredito que o filho único seja mais egoísta, que não dê tanto valor à amizade". "És egoísta?". "Se a sociedade espera que sejas egoísta, tens de ser, mas tento sempre ajudar quem precisa".

A questão da personalidade de um filho único é complexa e tem implicações teóricas e práticas não apenas na China mas em todo o mundo, explica Ren Xiaopeng, professor do Instituto de Psicologia da Academia de Ciências Sociais da China. O professor acredita que, da perspectiva da psicologia social, a política do filho único deve ser a primeira e única prática de planeamento familiar no mundo e teve grandes implicações na vida humana. "Na minha opinião", realça Xiaopeng, "existem poucos estudos de personalidade, mas cito a revista Science, que fala numa geração mais egocêntrica".

"Partilha, passo o tempo a explicar à minha filha Zoe o valor da partilha", conta Liji, que sendo filha única, rejeita o termo `pequenos imperadores´, nome associado a uma geração de descendentes únicos. "Nunca fui muito protegida, quando tinha 16 anos, os meus pais obrigaram-me a subir cinco andares com um porco nos braços", conta a auditora, que acredita, porém, que a política do filho único teve grande influência nesta primeira geração. "Sou muito fechada, acredito que tenha a ver com o facto de ser chinesa, mas também por ter sido criada sozinha. Nunca soube o que era partilhar, quando era pequena não queria brincar com os meus primos, queria estar sozinha. Já o meu marido tem três irmãos e outra forma de olhar o mundo, é gentil".

O especialista Ren Xiaopeng acredita que a diferença entre o bem e o mal chega a qualquer contexto familiar, com ou sem irmãos. Mas conceitos como justiça e igualdade são mais usados nas casas de famílias com mais filhos, realça. Conceitos que Zhaoliang, filha única, reconhece e defende. Para compensar a solidão, os pais traziam para casa cães atrás de gatos, pássaros atrás de tartarugas. "Nunca me senti sozinha".

 Os segundos

Zhaoliang não tem namorado, nem sabe se vai casar, se quer casar, e, se sim, quer um filho, quanto muito. "Acho que o relaxamento da política é terrível, porque implica o crescimento da população, mais problemas sociais, mais desemprego". "Não é um direito?". "Sim, é, mas um filho é o suficiente".

De acordo com estimativas da Comissão de Planeamento Familiar e de Saúde Nacional da China, entre 15 a 20 milhões de pessoas vão ser afectadas pelas novas regras. O que as autoridades não podiam prever é que a geração de filhos únicos não fosse agarrar a oportunidade de ter um segundo filho. "Muitos casais, sobretudo nas grandes cidades, não querem um segundo filho", diz o sociólogo Lu Yilong, sublinhando que, dessa forma, os pais podem investir mais na educação de um único filho.

"Existe um ditado na China que reflecte a obsessão pela educação neste país: não deixes os teus filhos perder logo na linha de partida", conta o primeiro de três filhos, Zhou Zhichen. A pressão é tão grande que os pais querem que os filhos saibam um pouco de tudo. As crianças de hoje têm de aprender inglês, têm de saber tocar piano ou frequentar aulas de dança. E onde fica o tempo para brincar?".

O elevado custo de vida, com um aumento do preço das casas, do custo da educação e dos cuidados de saúde, faz com que muitas famílias ponham de lado a hipótese de um segundo filho. "As mentalidades mudaram", diz Zhichen, "no passado os chineses tinham muitos filhos e esperavam que um dos descendentes fosse bem-sucedido, e trouxesse glória e riqueza para casa, e ajudasse a família. Hoje, as relações mudaram e as pessoas são mais individualistas".

Mesmo assim, o empresário apoia a continuação de uma política de controlo de natalidade. "Ter um filho é um direito que nos assiste, é verdade, mas temos de pensar no que vai ser o futuro da China. Nós, pais, não queremos que os nossos filhos passem por dificuldades". Liji e Zhichen já pensam num segundo filho. Liji quer um menino, a Zhichen tanto faz.

Historia de la Música (Lecciones Ilustradas)

Vida da arte musical ocidental desde os inícios da Humanidade até à nossa era, passando rapidamente pela música antiga, a clássica, o jazz, os blues, o rock, o metal ou a electrónica.

14/12/2013

Final da 3ª edição de «O Espião de D. João II» em promoção

Como muitos leitores me têm perguntado por este romance, talvez queiram aproveitar esta campanha promocional da editora

São os últimos exemplares de O Espião de D. João II, que eu autografei ontem na Ésquilo para serem vendidos on-line.  Na mesma página da Editora está indicado O Romance da Bíblia, que já não existe tendo a última edição (exactamente igual à anterior) o título de Tentação da Serpente.
 
Segundo informação do editor, também podem encontrar nas livrarias Bertrand alguns exemplares de O Espião de D. João II (terão talvez de os pedir ao balcão), mas não estão assinados.

Desejo Boas Festas a todos os meus amigos leitores.


 O Espião de D. João II

Na demanda dos segredos do Oriente e do misterioso reino do Preste João
"O formidável Espião de D. João II possuía qualidades e talentos comparáveis aos de um James Bond e Indiana Jones, reunidos num só homem. A memória fotográfica, uma capacidade espantosa para aprender línguas, a arte do disfarce para assumir as mais diversas identidades, a mestria no manejo de todas as armas do seu tempo e, sobretudo, uma imensa coragem e espírito de sacrifício, aliados ao culto cavaleiresco da mulher e do amor que o fascinavam, fazem dele uma personagem histórica única e inspiradora. 

El-rei D. João II escolhia-o para as missões mais secretas, certo que qualquer outro falharia. Talvez esse secretismo seja a razão do seu nome de família e do seu rosto terem ficado, para sempre, na penumbra. 


Em 1487, Pêro da Covilhã foi enviado de Portugal, ao mesmo tempo que Bartolomeu Dias, a descobrir por terra, aquilo que o navegador ia demandar por mar: uma rota para as especiarias da Índia e notícias do encoberto Preste João.


Ao espião esperava-o uma longa peregrinação de cerca de seis anos pelas regiões do Mar Vermelho e costas do Índico até Calecut e, também, pela Pérsia, África Oriental, Arábia e Etiópia, descobrindo povos e culturas em lugares hostis, cujos costumes lhe eram completamente estranhos. Na pele de um enigmático mercador do Al- -Andalus, o Escudeiro-guerreiro do Príncipe Perfeito realizou proezas admiráveis que causaram espanto no mundo do seu tempo.


Neste romance fascinante, Deana Barroqueiro convida-nos a seguir o trilho de Pêro da Covilhã na sua fabulosa odisseia recheada de aventuras, amores, conquistas e descobertas inolvidáveis…"


Editora Ésquilo: http://esquilo.com/espiao_djoaoII.html

3.ª Edição
Título: O Espião de D. João II
Autor: Deana Barroqueiro
ISBN: 972-978-8092-58-8
Formato: 16X23 Cm | Nº de Páginas: 528 | Capa mole
Preço:19,50€ 15,00 € (Promoção final de edição) 










12/12/2013

Adeus a Nadir Afonso

"Desistir? Podia levar pancada que ia continuar a pintar"
Correu tudo mal. Nadir Afonso falhou na escola, na faculdade e na profissão. Mas trabalhou com Le Corbusier, Oscar Niemeyer e esteve na fervilhante Paris dos anos 40. Se esta é uma história de falhanços, é a melhor de sempre. Nadir Afonso em discurso directo sobre o que andou a fazer entre 1930 a 1960, para além da pintura. Essa está desde ontem no Museu do Chiado, Lisboa, com "Nadir Afonso, Sem Limites", uma retrospectiva dessas três aventurosas décadas. 
  Recorde a entrevista dada ao i no dia 23 de Junho de 2010:

 Vai fazer 90 anos, ainda pinta? 

