Foi apresentado, durante o mês de Outubro e em vários locais e cidades, o Dicionário de Escritoras Portuguesas, organizado por Constância Lima Duarte, Conceição Flores e Zenóbia Collares Moreira, com a chancela da editora Mulheres, do Brasil.
Fui convidada para o lançamento desta obra na Casa Fernando Pessoa, a que não me foi possível assistir. Saudei com muitíssimo agrado esta obra pioneira e tão necessária para resgatar as escritoras portuguesas do limbo para onde são remetidas sistematicamente (com raríssimas excepções se compararmos com os escritores no masculino) pelos críticos e estudiosos (homens) que fazem os Dicionários e as Histórias de Literatura.
Sendo um trabalho original e de enorme interesse não só para os estudiosos e estudantes das escolas e universidades, mas também para o leitor em geral, tendo tido honras de apresentação nos canais televisivos, em muitos jornais e com milhares de entradas na Internet, julguei que poderia adquirir o Dicionário de Escritoras Portuguesas em qualquer livraria da nossa Lisboa. Engano meu!
Ando há um mês a percorrer as Fnac, Bertrand, Bulhosa e muitas outras livrarias, incluindo as universitárias. Nada! Não está nas listas...Nunca ouviram falar... Por outro lado vejo resmas dos mesmos livros e dos seus clones ou sequelas que, muitas vezes, não passam de um chorrilho de banalidades em mau português ou em péssimas traduções de banalíssimos autores estrangeiros; ou catadupas de lições de felicidade, sucesso e riqueza instantâneas. Que esmagam qualquer obra (das poucas) de qualidade que sempre vão aparecendo e nem se vêm.
Como este Dicionário! Não interessa aos livreiros portugueses. Porquê? Acham que não há "mercado" para tal obra? Ninguém estuda nesta terra? Seremos todos analfabetos? Terei de o comprar no Brasil? Mandar vir pela Net?
Já agora gostava de saber se faço parte dessas 2000 mulheres, apesar da minha marginalidade. Disseram-me que sim. Pelos vistos não vou ter oportunidade de o confirmar, para me narcisar. Que belo momento perdido!
Apresentação
"A publicação deste Dicionário de Escritoras Portuguesas concretiza um antigo projeto, que teve início em 1985. Nessa época, três professoras de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, de Natal, decidiram, por própria conta e risco, e muito entusiasmo, investigar a autoria feminina na literatura portuguesa. O grupo era constituído de Constância Lima Duarte, Diva Cunha Pereira de Macedo e Zenóbia Collares Moreira. Depois, à medida que os anos passavam, por diferentes razões a investigação foi sendo interrompida: uma hora era a tese de doutoramento que afastava as pesquisadoras; em outra, o acúmulo de tarefas acadêmicas que as ocupava integralmente. Recentemente, nos demos conta de que o trabalho que nos havia mobilizado por tanto tempo, e preenchido tantas horas e viagens até de nossas férias, estava abandonado há anos. Também nos demos conta da carência de um trabalho que permita fazer um balanço da produção literária feminina portuguesa, e ofereça uma listagem exaustiva de nomes e de obras, para auxiliar os estudantes e demais estudiosos. E decidimos retomar a pesquisa com o grupo assim configurado: Constância, Zenóbia, e Conceição Flores, açoriana residente em Natal, no lugar de Diva Cunha, que no momento dedica-se ao doutorado e à própria poesia.
O dicionário é composto de cerca de duas mil entradas e abarca escritoras consagradas pelo público e pela crítica e outras cujo nome é apenas conhecido em pequenas vilas ou pelos familiares. Resgata escritoras com vasta produção e acolhimento junto ao público da época e caídas, hoje, no ostracismo; identifica pseudónimos através de verbetes remissivos; colige informações dispersas de tempos diferentes, congregando mulheres que ao longo dos séculos têm publicado ou deixado seus textos manuscritos e, posteriormente, redescobertos por investigadores/as. Os verbetes reúnem informações biográficas e bibliográficas, munindo o leitor de dados que, regra geral, ele não encontra agrupados, o que constituí um instrumental indispensável para alunos, professores, investigadores e todos aqueles que se interessam pela literatura escrita por mulheres". (in Club Literário do Porto)
Link para o Vídeo de apresentação na Sic
2 comentários:
«Porque não o têm à venda, Senhores Livreiros?»
Se o livro foi editado no Brasil, se quem o distribui/representa não o apresenta aos livreiros portugueses, a pergunta deverá ser feita ao contrário: porque é que os livreiros portugueses haveriam de o ter à venda?
Sim, nem sequer há registo; ou é suposto que as livrarias portuguesas tenham em registo todos os livros que são editados no Brasil (e já agora, em todos os países de língua oficial portuguesa), mesmo que as editoras respectivas não os promovam cá?
Senhora escritora, escreva; e deixe os livreiros fazer o seu trabalho.
Caro Sr. Livreiro Cardoso
Como não posso responder-lhe directamente porque o seu "perfil" não me dá acesso, terei de o fazer aqui, pelo que nem me deve ler. Lamento tê-lo escandalizado ou ofendido com o meu desabafo e decepção por não achar à venda nas livrarias um Dicionário Literário de bastante importância, feito por portugueses e brasileiros. Diz-me que não podem ter todos os livros publicados lá fora - e eu estou plenamente de acordo consigo. Os senhores mostram de facto uma verdadeira avalanche de livros estrangeiros traduzidos, repetidos, reeditados vezes sem conta, literalmente montanhas de livros, onde cada vez é mais difícil encontrar obras de qualidade. Não seria mais importante ter o Dicionário das Escritoras Portuguesas do que as autobiografias de prostitutas brasileiras ou garotas de programa com que os senhores ainda há bem pouco tempo enchiam montras e expositores?
Eu escrevo, senhor livreiro, mas demoro pelo menos 3 anos com cada romance, por isso, ainda terá de esperar mais um ano para expor a minha nova obra!
Mas,asseguro-lhe, muito seriamente, que é uma grande falha não terem esse Dicionário das Escritoras Portuguesas! Muito obrigada por se ter dado ao trabalho de responder ao meu queixume. Saudações amistosas.
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