18/01/2015

Rei da Arábia Saudita ordena revisão da sentença de blogger

As feridas nas costas e nas pernas de Raif Badawi não sararam a tempo da segunda ronda da flagelação, que foi adiada esta sexta-feira.

 
O rei Abdullah da Arábia Saudita enviou para o Supremo Tribunal o caso do blogger condenado em Novembro a 15 anos de prisão, mil chicotadas (divididas em doses de 50 durante 20 semanas) e a uma multa de mais de 200 mil euros por insulto ao islão e não obediência ao monarca, noticiou a BBC.

 Esta decisão parece indicar que as autoridades sauditas estão dispostas a rever a pena de Raif Badawi que esta sexta-feira viu adiada a segunda sessão de chicotadas por "razões médicas".

Foi flagelado pela primeira vez a 9 de Janeiro e a segunda série de 50 chicotadas tinha sido marcada para esta sexta-feira. Porém, "os médicos da prisão concluíram que a saúde de Raif não recomandava a flagelação [desta sexta-feira]", disse à AFP Ensaf Haidar, por telefone. Quando o marido foi condenado, ela partiu para o Quebeque com os três filhos do casal.

Ensaf Haidar explicou que o marido tem ferimentos que foram provocados pelas chicotadas de 9 de Janeiro, dadas em frente à mesquita de Jeddah, a cidade natal do blogger que defende o secularismo e a separação dos poderes na Arábia Saudita e escrevia sobre estas matérias no blogue que fundou, o Rede Liberal Saudita, entretando fechado pelas autoridades.

A Amnistia Internacional, que está a promover uma campanha mundial pela libertação do blogger, confirmou que as chicotadas previstas para esta sexta-feira foram adiadas, mas nota que adiamento não significa cancelamento. A punição, e caso o prisioneiro esteja em condições físicas, continua na sexta-feira da semana que vem. "Os médicos só concluíram que as cicatrizes não sararam devidamente e que ele não está, por enquanto, em condições para levar mais um castigo", esclareceu a AI em comunicado. Foi um médico da prisão, diz a AI, que sugeriu que o castigo prosseguisse dentro de uma semana.

A Arábia Saudita é o berço do wahabismo, um movimento religioso ultraconservador do islão sunita. Qualquer sugestão de separação de poderes político e religioso é considerada crime, assim como qualquer crítica à dinastia reinante.

Porém, como lembrou na quinta-feira o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o jordano Zeid Al Hussein – que pediu ao rei Abdullah para conceder um perdão a Raif e o libertar –, a Arábia Saudita ratificou a convenção antitortura, como é classificado este tipo de punição.

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