01/12/2014

Abusadores do Poder

É um "fartar vilanagem", a corrupção a nível mundial! A maioria destes criminosos acaba por se safar das penas de prisão.
 
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Que podem ter em comum o italiano Silvio Berlusconi, o tailândês Thaksin Shinawatra, a ucraniana Julia Timoschenko e o paquistanês Raja Pervez Ashraf? Todos foram primeiros-ministros e acusados de um ou vários crimes. O primeiro dirigente desta lista costuma dizer que é o "homem mais perseguido da história" e que já gastou mais de 200 milhões de euros para se defender nos tribunais. As estatísticas parecem dar-lhe razão. A personagem que já foi dona da maior fortuna de Itália e da 25.ª do planeta surgiu como arguido em 106 processos, ele e os seus advogados tiveram de marcar presença em 2  500 audiências e, claro, sujeitou-se a dezenas de sentenças. Uma das mais recentes impede-o de assumir cargos públicos até 2017 e obriga-o a prestar serviço comunitário durante 12 meses - devido a uma fraude fiscal cometida há duas décadas. Atualmente com 78 anos, trata-se de um balanço notável, se tivermos em conta a gravidade de algumas das causas em que tem sido absolvido ou "perdoado" pela idade, pelas amnistias e pelos seus recursos financeiros. Todavia, no seu currículo penal há ainda casos pendentes como o de "Ruby", a adolescente marroquina com quem terá dormido 13 vezes enquanto ainda estava no Palácio Chigi - ou seja, no poder -, ou o aliciamento de um senador, em 2006, a quem terá oferecido 3 milhões de euros para se mudar para o seu Forza Italia.

Israel: dois ex-PM em sérios apuros
 
Mas o patrão do Milan nunca foi obrigado a passar uma noite nos calabouços da polícia. Em rigor, muito poucos países democráticos tiveram necessidade de colocar os seus dirigentes de topo atrás das grades. E quando se tentam identificar as exceções há um Estado que se destaca - seja pela velha e sábia separação de poderes, seja pelo caráter das condenações: Israel. 
 
Neste momento, os israelitas debatem o que deve ser feito com um seu antigo primeiro-ministro e herói nacional, Ehud Barak. Esta figura histórica do Tsahal (forças armadas) está a ser investigado por ter, alegadamente, recebido subornos em contratos militares enquanto era ministro da Defesa (2007-2013). Um processo que até pode não dar nada por ser fruto de uma conveniente denúncia  de Ehud Olmert, também ele antigo chefe do Governo de Telavive - e ex-presidente da Câmara de Jerusalém. Os escândalos à volta de Olmert já ditaram a sua reforma política e podem colocá-lo na prisão. Em 2008, teve de abandonar o cargo de primeiro-ministro por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e abuso de poder enquanto foi autarca e, depois, titular das pastas da Economia, Indústria e Comércio. Em maio, foi condenado a seis anos de prisão e ao pagamento de um milhão de shekels (cerca de 207 mil euros) por um destes casos, o Hollyland affair. Um recurso permitiu--lhe evitar o cárcere até agora. Talvez venha a partilhar cela com Moshe Katsav. O 8.° Presidente de Israel teve de renunciar, em 2007, e, três anos depois, os juízes deram como provado que cometeu os crimes de violação, assédio sexual, abuso de poder e obstrução à justiça. Uma sentença sem precedentes em qualquer parte do globo, envolvendo um Chefe de Estado. Cumpre uma pena de sete anos, em Ramla.

