Um alerta de Teresa Rita Lopes, professora universitária e poetisa
É importante continuarmos atentos ao desenrolar do caso
dos quadros de Miró. Ouvi ontem à noite as declarações daquela estranha
criatura que dá a cara como Secretário da Cultura (que fica mal representada!
Não acho bem achincalhar alguém pelo rosto que Deus - ou o Diabo – lhe deu, mas
a verdade é que há gente que merece mesmo a cara que tem, não sei se de pau se
de que outro qualquer inexpressivo material.)
Está provado e declarado (até pelo Ministério
Público) que os quadros saíram clandestinamente de Portugal, em Mala
Diplomática – sabe-se lá que outros valores assim saem do país! Honra seja
feita às sentinelas vigilantes da Cultura que denunciaram a falcatrua:
sobretudo a Gabriela Canavilhas que deu,
ontem à noite, a (bela!) cara , num debate televisivo com a representante do
Governo, que usava o argumento que continuam a brandir, todos com o mesmo
adjectivo: a cultura não é para eles, PRIORITÁRIA! E os quadros do Miro também não!
Hoje, na AR,
repetiram-no à exaustão! Até comentadores da sua cor política comentaram ontem
na TV a importância da incorporação desses quadros no nosso cabedal cultural –
museológico e até turístico! Já que estamos destinados a viver do turismo (
desde a entrada para a U.E., em que nos destruíram a agricultura, pescas e
outros meios de subsistência) , desenvolvamos o turismo cultural, associado ao
do Sol! (É claro que se o Governo pudesse também reduziria o Sol a patacos, como não “prioritário”!) Esses 85 quadros são o maior testemunho
da arte de um importante pintor ibérico da Modernidade, cobrindo as sucessivas
fases da sua criação artística. Nem o
museu que, em Barcelona, recolhe a sua obra dispõe de tal tesouro. O Secretário
da Cultura e adjacentes passam a si próprios, por actos e palavras, um
explícito atestado da sua escandalosa incultura.
Estas atitudes vêm de trás: também disseram os dessa cor
política que as gravuras de Foz Côa eram rabiscos de caçadores, para levarem
por diante os seus negócios. Uma historieta: no ano do centenário do nascimento
de Pessoa, 1988, bati-me, com o meu
grupo pessoano, para que na casa em que nasceu fosse instalado um Museu
Modernista (para pôr espólios vários, não só o de Pessoa mas também o que
consegui que o Banco Totta adquirisse num leilão, o do companheiro de lides
José Pacheco, director da revista CONTEMPORÂNEA – agora, inactivo, no Centro
Nacional de Cultura).
Assistimos, numa das nossas visitas a esse sítio, à
abordagem de um casal estrangeiro ao polícia de giro, perguntando-lhe qual era
a casa de Pessoa. O homem, que tinha a tal elementar instrução salazarista para
que os actuais governantes nos querem fazer regressar, franziu a cara, puxou
pelos seus escassos conhecimentos, e informou:
“Mas olhe que eu acho que esse gajo já morreu há uma data
de tempo…!”
A verdade é que o Pessoa é, hoje, fora de portas, quase
tão conhecido, pelas criações da sua cabeça
como o Ronaldo, pela habilidade dos seus pés! ( e as criações dessa parte nobre
do corpo são mais duráveis que os pontapés!) E que já há muita gente a vir conhecer Lisboa
por ser a cidade de Pessoa – como outros, Praga, por ser a de Kafka!
Até já há gente a ir a Tavira por ser a cidade natal de
Álvaro de Campos! O que chamo turismo cultural é isto.
Teresa Rita Lopes
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