Aos 105 anos, Manoel de Oliveira continua a querer filmar
Tem música, artes, exposições de jornais, revistas, caricaturas e até um bule de porcelana. Mas falta ainda o subsídio para novo filme na “prenda de anos” para o realizador
Esta terça-feira, véspera do aniversário – que passa na quarta, dia 11 –, os festivais Douro Film Harvest e Shortcutz dedicam-lhe uma homenagem no Edifício Axa, na Baixa portuense, com uma instalação artística colectiva que representa o rosto do realizador criado por pins coloridos numa das salas do 1º piso – o programa incluía também a exibição dos filmes Douro, Faina Fluvial (1931), Famalicão (1940) e A Caça (1964).
Com o título Manoel de Oliveira. 105 Revistas – e seguindo a mesmo lógica da exposição que lhe foi dedicada no centenário –, o MNI documenta a obra do realizador através de uma selecção de capas, artigos, notícias, entrevistas, fotografias e anúncios, de revistas como a Vértice, Seara Nova, Cinéfilo, Cineclube, L’Avant-Scène Cinéma e Cahiers du Cinéma, mas também de jornais como o PÚBLICO, Jornal de Letras, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Expresso ou o francês Libération.
Aí se pode fazer um percurso cronológico, que começa em Douro, Faina Fluvial (1931), a primeira-obra do realizador, que foi pateada aquando da sua estreia em Lisboa, mas que foi defendido por figuras como Adolfo Casais Monteiro e José Régio, em artigos nas revistas Movimento e Presença.
A viagem continua no anúncio de jornal a assinalar a estreia de Aniki-Bóbó, a 18 de Dezembro de 1942, em Lisboa. E vai pelo tempo adiante, em mais sete décadas de produção, que, até ao final dos anos 1970, foi irregular, e depois se tornou praticamente anual, até O Gebo e a Sombra, a sua última longa-metragem, estreada no ano passado.
A exposição do MNI, instalada no mezanino da sala principal do museu, termina com as capas que o PÚBLICO, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias dedicaram a Oliveira nos seus 90.º e 100.º aniversários.
“Em síntese – escreve Luís Humberto Marco, director do MNI, no texto de apresentação da mostra –, podemos dizer que a paixão do cinema de Manoel de Oliveira enobrece a imprensa; e que o seu génio ajuda a imprensa a ser mais singular e distinta”.
Em simultâneo com a exposição na sua sede no Freixo, junto ao rio Douro, o MNI promove uma segunda exposição, Manoel de Oliveira no humor mundial, que resulta do prémio especial de caricatura que o museu dedicou ao realizador no PortoCartoon deste ano.
Ainda nesta quarta-feira, Oliveira verá a fábrica da Vista Alegre homenageá-lo com a “edição” de um bule decorado com imagens de Aniki-Bóbó, numa peça desenhada pelo pintor Manuel Casimiro, filho do realizador.
Enquanto se vê alvo de todas estas homenagens, Manoel de Oliveira continua à espera de ver reunidas as condições para avançar com o projecto do seu novo filme, O Velho do Restelo, mas, como o realizador previu, em Novembro, quando foi alvo de uma homenagem na Biblioteca Almeida Garrett, “o aniversário de certeza que ainda vem antes” do subsídio.
Por Sérgio C. Andrade, no Público
Sem comentários:
Enviar um comentário