Não faço outra vida. Pinto todos os dias ou vou olhando para os trabalhos antigos e faço uns retoques. Tenho grande paixão pela pintura e pela harmonia das formas. Neste momento é a única coisa da vida que me atrai. E a matemática.

[Laura Afonso, a mulher de Nadir, interrompe] Todos os dias ele vai para o ateliê escrever ou pintar. Digo na brincadeira que está no vício. Sei que se ele um dia, por motivos de saúde, tiver de parar, é o fim. Ele vive disto.

Lembra-se de quando começou a pintar? 

Desde sempre. Aos quatro anos fiz das boas: pintei um círculo perfeito na parede lá de casa com um pincel. Já então era atraído pela beleza das formas. Aquilo emocionou-me.

Os seus pais, o que acharam disso? 

A minha mãe veio ralhar: "Sujaste a parede toda." E eu respondi: "Como é que eu, com a minha idade, podia ter desenhado uma roda tão bem feitinha?" [risos] Ela pensou duas vezes e deixou passar.

De onde vem essa atracção? 

Nunca me foi diagnosticado nada mas acho que sou hipersensível. Toda a gente tem alguma sensibilidade mas eu era--o de mais: era irascível, epiléptico, hipersensível e anormal. Toda a vida senti demasiado as coisas e sofri com isso.

Era bom aluno na escola? 

Ui, era um cábula. Fui um anormalzinho nas disciplinas todas, não entendia nada, não memorizava nada. Nunca soube os reis de Portugal e essas coisas todas. [dramatiza] "Quem foi o primeiro rei de Portugal, Nadir? Foi o D. Afonso Henriques, nasceu na serra de Lugo, vive em Espanha e vai desaguar a Caminha." [risos]

Mas era bom a Geometria e Matemática. 

Um craque! No resto sou um analfabeto. Não percebo nada de nada.

Sempre quis ser pintor. Mas foi para Arquitectura? 

Arranjei problemas em todo o lado e esse foi mais um. Fiz um requerimento ao reitor para ir para Pintura nas Belas-Artes, no Porto. Escrevi uma carta como se fazia na altura, num papel especial, com aquela lengalenga toda. Nunca lá tinha ido e vi aqueles degraus, aquelas balaustradas e entrei por ali adentro todo encolhido. Chego à entrada e está lá um contínuo a dormir de braços cruzados num banco. Acordo-o e ele olha para o meu requerimento com um ar grave. Diz-me: "Então você quer ir para Pintura e tem o liceu? [na altura podia-se entrar nesse curso só com o 9.o ano] Vá mas é para Arquitectura, homem! Ganhe juízo que a pintura não alimenta um homem, vai matar-se à fome!" E foi o que eu fiz, cobardemente. Rasguei o requerimento e fiz logo ali outro. Fui para Arquitectura.

Correu muito mal? 

Se correu. Eu não tinha temperamento para arquitecto. Repare: os arquitectos têm umas pranchetas na horizontal onde desenham, os pintores pintam na vertical. Então eu chego às aulas e começo a desenhar na vertical, com colegas e professores a acharem que era maluco.

O professor deixava? 

Tivemos as nossas chatices. Mas o tipo, o professor Carlos Ramos, foi tão camarada que disse: "Eu reconheço que o senhor tem qualidades, mas está a fazer pintura, não pode ser." Então, como ele achava que eu fazia aquilo porque não tinha nem podia ter um estirador, ofereceu-me um. Eu, com este meu feitio, recusei, mas no dia seguinte qual foi o meu espanto quando cheguei a casa e tinha lá um estirador novinho em folha.

Começou a portar-se melhor? 

Hoje reconheço que agi mal. Com 18 anos e cabeça quente, continuei a fazer pintura nas aulas. O professor baixou-me as notas – com razão, reconheço hoje. Vai daí eu chamo a minha empregada – chamava-se Bina, ainda me lembro – e pega dum lado, pega do outro, lá levámos o estirador de volta às Belas-Artes. Entrei por ali adentro a dizer disparates, todo exaltado, no dia em que foram afixadas as pautas: a faculdade cheia. "Para pintar até pinto em cima da cama!" Era um miúdo irascível.

Porque vai para Paris? 

Porque era lá que queria ser pintor. Mas tinha de arranjar trabalho, de ter dinheiro para comer. Foi difícil. Estávamos nos anos 40, no pós-guerra, e tudo era racionado. Lembro-me de o meu pai enviar leite em pó pelo correio porque lá o leite era só para as mulheres e as crianças. Atravessei uma ponte inteira a butes com uma mala na mão e umas telas debaixo do braço.

 Foi fácil arranjar passaporte? 

Na altura era difícil sair mas arranjei um esquema. Fui para lá como organizador de uma exposição. Balelas. Uma vez lá, nunca mais me lembrei disso. O passaporte estava cheio de erros de ortografia, altura era "hauture" e não "taille", foi uma risada.

Vai para Paris para ser pintor, mas reincide na arquitectura. 

Bati à porta do ateliê do Le Corbusier, que era o melhor arquitecto do mundo na altura. Tive sorte de eles terem gostado logo de mim e fiquei. Trabalhava de dia na arquitectura e à noite pintava. Era duro.

Jornal i -  Por Luís Leal Miranda, em 11 Dez 2013

 (Ver o resto da entrevista em: http://www.ionline.pt/artigos/mais/nadir-afonso-desistir-podia-levar-pancada-ia-continuar-pintar/pag/-1

Parabéns, Manuel de Oliveira!


Aos 105 anos, Manoel de Oliveira continua a querer filmar

10/12/2013

Acordo Ortográfico: Morto no Brasil, cadáver adiado em Portugal

Uma aberração de um Acordo Ortográfico, feito sem pés nem cabeça e que, por interesses de uns poucos, tem sido imposto a todo um povo, em particular aos cultores da Língua Portuguesa que o repudiaram desde o início; e que foi implantado nas escolas, tal como o inconcebível TLEBS - a Terminologia Linguística do Ensino Básico e Secundário (que os deuses lhes perdoem!) contra a vontade dos professores e com enorme prejuízo dos alunos.

Para que fosse impossível, aos que se lhe opunham, travá-lo, os seus mentores apressaram-se a pô-lo em prática mesmo antes da data prevista, para que ficássemos perante um facto consumado, cujo recuo provocaria grandes prejuízos, nomeadamente às editoras que correram a fazer novos manuais com ele.

Angola repudiou-o desde sempre, o Brasil (a quem se quis fazer o serviço e o favor) matou-o pouco depois por malfeito e incompetente, só o Governo português, que não quer dar o braço a torcer reconhecendo a aberração, continua a teimar em impor-nos este cadáver adiado. Até quando?

Vale a pena ler este artigo do Público:
 

Acordo Ortográfico: dificuldades operacionais na Assembleia da República

Sermos cultores da Língua Portuguesa, concedo, não é garantia de civilidade, mas é pelo menos motor de civilização. Por outro lado, "carrascos" do AO não seremos: esse jaz morto e já fede no Brasil.


