19/07/2024

MALGA DE VINHO POR SIZA VIEIRA

A MALGA DO 3º MILÉNIO (texto integral, com receita) por Deana Barroqueiro
«Na linha morfológica das tigelas e escudelas, com tamanhos e funções variáveis, usadas para cozinhar e no serviço das mesas, distingue-se a “malga”, de tamanho mais reduzido e pouco variável. Com raízes na "magǐda", descrita por Plínio e usada nas libações aos deuses, a malga particulariza-se e individualiza-se, já na Idade Média, tornando-se, a partir do século XIV, num objecto indispensável a qualquer família, também nos lares quinhentistas. 

Surgiu primeiro em barro, depois em “louça”, a cerâmica vidrada, branca ou decorada, importada de Málaga, aparecendo pela primeira vez mencionada como "mallega", num foral da Guarda de 1510, vulgarizando-se posteriormente como “malga”. Com um diâmetro de bordo de 13-15 cm e uma altura de 7-8 cm, a malga destinava-se ao consumo individual do comer e do beber, sem necessidade de talheres. A sua forma de semiesfera ou calota, com pé anelar, era perfeita para se levar à boca, suspensa entre dois dedos ou na concha das mãos, e emborcar o primeiro vinho recolhido directamente do pipo, na adega. 

Ou ainda, quer na reunião familiar à roda da lareira nos tempos de invernia, quer no convívio com os vizinhos, na eira de noites estreladas, ao fim de um dia de trabalho, aninhada no aconchego das mãos, como um tépido seio de mulher, dispensando o garfo e a faca em favor da colher, o utensílio medieval por excelência, se comia a sopa, o ensopado, o creme ou o doce, em amena cavaqueira. Serviu para múltiplas funções, como substituir as salseirinhas e os pratinhos medievais com especiarias, azeitonas ou torresmos, para o café ou as sopas de cavalo cansado, para medir os ingredientes das receitas de biscoitos e bolos, uma tradição que se manteve nas aldeias do interior de Portugal, até há algumas décadas. 

Contudo, a malga vidrada e imaculadamente branca distinguiu-se como um ícone português, sobretudo, na região vitícola dos vinhos verdes, substituindo pichéis e copos, graças à amplitude da sua calota que, na degustação dos seus tintos, permite aspirar-lhes amplamente os aromas e, ao mesmo tempo, apreciar as tonalidades da sua cor quando tingem a tela branca de cerâmica. O triunfo dos vinhos verdes tintos surge, assim, no século XX, com o “vinhão da malga”. 


A malga é, sem dúvida, um dos objectos portugueses mais tradicionais e com uma história de consumo e demanda mais longa, só perdendo importância, no século XVIII, entre a nobreza e a burguesia, devido ao excesso de porcelanas chinesas, símbolo de luxo e estatuto social, trazidas com a Expansão Marítima Portuguesa. No Brasil, para onde foi levada pelos imigrantes (como em muitas outras partes do mundo), veio a sofrer o mesmo desprezo das classes altas, ficando o seu uso reservado ao povo. 

Foi, todavia, reabilitada e de novo apreciada, a partir do século XIX, por intelectuais, artistas e escritores, como Eça de Queirós, que a refere nas suas obras: azeitonas pretas em malga de barro e também tabaco em malga vidrada, em A Cidade e as Serras. Ou Camilo Castelo Branco, em Maria Moisés (Novelas do Minho): «uma farta malga de caldo fumegando por entre uma floresta de couves recheadas de feijões vermelhos». No século XX, tornou-se num valioso artefacto para coleccionadores. 

E foi então que a Pacheca, graças ao seu empenhamento na renovação de tradições antigas e identitárias de Portugal, como nação antiquíssima da Europa, convocou o génio criativo do grande arquitecto Siza Vieira, para a criação de uma “Malga do 3º Milénio”, que alia a tradição antiga à modernidade do estilo, sem corromper ou adulterar a sua natureza, para que os embaixadores portugueses no mundo possam exibir nas suas mesas, aos convidados, um belo e curioso artefacto português com história, fazendo brindes com os melhores vinhos de Portugal.

BROAS DE MEL (Alvaiade -Vila Velha de Ródão) 
Ingredientes: 1 malga de ovos inteiros; 1 malga de azeite; 1 malga mal cheia de açúcar; 3 c. de sopa, bem cheias, de mel; 1 c. de chá de fermento em pó; 1 casca de limão; canela a gosto; cerca de 3 malgas de farinha de trigo. 
Bate-se os ovos inteiros com o azeite, o açúcar, o mel, a casca de limão e a canela e, em seguida, mistura-se a farinha com o fermento. Deita-se a massa (pouco corredia, para não se espalhar demasiado), às colheres de sopa, em tabuleiros untados com azeite e polvilhados de farinha, deixando uma boa margem entre elas. Cozem em forno bem quente, previamente aquecido, até crescerem (cerca de 7 cm. de diâmetro) e ficarem douradas.

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