Espanha: Podemos no reino dos indignados

Como é possível que um grupo de amigos e professores da Universidade Complutense de Madrid se tenha convertido, em apenas 10 meses, num dos maiores partidos políticos de Espanha? Os analistas apresentam muitas teorias, uma das quais óbvia: a corrupção e o descrédito das elites governativas fizeram com que o Podemos esteja à frente do Partido Popular (PP) e do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) nas intenções de voto, caso as legislativas se realizassem hoje. O fenómeno Pablo Iglesias, líder do movimento, parece ser a figura redentora de todos os males peninsulares, como demonstra a sondagem El Mundo/sigma Dos, publicada esta segunda-feira, 24, com uma previsão de 28,3 por cento. Um annus mirabilis que pode muito bem prolongar-se e escancarar-lhe as portas da Moncloa, no final do 2015, como contraponto ao annus horribilis que o Governo de Mariano Rajoy tem conhecido - seja pela "questão catalã", seja pelos sucessivos escândalos que envolvem altos dignitários do PP. Exemplos: Luis Barcenas, antigo tesoureiro do PP, manteve uma contabilidade paralela e suspeita de ter beneficiado vários barões do partido; Rodrigo Rato, ex-diretor do FMI e ex-vice-chefe do Executivo liderado por José María Aznar figura entre os 86 dirigentes e gestores que terão desviado 15 milhões da Caja Madrid - entidade resgatada com verbas públicas - através de despesas e cartões de crédito não declarados ao fisco; Francisco Granados, antigo vice-presidente da Comunidade autónoma de Madrid é um dos principais envolvidos na Operação Púnica, uma rede em que políticos, autarcas e construtores civis traficavam muitos euros e influências; José Manuel Monago, atual presidente da comunidade autónoma da Extremadura deu-se ao luxo de, enquanto foi senador, embarcar em 32 viagens, em classe executiva, rumo às Canárias, onde o aguardavam assuntos de alcova, e de apresentar as faturas ao próprio Senado; José Ángel Fernández Villa, histórico líder sindicalista das Astúrias, está a ser investigado por ter "legalizado" 1,4 milhões de euros de origem desconhecida; Isabel Pantoja, estrela do jet set e do cançonetismo, começou esta semana a cumprir dois anos de prisão por branqueamento de capitais.

A lista poderia continuar, porque, só em outubro, a justiça implicou 141 personalidades em casos de corrupção. No total, quase 2 mil pessoas aguardam julgamento. Um recorde que confirma as conclusões de um estudo da Universidade de Las Palmas, divulgado em julho de 2013: o custo social da corrupção em Espanha ascende a 40 mil milhões de euros anuais.

Itália: as mãos sujas de Craxi e Berlusconi

O mesmo se passa com os italianos, cada vez menos tolerantes com as promessas de quem os governa. No entanto, ao contrário de Espanha, onde um primeiro-ministro nunca foi indiciado por qualquer crime, Itália está, neste momento, a "celebrar" duas décadas do maior cataclismo político que o país viveu desde a Segunda Guerra. Entre fevereiro de 1992 e dezembro de 1994, os velhos partidos quase desapareceram e milhares de senadores, deputados, autarcas, empresários e tutti quanti foram varridos, na Operação Mãos Limpas, iniciada por um juiz de Milão chamado Antonio Di Pietro. 
Tudo começou quando um socialista chamado Mario Chiesa foi apanhado com um envelope de 7 milhões de liras (8 mil euros). Era o preço a pagar pela cascata de comissões relacionada com os alvarás de um projeto de construção. Nas semanas e meses que se seguiram, multiplicaram-se as investigações, as detenções e até os suicídios - pelo menos quarenta. A lei do silêncio deixa de vigorar e a máfia efetua dezenas de atentados, com socialistas e democratas-cristãos a perceberem que o perverso modo de funcionamento do país tem os dias contados. A opinião pública põe-se do lado dos juízes e Di Pietro processa o primeiro--ministro socialista Bettino Craxi. A ele e a mais 2 500 pessoas. Mani Pulite culmina na eleição de um empresário amigo de Craxi - Silvio Berlusconi. O primeiro seria condenado a 27 anos de prisão - à revelia, por se ter exilado na Tunísia. O segundo viria a conquistar, depois, o seu lugar na história.

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