"Estavam todas juntas, quatrocentas bruxas, à espera, à espera, à espera da Lua cheia..." António Quadros (pintor)

Abel Ba(p)tista perdeu o "p", deixando-se "operacionalizar" pelo conversor Lince, não há mal que lhe não venha. Mais consoante menos consoante, mais hífen menos hífen, poucos deputados, prezando-se do seu pragmatismo, se têm detido perante minudências. Quanto ao Acordo Ortográfico (AO), em 2008, Abel Batista absteve-se, a par de Paulo Portas, quando a bancada parlamentar do CDS foi a única a dar "liberdade de voto". A bancada do PCP acompanhou-os, aliás, embora em "obediência partidária", nessa que viria mais tarde a designar-se por "abstenção violenta". PS, PSD e BE impuseram "disciplina de voto" e votaram a favor, mas só de quatro votos contra reza a História.

São, porém, várias as dificuldades operacionais com que se depara o novo Presidente da Comissão de Educação, que veio substituir Ribeiro e Castro, após a demissão deste em ruptura com as orientações da liderança do partido, nesta que é a única Comissão Parlamentar cuja presidência está atribuída ao CDS. As restantes são presididas pelos dois partidos do "arco da governação", um arco sob o qual vamos passando como se de uma infinda e invernosa Noite de São João se tratasse, a versão tétrica de uma tradição bem mais antiga que este regime político pré-falido... As pessoas passam, Portugal fica; esta é uma regra de há muitos séculos que, para já, não admite excepções.

Voltando ao assunto, a mais grave dificuldade, especulo, ignorante de como "se operacionaliza em termos de" Assembleia da República (AR), será a da adequação à realidade.
Em época natalícia, Abel Batista, Novembro afora e Dezembro adentro, mantém-se num registo de Dia das Bruxas, daí a citação da "Ronda das Mafarricas", poema eternizado na voz de José Afonso.
Nada menos que macabra, a actuação de Batista nesta questão: finge acolher dois arautos anunciando a lenta putrefacção do defunto Acordo Ortográfico lá do outro lado do Atlântico, mas desenterra o cadáver do GTAAAO ("Grupo de Trabalho – Acompanhamento da Aplicação do AO"), "encerrado"/enterrado em Julho passado após sete penosos meses de um desfile de horrores, e põe todos a reunir barricados num cubículo esconso da AR, invocando "razões técnicas". Depois, mantém esse esqueleto no armário para que não se saiba de fonte segura, ou fonte brasileira, que o AO morreu mesmo, morreu em Terras de Vera Cruz. (Se esta síntese é obscura para os menos atentos à saga do AO na AR, esse filme de terror, adiante explico-a.). E a alma penada de um "acordês-mixordês" para-lamentar vai pairando na AR... Inércia institucional, dificuldade em dar o braço a torcer. Percebemos, mas as pessoas passam, Portugal fica.

Para revelar tais dificuldades, ninguém melhor que o próprio em discurso directo. A transcrição vale mais do que mil descrições. Antes, portanto, de referir a resposta dada ao interesse de um grupo de signatários da "Petição pela desvinculação de Portugal do AO" em assistir à audiência, transcrevo ipsis verbis, na íntegra, a alocução de boas-vindas proferida pelo novo Presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura:

"Eu agradeço a presença e o facto de nos visitarem aos distintos professores Hernâni [Ernani] Pimentel e Pascoal [Pasquale] Cipro Neto, em representação do grupo técnico do Senado brasileiro, que vêm apresentar junto do Parlamento português a situação e o ponto de andamento relativamente às questões do Acordo Ortográfico, a quem, em nome do Parlamento português e da Comissão de Educação, e dos Negócios Estrangeiros, agradecemos.
Está presente, ou irá estar presente, convosco, na parte do trabalho mais operativo, representantes dos Grupos Parlamentares do Parlamento português, nesse trabalho, quer da Comissão de Educação, quer da Comissão dos Negócios Estrangeiros, que para o efeito vos acompanharão nesse trabalho. Dar-vos-ão com certeza conta da situação que está feita, em termos do trabalho que é feito no Parlamento e, portanto, aquilo que já está consensualizado em termos parlamentares, aquilo que está em termos de discussão sobre o Acordo Ortográfico e aquilo que é a posição, eventualmente, também, de cada um dos Grupos Parlamentares mas que, no final, o que interessará com certeza será a posição do Parlamento português. E essa será, com certeza, também transmitida.
O que operacionalizámos em termos de trabalho foi dar-vos as boas-vindas em termos da Comissão, para depois operacionalizar, mas evidentemente também a Comissão dá-vos a palavra para nos dar também a vossa... as vossas boas-vindas ou os vossos cumprimentos. Muito obrigado, senhores professores. Têm a palavra, para esse efeito, depois reunirão à parte numa sala ao lado." (sic) 

Há que extrair o máximo de conclusões do mínimo de informação que nos chega. São estes dois minutos dos doze que saíram a público, os anteriores ao momento em que os dois senhores brasileiros foram reunir com os seis deputados do "encerrado" GTAAAO, à porta fechada, como se a Língua Portuguesa ou a vergonha a que a AR expôs o País nessa audiência fossem, qualquer delas, segredo de Estado. Não o são, não podem sê-lo, e é imperativo que pública e honestamente se conclua quão lesiva e vexatória foi a "caixa de Pandora" aberta pelas negociações do AO, esse precedente de puro desrespeito e mercantilização do património linguístico nacional.

Não houvesse lá a pretensão de manipular unilateralmente o Português, levando a "lógica" ilógica do AO ao limite, não estaríamos atentos à actividade de analfabetos (65%) no Brasil. Porém, as notícias do Senado brasileiro, permeável ao movimento "Acordar Melhor" de Ernani Pimentel, têm sempre estado ao alcance dos mais de 35 mil membros do nosso grupo "Em aCção contra o AO" no Facebook.
Enquanto Ernani se gabava de vir falar na AR, por cá ninguém sabia de nada. Nem mesmo Michael Seufert (deputado do CDS que foi membro do GTAAAO e foi também o Relator da nossa petição, tendo o seu magnífico relatório sido aprovado por unanimidade), quando lhe perguntei gracejando se a AR teria "contratado uma palestra" ao dono da Vestcon, império editorial brasileiro dedicado ao Ensino Profissional. (No separador "Palestras" do site "Acordar Melhor", onde se lia "contratar", lê-se agora "convidar".)

No portal da AR só surgiu notícia da audiência no dia 22, sexta-feira. Na segunda-feira (antevéspera), manifestei a Abel Batista a intenção de assistirmos, prevendo que as Comissões usassem a Sala do Senado da AR.

Tive, no mesmo dia, esta resposta indiciadora de dificuldades operacionais:
"Na sequência da comunicação (...), relativa à audiência que a Comissão (...) vai conceder aos coordenadores do Grupo de Trabalho Técnico do Senado (...) do Brasil, (...) dia 27 de novembro, cumpre-me informar que se trata de uma reunião de trabalho e abordagem entre grupos de trabalho de dois dos países subscritores, pelo que entende esta Comissão fazer a reunião com a presença de membros das delegações dos dois países. Esta Comissão analisará todas as opiniões e ouvirá todas as posições sobre o Acordo Ortográfico, mas entende que os debates sobre cada posição devem ser efetuado entre os “grupos de opinião” e os deputados. Acresce ainda informar que a audiência decorrerá na Sala 3 e que a mesma será gravada em registos áudio e vídeo, podendo as gravações ser consultadas nesse mesmo dia ou, não sendo possível, no dia seguinte." (sic)

Só graves dificuldades operacionais justificam que Abel Batista replicasse assim à solicitação claríssima de abrir esta audiência pública a um grupo, distorcendo-a, contrariando as disposições legais constantes do Regimento da AR, dissuadindo a assistência presencial sob compromisso escrito de efectuar e prontamente disponibilizar, quer uma gravação vídeo que não foi feita, quer uma gravação áudio que não foi tornada pública.
Mas sê-lo-á, nem que tenhamos de recorrer aos tribunais. A judicialização da actividade política vai-se banalizando.

