Na minha actividade de escritora de romance histórico de temática portuguesa, procuro dar visibilidade não só aos indivíduos que se imortalizaram pelas suas obras, mas também aos monumentos, terras e regiões onde tiveram lugar os factos narrados. Assim, tenho levado os meus leitores a viajar no tempo ao encontro desses lugares que fizeram História na época dos Descobrimentos e são parte integrante do nosso Passado Colectivo.
Em alguns lugares, a inclemência da passagem do Tempo, mas, sobretudo a indiferença dos seus governantes e também dos próprios habitantes – muitos dos meus heróis de há cinco séculos já se queixavam desse desprezo – permitiram a degradação, ruína e muitas vezes a destruição de património de grande valor.
Contudo, a preservação e recuperação desse património já acontece algumas vezes por iniciativa de autarcas inteligentes e cultos que reconhecem a mais-valia desses monumentos, de vestígios que apontam para construções antiquíssimas ou mesmo de memórias sem corpo mas com alma. E esse milagre faz-se também por iniciativa dos próprios filhos da terra, que querem preservar a todo o custo a sua identidade e as suas raízes.
Um exemplo flagrante, que tive o privilégio de ver de perto e me apaixonou, tem sido o dos elementos que recentemente formaram a Academia da Ribeira de Muge, com a sua luta de muitos anos pela recuperação do Paço da Ribeira de Muge, vulgo Paço dos Negros, no lugar do mesmo nome, no Concelho de Almeirim. Com esporádicos apoios da Câmara de Almeirim, por iniciativa popular, um grupo de jovens dirigido por Aquilino Fidalgo, descendente de uma das famílias mais antigas da terra, libertaram o espaço de toneladas de entulho e lixo e começaram expor os vestígios e as partes do Paço que ainda estavam de pé mas se encontravam em terrível estado de degradação – além do moinho, os pavilhões da montaria, a capela, parte das salas com lareira e também as escavações para o tanque dos peixes. Pretendiam os elementos da Academia conseguir a classificação do monumento pelo IPPAR, através da Câmara Municipal, até hoje sem sucesso.
O Paço dos Negros foi construído por El-Rei D. Manuel, em 1511 (cem anos depois do Paço Real de Almeirim), para servir de apoio às caçadas nas ricas coutadas da Ribeira de Muge, durante a estadia da nobreza na “Sintra de Inverno”, que ali vinha desenfadar-se; o paço era composto por um pátio central, uma capela e residência real, cemitério, azenha, residência para servos, pomar, horta e pasto para gado.
Este lugar de Paço dos Negros, que eu nunca vira, serviu-me de palco para o início da intriga do meu romance D. Sebastião e o Vidente, por ser o local preferido do Desejado, que fugia do Palácio de Almeirim para ali se refugiar e se dedicar ao seu desenfadamento preferido: a montaria. É nas suas matas que, antes de completar doze anos, D. Sebastião mata o seu primeiro javali.
Entre os actuais paladinos de Paço dos Negros, Aquilino Fidalgo e Manuel Evangelista leram o meu romance e ficaram muito surpreendidos e agradados pela referência e visibilidade dada ao objecto da sua luta; em 2007, convidaram-me para um evento a que chamaram “D. Sebastião no Paço”, fazendo-me uma fantástica homenagem e proporcionando-me um dos dias mais felizes da minha vida, sendo então nomeada “Filha adoptiva de Paço dos Negros”, um título que me honra muito e ainda me comove.
No passado dia 14 de Maio teve lugar a comemoração do 500º Aniversário da fundação do Paço, que se iniciou pela visita ao recinto, seguida do lançamento do livro Paço dos Negros da Ribeira de Muge – A Tacubis Romana, de Manuel Evangelista, que eu tive o privilégio de apresentar e que é um exaustivo trabalho de investigação sobre a história do lugar; um estudo que abre muitas pistas para outras investigações e monografias académicas de várias disciplinas. Foi ainda apresentada uma reconstituição digital da planta do Paço, tal como seria no século XVI, da autoria de Gustavo Pacheco Pimentel.
A Academia da Ribeira de Muge apresentou inúmeras actividades culturais que testemunham a riqueza do seu património: danças e cantares antigos, representação teatral das lendas do Rei Preto, venda e degustação da sua gastronomia.
Em representação do Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, presidiu às comemorações o sr. Marquês de Rio Maior.
3 comentários:
Pena a divulgação dessa meritória iniciativa ser escassa!
Tem razão Jorge Gonçalves. Somos um grupo de amigos, cheios de vontade em valorizar a nossa terra.
Contamos, por vezes, com a incompreensão, quando não o boicote dos responsáveis locais.
Se desejar, consulte http://academiadaribeirademuge-pacodosnegros.blogspot.com
www.ribeirademuge.blogspot.com
Obrigado por tudo, Deana
Manuel Evangelista
Tem razão Jorge Gonçalves. Somos um grupo de amigos, cheios de vontade em valorizar a nossa terra.
Contamos, por vezes, com a incompreensão, quando não o boicote dos responsáveis locais.
Se desejar, consulte http://academiadaribeirademuge-pacodosnegros.blogspot.com
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