
Muitas vezes não conheço os seus autores, que me dizem ser leitores anónimos, mas que não o são para mim; embora não os conheça pessoalmente, há um elo muito íntimo que se estabelece entre mim e os que lêem o que escrevo e o entendem, às vezes até de um modo mais profundo do que eu poderia imaginar e se dão ao trabalho de me comunicarem essas impressões, deixando-me muitíssimo emocionada e grata. Como podem ser anónimos, se conhecem o que de mais profundo sinto e penso, que são os meus livros?
Vem isto a propósito de um dos meus romances preferidos, que teve pouca divulgação - "O Navegador da Passagem", sobre as viagens de Bartolomeu Dias e os reinados cheios de intrigas de D. João II e de D. Manuel - referido por um leitor no seu blogue Satanhoco, cuja crítica, ainda que me possam apodar de narcisista, não posso deixar de transcrever, até pela qualidade da prosa do seu autor e pelo conhecimento que mostra sobre o tema dos nossos aventureiros em África:
Leituras:
"O outro romance histórico sobre Bartolomeu Dias que, há muito, me prendeu trata-se de "O navegador da passagem - a história de um descobridor de mundos que o Mundo ignorou" , da autoria de Deana Barroqueiro (Porto Editora, 2008, 437 págs.). A minha paixão pela escrita de Deana Barroqueiro não me tolda a mente nem me desfoca o sentir lúdico que tenho pelos pontilhados da ponta da sua pena.
"O navegador da passagem" é o romance de um homem amargurado, que se sente injustiçado por, ao ter aberto as portas da estrada aquática da canela, do cravinho e do colorau (mas não tendo franqueado as mesmas) foi forçado a deixar que outros depois de si as passassem e, à premonição da chegada do seu fim, anunciado num cometa quando ia de navegação no Atlântico Sul, revê a sua vida, no muito que deu e no pouco que recebeu.
Deana Barroqueiro, consagrada capitã-mor desta imaginária jornada quinhentista, leva-nos a viajar pelas cortes joanina e manuelina, puros viveiros de intrigas, maledicências e traições, onde tudo era válido pela benesse da proximidade do poder, traçando-nos os perfis de Dom João II e de Dom Manuel I , férreo o primeiro e sortudo o segundo, para além de nos fazer embarcar em naus claustrofóbicas, pútridas e sobrelotadas de anónimos miseráveis que pouco se apercebiam do gigantismo que estavam a construir, naus carregadas de febres, viscosidades e doenças mas, onde no meio deste pantanal de madeirame, era capaz de florir o amor ficcionado da escrava Leonor pelo seu amo.
Bem documentado, pelo que se pode observar pela bibliografia consultada, bem estruturado na sequência narrativa dos factos, e bem encorpado numa linguagem escrita que, atirando-nos por vezes para as expressões da época, torna-se clara quando enquadrada no todo do texto, é mais um livro que lustra as letras portuguesas. Aqui e em qualquer parte do mundo. Por isso, sem complexos e com o à vontade de quem nunca se cruzou com a Autora posso, camonianamente, dizer: "Ditosa Cultura que tal escritora tem".
Satanhoco, 13 de Março
Muito obrigada, caríssimo leitor, pela sua generosidade e pelo prazer que me proporcionou a sua crítica. Bem haja.
Sem comentários:
Enviar um comentário