Na véspera desta audiência, reuniu a Conferência de Líderes e o debate em plenário da nossa petição foi agendado para a manhã do próximo dia 20. Nesta reunião, Assunção Esteves, que pusera lá a hipótese de vedar as Galerias da AR ao público, anuiu à mera criminalização de certos comportamentos.

Iremos encher as Galerias da AR, na sexta-feira anterior ao Natal? Ou verá em nós a Presidente da AR, tal como Abel Batista, potenciais perturbadores? Em anacrónica e arrastada celebração dos Fiéis Defuntos, irão temer os "carrascos" do AO?
Afirmei, na audição de peticionários, que a AR tem estado de costas voltadas para os cidadãos e para o interesse nacional.

Sermos cultores da Língua Portuguesa, concedo, não é garantia de civilidade, mas é pelo menos motor de civilização. Por outro lado, "carrascos" do AO não seremos: esse jaz morto e já fede no Brasil; foi de viva voz testemunhado o óbito por quem logrou ser recebido.
Um cadáver não pode ser morto, nem a nudez pode ser desnudada, nada há a temer. Se o desfile de horrores da actividade do GTAAAO teve agora um clímax post-mortem, nunca ninguém ignorou que o reis ia nu.

Médica, escritora e activista cívica

As carpideiras de Mandela

O corpo de Nelson Mandela não deve ter descanso, na celebração oficial das suas exéquias que, se pudesse ter voz, decerto detestaria e recusaria que fizessem dele o pretexto para terem visibilidade e "saírem bem na fotografia" muitos dos grandes actores da política mundial ou das cabeças coroadas, que lhe chamaram terrorista e permitiram que 27 dos melhores anos da sua vida lhe fossem roubados, por ter defendido o seu povo contra o apartheid, o mais abjecto sistema racista.

As lágrimas de crocodilo, os rostos maquilhados de tristeza, as palavras de louvor  e saudade, tão falsas quanto vãs, destas "carpideiras" enviadas pelas nações que o tiveram em listas de terroristas (Estados Unidos), que exigiam em cartazes que fosse enforcado (Inglaterra) ou votaram contra a sua libertação (muitos outros)., e também na própria África do Sul como o bispo Desmond Tutu.

Por vezes é difícil, para quem tem vida longa e memória dela, assistir sem revolta a estes espectáculos circenses de maus actores em encenações grandiosas.

Portugal ficou-se pelas meias-tintas, na votação das resoluções da ONU. Segundo a notícia do Expresso, Em 1987, era primeiro-ministro Cavaco Silva, Portugal votou contra uma resolução das Nações Unidas que pedia a libertação de Nelson Mandela, defendendo o recurso à luta armada, e logo a seguir deu o seu voto favorável a outra proposta que também exigia a liberdade do líder sul-africano, mas sem menção a violência.
No total, contaram-se oito resoluções que a 20 de novembro de 1987 foram a votação na Assembleia Geral das Nações Unidas contra a política de apartheid na África do Sul.
O representante português, Ramalho Ortigão, votou contra a resolução A, que pedia a libertação de Mandela depois de um considerando em que se defendia a luta armada e fez uma declaração de voto explicando as suas reservas.
No mesmo dia, quando da votação da resolução G, a representação portuguesa votou a favor. Um dos seus pontos pedia a "libertação imediata e incondicional de Nelson Mandela a todos os outros prisioneiros políticos", sem outros considerandos.
A aparente contradição é justificada pela declaração de voto apresentada por Portugal em que se pode ler que "a delegação portuguesa (...) reafirma a sua forte objeção e oposição a esta aberrante sociedade baseada no racismo institucionalizado e desigualdade racial", embora lamentando não poder apoiar toda a resolução.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/portugal-votou-a-favor-e-contra-nelson-mandela=f844893#ixzz2n4Cfkwd0

“ENFORQUEM NELSON MANDELA”
Por Mario Magalhães (Via blog do Andre Lux)

“Perdão pelo azedume, em meio aos festejos pelo grupo café-com-leite do Brasil na Copa, a preocupação com o possível oponente duro nas oitavas-de-final e o lamento por Nelson Mandela.

Não deveria, mas ainda me assombro com tanta hipocrisia, como agora, com a morte do velho líder negro sul-africano.

Muitas das bocas que hoje tecem loas à memória do velho combatente são herdeiras históricas daquelas que, com a CIA e numerosos governos alegadamente “democráticos”, no passado nem tão distante, avacalhavam Mandela como subversivo e terrorista.

Nessa época, Mandela era chamado de “terrorista”.

Margaret Thatcher e seus discípulos ainda são celebrados como “a luz que livrou o Reino Unido das trevas”. Se dependesse de alguns thatcheristas, Mandela não teria nem saído vivo da cadeia. É o que lembrei meses atrás, no comecinho do blog.

Em homenagem a Nelson Mandela, reproduzo abaixo o post, documentado com o cartaz. Nem todas as lágrimas na despedida são sinceras.

“ENFORQUEM NELSON MANDELA E TODOS OS TERRORISTAS DO CONGRESSO NACIONAL AFRICANO [ANC, nas iniciais em inglês]. ELES SÃO AÇOUGUEIROS.”


O CNA [ANC] era a organização política antiapartheid à qual Mandela pertencia.


O cartaz acima foi distribuído no Reino Unido no início da década de 1980, quando o líder negro sul-africano ainda amargava a prisão iniciada em 1962. A imprensa o atribuiu à “Federação dos Estudantes Conservadores”, vinculada ao “Partido Conservador” e, sobretudo, à primeira-ministra da época, Margaret Thatcher (1925-2013).

A senhora Thatcher também chamou Mandela de “terrorista”.
 


Mandela não foi enforcado e conquistou a liberdade em 1990. De 1994 a 99, presidiu a África do Sul, consagrando o fim do regime de segregação racial, a despeito da enorme desigualdade social que ainda persiste. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

No momento em que Mandela falece aos 94 anos, não custa lembrar que, se dependesse de alguns estudantes britânicos ditos civilizados, ele estaria morto há muito tempo.”

07/12/2013

Sr. Ministro da Educação, leia o relatório da OCDE!

Sr. Ministro da Educação:

Escrevo-lhe esta carta aberta, que sei que não lerá, mas que me permite expressar a minha indignação e revolta, aliviando um pouco esta sensação de impossibilidade de conseguir mudar algo no desgoverno desta maioria política que foi eleita graças a um programa que apresentou, mas rasgou mal assumiu a governação do país. Sei no entanto que estou a dar voz a milhares de indignados que os senhores se recusam a ouvir e, ainda menos, a atender. 

