18/12/2010

Aeroporto Charles de Gaulle, o nevão e os "hóspedes"


Fui, de 27 de Novembro a 8 de Dezembro, ao Japão, em viagem organizada pelo Centro Nacional de Cultura sob o tema "Os Portugueses ao encontro da sua História". O meu objectivo era o de encontrar vestígios de Fernão Mendes Pinto, da sua espantosa obra "Peregrinação" e dos portugueses que foram os primeiros ocidentais a visitar as terras do Império do Sol Nascente.

Uma viagem bafejada por sol, temperatura fresca sem ser gelada e os momiji ainda repletos de folhas, ora acobreadas como fogo, ora escarlates como sangue, criando ao modo impressionista os mais belos quadros que se possam imaginar.

Um país limpíssimo, de gente educadíssima que faz do seu trabalho uma missão, procurando sempre a perfeição e o bem-estar do seu próximo e a comunhão com o mundo que o rodeia. Espero poder descrever aqui algumas das minhas impressões.

Todavia, antes de falar do Japão, tenho de contar do regresso e do primeiro choque(não falo da tremenda queda que dei no último dia de viagem diante do templo Toshogu)que senti do confronto de mentalidades e civilizações, à nossa chegada ao aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, depois de mais de 9 h. de voo pela Air France.

Por mal de nossos pecados foi no dia 8 de Dezembro, a quarta-feira do nevão que paralisou o aeroporto e Paris. Não conseguimos aterrar na capital francesa, porque eles não tinham máquinas suficientes para limparem as pistas, e fomos desviados para Toulouse, voltando a Paris, duas ou três horas depois, aterrando por fim, mas ficando mais de uma hora dentro do avião, à espera que desimpedissem a pista.

Tudo isto seria até compreensível, devido às condições meteorológicas, porém não é possível aceitar ou compreender o modo como foram tratados os passageiros que tinham perdido as suas ligações com outros voos. Só no dia seguinte, à noite, teríamos avião (e não era seguro haver lugares para todos) e os hotéis estavam cheios, segundo disseram os responsáveis da companhia e do aeroporto, portanto, teríamos de passar ali a noite.

Então, como tinham de fechar as suas instalações - salas, saletas, restaurantes, cafés, tudo - o único sítio que tinham para acolher os trinta membros da embaixada cultural do CNC, e outros grupos que chegaram noite dentro, foi um corredor ou túnel sob a ponte do aeroporto, desabrigadíssimo apesar de não ser a céu aberto, gélido e quase às escuras, sem sequer uma cadeira para nos sentarmos, sem comer e sem beber . Deram-nos apenas um tapete de Yoga (bem a propósito!), uma fina manta e uma garrafa de água, para nos deitarmos no chão e passarmos ali a noite, com temperaturas negativas, independentemente da idade, das doenças, de nos conseguirmos deitar ou mesmo sentar no chão. Como vagabundos ou sem-abrigo. Como num campo de refugiados. Ou um rebanho à espera de embarque.

E falamos nós de Portugal! Quando, durante uma greve ou uma qualquer crise, os nossos jornalistas acodem às salas aquecidas e iluminadas - onde os passageiros se queixam, a comerem sandes e a tomarem bebidas quentes, quantas vezes com tendas de campanha -, ansiosos por mostrar "as péssimas condições dos nossos aeroportos", deviam olhar também para o que se passa "lá fora", nos países ditos desenvolvidos! No Charles de Gaulle, não entrou a imprensa francesa, garanto-vos!
Foi um comportamento, sem ponta de profissionalismo ou civismo. Infame!

Aqui tendes duas imagens do nosso "acampamento", peço desculpa pela má qualidade, mas a luz não ajudava...

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