Lengalenga dos Medos
Em dias de nevoeiro,Em noites de lua cheia,
Junto ao Cabo Carvoeiro
As bruxas tecem a teia,
Ao som do velho pandeiro
Cantam sua melopeia:
Doze horas tem o dia,
Outras doze tem a noite,
Sol e Lua dão magia,
Ouro e prata a quem se afoite.
Na gruta medonha e fria
E entre os monstros se acoite.
Doze meses tem o ano,
Zodíaco doze signos,
Neste mapa portulano
Doze desastres malignos,
Doze heróis no Oceano
Encontraram seus destinos.
As bruxas vão remexendo
Num caldeiro a fumegar,
Suas rezas remoendo
Maus filtros de enfeitiçar
Nas mezinhas vão metendo
Terra, Fogo, Água e Ar.
Vinte e quatro diabinhos
(Doze mais doze a somar)
Fazem feitos tão maninhos
Nesta gruta de espantar
Qu’ os pobres dos marujinhos
Foram todos naufragar.
Fortes monções vão sofrendo
Com as marés a voltear
Doze contos vão tecendo
Suas mortes d’assombrar
Tantos mares percorrendo
Sem um porto onde arribar.
Outros seis diabos chegam,
As penas são a dobrar,
Na caverna todos pintam
Malefícios de abrasar
E os que no mar navegam
Nunca mais se hão-de salvar.
A Ursa tem sete estrelas,
Outras cinco o Cruzeiro,
Indicando duas delas
Os Pólos, ao marinheiro
Que de noite espera vê-las
E seguir o seu roteiro.
Mas as bruxas fazem meia
Com feitiços de luar
E o canto da sereia
Já se ouve em alto mar,
Contra os baixios d’areia
Lá vão as naus soçobrar.
Tantos homens perdidos
E donzelas por casar!
Tantos lares destruídos
E órfãos para criar,
Quanta mulher sem marido
Fica pela vida a chorar!
Deana Barroqueiro, 1998
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