Sr. Ministro Nuno Crato, os seus programas, decisões e medidas para poupar dinheiro a qualquer custo, vão fazer regredir o progresso que houve na Educação, nestes últimos anos. Faço-lhe um apelo a que se lembre dos princípios que defendia, quando estava fora da da esfera do Poder, fazendo uma cerrada oposição a tudo o que pudesse contribuir para o facilitismo e deterioração da qualidade da Escola Pública. 
Impedir a abertura de um número racional mas necessário de turmas nas escolas, com o único fito de despedir professores, acumulando ou mesmo atafulhando milhares de alunos num número reduzido de escolas, às trintenas por turma, sem apoios nem possibilidade de terem um ensino individualizado, provocará a médio prazo uma regressão nos progressos que a Educação na Escola Pública estava a conseguir em Portugal, uma realidade que o relatório da OCDE vem comprovar. 
Recorde-se que neste ano lectivo, já depois dos testes do PISA 2012, entrou em vigor um novo programa de Matemática para o ensino básico. E que está em curso uma revisão para o secundário. (Nota do artigo). 
Mas se os programas anteriores estavam a obter cada vez melhores resultados tanto nos bons alunos como nos piores, porquê mudá-los, acrescento eu?).

 No entanto, o Sr. Ministro, com o aval do Sr. Primeiro Ministro Passos Coelho, permite às escolas do ensino privado, aquilo que não autoriza no público, com uma política de desvalorização da Educação que devia defender, se tivesse algum sentido de Estado. Tem-se empenhado, pelo contrário, na defesa dos interesses privados, tirando recursos e apoios às escolas públicas (como acabar com as aulas de substituição e planos de recuperação ou matar o ensino para alunos com necessidades educativas especiais), para os entregar de mão-beijada aos particulares, subsidiando-os com dinheiros dos contribuintes, com os seus cheques-ensino ou permitindo a abertura de maior número de turmas com metade dos alunos, em colégios construídos por vezes mesmo ao lado das públicas remodelas e com óptimos recursos humanos e técnicos, que pretende esvaziar para as encerrar, com a obsessão de poupança de agiota míope (ou pior ainda, na defesa de um elitismo que só o dinheiro pode proporcionar). Imperdoável Sr. Ministro, a História há-de julgá-lo. 

Do relatório da OCDE e dos progressos da nossa Educação não fez festa, porque não lhe convém, já que a cassete que repete é a do mau ensino público e da má qualidade dos professores, para ter um pretexto para os aniquilar. Quem o ouviu antes de subir à cadeira do poder e quem o ouve hoje bem confortável e arrogante nela, só pode pensar "bem prega frei Tomás...". Infelizmente serão as próximas gerações e o país a pagarem o descalabro, se ninguém o impedir de continuar e desmanchar o mal que já causou. Para os meus amigos e leitores tomarem conhecimento desta verdade, aqui deixo o relatório, isento, da OCDE, que compara o ensino em vários países em 11 anos de continuada observação, considerando Portugal como aquele que conseguiu mais progressos e melhor realização. 

Alunos portugueses mostram como em pouco tempo é possível melhorar, diz OCDE
Relatório PISA 2012 sobre Matemática, Leitura e Ciências refere que Portugal é um dos exemplos de evolução positiva. Resultados melhoram sobretudo a Matemática. 

De três em três anos a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) repete o exercício. E avalia o estado da literacia dos alunos de 15 anos, em três áreas-chave. Os últimos resultados trazem boas notícias para Portugal. O país está a conseguir melhorar os seus resultados a Matemática — à média de 2,5 pontos ao ano. E desde 2009 subiu três posições no ranking da organização, aproximando-se da média internacional.  Mais do que uma comparação entre o que se passou em 2009 e 2012, a OCDE analisa a evolução dos conhecimentos e competências dos alunos de 15 anos ao longo de cerca de uma década. Em 2003, lê-se num relatório divulgado nesta terça-feira, Portugal estava, no que à Matemática diz respeito, abaixo do Luxemburgo, dos Estados Unidos, da República Checa, da França, da Suécia, da Hungria, da Espanha, da Islândia ou da Noruega. Em 2012, “o país alcançou-os”.

A OCDE sublinha ainda que Portugal é um dos que conseguiram, simultaneamente, duas coisas: reduzir o universo dos alunos que se saem muito mal neste tipo de testes de literacia e aumentar o número dos jovens que se destacam muito pelo positiva (os chamados “top performers”). Isto aconteceu tanto na Matemática, como nas Ciências.

Estas são apenas as primeiras conclusões do PISA 2012, um estudo internacional que é repetido de três em três anos. As suas dimensões são, no mínimo, raras: participaram, desta vez, 34 países da OCDE, mais 31 países e zonas económicas que não fazem parte da organização. No total, foram avaliados 510 mil alunos dos 28 milhões de jovens de 15 anos que frequentam as escolas do universo analisado. Só em Portugal participaram 5700. Todos fizeram os testes em 2012 — provas com perguntas de escolha múltipla e outras que pediam respostas desenvolvidas. Em cada escola que entrou no estudo os alunos foram escolhidos aleatoriamente. O objectivo essencial do PISA é este: avaliar a forma como os alunos de 15 anos aplicam conhecimentos e competências de Matemática, Leitura e Ciências quando identificam, interpretam e resolvem problemas que os colocam perante situações da “vida real”.

O relatório que tem como título “O que é que os estudantes sabem e podem fazer: desempenho dos alunos a Matemática, Leitura e Ciências” mostra o seguinte: tal como aconteceu na Matemática, também no que diz respeito às competências de Leitura, os alunos portugueses melhoraram — e a OCDE destaca igualmente esse facto logo na introdução do primeiro de seis volumes que aprofundam os resultados. Mesmo nas Ciências a evolução anual tem sido positiva — ainda que tenha abrandado de 2009 para cá.

Crescimento anual 
Um olhar para as posições de Portugal nos rankings das três áreas-chave (ver gráficos) mostra o seguinte: desde a última avaliação que tinha sido feita, em 2009, a pontuação média obtida por Portugal na Matemática manteve-se (487 pontos tanto em 2009 como em 2012); na Leitura baixou de 489 pontos, em 2009, para 488, em 2012; e nas Ciências passou de 493 para 489 pontos.

A que se deve, então, tanto destaque para o caso português? A OCDE põe o foco noutro indicador, que não o da mera comparação das pontuações obtidas em 2009 e em 2012: trata-se da “evolução anualizada”. Basicamente, a organzação tem em conta os resultados dos alunos em todas as levas de testes feitos desde que os países participam no PISA, calculando a evolução ano a ano de cada país. “É uma medida mais robusta do progresso do país/região económica”, do que a comparação dos resultados obtidos nos testes a cada três anos, lê-se no relatório.

É com base neste cálculo da evolução anual que a OCDE diz que há um grupo de países onde os alunos melhoraram a Matemática, desde 2003, mais de 2,5 pontos ao ano (o que aconteceu também na Itália e na Polónia).
Em 25 países não houve mudanças e em 14 os alunos estão a piorar. Na Leitura e nas Ciências, Portugal melhorou cerca de dois pontos por ano em média — desde 2000, no primeiro caso, e desde 2006, no segundo.

Como escolher um carro? 

Cada PISA aprofunda uma área de conhecimento e competências. Os testes do PISA 2012 avaliaram sobretudo a Matemática, o que já tinha acontecido em 2003. Uma oportunidade, segundo a OCDE, para fazer comparações sobre o que mudou e de analisar a evolução “no contexto das políticas adoptadas e de outros factores”.
Xangai, na China, tem a pontuação mais alta nos testes de Matemática: 613 pontos. Já no ranking dos melhores resultados da OCDE, o primeiro lugar pertence à Coreia (554 pontos), o segundo ao Japão (536) e o terceiro à Suíça (531). Portugal está em 23.º, com 487 pontos, e aproximou-se da média da OCDE (fica a sete pontos desta quando, em 2009, estava a nove).
À primeira vista, os dados podem surpreender. Afinal, as notas dos exames nacionais feitos em Portugal não têm sido famosas: a média no exame de Matemática do 9.º ano baixou de 57%, em 2009, para 43%, em 2011. Um resultado que se repetiu este ano. Nos exames do secundário (feitos por alunos com mais de 15 anos) a média do exame de Matemática também caiu de 10 valores, em 2009, para 8,2 valores, em 2013.

