10/03/2021

EDUCAÇÃO DA MULHER NA IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO

Casta Susana

A percepção das mulheres como inferiores ao homem, necessitando de vigilância masculina, remonta no Ocidente à Antiguidade Clássica e intensificou-se com o Velho Testamento, o livro sagrado das três principais religiões monoteístas, com as suas sociedades patriarcais de há mais de três mil anos. Concepção reforçada pelos evangelistas misóginos e temerosos da influência e poder das mulheres. 
A educação da mulher, como esposa, mãe e filha, devia  extirpar os seus "vícios" e "danos" e colmatar a sua inferioridade natural para justificar a sua total submissão  ao homem e ausência de direitos. A castidade era a principal prenda e virtude sobretudo para as princesas e rainhas, seguida da obediência.

   Silêncio ou diminuta visibilidade da "expressão" feminina em épocas passadas, em que grande parte das informações sobre a sua vida e atitudes são indirectas, quase todas testemunhos de origem masculina e muito contraditórias, na maior parte dos casos, restringidas aos grupos sociais mais influentes e poderosos, com argumentos, mesmo extremos, nomeadamente os que acentuavam os "vícios" e "malefícios" atribuídos à mulher. 

Ao mesmo tempo e em contracorrente aparecem, nos finais do século XV e inícios do século XVI, de obras em defesa das mulheres, em particular das "ilustres", mencionando a importância da educação feminina, embora apenas na formação das princesas e grandes senhoras, que seriam espelhos das outras.

Alguns autores apontam as obras misóginas clássicas que, em vez de dar a mão às mulheres , lhes deram com os pés: em vez de as instruírem e ensinarem, escolheram repreendê-las e vituperá-las, para melhor as dominarem, como já tinham feito, entre os gregos, Eurípedes: e entre os latinos, Juvenal, e também outros poetas satíricos posteriores como Boccacio. 

Luis Vives diz na sua obra “A Educação da mulher cristã”: «Al hombre muchas cosas le son necesarias; verbigracia: la prudencia, el bien hablar, la ciencia politica, la memoria, el talento, el arte de vivir, la justicia, la liberalidad, la magnanimidad y otras cosas que sería prolijo enumerar. Si le falta alguna de éstas parece menos de culpar, con que tenga algunas. Empero en la mujer nadie busca la elocuencia, ni el talento, ni la prudencia, ni el arte de vivir, ni la administración de la República, ni la justicia, ni la benignidad; en suma: nadie reclama de ella sino la castidad, la cual, si fuere echada de menos, es igual que si al hombre le faltaren todas. La castidad en la mujer hace las veces de todas las virtudes.»

 NOBRES, INFANTAS, PRINCESAS E RAINHAS 

 As infantas e as princesas eram os espelhos das outras, quase não tinham infância, preparadas desde o berço para serem esposas de governantes que nunca tinham visto até ao dia do seu casamento, fossem velhos, viúvos, déspotas ou loucos, em países distantes e estranhos. Outras vezes, por tratados da aliança, foram levadas nos primeiros anos da sua infância, com as suas aias, criadas e amas, para viverem nessas cortes estrangeiros, longe da sua família, até à idade núbil (por volta dos 12 anos) para consumarem o casamento. Estudavam religião, etiqueta da corte, artes como bordados, dança e música, aprendiam latim e outras línguas, como o espanhol ou o francês, assim como ciências, política e governação se tivessem “ânimo varonil”, etc.

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