19/10/2012

Retoma-se o Mito do Preste João


Na 1ª parte do meu romance O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto, o Mar Roxo, pude voltar a um tema fascinante da nossa História, que havia tratado em O Espião de D. João II, quando Pêro da Covilhã descobre o tão desejado e encoberto Reino do Preste João. Um Imperador cristão em pleno coração do continente africano, que toda a Cristandade buscava descobrir em vão há mais de 200 anos, a fim de fazer frente à influência árabe e turca no Oriente. Para quem não leu o romance anterior, pode ver aqui um pouco da história do mito.
 
Origens do mito
O mito do Rei do Mundo tem raízes na expansão do cristianismo nos primeiros séculos nas longínquas terras do Sul e do Oriente e as comunidades cristãs posteriores, nestorianas e jacobitas:
. Os antigos membros da igreja de Edessa, expulsos a seguir à condenação de Nestorius no Concílio de Éfeso, espalharam-se pelo Oriente, fixando-se na Arábia, Pérsia, Índias, Tartária  e China.
. O apóstolo S. Tomé que pregou na Índia e criou numerosas comunidades de cristãos.
. A tradição popular à volta da notícia da existência do príncipe cristão, apoiada na memória do antigo Presbyteros Johannes, de Éfeso, confundido com o apóstolo S. João Evangelista, que não teria morrido, eternamente à espera da segunda vinda de Cristo e do Reino de Deus na Terra.
. O apóstolo S. Mateus que evangelizou o Alto Egipto e a Etiópia.
. O eunuco baptizado, que converteu ao cristianismo a rainha Candacia de Meroe e Etiópia.
. As cópias de uma carta, supostamente escrita pelo rei sacerdote, dirigidas ao papa Alexandre III, aos imperadores do Oriente, Manuel I Comeno, e do Ocidente, Frederico Barba Roxa, aos reis Luís VII de França e mesmo D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. A carta descrevia o imenso império do Presbítero João que reinava sobre as três Índias e várias outras nações, como as dez tribos perdidas de Israel, tendo ainda setenta reis tributários. O seu exército trazia por insígnias dez cruzes de ouro e pedraria, cada uma com dez mil homens de cavalo e cem mil a pé. Outras descrições fantásticas enchiam as numerosas páginas da missiva. Sendo falsa (forjada na Europa por algum aventureiro literário ou por padres que queriam animar a fé dos cristãos, em tempos de dominação e conquista muçulmana), a carta foi considerada verdadeira e a lenda passou de vago boato a realidade comprovada.

Cronologia da busca do Preste João pelos Portugueses
1486 – D. João II enviou Bartolomeu Dias para a costa de África em demanda doa passagem para o Índico, com negros e negras para lançar nas terras descobertas para saber notícias do Preste.
1487 – D. João II despachou por terra Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, com recomendações para a busca de “um príncipe que se chamava Preste João”.
1494 – Pêro da Covilhã descobriu na Etiópia um Preste João: Eskender, o Negusa Nagast ou Rei dos Reis.
1495 – Morte de D. João II e subida ao trono de D. Manuel I. Preparação da expedição de descoberta de uma derrota para as Índias.
1500 – No mapa de Juan de la Cosa, o Preste da Etiópia é branco.
1514 – Chegou a Lisboa Mateus, o emissário da rainha Helena da Etiópia (por influência de Pêro da Covilhã), que foi muito bem recebido por D. Manuel.
1515 – D. Manuel enviou Duarte Galvão como embaixador ao Preste com um sumptuoso presente. Houve desentendimentos entre o Governador Lopo Soares de Albergaria, o embaixador português e o abexim Mateus. A expedição da armada ao Mar Vermelho (que deixaria a delegação portuguesa nas terras do Preste) acabou em desastre. Duarte Galvão morreu, a embaixada não se concretizou e o presente de D. Manuel foi delapidado na Índia.
1520-1527 – O novo Governador, Diogo Lopes de Sequeira, improvisou uma embaixada para o Preste, escolhendo para embaixador D. Rodrigo de Lima. No início da viagem, morre o embaixador Mateus, enviado da rainha Eleni. A delegação portuguesa andou seis anos pela Etiópia e conviveu com Pêro da Covilhã, então, senhor de um grande feudo, quase um reino, casado com uma etíope e pai de numerosa prole. Iniciaram-se, assim, as relações oficiais de aliança entre os dois reinos.

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