Mas o que os exames nacionais testam e o que os testes PISA avaliam são coisas diferentes. A OCDE está mais interessada em saber qual a capacidade dos jovens empregarem a Matemática na “vida real”, por exemplo, extrapolando o que sabem para resolver problemas mais ou menos familiares. Um dos exercícios tipo dos teste PISA é este: para diferentes modelos de carros em 2.ª mão são fornecidos dados como o número de quilómetros, a capacidade do motor, o preço, etc e o aluno deve escolher o modelo que se adeque a uma lista de critérios previamente fixados. A OCDE procura ainda avaliar como utilizam os alunos “instrumentos” ligados à Matemática que são essenciais “nos locais de trabalho do século XXI”, tais como um conversor online de moedas, uma folha de cálculo, uma calculadora, ou um software de cálculo matemático.

Agrupamentos e reforma curricular 
Os países da OCDE investem cerca de 230 mil milhões de dólares por ano para melhorar a educação da Matemática nas escolas. “É um grande investimento, mas o retorno é muitas vezes maior”, lê-se no relatório.
Outros estudo recente da OCDE (Survey of Adult Skills, 2013), cita no PISA, mostra que “fracas competências a Matemática limitam de forma grave o acesso dos indivíduos a trabalhos mais bem remunerados” e que pessoas com mais competências nesta área tendem a sentir-se mais capazes de participar politicamente e confiam mais naqueles que as rodeiam.
Os resultados do PISA “mostram que uma surpreendentemente pequena proporção da variação de desempenho entre os países é explicada pela riqueza das nações (21% entre todos os países e economias, 12% entre os países da OCDE)” e que a despesa por aluno só explica “30% das diferenças entre todos os países e economias e 17% entre os países da OCDE” o que, lê-se no relatório, “sugere que o mundo não está mais dividido em países ricos e bem educados, e os pobres e mal educados”.
A OCDE analisa várias reformas políticas introduzidas em países que melhoraram os seus resultados. Políticas que podem ter feito a diferença. No que diz respeito a Portugal, especificamente, destaca-se a reorganização da rede escolar, através do agrupamento de escolas — esta medida, diz a OCDE, “facilita a colaboração entre escolas e a economia de escala”.

A OCDE nota ainda que, em Portugal, como também aconteceu no Japão, se assistiu a uma reforma curricular que “melhora a atitude dos alunos” em relação “à escola, em geral, e à Matemática, em particular” uma vez que, com as mudanças, as matérias ficaram mais “alinhadas com os interesses dos estudantes no século XXI”.

Recorde-se que neste ano lectivo, já depois dos testes do PISA 2012, entrou em vigor um novo programa de Matemática para o ensino básico. E que está em curso uma revisão para o secundário.

Menos desigualdade 
A OCDE sublinha, no entanto, que nem todos os países estão em pé de igualdade — e que isso deve ser tido em conta na hora de analisar os rankings. Por exemplo: em Portugal, no Chile, na Hungria e em Espanha mais de 20% dos alunos avaliados pertencem a grupos socioeconómicos mais desfavorecidos. Na Turquia são 69%. Qualquer um destes países, lê-se no relatório, “enfrenta desafios maiores do que, por exemplo, a Islândia, a Noruega, a Finlândia e a Dinamarca, onde menos de 5% dos alunos são desfavorecidos”.

Mesmo assim, como já se disse, Portugal conseguiu reduzir o hiato entre os alunos que pior se saem nos testes (ou seja, dos que estão abaixo do nível 2 numa escala que vai até seis) e os que melhor se saem (nível 5 e 6). Em 2003, 30% dos alunos de 15 anos estavam nos patamares mais baixos de literacia matemática; em 2012, a percentagem foi de 24,9% (uma descida de 5,2 pontos percentuais). 

Ao mesmo tempo, 10,6% dos alunos conseguiram ficar no nível 5 ou mais, contra apenas 5,4% em 2003 (uma vez mais, 5,2 pontos percentuais de diferença). Esta evolução teve lugar, sobretudo, no período compreendido entre 2006 e 2009, sublinha o relatório.

Em média, na OCDE, 13% dos alunos estão no nível 5 e 6. A Coreia é o país com mais “top performers” – 30,9%. Fora da OCDE, Xangai destaca-se com 55,4% dos alunos a conseguir obter os resultados máximos nos testes.

Andreia Sanches Público, 03/12/2013

06/12/2013

Nelson Mandela - Long Walk to Freedom by King Charles

Único e inesquecível Nelson Mandela!


TEDxBelémWomen

Os Portugueses pioneiros da Globalização

(ou como fazer romance histórico com a matéria "politicamente incorrecta" dos Descobrimentos)

Sou uma contadora de histórias de longo fôlego, tinha de falar de mim (tema do TED), mas interessava-me mais falar das minhas personagens, cujas vidas foram verdadeiramente extraordinárias. Mas a regra dos 20 minutos das TEDx é um garrote e faz acelerar e, por vezes, perder o fio à meada. Contudo, para mim, foi uma grande honra ter sido convidada a participar neste evento.


A escritora Deana Barroqueiro foi uma das oradoras do evento!
Sua apresentação acontece +/- a 1:30 minutos do video - a não perder!

TEDxBelémWomen - Conferences Event
 
Thu Dec 5, 2013 10:25am EST — Thu Dec 5, 2013 2:00pm EST
 
"Breaking new worlds" is the theme for TEDxBelémWomen; an event organized by Elizabeth Canham and Maria Serina, both journalists in whose careers the business world and the women’s world met. Female speakers from different areas and a broad age spectrum will be sharing ideas and inspiring experiences that will not leave one untouched. Follow us through our site at http://www.tedxbelemwomen.com/ or on Facebook at https://www.facebook.com/tedxbelemwomen

01/12/2013

Under Pressure

Admirável mundo novo! Se calhar é por isso que cada vez menos me apetece sair de casa e cada vez mais me refugio na escrita dos meus romances...

30/11/2013

TEDxBelémWomen

TEDxBelémWomen
x = independently organizes TED event
“Inventado aqui: desbravar novos mundos”

Museu da Electricidade, 5 de Dezembro

PROGRAMA...


15h 00m | Recepção

15h 30m | Boas vindas e vídeo institucional TED

15h 40m | Cândida Pinto, jornalista

16h 00m | Sandra Correia, empresária

16h 20m | Marta Gautier, psicóloga e stand up comedian

16h 40m | Deana Barroqueiro, escritora

17h 00m | Pausa para café

17h 30m Performer: Diana Catarino, Saxofonista

17h 40m | Mariana Moura Santos, designer

18h 00m | Helena Vieira, empresária

18h 20m | Mísia, fadista

18h 40m | Intervalo

19h00m | Streaming 1.º sessão da TEDWomen São Francisco

 20h 30m | Encerramento
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25/11/2013

Crianças em risco sinalizadas aumentaram 25% em 2012


Disparou o número de crianças e jovens em risco sinalizados pelos serviços de saúde
Actualmente, gabinetes do Instituto de Apoio à Criança seguem quase 10% do total dos alunos das escolas onde têm presença. Desestabilização das famílias, causada pelo agravar da crise, pode estar a levar ao aumento da violência e negligência.

