07/08/2015

Drama no Mediterrâneo: “É um genocídio causado pelo egoísmo europeu”

 Vários traficantes de seres humanos foram detidos em Palermo. Autarca local lança apelos desesperados. Comissão Europeia pede “coragem coletiva” aos membros da UE


DARRIN ZAMMIT LUPI / EPA
Sobreviventes da embarcação que naufragou quarta-feira ao largo da Líbia acusam grupos de traficantes de serem os responsáveis pela morte de centenas de pessoas. “Testas marcadas com facas para os africanos que não obedeciam a ordens” e “pontapés e murros na cabeça” estão entre os relatos de alguns dos 273 migrantes que sobreviveram ao naufrágio da embarcação, segundo o diário italiano “La Repubblica”.

Quando a embarcação começou a ter dificuldades, os traficantes fecharam os migrantes de etnia africana num compartimento do barco e ordenaram aos de outras etnias que se sentassem em cima das portas para os impedir de sair. "Os cerca de 200imigrantes africanos trancados tiveram um fim horrível", relata o jornal.
À chegada ao porto italiano de Palermo dos 373 sobreviventes da embarcação, vários traficantes foram detidos. O autarca local defendeu que o drama dos migrantes no Mediterrâneo é um “genocídio causado pelo egoísmo europeu” e que as máfias aproveitam-se deste problema para explorarem cidadãos ilegais.
Leoluca Orlando apelou aos líderes europeus para responderem de forma mais eficaz a esta crise humanitária, que só este ano já causou mais de 2200 vítimas. Segundo o presidente da câmara de Palermo, é fundamental que os países europeus autorizem a entrada de mais refugiados nos seus países, evitando casos como os de Itália, em que os membros da máfia acabam por reencaminhar estes migrantes ilegais para a atividade criminosa.

“O atual sistema está a alimentar o crise organizado, está a gerar mais mortes e violência, forçando os migrantes ilegais a atuarem fora da lei”, afirmou o autarca, citado pelo jornal “The Telegraph.”
Leoluca Orlando realçou que este migrantes são explorados pelos crimininosos enquanto aguardam pedidos de asilo e vivem em condições desumanas, sem possibilidade de conseguirem um emprego ou uma casa. “Isto permite aos migrantes participarem em novas formas de crime organizado - traficantes e membros da máfia correm para centros de migrantes.”

Entretanto, a Comissão Europeia apelou na quinta-feira aos membros da UE para encontrarem uma “coragem coletiva” de forma a cumprirem o que foi acordado no passado mês de maio relativamente ao drama dos migrantes.

“A migração não é um tópico popular ou bonito. É fácil chorar em frente à televisão quando assistimos a estas tragédias. É mais difícil levantarmo-nos e assumirmos responsabilidades”, declarou o organismo comunitário, em comunicado. Cerca de 2 mil pessoas terão morrido desde o início do ano até terça-feira, de acordo com o último balanço da Organização Internacional para as Migrações, a que se juntam mais de duas dezenas de vítimas no naufrágio de quarta-feira.

Por seu turno, cerca de 224 mil migrantes e refugiados conseguiram este ano chegar ao velho continente através do Mediterrâneo, segundo as Nações Unidas.

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