22/12/2010

Ovos Moles de Aveiro - por Ollebama


"Gastrónomo é o que sabe comer. O que prefere, e como não, a qualidade à quantidade. Nada de parentesco vocabular ou real com o comilão, o glutão, o gargantão ou viandeiro. Nada. Antes o saboreador, anteposto ao deglutidor. A sensibilidade do gastrónomo está mais na boca e na língua, nos olhos e no olfacto, que no estômago. Comer, para o gastrónomo, é coisa tão sagrada como o sagrado sacrifício da missa para o cristão. Não há nada mais bulidor com a essência divina da besta humana, inteligente e sensível".

(...) "O gastrónomo é o grande maestro. Como ele sabe compor por exemplo essa peça orquestral que é uma caldeirada, em que a fífia de um figurante pode anular uma obra de mestre ou essa rapsódia nacional que é o cozido à portuguesa. Para a cozinha os mais sagrados elementos são colaboradores primários: o sol, a água, o lume, o tempo, o mar, a floresta, a ave, o fruto, tudo invenções de Deus e o Vinho que é invenção dos homens bem dignos de serem nomeados deuses. Mundo inteiro, do pão e do sal, do minúsculo crustáceo ou do pequeníssimo bago de pimenta ao potente boi doméstico e ao indomável javali!"

"A cozinha portuguesa, endeusada por Fialho nos Gatos, verificada a sua existência pelo Ramalho nas Farpas e proclamada revivedora, tónica e maravilhosa urbi et orbi por Eça de Queiroz, dos livros menores ao A Cidade e as Serras, teve em António Bello o seu melhor defensor, o seu cultor apaixonado. A sua obra, fundando a Sociedade de Gastronomia Portuguesa e escrevendo este livro (Culinária Portuguesa), o prova".
Albino Forjaz de Sampaio, no Prólogo de Culinária Portuguesa, 1933

António Maria de Oliveira Bello, aliás Olleboma, foi industrial e mineralogista distinto. E foi gastrónomo ilustre, fundador em 1933 da Sociedade de Gastronomia Portuguesa. "Pertencia infelizmente e devia ter horror a esta geração que não sabe comer e que vive apressadamente, devorada de incertezas e angústias, conhecendo do mundo as estradas e do prazer a superfície".

Escreveu pelo menos dois livros de cozinha, um de culinária internacional e outro de Culinária Portuguesa, de onde passo a tirar a receita original de uma verdadeira ambrósia dos deuses:

Ovos Moles de Aveiro

Tomam-se 500 gramas de açúcar refinado, juntam-se 250 gramas de água e, em estando em ponto de pasta, tiram-se do lume, deixando arrefecer. Juntam-se então 24 gemas de ovos bem limpas das claras, levemente mexidas para ficarem desfeitas, voltandoa o lume, mexendo sempre para não pegarem ao fundo. Estando cozidas e com consistência, junta-se uma colher, das de sobremesa, de canela em pó e deita-se na travessa ou prato de serviço, ou enchem-se pequenos envólucros de massa (obreia). Sendo para enchimento ou revestimento de pães de ló ou para pastéis, deve dar-se a maior consistência possível. Também, se podem juntar 5 a 6 colheres, das de sopa, de doce de gila.

7 comentários:

Ana Paula Lavado disse...

Pois...
E depois de tão boa sugestão,
como modero eu a ansiedade!!!!!!!!!!

DEANA BARROQUEIRO disse...

A doçura dos Ovos Moles, a sua textura de veludo afagam e fazem dormir todas as ansiedades...

DEANA BARROQUEIRO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DEANA BARROQUEIRO disse...

Comentário de Fernanda Ap no Facebook:
Obrigada Deana por partilhar com os amigos a sua imaginação, os seus conhecimentos e até a sua indignação. Um xi-coração de Boas Festas!
22/12 às 22:00

DEANA BARROQUEIRO disse...

Os mesmos votos para si, minha querida Fernanda! E, se gosta de ovos moles, pode fazer aquela receita (ou metade dela).

DEANA BARROQUEIRO disse...

Fernanda Ap no Facebook:
E fiz, inteirinha! Tive suceso, dado que serviram para rechear, barrar, cobrir e ... lamber a colher e os dedos! Obrigada!

Jorge Lourenço Goncalves disse...

Uhmmm!!!! Ja me fez crescer a água na boca...