Foram 6815 os casos de crianças e jovens em risco que mereceram a atenção dos serviços de saúde e que foram sinalizados às autoridades competentes em 2012, o que representa um crescimento de 25% em relação ao ano anterior, indicam os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS). A negligência continua a ser o motivo mais comum.

O relatório da Comissão de Acompanhamento da Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco, que a DGS acaba de divulgar, considera que “esta tendência de crescimento poderá reflectir um efectivo número aumentado de situações que envolvem suspeita ou perpetração efectiva de maus tratos a crianças e jovens – fenómeno ao qual, sendo verdadeiro, não será alheio o contexto de crise global que as comunidades enfrentam nos últimos anos”.
 
Porém, a comissão entende também que “tanto a maior sensibilização e capacidade de detecção de contextos e sinais de risco ou de perigo, por parte das equipas e dos serviços de saúde, como o desenvolvimento de formas mais concertadas de cooperação e de intervenção têm contribuído para este panorama, de uma forma assinalável”.

Desde 2008 até 2012 foram reportados um total de mais de 24 mil casos, o que dá uma média anual de quase cinco mil crianças ou jovens. No que diz respeito aos motivos que levaram os serviços de saúde a reportar os maus tratos, à semelhança dos anos anteriores, a negligência domina com 67%.

O número de casos identificados como “outros” teve também um crescimento significativo para 9% (em 2011 eram 3%). Os maus tratos psicológicos representaram 12% das queixas, os físicos 7% e os abusos sexuais 5% – percentagens em linha com os anos anteriores.

Acções dificultadas por razões financeiras

Quanto à forma como os casos foram tratados, os sinalizados a outras instituições representam 47% do total, o que “parece apontar para um aumento na capacidade própria de gestão dos casos por parte dos serviços de saúde onde se processa a sinalização”. Já dentro dos que foram encaminhados, 39% foram para as comissões de Protecção de Crianças e Jovens, 12% para o Ministério Público/Tribunais e 49% para as chamadas "instituições de primeira linha".

No relatório, a DGS assume que os constrangimentos financeiros tiveram alguns reflexos no trabalho das equipas e dificultaram algumas acções, mas diz acreditar que o Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, em vigor desde Junho de 2013, traz benefícios em termos de organização e uniformização das práticas nacionais.

O documento da DGS é conhecido um dia depois de ter sido divulgado um relatório da Unicef Portugal que revelava que pelo menos 500 mil crianças e jovens perderam o direito ao abono de família entre 2009 e 2012, e muitas outras viram o seu valor ser reduzido. Esta medida, juntamente com a política de austeridade, está a fazer aumentar a taxa de risco de pobreza entre as crianças portuguesas e o número de pedidos de ajuda registou um "aumento sem precedentes".

O trabalho foi feito a partir dos contributos de várias organizações não-governamentais, como a Associação para a Promoção da Segurança Infantil, a Caritas Portuguesa e a Confederação Nacional de Acção sobre Trabalho Infantil, e dizia que, em 2011, a taxa de pobreza entre crianças subiu para 28,6%, pelo que volvidos quase dois anos poderá estar ainda mais alta.

Por Romana Borja Santos, 16 de Novembro 2013

23/11/2013

Carta aberta de um professor ao primeiro-ministro: não farei qualquer exame retroactivo

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar.
Manuel Maria Magalhães, no Público 22/11/2013                  
 
O meu nome é Manuel Maria de Magalhães e sou professor profissionalizado do grupo 410 (Filosofia), desde 2002. Desde então fui contratado por 13 escolas, em cinco distritos diferentes (Viana do Castelo, Braga, Porto, Guarda e Viseu). Em todas excedi sempre aquilo que me era pedido, como prova o reconhecimento, em alguns casos público e formal, que alunos, colegas, órgãos das escolas e encarregados de educação prestaram ao meu trabalho.
 
Em termos de formação contínua de professores desprezei sempre as acções de formação promovidas pelo ministério através das suas direcções regionais, que conjugam o verbo "encher" na perfeição, para procurar na academia a continuação dos meus estudos sob a forma de congressos ou mesmo na execução de duas pós-graduações nas áreas em que o meu grupo disciplinar se move. Em todas as escolas o meu trabalho foi avaliado, de acordo com o estipulado, tendo inclusivamente sido dos primeiros a submeter-se voluntariamente às "aulas assistidas". Em consequência das suas políticas educativas encontro-me no corrente ano desempregado e sem perspectivas de encontrar colocação nesta área, tal como dezenas de milhares de colegas meus, muitos deles com uma história profissional bem mais dura do que a minha e muitos mais anos de serviço. É neste quadro que Vossa Excelência, através do seu ministro da Educação, nos quer obrigar a fazer um exame para poder continuar a concorrer ao ensino. Era a humilhação que faltava e a maior de todas.

Ao enveredar por este caminho, Vossa Excelência está a descredibilizar todos os docentes com provas dadas nesta causa que é tomada como uma missão em prol do desenvolvimento do país. Está a descredibilizar as universidades que nos formaram e as escolas que nos avaliaram. Está a destruir a credibilidade do próprio ensino, através de uma avaliação retroactiva, sem fundamento, obscura nos seus contornos, pois até esta data pouco se sabe sobre o processo, que é mais próprio de regimes ditatoriais revolucionários do que de democracias maduras, onde todas as partes devem ser ouvidas.

Estou de acordo consigo num ponto: a Educação não está bem,apesar dos esforços de tantos, mas residirá apenas na classe docente a causa desse mal? Já reparou que todos os governos eleitos impuseram uma política de Educação diametralmente diferente dos anteriores? Já se deu conta que a Educação foi verdadeiramente uma área em que se "atirou dinheiro" para cima dos problemas na esperança que passassem? No ensino, como em muitas outras áreas, também existiu o privilégio do betão face à formação. Quantas escolas não têm psicólogos, sobretudo clínicos, que tanta falta fariam aos inúmeros casos dramáticos que assolam milhares de alunos? Que vínculos tem o Estado, através da Segurança Social, para ajudar a estabelecer pontes entre as famílias e a Escola? O que se (não) tem feito em termos de prevenção da indisciplina em ambiente escolar, seja na sala de aula ou fora dela? O que fez o Estado para promover a autoridade (não autoritarismo) do professor e do auxiliar de acção educativa que ainda é tratado, à maneira do Estado Novo, como um mero contínuo, desprezando o seu vital papel nas escolas? Construir ou renovar escolas não chega… Se quer introduzir alterações em atitudes e comportamentos dos docentes, este não é seguramente o melhor caminho. Se analisar a formação que o ministério nos disponibiliza, constatará que não tem, na maioria dos casos, qualquer interesse em termos pedagógicos. Já pensou em fomentar a ligação entre as universidades e as escolas neste sentido? Ao persistir neste caminho, Vossa Excelência encerra em si o pior modelo de docência: o do professor que obriga os alunos a uma avaliação para a qual não os preparou.

