26/12/2012

O Governo visto pelos do seu próprio Partido

Não desliguei a televisão na hora dos discursos do 1º Ministro e do Presidente da República, mas não os ouvi, porque me repugnam pela incompetência, pela mentira e pela hipocrisia. Durante esse tempo de desperdício (de histórias de faz-de-conta ou de má telenovela com actores de 3ª categoria), liguei a televisão por cabo e estive a ver desenhos animados, mais reais e humanos do que os títeres da Troika que nos governam.
Também não li os seus discursos nos jornais, pois todos sabemos o que disseram, sem mesmo os ouvirmos.
Mas li este texto de José Pacheco Pereira, correligionário do Partido do Governo, no seu Abrupto, do dia 22 de Dezembro de 2012, que aqui  deixo  aos meus amigos por crer que vale a pena ler e meditar:


O MÉTODO: NO DIA ANTERIOR

"Quando o dinheiro da família acaba não se pode ir ao casino porque não tem dinheiro para jogar." (Passos Coelho)

É sempre o mesmo. Num dia assiste-se á divulgação de um relatório qualquer, com algumas estatísticas selectivas, cuidadosamente sublinhadas, em muitos casos de organizações com uma agenda ideológica e politica, e noutros casos manipuladas de forma grosseira, quando não falsas. O conteúdo é invariavelmente o mesmo: Portugal é um país de privilegiados, os funcionários públicos são os que tem mais regalias na Europa, os operários os mais bem pagos, os dias de férias mais numerosos, os subsídios abundam, um estado social falido despeja a sua cornucópia de abundância sobre gente que não quer trabalhar e espera tudo do paternalismo estatal. É o casino.

 Depois do resumo distribuído pela LUSA, ou passado ao Correio da Manhã, de tais alarmantes números e constatações, os blogues ligados ao poder, muitos escritos por assalariados directos do governo, explodem de indignação. Imaginem lá até as mamas implantadas recebem subsídios! O mundo estaria a acabar se não fosse a determinação de Passos Coelho, Gaspar, Borges e Relvas (este é citado mais prudentemente…) em corrigir os desmandos do “regabofe” que, de Cavaco a Sócrates, mais os vícios de dependência dos portugueses, levou o país á bancarrota.

Depois, a comunicação social divulga sem verificação, sem contraditório e sem ouvir quem sabe sobre essas matérias ou porque as estudou, ou as ensinou toda a vida, ou escreveu livros, essa forma anti-mediática de expressão que dá muito trabalho a ler em vez de uma rápida procura no Google. Muitas vezes, em debates fora do prime time, quem verdadeiramente sabe sobe pelas paredes acima para tentar repor a verdade, mas não vale a pena. O sistema foi feito para a mentira conveniente e uma série de profissionais dessa mentira, em nome do marketing e da assessoria de comunicação, estão aconchegados nos gabinetes ministeriais, para fazer essa sale besogne de nos enganar.
 
O MÉTODO: NO DIA SEGUINTE

 Depois, no dia seguinte, uma declaração ministerial, ou uma fuga de informações, anuncia a intenção do governo de proceder a uma nova vaga de austeridade moral, para combater os privilégios e repor a justiça social, que a neutra e preocupante estatística do dia anterior exigia. Não faltam exemplos, entre os quais os mais recentes se centram nos “estudos” que o primeiro-ministro disse ter sobre como é que o “estado social” beneficia em primeiro lugar os que menos precisam, e sobre o severo número de dias de subsídio de desemprego pagos na Europa, por comparação com os excessos sumptuários dos portugueses, o que é pura e simplesmente falso.

 Já disse e repito outra vez: as armas da retórica do poder assentam nas velhas técnicas da omissão da verdade e da sugestão de falsidade, a que se soma a velhíssima mentira. É por tudo isto, e pela facilidade de circulação de tudo isto (como já se passava com as estatísticas optimistas de Sócrates) que o espaço público é um lugar muito mal frequentado em Portugal.
 José Pacheco Pereira

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