Assisti ontem, na Perve Galeria, à inauguração da espantosa exposição das obras de três ícones da pintura surrealista portuguesa: Cruzeiro Seixas, Isabel Meyrelles e Benjamim Marques (os dois últimos radicados em França).
Num espaço belíssimo, em pleno coração da Alfama (por favor, não deixem de lhe fazer uma visita!), as obras dos três mestes - pinturas, gravuras, desenhos e esculturas - estabelecem um diálogo de contrastes e harmonias, que só se consegue em sonhos ou pela magia de uma imaginação criativa... como a destes artistas.
No pequeno, mas muito cuidado catálogo, diz-nos Carlos Cabral Nunes, curador da exposição:
"Trata-se, especialmente, de uma mostra que reune, pela primeira vez em Portugal, três importantes Surrealistas portugueses: Cruzeiro Seixas (agora com 90 anos, foi fundador, com Mário Cesariny e demais companheiros, de Os Surrealistas - em 1949 realizam a 1ª exposição), Isabel Meyrelles (responsável, com Natália Correia, do mítico bar Botequim) e Benjamim Marques (membro do Grupo do Café-Gelo, liderado por Cesariny, nos anos 60; representou a França no seu pavilhão na Expo 98)".
Do catálogo, aqui vos deixo ainda algumas frases do texto de Françoise PY, Mestre de Conferências da Universidade de Paris:
Cruzeiro Seixas - Sem Título
Desenhos e guaches "realizados num estado quase alterado que favorece o automatismo. O tipo de desenho muito puro de Cruzeiro Seixas é essencialmente visionário. O seu tipo de traço contínuo junta elementos gráficos com figuras compostas, em metasmorfose perpétua. (...) Essas criaturas míticas, andróides e animais, estão simultaneamente animadas e inanimadas, objectos e biomórficas, originam-se umas às outras, poder-se-ia dizer que tentam povoar um universo que estava vazio".
Isabel Meireles
"Isabel Meyrelles encontra soluções inéditas para a oposição entre elementos biomórficos e elementos geométricos. Seios ou uma cara surgem de uma superfície lisa como vidro. Por vezes um objecto concreto (instrumento de música, revólver, degraus de escada) serve de matriz conceptual da obra. A forma de um violancelo inspirou frequentemente os surrealistas pela sua analogia com o corpo da mulher. Isabel Meyrelles insere-se nesta tradição, joga com volumes puros e mostra um corpo feminino coroado com uma cabeça de pássaro".
Benjamim Marques
Benjamim Marques é um grande viajante, herdeiro da tradição dos navegantes portugueses do século dezasseis. (...) As suas telas são cartografias imaginárias onde surgem ilhas míticas, ou constelações, ou planetas - Marte, o vermelho, por exemplo. Toda uma série de trabalhos está consagrada às Galáxias: viagem interior e exploração visionária do infinitamente grande".
EXPOSIÇÃO A NÃO PERDER!
De 30 de Setembro a 30 de Outubro
Perve Galeria - Alfama: Rua das Escolas Gerais, nº 17,19,23 - Lisboa
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