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar. Não farei qualquer exame retroactivo, imposto de forma ditatorial. Se o preço a pagar for a exclusão definitiva do ensino, assumo-o. Mais importante do que as palavras que proferimos é o exemplo que perdura. A dignidade não está à venda e não posso ser incoerente com tudo o que tenho passado aos alunos que o Estado me entregou. Ainda assim tenho a esperança que Vossa Excelência tenha a humildade (uma das maiores, se não a maior, virtude humana) de reconhecer o erro que esta medida encerra e procurar novas soluções.
Professor de Filosofia

Diamantes são os melhores amigos dos governantes tiranos e corruptos

Diamantes de sangue são só os de uma zona de guerra ou também os de um Estado corrupto?

Por    Público, 22/11/2013 - 12:12

22/11/2013

Sobre o encontro promovido por Mário Soares

No programa Quadratura do Círculo, da Sic Notícias de ontem, 21 de Novembro, debateu-se o encontro promovido por Mário Soares, "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado social".

Pacheco Pereira, apesar de ser um histórico do PSD, tem vindo a tomar posições de defesa cerrada da população portuguesa sacrificada até ao limite por este Governo, incompetente, mentiroso e sem um vislumbre de solidariedade (palavras suas).

Neste vídeo, também Lobo Antunes (com quem raramente concordo) analisa, do ponto de vista do CDS-PP, a fraca intervenção e oposição do partido socialista, falho de ideias para uma alternativa que nos tire deste impasse.

Vale a pena ouvir a análise indignada mas objectiva de Pacheco Pereira, que se faz porta-voz da revolta ou do silêncio de milhões (não é um exagero) de portugueses.

NÃO É "DEFENDER" A CONSTITUIÇÃO, É "DEFENDER" O TRIBUNAL CONSTITUTCIONAL

 José Pacheco Pereira, no Público
 

Já que há por aí abundantes “pressões” para que o Tribunal Constitucional não aplique a Constituição, venho aqui “pressioná-lo” para que a aplique.

Não é por razões jurídicas, nem de interpretação constitucional, para que não pretendo ter competência, mas por razões de política e democracia, que é a razão suprema pela qual temos uma Constituição e um Tribunal Constitucional. É pela Constituição escrita e pela não escrita, aquela que consiste no pacto que a identidade nacional e a democracia significam para os portugueses como comunidade. É por razões fundadoras da nossa democracia e de todas as democracias e não conheço mais ponderosas razões que essas, porque são os fundamentos do nosso contrato social e político que estão em causa, muito para além das causas daqueles que se revêem na parte programática da Constituição.

Eu revejo-me em coisas mais fundamentais, mais simples e directas, que também a Constituição protege e de que, por péssimas razões, hoje o Tribunal Constitucional é o último baluarte. O Tribunal Constitucional é hoje esse último baluarte, o que por si só já é um péssimo sinal do estado da democracia, porque todas as outras instituições que deviam personificar o “bom funcionamento” da nossa democracia ou não estão a funcionar, ou estão a funcionar contra. Refiro-me ao Presidente da República, ao Parlamento e ao Governo. E refiro-me de forma mais ampla ao sistema político-partidário que está no poder e em parte na oposição. Quando falha tudo, o Tribunal Constitucional é o último baluarte antes da desobediência civil e do resto. Se me faço entender.

Há várias coisas que num país democrático não se podem admitir. Uma é a teorização de uma “inevitabilidade” que pretende matar a discussão e impor uma unicidade na decisão democrática. Tudo que é importante nunca se pode discutir. A nossa elite política fala com um sinistro à-vontade da perda de soberania, do protectorado, da “transmissão automática” de poderes do Parlamento para Bruxelas, sem que haja qualquer sobressalto nacional, até porque são aspectos de uma agenda escondida que nunca se pretende legitimar democraticamente, mesmo que atinja os fundamentos do que é sermos portugueses. É um problema para Portugal como país e para a União Europeia enquanto criação colectiva em nome da paz na Europa e que está igualmente presa numa agenda escondida, a que deu a Constituição Europeia disfarçada de Tratado de Lisboa, o Pacto Orçamental para “pôr em ordem” os países do Sul, e a que permite a hegemonia alemã e das suas políticas nacionais transformadas em Diktat. Uma parte da perda de democracia e da soberania em Portugal, com a constituição de uma elite colaboracionista, vem do contágio de uma União Europeia cada vez menos democrática.

Em nome de um “estado de emergência financeira” que umas vezes é dramatizado quando convém e outras trivializado quando convém, seja para justificar impostos, cortes de salários e pensões, na versão “estado de sítio”; ou para deitar os foguetes com o 1640 da saída da troika e do “milagre económico”, na versão “já saímos do programa”, considera-se que nada vale, nem leis, nem direitos, nem justiça social.

A teorização da “inevitabilidade” tem relação com a chantagem sobre o que se pode discutir ou não. Que um ministro irresponsável resolva avançar com números dos juros pré-resgate, isso só se deve à completa falta de autoridade do primeiro-ministro, traduzida na impunidade dos membros do Governo. Mas, quando se considera que os portugueses não devem discutir seja o resgate eventual, seja o chamado “programa cautelar”, está-se no limite de uma outra e mais perigosa impunidade: a de que os “donos do país”, a elite do poder, os cognoscenti, mais os seus consiglieri no sentido mafioso do termo, na alta advocacia e consultadoria financeira, o sector bancário e financeiro, o FMI, o BCE, a Comissão Europeia, podem decidir o que quiserem sobre os próximos dez ou 20 anos da vida dos portugueses sem que estes sejam alguma vez consultados. Aliás, é mais do que evidente que a pressão sobre o PS para que valide a política do Governo e da troika, e que assuma compromissos de fundo com um “programa cautelar”, que pelos vistos antes existia, mas agora não existe, destina-se a tirar qualquer valor ao voto dos portugueses. A ideia é que votando-se seja em quem for, a não ser que houvesse uma maioria PCP-BE, a política seria sempre a mesma. Esta transformação das eleições e do voto em actos simbólicos de mudança de clientelas, sem efeito sobre as políticas, é o ideal para os nossos mandantes e para os nossos mandados, e é uma das suas mais perigosas consequências.
 

21/11/2013

Como os partidos manipulam os fóruns e redes sociais

Assusta-me viver num país em que, na política, se pode usar impunemente da calúnia, da trapaça, da manipulação criminosa da opinião e informação, para se chegar ao poder. Sem olhar a meios, sem vergonha, sem escrúpulos.

E, como se de um grande feito se tratasse, gabam-se pública e despudoramente destes crimes, das conjuras anónimas ou de falsos perfis, que no fim lhes deram o prémio do "tacho" pelos serviços prestados. Impunemente, porque além de alguma indignação do cidadão honesto, nada lhes acontece.

As declarações de um certo Fernando Moreira de Sá, numa entrevista à Visão, mostram a baixeza e corrupção a que desceu a política no nosso país e a degradação moral de alguns dos nossos políticos ou das cliques partidárias. Basta ler os nomes indicados pelo entrevistado e ver-se-á como o crime compensa.

Tudo isto me parece um caso de polícia, de tribunais e sê-lo-ia decerto se estivéssemos num país verdadeiramente democrático e não nesta democracia-de-faz-de-conta, em que um povo inteiro dobra a cerviz a uma gentalha que o espezinha e o destrói, enriquecendo à custa da sua miséria e humilhação.

Para quem não leu a entrevista, pode fazê-lo aqui:   https://docs.google.com/file/d/0B2K63qChWXqKUUZyMnhqREtKZmhBbkprLWZiNlViTjRLNHJn/view?sle=true
ou aqui: http://aventadores.files.wordpress.com/2013/11/visc3a3o_entrevista-fms.pdf